Arquivo da categoria: Sem categoria

Uma historia de amor, magia e …. mineração!

Para Maria José, minha Martine de Bertereau

Martine de Bertereau e Jean de Chastelet são um dos casais mais interessantes da história da mineração. Jean e Martine, O barão e a baronesa de Beau-Soleil, trabalharam dezenas de anos lado a lado na função de descobrir e explorar jazidas minerais.  Neste caminho, juntando alquimia, magia, acusações de bruxaria e um sólido casamento, construíram uma obra das mais originais da história da mineração moderna.

As mulheres também tinham papeis importantes na ciência alquímica. esta imagem mostra uma alquimista preparando suas experiências da “Grande Arte”

Jean de Chastelet, Barão de Beau-Soleil, nasceu em 1578 em Brabant, nos Países Baixos espanhóis. Hoje, Bélgica. Não se sabe onde estudou. Contudo, seus conhecimentos o levaram para a mineração.  Com 22 anos, Jean de Chastelet foi chamado para trabalhar na França pelo superintendente de Minas, para trabalhar como mineralogista, alquimista e “mineiro”. Mineiro, na linguagem da época, seria algo próximo do atual engenheiro de minas.

MARTINE E JEAN

Em 1610, ele se casa com Martine de Bertereau, moça culta e educada, que vinha de uma antiga família de mineradores. No entanto, não se conhece muitos detalhes de sua familia.  A própria Martine escreveu anos depois que  a ciência das minas era “hereditária na família“. De toda forma, Martine falava diversas línguas, era fluente em latim e sabia os rudimentos de hebraico. Tinham também sólidos conhecimentos de alquimia, química, metalurgia, geometria, hidráulica e outras ciências.

O casal vai trabalhar sob a proteção do rei Henrique IV, rei liberal e patrono das artes e das ciências, inclusive da alquimia. No entanto, com a morte do rei logo a seguir, Jean e Martine perdem seu emprego. Apesar de tudo, isso não os tirou da mineração: nos 16 anos seguintes, eles passam viajando e conhecendo as mais diversas minas da Europa. Há evidências que teriam também trabalhado nas famosas minas de Potosi, na atual Bolívia, então as maiores minas de prata do mundo.

Em 1626, o casal volta à França. Nesta época, o barão e a baronesa de Beau-Soleil foram comissionados para ordenar as áreas de mineração francesas, as quais haviam sido negligenciadas por anos. Eles tinham que localizar minas antigas, prospectar novos depósitos e reavaliar as condições das minas em funcionamento. Era uma tarefa grande. No entanto, o barão e a baronesa tinham certeza de um ganho financeiro muito grande. Nestes anos, segundo suas contas, eles haviam gasto cerca de 300 mil libras no trabalho.

ACUSAÇÕES DE BRUXARIA

No entanto, um episódio muito desagradável ocorreu na vida da família Beau-Soleil na pequena cidade francesa de Morlaix, na Bretanha. Corria o ano de 1627. Um bailio, antigo oficial de Justiça provincial, invadiu os alojamentos do casal, que estava fora em viagem. Nos alojamentos, o bailio encontrou pedras preciosas, amostras de minerais, instrumentos de prospecção e refino de metais, livros sobre fundição e alquimia, cadernos e papeis de todos os tipos. Parecia evidente: o estranho casal praticava as mais estranhas feitiçarias.

Uma acusação de bruxaria nesta época era muito séria. Apesar do magistrado de Rennes, que julgou o caso, ter absolvido o casal, os bens confiscados pelo bailio nunca retornaram a seus antigos donos. Assustados, Jean e Martine fugiram e se refugiaram na Áustria, onde Jean foi nomeado conselheiro das minas da Hungria pelo imperador Ferdinando II.

O PEDIDO AO CARDEAL

Pouco tempo depois, no entanto, procurando reaver o dinheiro investido, Jean e Martine retornaram à França. Em 1632, Martine de Bertereau escreveu “Declaração verdadeira ao rei e aos cavalheiros do conselho sobre os ricos e estimados tesouros recentemente descobertos no reino da França”. Nesta publicação, que era uma mistura de relatório e solicitação de reembolso, Martine descreve as minas descobertas ou trabalhadas pelo casal Beau-Soleil na França até então. A estratégia tem sucesso, e Jean recebe a patente de inspetor geral das minas da França.

No entanto, as condições financeiras não melhoraram. Em 1640, Martine de Bertereau escreveu uma nova carta. Não ao Rei, mas ao todo poderoso Cardeal Richelieu. Nesta carta, publicada com o título de La Restauration de Pluton (A restituição de Plutão), Martine de Bertereau descreve novamente diversos depósitos minerais, suas técnicas de pesquisa e exploração. Também, é, claro, pede o retorno do dinheiro investido pelo casal no trabalho.

O cardeal Richelieu, a grande sombra dos reis franceses; ele mandou Jean e Martine para a prisão em 1642, de onde não mais retornariam

Desta vez, não funcionou. O cardeal Richelieu mandou prender Jean e Martine, sob o pretexto de que o casal praticava astrologia quiromancia e leitura de horóscopos. Jean acabou morrendo na terrível Bastilha em 1645. Martine e sua filha, aprisionadas na prisão de Vincennes, desapareceram sem deixar traços.

A RESTITUIÇÃO DE PLUTÃO

A Restituição de Plutão é um curso de mineração. Nele, Martine de bertereau dá uma longa lista de depósitos metais como prata, chumbo, ouro, ferro, cobre. Dá também uma lista de outras substâncias importantes, como pigmentos minerais, pedras de moinho, carvão, rochas ornamentais e pedras preciosas. Durante muito tempo, as informações contidas nos escritos de Martine foram muito valiosas na descoberta de bens minerais.

Cartas astrologicas para encontrar metais; Martine de Bertereau encontrou diversas minas com esta técnica.

Para Martine de Bertereau, existiam diversas regras que deveriam ser seguidas para se achar um deposito mineral. Cavar, para ela, era a menos importante. Mais do que só cavar a terra, era necessário observar as plantas, o gosto da água, os vapores emitidos pelas montanhas. E, também, o uso de instrumentos.

Entre estes instrumentos estavam as varas divinatórias para encontrar metais. Estas varas, sete no total, uma para cada tipo de planeta. Para a astrologia, cada planeta estava relacionado com um metal. Assim, o ouro estava relacionado ao sol, a prata a lua, marte ao mercúrio, e assim por diante.

AS CIÊNCIAS DA MINERAÇÃO

Entre as ciências relacionadas com os trabalhos mineiros, Martine relaciona a astrologia, a arquitetura, a geometria e a aritmética, a hidráulica, o direito, a medicina, a lapidaria (a atual petrografia), a botânica e a química. Contudo, para desespero dos que hoje bradam contra as Humanidades, Martine recomenda as Letras, o Direito e a Teologia entre os conhecimentos uteis para a boa prática da mineração.

Que ciência era essa que Martine e Jean praticavam? Certamente, a arte das minas. Neste tempo, conhecimentos que hoje desprezamos como inúteis, bobagens ou pseudociência eram os conhecimentos necessários. Causa mais espanto, talvez, a presença da alquimia e da astrologia.

Os métodos de pesquisa de minerais seguiam os preceitos da alquimia e da astrologia, alem da procura dos sinais da natureza. ilustração do De Re metellica (1556) de Georgius Agricola (1494 – 1555)

No entanto, para os mineiros da época, os espantos eram maiores. Martine trata também da presença de duendes nas minas, “pequenos seres vestidos como os trabalhadores” que podiam ser vistos nos subterrâneos. Entretanto, Padre Kircher, de quem já falamos aqui, confirmava a presença destes seres em seus livros. Essa era uma ciência ainda cheia de sobrenatural e de magia, tão típica do platonismo da Renascença.

Entretanto, essa estranha reunião de saberes nos faz pensar em como serão os trabalhos mineiros (se é que haverão minas) daqui a cem anos. Quais serão as ciências utilizadas? Quais serão as ciências descartadas? E quais as desprezadas? Fica aqui a dica para uma interessante conversa de bar…

UM CASAL AFINADO

Por outro lado, tudo nos leva a crer que Martine e Jean trabalhavam juntos, lado a lado. Esse é um espanto num mundo mineiro moderno que ainda acha que as mulheres “dão azar” nas galerias subterrâneas. E um bom exemplo a ser seguido.

A parceria era tal que cada um tinha seu papel. Martine, certamente, era a erudita do casal, a que escrevia e estudava. E que escrevia os livros. Jean era provavelmente o executivo, o que estava em campo. Entretanto, isso era admirável. Por um lado, o trabalho conjunto e igual de Jean e Martine, num mundo em que as acusações de bruxaria e feitiçaria eram comuns e naturais, causa-nos um espanto ainda maior. Acusações que lhes foram feitas e que lhes custaram a morte nas masmorras do ancien regime.

A VIDA PÓSTUMA DE MARTINE DE BERTEREAU

Segundo a historiadora Martina Kolb Ebert, a vida póstuma de Martine de Bertereau foi ainda mais agitada que sua atribulada existência terrena. Durante o Iluminismo, ela foi considerada meramente uma charlatã e aventureira. Por outro lado, durante a industrialização francesa no seculo XIX ela foi considerada uma heroína, uma economista visionaria. Da mesma forma, para os nacionalistas românticos, Martine de Bertereau era uma legítima heroína nacional.

Hoje, os trabalhos que se ocupam dela e de sua vida põe em relevo seu papel de heroína feminista, mulher cientista, “a primeira geóloga da França”. É o que vem a nossa mente quando lemos sobre ela. Impossível, para nossa moderna mentalidade, não pensar nisso. no entanto, precisamos saber mais sobre Martine de Bertereau, alem dos estereótipos e das lendas.

Numa época em que ciência e magia eram uma coisa só, Martine de Bertereau foi uma sábia notável . Também foi mãe de pelo menos três filhos. E, como companheira e colega de trabalho de Jean de Chastelet, foi incansável na busca pelo sucesso material do casal. A junção de amor, magia e mineração foi um traço inseparável dos dois.

Que estranho. E que notável.

PARA SABER MAIS:

Kölbl-Ebert, Martina. “How to find water: the state of the art in the early seventeenth century, deduced from writings of Martine de Bertereau (1632 and 1640).” Earth Sciences History 28, no. 2 (2009): 204-218.

Findlen, Paula. “Histoire des femmes de science en France. Du Moyen Age à la Révolution.” (2005): 518-520.

O sólido dentro do sólido: Nicolau Steno, o cientista que virou santo

Nicolau Steno
Retrato de Nicolau Steno, pintado em Florença

Nicolau Steno foi um dos homenageados no Congresso Internacional de Geologia de 2004, realizado em Firenze. Lá, os cientistas inauguraram uma placa, onde faziam menção às suas imorredouras contribuições para a Mineralogia, a Paleontologia e a Estratigrafia. Boa parte delas havia sido realizada no tempo que que Nicolau Steno morou ali, na Toscana.

No entanto, alguns anos antes, em 1988, o Papa João Paulo II o proclamou como “bem-aventurado Nicolau Steno”. Sabemos que, quando morreu, Nicolau Steno era um bispo católico, que trabalhava no norte da Alemanha. Seus últimos anos lhe deram aura de Santo. E quase santo ele é. Hoje ele é um Beato e a festa litúrgica em seu nome ocorre no dia de sua morte, em 5 de dezembro.

Quem era, afinal, Nicolau Steno? O cientista ou o beato?

NIELS STENSEN, O SOBREVIVENTE

Nicolau Steno é uma latinização de seu nome dinamarquês, Niels Stensen. O pequeno Niels nasceu e foi batizado em Copenhagen em 1638. Era o filho do ourives que prestava serviços para o rei Cristiano IV da Dinamarca. O pequeno Niels, que era muito doente a ponto de não poder brincar com as outras crianças, cresceu numa família fervorosamente luterana. Na falta dos brinquedos, brincava com os objetos de ourives de seu pai.

O pequeno Niels, no entanto, era mais forte do que se supunha. Na escola que frequentou, mais de duzentas crianças morreram entre 1654-1655 por causa de uma peste. Contudo, Niels Stensen sobreviveu. E tomou interesse por estudar os corpos humanos. Seu interesse era a Anatomia.

A Anatomia era uma febre (!) na época. Aulas de Anatomia eram disputadas ferozmente pelos acadêmicos. Tudo fervilhava de curiosidade de conhecer melhor o corpo humano.  Aos 19 anos, Niels Stensen entrou para a universidade de Copenhagen, para estudar medicina. Em seus estudos acadêmicos, revelou-se um promissor anatomista. E Copenhagen começou a ficar pequena para seu talento.

NICOLAU STENO, ANATOMISTA

A partir daí, Niels Stensen passou a viajar. E nunca mais parou. Inicialmente, esteve em várias cidades da Europa, estudando anatomia. Em Amsterdam estudou com Gerard Blasius, que estava estudando o sistema linfático. Da mesma forma, em Amsterdam, Stensen também conheceu o filosofo e polidor de lentes Baruch de Spinoza. O que será que eles devem ter conversado?

O jovem estudante Niels Stensen era apaixonado pela filosofia de René Descartes. No entanto, mais tarde, ele renegou a teoria cartesiana. Muito cedo, Steno percebeu algumas contradições na obra do mestre. Descartes, por exemplo, afirmou que a glândula pineal era a sede da alma humana. Steno, com base em suas observações, mostrou que Descartes estava errado.

Steno descobriu, entre outras coisas, que existe um duto que leva saliva até a boca, os dutos parotídeos ou dutos de steno. Por outro lado, Steno descobriu também que o coração era um músculo. E que os cálculos eram pedras que se formam por acúmulo nos órgãos. Descobertas notáveis, por certo.

O CARTESIANO ANTI-DESCARTES

Um a um, Steno acabou por desmentir diversos postulados anatômicos de Descartes. Com o tempo, tornou-se violentamente anti-cartesiano, negando qualquer relação de suas descobertas com o pensamento do filosofo francês. Não obstante, com o perdão do trocadilho, pode-se dizer que Steno não descartou Descartes.

Efetivamente, ao apreciar a obra de Steno, percebe-se o quão cartesiano ele era.  Quando se vê o mundo de idéias construído por Steno, o que se vê é um universo mecanicista, tipicamente cartesiano. Por outro lado, neste universo stenoniano,  a matéria sólida e particulada se movimentava segundo leis físicas determinadas, como um grande mecanismo.  Logo, tudo se movia no universo de Steno de acordo com a filosofia de Descartes.

A “REPÚBLICA DAS LETRAS”

Em suas viagens Steno acabou por conhecer o seu conterrâneo Ole Borch, importante anatomista da época e um sábio relacionado com as Academias de Ciência que então surgiam. Esse movimento de acadêmicos de vários países em constante comunicação formaram o que se chamou de “República das Letras“.  Era o embrião do moderno sistema de academias e periódicos científicos que se formava. Não por acaso, muitos periódicos modernos ainda ostentam em seu nome a palavra “Letter“. Pois não eram mais que isso: cartas enviadas para as diferentes associações cientificas, que eram lidas nas sessões ordinárias destas academias e discutidas por seus membros.

Todavia, uma vez que Ole Borch, como membro destacado da Republica das Letras,  tinha muitas ligações com a Royal Society de Londres. Foi através de Borch que Steno teve contato com a teoria atomística de Robert Boyle. Esta foi outra das grandes inspirações de Steno. Por meio da leitura de Boyle e sua obra, Steno começa a se interessar por uma Ciência que ainda não existia, a Geologia. Foi neste ponto de sua carreira que ele foi convidado por Ferdinando II, Grão-Duque da Toscana, a ser o anatomista da corte. Em Firenze, sua vida iria mudar. De novo.

Lá, Nicolau Steno vai desfrutar do ambiente da Corte e, principalmente, dos sábios reunidos na “Academia Del Cimento“. Essa academia, fundada pelos Médici, reunia alguns dos mais importantes pensadores italianos da época. Steno torna-se amigo de Marcello Malpigui, Vicenzo Viviani, Francesco Redi, entre outros.

 PEDRAS EM FORMA DE LÍNGUA

Em 1666, um tubarão foi pescado na costa de Livorno. A cabeça deste tubarão foi enviada à Firenze para que Steno pudesse disseca-lo. Steno notou que os dentes do tubarão eram muito parecidos com as glossopetras. Estas glossopetras, as “Línguas de pedra”, eram fósseis muito comuns no mediterrâneo. Eram conhecidas desde os tempos romanos. Havia muito tempo que Outros sábios haviam reivindicado que as glossopetras eram dentes de tubarão. Entre eles, destaca-se Fábio Colonna. no entanto, a pericia anatômica de steno foi muito importante para que estes objetos fossem reconhecidos como restos de animais, ou no sentido moderno, fósseis.

tubarão glossopetras
Cabeça de tubarão estudada por Steno e as glossopetras

Em seguida, Nicolau Steno, de anatomista, passou a naturalista. Fez diversas viagens pela Toscana, onde juntou material para escrever sua grande obra. Aparentemente,  essa obra seria muito grande. Tão grande que Steno começou a escrever o principio, ou o “pródromo”. E assim surgiu uma das grandes obras da Ciência moderna.

PRÓDROMO DE UM SOLIDO CONTIDO EM OUTRO SOLIDO

No Pródromo, Steno procura explicar que haviam varias formas distintas de sólidos contidos nas rochas. Alguns destes sólidos eram fragmentos que eram depositados junto com as rochas, como os fósseis. Um sólido dentro de um solido. Assim ele justificava a existência de diversos materiais parecidos com organismos vivos encontrados nas rochas. como , por exemplo, as glossópetras.

Por outro lado , haviam substancias que cresciam no interior das rochas, os cristais. Steno propôs que os cristais de uma mesma especie teriam o mesmo ângulo entre as faces. E que os cristais poderiam crescer dentro das rochas. Um sólido, um outro sólido, dentro de outro solido. Com esta proposição, a moderna mineralogia começa a existir.

Além disso, Steno também propôs uma evolução geológica para as rochas da região da Toscana. Segundo se pode ler no pródromo, as rochas sofriam erosões internas, com intensos abatimentos de blocos. estes blocos abatidos eram ocupados por outras rochas, mais novas e assim por diante. Com isso, ele explicou diversas sucessões estratigráficas, alem de enunciar o principio de superposição de camadas que hoje leva o seu nome.

Steno
Assim Steno explicou os ciclos sedimentares que ele observou nos arredores de Firenze
PADRE STENO ? BISPO STENO?

No entanto, uma outra mudança se operava com Nicolau Steno. Influenciado por seus amigos da academia Del Cimento, Steno acabou por se converter ao catolicismo em 1671. Mais do que isso: praticamente abandonou seus estudos de Anatomia e Geologia e passou a dedicar-se aos estudos teológicos. Assim, em 1675 ordenou-se padre católico e em 1677, bispo.

Nicolau Steno, vestido como Bispo Católico

Movido pela religiosidade, no entanto, Steno devotou cada vez mais tempo para sua fé. Sua energia e seu entusiasmo o levaram a ser evangelizador católico no norte da Alemanha, uma terra ferrenhamente protestante. E foi isso que Steno foi em seus últimos anos de vida. Desta forma, andando de cidade em cidade, tentando converter as pessoas ao catolicismo romano, Steno empregou todas as suas forças. Adquiriu fama de santo.

UM MÁRTIR CATÓLICO

Steno trabalhou inicialmente em Hanover, onde conheceu Leibniz, de quem se tornou amigo. Depois, foi para a cidade de Schwerin. Lá, em meio hostil, Steno trabalhou incansavelmente. Contudo, sua saúde começou a fraquejar. Muito doente, acamado, Steno morreu em 5 de dezembro de 1686 cercado por seus paroquianos.

Sua fama de evangelizador foi intensa. Desta forma, o caráter de sua conversão do luteranismo para o catolicismo de um sábio destes porte o transformou num herói católico. por conta de um processo de beatificação que durou mais de 50 anos recolhendo provas, Steno foi beatificado pelo para João Paulo II em 1988.

BEATO  OU CIENTISTA?

A vida de Nicolau Steno, entretanto, nos deu mostras do intenso ambiente intelectual do

seculo XVII. Como filosofo natural (a palavra cientista ainda não existia), Steno fez algumas afirmações interessantes e duradouras. Contudo, haviam ainda um grande caminho pela frente. Nada do que disse ou escreveu mudou instantaneamente a historia da Ciência ou da humanidade. Por um lado, muitos filósofos naturais continuaram a obra de Steno, e foram elaborando as bases da nova Ciência que só foi surgir, afinal, no seculo XIX, a Geologia.

Por outro lado, Steno e sua conversão, sua vida de Beato, foram exemplos para muitas pessoas que tinham preocupações religiosas. Não foi à toa que seu processo de beatificação foi levado a efeito no século XX, um século tão esmagadoramente dominado pela Ciência. Como que para provar para nós todos que mesmo um grande cientista pode ter preocupações de natureza religiosa.

Sem dúvida, o método cartesiano do experimento e da dúvida foi o grande marco na vida de Steno. A dúvida fez com que ele fosse cada vez mais rigoroso em suas observações e seus experimentos, do lado cientifico. Entretanto, do lado religioso, a dúvida fez com ele ele perdesse sua fé e se iniciasse numa outra, numa fé nova. E isso não é trivial.

Santo ou cientista, contraditório e paradoxal, Nicolau Steno foi um baita ser humano.

para saber mais:

Yamada, T., 2009. Hooke–Steno relations reconsidered: Reassessing the roles of  Ole Borch and Robert Boyle. The revolution in geology from the renaissance to the enlightenment203, p.107.

Vai, G.B., 2009. The Scientific Revolution and Nicholas Steno’s twofold conversion. The Revolution in Geology from the Renaissance to the Enlightenment203, p.187.

ARANHAS, ESCORPIÕES, BARATAS PRÓXIMOS DO INFINITO E TAMBÉM DE UMA CHINELADA!

Existem informações que escutamos numa palestra e nunca mais esquecemos. Um tempo atrás estava eu participando do Congresso de Paleontologia, assistindo as exposições orais, e entre elas uma me chamou particularmente a atenção. Se tratava da apresentação de um colega paleontólogo que estuda fósseis de insetos e ele falou que se nós víssemos uma barata do Carbonífero andando por aí agora …teria chinelada na hora…ou seja, elas eram muito semelhantes as atuais e com certeza ainda existirão por um longo tempo. Quando pensamos em fósseis, não imaginamos nem de longe a diversidade deles, na verdade até se poderia falar que os dinossauros são a ponta do iceberg, e com certeza, existiam muitas baratas e outros insetos, além de aranhas e escorpiões, durante o tempo dos dinossauros.

Exemplares de Trigonotarbida do Devoniano silicificados, Rhynie Chert, Escossia, UK

Os primeiros animais a pisar fora d’água, há uns 420 Ma, foram parentes próximos dos escorpiões e aranhas. Os mais antigos registros desses primeiros habitantes do continente foram os Trigonotarbida, similares com aracnídeos, mas de uma ordem hoje desaparecida. O que permitiu a esses ancestrais dos escorpiões e aranhas sobrevir no meio seco foi o fato de terem apêndices motores (“pernas”) e de poderem respirar oxigênio diretamente da atmosfera, duas características ou pré-adaptações fundamentais para sobreviver fora da água… A partir desse momento começou a se diversificar o enorme grupo dos insetos, que hoje representa o grupo mais exitoso dos animais do planeta Terra, com uma diversidade “próxima do infinito”. Já no Carbonífero, uns 50 milhões de anos depois, os registros fósseis mostram que os insetos foram maiores em tamanho do que os de hoje em dia (como as libélulas e baratas). São conhecidos, por exemplo, fósseis de libélulas de 50 cm e baratas, bom… dá para imaginar …. Mas por que será que eram tão grandes naquela época? Uma coisa que se sabe é que durante o Carbonífero a atmosfera continha muito mais oxigênio do que hoje em dia. Para explicar como uma maior quantidade de O2 influenciou o tamanho dos insetos, há duas hipóteses: uma diz que com mais oxigênio o metabolismo dos insetos poderia suprir corpos maiores; e a outra, que seria uma defesa da fase larval contra o possível envenenamento por excesso de oxigênio. Baratas com mais de 100 exemplares coletados, denominadas como Anthracoblattina mendesi Pinto & Sedor, foram recentemente encontradas no município de Mafra, Estado de Santa Catarina, em camadas de rochas do Grupo Itararé (Permiano). Baratas semelhantes a estas também foram comuns na América do Norte no mesmo período.

Reprodução 3D de um Trigobotarbida devoniano coletado no Rhynie Chert, Escossia, UK . Barra de Escala = 1cm

Embora no Carbonífero existam registros diferentes de insetos voadores, esses ainda não conseguiam dobrar as assas como as borboletas e pernilongos, que vieram a surgir posteriormente, durante a Era Mesozoica.

Enfim, o registro fóssil de insetos é muito rico e variado. Inclusive sabemos do enorme número deles não só por seus fósseis corporais e ecdises (trocas do exoesqueleto, conhecido popularmente como “muda”) se não também por seus icnofósseis, como mordidas em folhas, galhas, minas, fezes etc. muitas vezes observadas em folhas, frutos e troncos. No Brasil, um dos locais com uma enorme quantidade de registros de insetos é a Chapada do Araripe, que fica nos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, onde existem fosseis de abelhas, moscas etc. além dos muito conhecidos fósseis de vertebrados e plantas que datam de mais ou menos 110 milhões de anos atrás, no período conhecido como Cretáceo. Construções associadas com insetos sociais já foram descritas para o estado de Minas Gerais, em solos fósseis (ou paleossolos) da Formação Marília, com idade entre 100 e 72 milhões de anos atrás. Pertinho de Campinas, na Bacia de Taubaté (datada de aproximadamente 50 milhões de anos atrás) também podem ser encontrados fósseis de insetos, mas desta vez, apenas dos vestígios (icnofósseis) que eles deixaram em folhas de angiospermas, e como tem muitos icnofósseis mesmo, essas folhas deviam ser muito gostosas! No Estado de Minas Gerais, na bacia de Fonseca, que tem idade semelhante à da Bacia Taubaté, foram registrados mais de 48 espécimes de insetos das ordens Hemíptera, Coleóptera, Díptera, Hymenóptera, Isóptera, entre outros, que demostram a riqueza de insetos que habitavam a região naquela época.

Outra forma de preservação de insetos dependendo, é claro, do seu tamanho, é no âmbar. Eu já vi abelhas, pernilongos, borboletas e outros insetos mumificados até com as asas abertas dentro de âmbar, dando a impressão de que a qualquer momento bateriam as asas.

Voltando aos escorpiões, os mais antigos que se conhecem datam de 435 Milhões de anos atrás, e já eram bastante assustadores com a sua cauda característica terminada em ferrão. Agora, chinelos fósseis ainda não foram encontrados… logo podemos deduzir que os dinossauros não conseguiam se livrar facilmente das baratas e outros insetos que voavam ao seu redor.

 

Referências para consulta

Nascimento, D.L.; Batezelli, A.; Ladeira, F.S.B. 2017. First record of lobed trace fossils in Brazil’s Upper Cretaceous paleosols: Rhizoliths or evidence of insects and their social behavior? JOURNAL OF SOUTH AMERICAN EARTH SCIENCES, v. 79, p. 364-376.

Ricetti, J. H. Z.; Schneider,  J.W.; Iannuzzi, .R.;  Weinschütz, L.C. 2016. Anthracoblattina mendesi Pinto et Sedor (blattodea, phyloblattidae): the most completely preserved South American Palaeozoic Cockroach I.  Rev. bras. paleontol. 19(2):181-194. doi: 10.4072/rbp.2016.2.03

Raoni de Castro Barbosa. 2010. Tafonomia dos Insetos Fósseis da Bacia de Fonseca, Eoceno Paleógeno de Minas Gerais. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências biológicas) – Universidade Estadual da Paraíba. Orientador: Prof. Dr. Marcio Mendes.

Grandes Extinções: um dia da caça, outro do caçador

 

Algumas das mas famosas vitimas das extinções, trilobitas, ammoide, nautiloide reto e bivalve.

Extinção é para sempre, como casar pela igreja … mas no último caso, os interessados combinam a hora, dia, mês e ano. Mas no caso das extinções, o processo precisa da conjunção de vários fatores e os principais envolvidos … bom… não estão assim muito felizes!

O que define uma extinção em massa? Pelo geral, o desaparecimento de pelo menos 50% das espécies continentais e marinhas conhecidas, deve se tratar de um evento cosmopolita e pode acontecer somente num pulso ou em vários estágios. Nós estamos aqui graças à última das extinções em massa, que aconteceu há 66 Ma e os nichos diurnos ficaram disponíveis aos mamíferos até então mais restritos à noite.

Nos últimos 540 Ma da história da vida no nosso planeta acredita-se, por enquanto, que aconteceram pelo menos cinco extinções em massa e 15 intervalos de extinções menores. Então extinções não são fatos isolados na história da vida! As cinco maiores aconteceram, da mais antiga à mais recente, na seguinte ordem:

– próxima do limite entre os períodos Ordoviciano-Siluriano (443 Ma). Nesse evento, segundo evidências do registro fóssil, desapareceram 85% da fauna marinha (ainda não existia vida nos continentes) especialmente invertebrados (trilobitas, graptozoários, braquiópodes, moluscos, etc.);

– final do período Devoniano (359 Ma). Aqui, 75% da vida desaparece, incluindo formas de vida marinhas e continentais;

– limite entre as eras Paleozoica e Mesozoica ou extinção do Permiano-Triássico (240 Ma). Também conhecida como mãe de todas as extinções, pois com ela 95% de todas das formas de vida desaparecem (entre eles muitos invertebrados como corais, crinoides, além de vegetais etc.). Contudo, o evento foi menos severo para os tetrápodes e como consequência os amniotas virão se tornar dominantes;

– próxima do limite Triássico- Jurássico. Acredita-se que foram vários pulsos de extinções que transcorrem durante 18 Ma;

– e por fim, o último grande evento de extinção aconteceu no limite entre as eras Mesozoica e Cenozoica, mais conhecido como extinção do Cretáceo-Paleógeno. Neste evento 70% da vida se extinguiu.

O que produz um evento de extinções em massa? Existem várias causas, entre elas vulcanismo, impacto de asteroides, mudanças climáticas drásticas, deriva continental, anoxia (falta de oxigênio) generalizada nos mares, ou todas elas juntas. Como atuam essas causas? Podemos tomar como exemplo a extinção do Cretáceo-Paleógeno, que teve como causa culminante a queda de um asteroide. Pelas evidências, quando o asteroide atingiu o planeta foi liberada uma energia equivalente a 10 bilhões de bombas como a de Hiroshima. O local da queda é hoje conhecido como a cratera de Chicxulub e fica no golfo de Yucatan, México. A cratera tem aproximadamente 200 km de diâmetro e uma profundidade de 30 km, pelo que se calcula que o asteroide teria ao redor de 15 km de diâmetro. Hoje em dia, a cratera na sua maior parte se encontra emersa e recoberta por mais de 600 m de sedimentos. A porção que se encontra em terra está recoberta por rocha calcária, mas seu contorno ainda pode ser devidamente traçado.

No final do Cretáceo o local da queda era ocupado por um mar pouco profundo e quente, rico em recifes de corais, no qual ocorria a deposição de evaporitos como o gesso – gipsita, Ca(SO4) – rico em sulfeto. Como consequência da queda, as águas desse mar foram vaporizadas e em consequência, toneladas de enxofre foram para a atmosfera, propiciando chuva ácida ao redor do planeta. Como se fosse pouco, com a liberação de semelhantes quantidades de energia também surgiram grandes ondas (tsunamis), cujos registros são atualmente encontrados em locais distantes como a costa da Venezuela. Além do impacto desse asteroide, o final do Cretáceo também foi marcado por intensas erupções vulcânicas na Índia as quais se calcula que tenham liberado de 100 a 1.000 bilhões de toneladas de cinzas, que perduraram de 100 a 1.000 anos na atmosfera superior. Também a separação entre a África e a América do Sul trouxe a abertura do oceano Atlântico Sul teve como consequência a queda no nível dos mares e, por consequência, uma mudança nas correntes oceânicas com a queda das temperaturas. Assim, a soma desses fatores “favoreceu” a extinção em massa.

No evento do Pint of Science

Minha palestra no evento Pint of Science – Campinas no dia 16/05/2017 foi relativa a esse tema. Obrigada por me convidar foi ótimo.

Biomineralização: e eu com isso???

Quando pensamos em minerais, cristais, etc. raramente relacionamos esse tipo de processo com a vida e com o nosso próprio corpo. Mas basta um rápido sorriso no espelho para ver nos nossos dentes as evidências do processo de biomineralização que realizamos. Aliás sem biomineralização não conseguiríamos viver no planeta que habitamos, e precisamente essa capacidade dos organismos de biomineralizar pode ser exclusiva do nosso planeta, fazendo com que ele seja diferente de todos os outros conhecidos no sistema solar e fora dele.

Mas a final, o que é a biomineralização? Pode ser definida como um processo mediante o qual os organismos formam minerais a partir da retirada seletiva de elementos do meio que os rodeia e incorporação na sua estrutura funcional. Esse processo, por exemplo, incorpora cristais de hidroxiapatita [(Ca10(PO4)6(OH)2)] para construir e reparar nossos ossos e dentes. A hidroxiapatita é um mineral do grupo dos fosfatos, pois utiliza o fosforo como cátion para formar os cristais que vão sendo alocados entre as fibras de colágeno e dando forma e resistência aos nossos ossos. Os cristais de hidroxiapatita possuem forma de placas e são muito pequenos. Quando esse processo para ou é realizado de forma incompleta terá como consequência a osteoporose.

Os organismos utilizam vários íons no processo de biomineralização, entre os quais o mais comum é o cálcio (Ca), podendo ser encontrado em aproximadamente 50% dos biominerais. Outros íons bastante comuns são o Silício (Si), o Fosforo (P), o Ferro (Fe) e o Enxofre (S) embora a lista seja bem mais extensa.

O processo de biomineralização não é exclusividade dos eucariontes, pois entre os registros mais antigos de biominerais se encontram os associados a bactérias que biomineralizavam Fe, por exemplo, em magnetita formando cristais denominados de magnetosomos há 3.000 milhões de anos. Essas bactérias que geram magnetita recebem o nome de magnetotáticas. Os vegetais também biomineralizam utilizando como íon principal o Si, pelo menos nos últimos 400 milhões de anos, ou seja, desde que temos registros de plantas sobre os continentes. Quem já não se cortou com a folha de capim? Essas folhas possuem diminutos corpos de sílica hidratada, ou opala, denominados como fitólitos que cumprem funções de defesa e sustentação da planta. Por sinal, cada planta biomineraliza fitólitos com formas diferentes que podem ser estudados e utilizados em estudos de reconstrução de antigas florestas.

Alguns exemplos fitolitos e de folhas capim (Poaceae) rico em fitolitos.

Há uma enorme diversidade de organismos que biomineralizam cristais utilizando o Ca na forma de calcita ou aragonita nos mares e oceanos. Um grupo que utiliza cálcio e que produz belíssimas carapaças formadas por cristais de calcita são os cocolitoforídeos. Sob essa denominação sofisticada de cocolitoforídeos são reunidos os organismos autotróficos marinhos mais abundantes do fitoplâncton, ou seja, que vivem flutuando nas camadas mas superficiais dos mares até uns 20m de profundidade. Os cocolitoforídeos são tão abundantes que, junto aos foraminíferos, são responsáveis por criar e manter o gradiente vertical da alcalinidade na água do mar, e tudo por devido à biomineralização.

Cocolitoforídeo com suas pelas placas que representam um cristal de calcita. As placas ao morrer o organismo caem isoladas no fundo dos mares e formam espessos depósitos de carbonatos, os chalk. Depósitos formados dessa forma são os white cliff da costa da Inglaterra. (sopasdepedra,ebah.com.br, wonderfulseaworld)

Os biominerais são caracterizados por apresentar uma fórmula química definida, embora a sua morfologia externa possa ser incomum se comparada com os minerais produzidos inorganicamente, mas nessa característica reside parte da sua complexidade e diversidade. Muitos são, na realidade, compostos ou aglomerações de cristais separados por matéria orgânica como no caso dos nossos ossos. Os biominerais podem existir como pequenos corpos dentro de uma rede de colágeno ou quitina (como no caso da carapaça dos caranguejos).

Como acontece a biomineralização? Para que ocorra a nucleação (formação dos primeiros núcleos cristalinos) e o posterior crescimento, a biomineralização precisa de uma zona de deposição saturada, geralmente isolada do ambiente em volta e delimitada por uma geometria física, como vesículas intracelulares, onde o meio ao redor é precisamente controlado. Há dois processos básicos responsáveis: um biologicamente induzido e outro biologicamente controlado. No primeiro caso, os organismos não têm controle do tipo e da forma dos minerais depositados, embora controlem o pH, pCO2 e a composição das secreções, como acontece nos microbialitos comentados no post “Microbialitos – fósseis mais persistentes” da Flavia.

No processo biologicamente controlado, os organismos utilizam as atividades celulares para controlar diretamente a nucleação, o crescimento, a morfologia e a localização final do mineral que está sendo depositado. Assim, a maior parte do processo ocorre num ambiente isolado. O resultado é muito sofisticado e com uma função biológica especializada dada pelo organismo, como no caso dos nossos ossos e dentes. Pense nisso na próxima vez que escovar os dentes.

O Carnaval dos microbichos

Faz um tempo que a cada carnaval fico com vontade de ir para Veneza (Itália) e utilizar uma máscara decorada e inspirada nos foraminíferos. Eles são microfósseis, pois estima-se que hoje em dia existam ao redor de 8.000 espécies, mas a grande maioria delas dificilmente alcança mais de 1mm. Pela sistemática, eles são protistas eucariontes cosmopolitas, na sua maioria marinhos, e pertencem ao Filo Granuloreticulosa, possuindo uma célula só e são aparentados com as amebas. Os foraminíferos em vida possuem pseudópodes (ou falsos pés) que os auxiliam em muitas funções como na fixação, flutuação, alimentação, respiração, coleta, etc.
Os foraminíferos secretam uma carapaça ou esqueleto externo, que recebe o nome de testa, que em muitos casos é composta por carbonato de cálcio na forma de cristais de calcita. A testa é preservada facilmente no registro sedimentar, principalmente marinho, sem precisar passar por um processo de fossilização. O formato das testas, ou seja, a sua morfologia externa é francamente espetacular e sumamente variada.

Foraminífero  belamente ornamentado (http://www.foraminifera.eu)

A enorme quantidade de testas de foraminíferos depositadas no fundo dos mares e oceanos, as famosas vazas de foraminíferos, fazem desse filo de protozoas um dos grupos de fósseis mais abundantes do registro fossilífero do nosso planeta nos últimos 500 milhões de anos. Na verdade, são bem menos famosos que os dinossauros e muito mais bem-sucedidos. Quem não ouviu falar das pirâmides do Egito, umas das sete maravilhas do mundo antigo? Pois bem, elas foram construídas com blocos de pedra calcaria formada pela deposição de foraminíferos ou vazas de foraminíferos.

As vazas de foraminíferos são mundialmente estudadas em testemunhos recuperados de perfurações que alcançam centenas de metros de profundidade. Esses registros ordenados são precisos e preciosos na hora de realizar correlações entre camadas de diferentes locais no planeta, datar camadas, calcular – por meio de isótopos estáveis de Oxigênio – a temperatura das águas na qual foi segregada a testa, ou seja, ter acesso a paleotemperaturas de épocas passadas, etc.

A imagem pertence a um mesmo foraminífero planctônico, a diferencia esta na presença de espinhos em um e sem os espinhos no outro (http://www.foraminifera.eu)

Pois bem, as testas dos foraminíferos, como já falei, são super-bonitas e ornamentadas e dependendo da forma como o seu dono habite o ambiente marinho são denominadas como planctônicos, se pertencem a indivíduos que vivem flutuando perto da superfície, ou bentônicos, se vivem no fundo. Nesse segundo caso, podem viver colados a outros organismos ou enterrados entre os grãos de areia. Claro que também a sua distribuição nos mares vai ser regida por parâmetros como temperatura, salinidade, nível de oxigênio, disponibilidade de alimento, etc.

Entre os grupos de foraminíferos que possuem testa de calcário, temos os de testa aglutinante ou Textulariina, os porcelânicos ou Miliolina, os de testa hialina ou Rotaliina e um grupo extinto há mais de 250 milhões de anos conhecido como de testa microgranular ou Fusilinina. A forma como os cristais de calcita se organizam para formar a testa confere ao protozoa diferentes propriedades para e xplorar o seu habitat, ou seja, viver em lugares variados.

Aspecto da testa aglutinante (http://www.foraminifera.eu)

Entre os grupos de hoje, os foraminíferos aglutinantes secretam um tipo de cimento e com auxílio dos pseudópodos (lembrando que são parecidos com as amebas) colhem diminutos fragmentos de conchas ou grãos de areia e rochas do fundo, que vão colando no cimento e com isso construindo a testa. Na maioria dos casos a testa possui um furo na ponta, para saída dos pseudópodes. Com esse tipo de testa os aglutinantes exploram locais com pouca disponibilidade de carbonato dissolvido na água, como a foz de rios ou mesmo as profundezas dos oceanos, abaixo dos 2.000 metros de profundidade.

Exemplares com testa porcelânica (http://www.marine.usf.edu)

Os foraminíferos com testa porcelânica segregam cristais de calcita que são depositados em todas direções, isto é, sem uma ordem definida, formando uma testa muito robusta e habitam o fundo de todos dos mares e em todas as latitudes.

Os foraminíferos hialinos constroem as suas testas depositando os cristais de calcita de forma ordenada, então as suas testas são transparentes e finamente perfuradas. Pelas perfurações emergem os pseudópodes que auxiliam na flutuação, sendo esse grupo o que reúne todas as espécies de foraminíferos planctônicos, embora também existam muitas formas bentônicas.

Fomaníniferos planctônicos de testa hialina (http://www.foraminifera.eu)

As testas podem, independente de como foram construídas, ser ornamentadas ou lisas, ter uma ou muitas câmaras dispostas em uma ou muitas fileiras, em linha ou enroladas, etc. etc. Então, com essa diversidade e com 500 milhões de anos de história não vai ser difícil eu fazer a minha máscara, as de todo um bloco ou mesmo as de todos os foliões com motivos de foraminíferos diferentes….

Como um tronco ou um osso vira pedra?

Quem já não se deparou com uma pedra (rocha) que um dia formou parte de um dinossauro ou era a rama mais alta de uma árvore? Visitando um museu ou mesmo no campo?

Pois bem o processo que converte os restos orgânicos (vegetais, animais, bacterianos, etc.) em fósseis como estes é denominado de permineralização e ocorre de forma mais ou menos rápida, claro sempre pensando no tempo geológico. O processo se inicia imediatamente após a queda do resto num ambiente de deposição de sedimentos (córrego, rio, lago, mar…) ou durante o soterramento num desses locais. O que acontece em geral, é que uma solução rica em sílica ou cálcio consegue preencher os espaços vazios entre as células, poros e no interior das células. Com o passar do tempo, a perda de água promovida pelo soterramento induz a formação de cristais de quartzo, no caso de uma solução rica em sílica ou calcita, no caso do cálcio. Esses cristais possuem tamanhos diminutos, da ordem de poucos micrometros (1/1000 de um milímetro), que preservam a anatomia original inclusive das células, e por ser muito estáveis no caso da sílica, permitem a manutenção dos fósseis por muitos milhões de anos. Esse processo de fossilização pode levar 50.000 anos ou menos o que, convenhamos, é quase nada no tempo geológico.

Tronco de conífera da Formação Teresina (260 milhões de anos) permineralizado por sílica. A. Corte longitudinal mostrando traqueides; B. Detalhe de um traqueide, notar os cristais de quartzo que formam a estrutura.

Além da pemineralização por sílica ou carbonato de cálcio, outros minerais como a pirita (sulfeto de ferro) podem permineralizar estruturas orgânicas. Até mesmo a formação de gelo pelo congelamento da água dentro dos tecidos orgânicos, pode ser considerada uma permineralização, logicamente que bem menos estável, pois o fóssil apodrecerá após o descongelamento, como é o caso dos mamutes que frequentemente são encontrados na Sibéria.

No Brasil, temos abundantes sítios com fósseis permineralizados, inclusive alguns com o registro de extensas florestas que existiram há mais de 250 milhões de anos, como a do Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins (MNAFTO), em Bielândia, distrito de Filadélfia, que possui uma extensão de mais de 32.000 hectares ou as florestas fósseis de Mata e de São Padro do Sul no Rio Grande do Sul, um pouco mais jovenzinhas, ou mesmo os registros do interior de São Paulo, que representam as florestas que habitavam as planícies de rios ou próximas à costa em climas quentes e secos. No geral eram compostas por árvores aparentadas com as araucárias, podocarpos, pinheiros e também por samambaias de grande porte e cavalinhas, com certeza sem plantas com flores. Nelas estão preservados troncos com tamanhos que alcançam os 30 metros de comprimento e 1 metro de diâmetro e, menos frequente, folhas. Aliás, a diversidade é fóssil é grande, o que faltam são pesquisadores para estudar tanto material.

Caule de samambaia permineralizado por sílica coletado na MNAPTO

Por último, o processo de permineralização foi o que permitiu a preservação das evidências de vida mais antigas que se conhecem na Terra, com cerca de 3465 milhões de anos, que chegaram até os nosso dias e tem sido interpretados como filamentos de colônias de bactérias fotossintetizantes conhecidas como cianobactérias… Então a permineralizacão é um processo que permite tanto a conservação dos maiores registros fósseis em tamanho como dos menores… é só ter as condições necessárias e o tempo…

Mais próximo dos dias de hoje: como chegamos até aqui e quem ficou pelo caminho

Como os registros da Era Cenozoica, são bem mais novos, seus fósseis são abundantes e, em muitos casos, muito bem preservados. Antes de continuar vou fazer uma pausa para comentar que a Era Cenozoica é dividida em três períodos: Paleogeno, Neogeno e Quaternário. Estes períodos, por sua vez, são divididos em épocas, distribuídas da seguinte forma: Paleoceno, Eoceno e Oligoceno pertencem aos Paleogeno. O Neogeno, é formado pelo Mioceno e pelo Plioceno, e por último o Quaternário é dividido em Pleistoceno e Holoceno onde estamos há uns 10.000 anos.

Bacia de Taubaté, 1 e 2 são pólens de gimnospermas.
Figura 1- Bacia de Taubaté, 1 e 2 são pólens de gimnospermas.

Retomando o fio do registro fóssil no estado de São Paulo, como tinha adiantado no final do último texto, com a extinção em massa acontecida no final do Cretáceo e as mudanças na paleogeografia do nosso planeta, houve oportunidade para a renovação tanto da flora como da fauna ao redor do mundo. Estas mudanças foram influenciadas pela presença de regimes climáticos mais úmidos e quentes, que permitiram a distribuição de florestas, dominadas por angiospermas pelas regiões subtropicais (localizadas depois 23º de latitude norte e sul) e até no continente Antártico, que foi durante milhões de anos coberto por densas florestas até que, a partir do Mioceno, paulatinamente, o clima começou a mudar, ficando mais seco e frio, o que conduziria às grandes glaciações do Quaternário.

Os registros fósseis do Paleogeno e do início do Neogeno no estado apresentam florestas formadas por famílias de angiospermas (p.ex. leguminosas, gramíneas), de gimnospermas (Podocarpaceae) e samambaias, que existem ainda hoje, embora os gêneros e espécies possam ser diferentes dos atuais. As rochas sedimentares que contém os fósseis deste tempo foram depositadas dentro de um sistema de lagos distribuídas na margem atlântica que se estendia desde o sul do estado do Rio de Janeiro (Niterói) até o Paraná (Curitiba), e que hoje compreende, entre outras, as bacias de Taubaté (SP), Resende (RJ), Volta Redonda (RJ) e Itaboraí (RJ).

O conjunto e diversidade da vida preservada dentro da bacia de Taubaté (Oligoceno-Mioceno) é considerado como o mais rico desse tempo no Brasil. Os afloramentos onde os fósseis vêm sendo coletados desde mediados do século passado localizam-se, principalmente, nas pedreiras de argila da cidade de Taubaté. Na bacia são encontrados abundantes fósseis de folhas, sementes, polens (Figura 1), esporos, etc. A análise do conjunto dos vegetais preservados indica que no local estava presente uma mata subtropical úmida. Junto aos vegetais também encontramos registros de insetos, peixes (Figura 2), anfíbios, tartarugas, serpentes, jacarés, aves, mamíferos, além de evidências da sua atividade metabólica (icnofósseis) como excrementos, pegadas, galhas, etc. Os osteítes (peixes ósseos) são os vertebrados mais abundantes, contudo os mamíferos são de longe o grupo mais diversificado em espécies, entre os que deixaram registros fósseis. Dentre os mamíferos encontramos marsupiais identificados a partir de dentes e ossos das patas (tarsais), quirópteros (morcegos), além de dentes e mandíbulas de roedores.

Figura 2 - Osteite, Teleósteo muito abundante na Bacia de Taubaté. 1- Vista geral; 2, 3, 4, e 5 - microfotgorafias obtidas em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV); 2- Costelas; 3- Pirita framboidal associada à preservação dos tecidos; 4 e 5- Escama.
Figura 2 – Osteite, Teleósteo muito abundante na Bacia de Taubaté. 1- Vista geral; 2, 3, 4, e 5 – microfotgorafias obtidas em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV); 2- Costelas; 3- Pirita framboidal associada à preservação dos tecidos; 4 e 5- Escama.

Outros grupos de mamíferos que a partir deste momento se tornaram mais frequentes e que integraram a megafauna sul americana também foram coletados nas rochas sedimentares da bacia de Taubaté. Assim, por exemplo, encontramos os cingulata (tatus), com fósseis das suas características placas dérmicas que compõem a suas carapaças. Os Liptotermos formam parte desse grupo, embora hoje estejam extintos, e que reúnem um grupo de ungulados herbívoros que experimentaram uma extraordinária diversificação durante a Era Cenozoica. Além destes, temos também registros dos Astrapotheria, Nothoungulata e Pyrotheria, todos hoje extintos.

Por fim, os registros paulistas do Neogeno são representados por camadas sedimentares que contém conjuntos de microfósseis vegetais (polens) e que a partir deste momento (Mioceno) mostram evidências da deterioração climática relacionada ao início da glaciação no continente antártico. Esta tendência, que levará ao resfriamento geral do planeta, se manifesta nos conjuntos polínicos com o surgimento, diversificação e aumento da porcentagem de pólens de gimnospermas e algumas angiospermas (p.ex. Drimys).

No próximo capítulo, falarei acerca dos acontecimentos do Quaternário que merecem um texto à parte por causa da sua importância para a distribuição da vida como hoje a conhecemos.

 

FÓSSEIS MAIS PRÓXIMOS DE NÓS, OU SEJA, DO ESTADO DE SÃO PAULO

Capítulo 2: Quem eram os paulistas da Era Mesozoica?

Como já havia comentado na minha estreia neste Blog, a minha intenção é fazer um resumo para expor relatos acerca da diversidade fóssil do nosso entorno. Assim, vou primeiro fazer um resumo bem geral acerca dos milhões de anos de diversidade que ocorrem ao nosso redor, para depois ir detalhando essas ocorrências. Então estou retomando para fechar o intervalo de tempo entre 252 e 65 milhões de anos da vida no estado de São Paulo (Figura 1).

Fósseis de SP
Fósseis da Formação Botucatu e do Grupo Bauru. 1 e 2 pegada de dinossauro carnívoro (Teropode) nas dunas da Fm Botucatu. 3 dente de Teropode; 4 Molusco bivalve; 5, 6 e 7 Fósseis de jacarés; 3 a 7 fósseis do Grupo Bauru.

Na Era Mesozoica, durante os períodos Triássico (252 a 201 milhões de anos) e Jurássico (201 a 145 milhões de anos), uma grande porção do estado estava coberta por um deserto formado por grandes dunas de areia e onde os registros fósseis são escassos. Contudo, já no final do Jurássico e no Cretáceo, essa condição se reverteu e extensos depósitos ricos em fósseis revelam uma variada fauna (p.ex. Araraquara, Monte Alto, Marília) com invertebrados moluscos, artrópodes, etc, além de peixes, raros anuros (sapos), cágados (tartarugas de água doce) e arcossauros (dinossauros, crocodilos e afins) e bem poucos vegetais (São Carlos). Todos esses animais habitaram à beira de um dos maiores desertos que existiram e cujas rochas hoje em dia formam um dos grandes reservatórios subterrâneos de água doce do planeta, o Aquífero Guarani. Nas dunas da Formação Botucatu, em Araraquara existe um verdadeiro paraíso de rastros e pegadas fósseis ou, como são conhecidos esse tipo de preservação na paleontologia, de icnofósseis (do grego icnos = marcas). Entre os icnofósseis já foram identificadas trilhas de invertebrados semelhantes a escorpiões. Dos vertebrados, a diversidade de pegadas indica que por lá transitavam dinossauros carnívoros ou Teropodes, herbívoros (Sauropodes) e também mamíferos, que andavam, possivelmente, pulando como os atuais cangurus, mas que foram bem menores. Com relação às evidências mais palpáveis de vertebrados (entre eles os dinossauros) nas rochas do Grupo Bauru, localizadas a seguir no tempo geológico e espacialmente na metade ocidental do estado, há uma grande quantidade de esqueletos preservados, como peixes pulmonados que teriam habitado rios ou lagoas pouco profundas e que durante os intervalos de seca mergulhavam na lama e ficavam enterrados até o retorno das chuvas. De anfíbios, ou seja, sapos que, embora com poucos fósseis provenientes da região de Marília, atestam para a presença de locais mais úmidos, embora o clima regional fosse predominantemente seco.
Com relação aos quelônios, ou neste caso os cágados, existem bastantes registros e ao todo foram descritas até agora quatro espécies. Entre as lagartixas, ou squamata, embora sejam fósseis raros, existem alguns descritos a partir dessas rochas. Agora, com relação aos jacarés, tanto aquáticos como terrestres, esses são os vertebrados mais diversificados e comuns do Grupo Bauru, e relacionados com eles foram encontrados até abundantes ninhos cheios de ovos.
Já de dinossauros sauropodes, frequentemente são desenterrados ossos de titanossaurideos de “pequeno” e “médio” porte (entre 8 e 20 metros). Ossos de dinossauros carnívoros, ou teropodes, são menos abundantes, embora seus dentes associados outros ossos sejam bem mais frequentes.
Outro evento, embora não da vida, mais relacionado com as mudanças na configuração dos continentes que aconteceu durante a Era Mesozoica, entre o final do Jurássico e o início do Cretáceo, foi a separação entre a África e a América do Sul e, por consequência, a abertura do oceano Atlântico do Sul. No estado esse evento foi o que depositou os extensos derrames de basalto, que deram origem à chamada “terra roxa” no interior do estado. Essa mudança na configuração dos continentes vai produzir também alterações nas biotas terrestres e, claro, no clima que vai se tornar mais úmido e paulatinamente mais frio no decorrer dos próximos 64 milhões de anos. Também o nosso planeta vai pouco a pouco adquirindo uma geografia similar àquela dos dias de hoje. Para a Era Cenozoica, o registro fóssil é bastante abundante tanto em fauna (p.ex. Taubaté) como em flora, e mostra o isolamento da América do Sul após a fragmentação do Gondwana. Por fim, para o Quaternário o registro é muito rico em florestas (p.ex. Taubaté) e mamíferos (p.ex. Iporanga) até o Holoceno. Mas desses registros comentarei mais no próximo texto.
Por fim, constatamos que o registro fóssil paulista abarca muitos dos principais eventos da vida, e seu estudo permite reconstruir a evolução biológica e geológica do planeta.