Tudo conectado

Fui convidado para uma palestra sobre ´Interdisciplinaridade´. O público-alvo eram professores de escolas públicas, e o objetivo era comentar sobre o tema e tecer algumas ideias como como essa ´Interdisciplinaridade´ poderia acontecer na prática.
Devido ao problema das ramificações e preciosismos exagerados nas definições de pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade; acabei optando por usar o termo geral ´Conexões´, e penso que fui feliz na escolha.
Comentei sobre as conexões existentes entre pessoas, áreas do conhecimento, cérebro, internet, etc e indiquei que o desenho de mapa de conexões (mapa mental) poderia ser uma boa estratégia para organizar o fluxo e correlações de informações em um determinado assunto.
Não é muito fácil desenhar um mapa mental, é necessário prática e técnica específica ( que não domino totalmente). Tentei fazer um rápido mapa correlacionando diversos ramos da ciência com o tema ´Horta´.
mapa mental horta
O assunto horta surgiu de uma conversa anterior com alguns professores que comentaram que a horta do colégio poderia ser um terreno fértil para o ensino.
No momento em que realizava o mapa mental muitas informações presentes no livro ´Armas, germes e aço´ do Jared Diamond vinham a tona, temperado com algumas pitadas de dados que captei na série ´How Earth Made Us´ da BBC.
É claro que eu exagerei nas correlações existentes neste assunto, e fui ao extremo tentando interligar tudo, mesmo que não existisse uma conexão tão óbvia ou direta. Mas esta era a ideia. Deixar a liberdade atuar e depois ir limpando o assunto para torná-lo mas factível.
Esta semana, após encerrada a palestra, acabei encontrando por acaso um uso interessante desta estratégia de montar um mapa de ligações, idealizado pela IUPAC no projeto ´Gold Book´.
Parte de um mapa feito para ´entalpia´.
conexoes do assunto entalpia

Óculos de proteção – Use

Em boa parte de minha vida acadêmica normalmente utilizei reagentes pouco perigosos, e não sou um expert em óculos de proteção. Utilizava os mais comuns e disponíveis.
Mas a imagem abaixo mostra que nem sempre a proteção é efetiva nos modelos tradicionais.
oculos-protecao-tinta-PQ.jpg
Uma imagem vale mais do que mil palavras.
Via CenBlog

Peixe morto-vivo

Encontrei por acaso no YouTube. Vídeos estranhos sempre acendem o alerta de fraude ou de algum marketing viral. Mas neste caso não vejo que produto poderia ser promovido com um vídeo deste tipo. 🙂
Observando pelo filtro da ciência, podemos ver uma curiosa combinação eletroquímica. Alumínio, ácido (do limão) e músculos, que ficam muito próximos da história das pernas de rã que moviam-se ao serem estimuladas eletricamente, por eletrostática ou por contatos das pernas em dois metais diferentes, descoberta por Luigi Galvani.
galvani

pernas de ra
Versão moderna

DIY-make your own Galvani’s frog zombie from sizhuangyou on Vimeo.

Giovanni Aldini, sobrinho de Luigi Galvani foi um pouco mais longe, realizando experimentos estranhos e obscuros, com o uso de um cadáver na demonstração dos movimentos induzidos pela eletricidade.
Esta história eu já contei lá no Glúon/blog.
http://www.gluon.com.br/blog/2009/01/21/reanimando-corpos-giovanni-aldini-1804/

Fume – para sua segurança

contém fumaça de tabaco
Ludwig Gattermann, químico alemão nascido em 1860, fez parte de uma geração de pesquisadores que eram corajosos o suficiente para trabalhar em laboratórios, que normalmente possuiam poucas preocupações com a segurança.
Em uma história que é repetida por diversas gerações de professores de química orgânica, afirma-se que Gattermann teria recomendado fumar no laboratório durante uma preparação que pudesse liberar acidentalmente alguma quantidade do mortal cianeto de hidrogênio (HCN).
cianeto estrutura
Segundo Gattermann a presença do cianeto de hidrogênio alteraria o sabor da fumaça do tabaco, alertando o operador para a presença do cianeto mesmo que em pequenas quantidades.
Esta quase lenda é confirmada em uma citação feita em um artigo do lendário K. Ziegler.

Gattermann recommends that the operator smoke during the preparation, for he found that a trace of hydrogen cyanide is sufficient to give the tobacco smoke a highly characteristic flavor. This preliminary warning is useful in case of leaky apparatus or a faulty hood.

Organic Syntheses, Coll. Vol. 1, p.314 (1941); Vol. 7, p.50 (1927).
http://www.orgsyn.org/orgsyn/prep.asp?prep=cv1p0314
Sobre o cianeto, Ludwig Gattermann também teria dito o seguinte: “Se você está acostumado a trabalhar com a substância, não é pior do que lidar com o álcool.
Não é preciso dizer que, atualmente, fumar em um laboratório resultaria no oposto em termos de segurança e saúde.

Química e astronomia

Para o dia de encerramento das atividades do Ano Internacional da Astronomia em 2009, na Unipampa (Bagé), resolvi apresentar uma curta palestra sobre a relação entre a astronomia e a química.
O resultado:

A abordagem foi do material foi feita para agradar uma platéia de leigos e alunos da Unipampa.
Editado (19/03): O professor Esteban Moreno enviou o seguinte comentário: “todos os meteoritos sao metálicos, no máximo contem um pequeno percentual da matreria organica.” .
Optei por usar a expressão ´meteoritos metálicos´ por ser algo comum no material sobre o assunto.

Arte em corrosão

Muito difícil encontrar tema relacionado com corrosão que tenha apelo para ganhar um texto em um blog. 🙂
Navegando pelo Flickr encontrei duas belas fotos com corrosão de pregos.
corrosão de pregos quase artística

corrosão pregos
Resta saber qual foi a solução utilizada para provocar a reação.
Sugestões? 🙂
Para quem gosta de corrosão indico o experimento da gota salina –
http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento=335&GOTA+SALINA
Agradeço bigstrontium pela autorização de uso das imagens.

Quero um espintariscópio

Spinthariscope imagem original da wikipedia
Imagem original da Wikipedia, cedida por Theodore Gray.

Já sei o que vou querer de presente de Natal! (pouco atrasado)
Um espintariscópio!
Serve para visualização de desintegração nuclear e certamente não será encontrado em nenhuma loja de 1,99!
A montagem e o conceito são simples. Uma pequena amostra de material radioativo é colocada abaixo de uma camada de um material cintilador (radioluminescente), que pode ser o sulfeto de zinco, e que produz luz ao ser atingido por uma partícula alpha proveniente da desintegração nuclear. O sulfeto também é (ou era) encontrado em interruptores de luz que brilham no escuro. Mas fique tranquilo pois esses interruptores não apresentam radioatividade e a luz é decorrente de uma inofensiva fosforescência.
A lente no topo da peça facilita a visualização dos pequenos pontos de luz que ocorrem na superfície do material cintilador.
A foto é de um modelo que vinha junto em um kit de ciência para crianças, chamado “Atomic energy”.
O meu presente vai custar apenas 30 dólares lá na lojinha da United Nuclear. Este modelo possui uma amostra radioativa de tório e não apresenta riscos à saúde enquanto selada.

Mergulho no Cenote Angelita

Cenotes são depressões no solo cheias de água e ligadas a uma caverna marinha.
Esta ligação com a água salgada pode produzir um efeito interessante de aparecimento de uma haloclina, ou seja, uma região com um forte gradiente de salinidade.
A água com maior salinidade tende a se acumular na parte inferior do cenote, isto devido a própria posição da fonte da água salina e pela maior densidade da água quando salgada.
No vídeo abaixo é possível perceber a interface entre a água doce e salgada.

(este primeiro vídeo não é sobre o cenote Angelita)
No cenote Angelita a camada inferior e mais salgada também apresenta uma elevada quantidade de sulfeto de hidrogênio, entre outras substâncias, e uma turvação ainda mais evidente. Isto ocorre pela decomposição de matéria orgânica que cai dentro do cenote.
Veja um mergulho nesta camada:

Outro vídeo

Artigo (que não li! :-)) sobre sulfetos e sulfatos nesta haloclina:
The ocurrence and effect of sulfate reduction and sulfide oxidation on coastal limestone dissolution in Yucatan cenotes [PDF]

Ciência e o Islã

ciencia bbc tela
Jim Al-Khalili, físico nascido em Bagdá, apresenta na BBC Four uma série de três episódios sobre a relação entre a ciência e o Islã.
No primeiro episódio, Al-Khalili, conhecido também pela série Átomo, demonstra a importancia do ´Translation Movement´, no qual uma série de livros importantes de todo o mundo foram traduzidos para o árabe. Isto impulsionou o domínio árabe na medicina e matemática. Atualmente os livros de medicina da época já não impressionam mais, pois defendem uma grande quantidade de técnicas e ideias não mais aceitas como formas adequadas de tratamento. No entanto, a matemática ainda deve muito para as importantes contribuições que ficaram marcadas na algebra e no algoritmo, no qual a presença do AL nas palavras sempre nos lembrará do seu passado. (o prefixo “al-” designa o artigo definido no árabe)
No segundo episódio também fica claro que o interesse pela aplicação prática do conhecimento era um bom motivo para o desenvolvimento da matemática, com forte apelo no aumento da eficiencia de cobrança de impostos. E também na geografia e astronomia, que eram uteis para a determinação do tamanho do império árabe e posição exata de um viajante quando longe de Meca, que desejava não errar a direção de suas orações.
A alquimia (mais um AL) encontrou o seu reforço na necessidade de um controle de qualidade na manufatura de moedas (dinar), obtendo peças de ouro com quantidades de elementos liga que resultassem em um material com resistência adequada ao manuseio. Desta alquimia cada vez menos mística e mais prática, o Islã também obteve o conhecimento dos materiais alcalinos essenciais para a manufatura do sabão. A destilação para a produção de perfumes e o domínio de novas técnicas de produção de vidros coloridos também encontraram espaço na ciência da época.
No terceiro episódio Jim Al-Khalili mostra boas evidências de que Copérnico obteve informações importantes da astronomia árabe para formular o seu modelo heliocêntrico.
Mas como todo esse brilho de desenvolvimento se apagou?
É óbvio que existe uma rede complicada de causas para as mudanças históricas. Mas foram relatados alguns fatores, como a diminuição do império árabe por sucessivas guerras, a perda da oportunidade de adotar a impressão rápida de livros também foi um erro que marcou o declínio da ciência no mundo árabe. Nesta última foi a rigidez dos princípios do Islamismo que causou o atraso, pois existe a crença de que a palavra escrita no Alcorão representa diretamente o desejo de Alá.
http://www.bbc.co.uk/programmes/b00gksx4
Trailer

Os químicos são ermitões?

deserto vazio
Em 1992, quando iniciei o curso de Química, a internet estava tomando corpo dentro das Universidades. Naquela época eu não conseguia entender porque os químicos não estavam muito interessados no uso da internet para comunicação e troca de ideias. Apenas via atividades e interesses por parte dos físicos. Tanto que meu primeiro mail foi criado em um servidor mantido pelo Instituto de Física e somente após alguns anos a química resolveu que também poderia manter um sistema de e-mails.
Atualmente percebo que esta lerdeza dos químicos para formas alternativas de compartilhamento de conhecimento não estava restrita ao Instituto onde me formei. A problema é global, e é objeto de estudos e debates.
Teresa Velden e Carl Lagoze tentam encontrar as razões para tal isolamento e relatam isto no texto ´Communicating Chemistry´ na Nature Chemistry deste mês.
ResearchBlogging.org
Velden, T., & Lagoze, C. (2009). Communicating chemistry Nature Chemistry, 1 (9), 673-678 DOI: 10.1038/nchem.448
Este isolamento químico, se comparado com outras áreas, pode ser facilmente percebido na falta de um bom sistema de disseminação de preprints, baixo número de publicações de acesso livre e poucos blogs (inclusive em todo ScienceBlogs).
Mesmo as raras iniciativas de projetos colaborativos sofrem com a ausência de uma quantidade significativa de pessoas interessadas na construção de um sistema que possa ser compartilhado por todos.
Talvez algum dia os químicos percebam a utilidade da Web 2.0, mas provavelmente neste dia a Web já será 3.0. 🙂
A idéia deste texto surgiu ao ler o blog da Christina.

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