Os químicos são ermitões?

deserto vazio
Em 1992, quando iniciei o curso de Química, a internet estava tomando corpo dentro das Universidades. Naquela época eu não conseguia entender porque os químicos não estavam muito interessados no uso da internet para comunicação e troca de ideias. Apenas via atividades e interesses por parte dos físicos. Tanto que meu primeiro mail foi criado em um servidor mantido pelo Instituto de Física e somente após alguns anos a química resolveu que também poderia manter um sistema de e-mails.
Atualmente percebo que esta lerdeza dos químicos para formas alternativas de compartilhamento de conhecimento não estava restrita ao Instituto onde me formei. A problema é global, e é objeto de estudos e debates.
Teresa Velden e Carl Lagoze tentam encontrar as razões para tal isolamento e relatam isto no texto ´Communicating Chemistry´ na Nature Chemistry deste mês.
ResearchBlogging.org
Velden, T., & Lagoze, C. (2009). Communicating chemistry Nature Chemistry, 1 (9), 673-678 DOI: 10.1038/nchem.448
Este isolamento químico, se comparado com outras áreas, pode ser facilmente percebido na falta de um bom sistema de disseminação de preprints, baixo número de publicações de acesso livre e poucos blogs (inclusive em todo ScienceBlogs).
Mesmo as raras iniciativas de projetos colaborativos sofrem com a ausência de uma quantidade significativa de pessoas interessadas na construção de um sistema que possa ser compartilhado por todos.
Talvez algum dia os químicos percebam a utilidade da Web 2.0, mas provavelmente neste dia a Web já será 3.0. 🙂
A idéia deste texto surgiu ao ler o blog da Christina.

Discussão - 8 comentários

  1. Jonas E. Martini disse:

    Eu notei que faltam livros ou artigos sobre química, ao menos nas bibliotecas da minha cidade, principalmente se comparado com a quantidade de obras dedicadas à biologia (evolucionária, em especial) e à física.
    Se esse fenômeno ocorre em outras cidades também, acredito que tem relação com o assunto do seu texto. Mas não sei dizer se, nesse caso, a falta de livros seria uma causa ou uma conseqüência desse isolamento.

  2. Jonas E. Martini disse:

    Eu notei que faltam livros ou artigos sobre química, ao menos nas bibliotecas da minha cidade, principalmente se comparado com a quantidade de obras dedicadas à biologia (evolucionária, em especial) e à física.
    Se esse fenômeno ocorre em outras cidades também, acredito que tem relação com o assunto do seu texto. Mas não sei dizer se, nesse caso, a falta de livros seria uma causa ou uma conseqüência desse isolamento.

  3. Sibele disse:

    Questionamento relevante e atualíssimo, esse!
    Na verdade, essa problemática não é exclusiva da Química: cientistas de outras áreas também poderiam ser considerados “ermitões” em se tratando de compartilhar e disponibilizar informação científica aproveitando as facilidades das ferramentas tecnológicas hoje existentes.
    Nesse sentido, há muitas variações entre as diferentes áreas, e tudo resultante da cultura de práticas de cada uma delas, diferenciadas que são em sua organização intelectual e social, e consequentemente em suas práticas de comunicação científica. Tudo já bem documentado:

    Knorr Cetina, K. (1999). Epistemic Cultures. Harvard University Press.

    Whitley, R. (2000). The intellectual and social organization of the sciences. Clarendon Press.

    Fry, J. & Tajla, S. (2007). The intellectual and social organization of academic fields and the shaping of digital resources.Journal of Information Science 33 (2):115.

    E não é sem motivo que na sua instituição o interesse inicial pela comunicação online deu-se entre os físicos. O desenvolvimento da própria internet e avanços na comunicação científica online foram iniciativas de físicos: Tim Berners-Lee com a WWW, Paul Ginsparg com o Eprints (ArXiv) e Jorge Hirsch com o índice h.
    Velden e Lagoze (que inclusive estiveram no Brasil em julho último participando da ISSI 2009, no Rio) expõem muito bem essa problemática na Química, e em muitas outras áreas verificam-se os mesmos entraves de ordem cultural e social, e também econômica e política.
    Acredito que a comunidade científica de cada área é responsável pela maior ou menor adesão a esse movimento de disponibilização e compartilhamento da informação científica gerada, conscientizando-se da importância da livre circulação de informações para o avanço da própria área, inclusive intercambiando informações entre outras áreas.
    Ou o que teremos será ainda essa paisagem: http://abstrusegoose.com/211. Não só na Matemática...

  4. Marcos Vinícius Petri disse:

    Eu estou ainda querendo entrar em um curso de graduação em química e espero que eu faça parte da geração comunicativa dos químicos, hehe.
    Aproveitando, queria apresentar, caso ainda não conheçam, o site http://www.periodicvideos.com/
    É um canal de vídeos mantidos principalmente no Youtube. São feitos pela The University of Nottingham, na Inglaterra.
    A ideia principal foi fazer um vídeo sobre cada elemento da tabela periódica e tornou-se popular (mais popular se for em relação aos canais comuns de química) porque abrange a química de uma forma mais generalizada.
    Lá existem videos sobre todos os elementos e vários especiais. Alguns recentes.
    Todos estão em inglês, com poucos legendados em português.
    O público alvo não é apenas interessados por química, mas também por curiosos e simpatizantes da ciência.

  5. massacritica disse:

    Marcos, Você caiu no lugar certo. 🙂
    EU é que sou o responsável pela tradução dos vídeos do ´Periodic Videos´.
    Todos os vídeos traduzidos estão disponíveis no site http://www.tabelaperiodica.org
    Na próxima semana (acho) mais 10 vídeos traduzidos estarão no site.

  6. massacritica disse:

    Sibele, muito obrigado pelo comentário.
    Já peguei uma das fontes que vc citou.

  7. Sibele disse:

    O link que coloquei na penúltima linha do meu comentário saiu quebrado. #fail
    Segue o correto: http://abstrusegoose.com/a/211.htm

  8. Sibele disse:

    Pelo jeito essa discussão continua... que bom!
    O novo post do Quimica Viva parece oferecer uma resposta a essa questão:
    "Sobre Twitter, Facebook e acesso aberto de publicações científicas" - http://bit.ly/793JtX

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