Como ler um artigo científico ou…

O que esse cientista está falando?

Este post é uma participação especial feita pelo meu irmão Gabriel Nóbile Diniz, que também é engenheiro químico e nerd – veja o canal dele no YouTube. Ele dá dicas para quem tem acha complicado entender um artigo científico. É uma luz no começo do túnel:

Geralmente, quando a gente lê uma notícia científica, sempre começamos pela frase: “Cientistas descobrem que (…)”. E um jornalista descreve aquilo que o cientista estava tentando dizer, de uma maneira que podemos compreender. Mas, quando isso parece absurdo, o que a gente faz é coçar a cabeça e pensar: “Será que o cientista ficou louco? Será que o jornalista ficou louco? Será que EU fiquei louco?”.

Eu vi isso acontecer a alguns anos atrás. Um primo meu teve esse problema e resolveu mandar para várias pessoas uma postagem de um blog em inglês. O título dizia algo como: “Gravidade é um efeito e não uma Lei”. Para ajudar, havia um desenho com vários objetos e pessoas flutuando. Como se não bastasse, traduzindo rapidamente uma frase da postagem, o autor afirmava: “Enquanto outros (cientistas) acreditam que ele está certo e é um argumento trivial”. Não existe gravidade… Será que eu enlouqueci e esqueceram de me internar?

Na verdade, a postagem do blog não dizia em nenhum momento que a gravidade não existe. E que as pessoas não estão de forma ilusória presas ao chão. Porém, é a reação que temos ao ler a postagem.

Isso pode acontecer ao ler uma postagem científica, uma má interpretação da nossa parte ao ler uma notícia. Quando isso acontece, nos sobra procurar na internet (as ferramentas de busca conseguem achar!) os artigos científicos. No caso dessa notícia em questão, encontrei o artigo no site: http://arxiv.org/abs/1001.0785 Aí, nós lemos o artigo pensamos: “Hum… não entendi nada… E, para ajudar, está em inglês técnico-científico… Acho que vou procurar outra coisa para fazer”.

Eu posso ajudar vocês com a parte da ciência. Vou usar o artigo como referência, mas de uma forma que não será necessária uma leitura de um texto em inglês, ok?

O artigo científico começa como um livro. Ele tem título, o nome dos autores e o local em que foi escrito. Em um livro comercial, o local é uma editora. Em um artigo científico, uma faculdade ou universidade. É importante para o cientista, como para um autor de livro, dizer que ele foi quem escreveu, pois quer ser reconhecido por isso e quer que as pessoas saibam que podem esperar dele, livros ou artigos da mesma qualidade. Nada mais natural.

A faculdade é tão importante quanto a editora. Com o tempo, nota-se que assuntos interessantes e a qualidade boa que se deseja pode não vir apenas de um cientista/autor, mas de outros abraçados pela faculdade/autor.

Um artigo científico e um livro terão um resumo (está escrito no artigo em inglês como “abstract”). Ele é mais ou menos assim: “Esse é o assunto que iremos tratar. Se interessar continue lendo!” A diferença está naquilo que é dito no resumo: o de livro não conta o final. Sem estraga-prazeres! Já no artigo científico, a conclusão está no resumo. Outra diferença interessante é que na maioria das linguagens, haverá um resumo na linguagem nativa e em inglês.

Geralmente, o resumo basta para a gente entender o assunto. Só que nesse artigo específico temos a seguinte frase, traduzindo rapidamente: “Em que o espaço é emergente sobre um cenário holográfico”. Não ajudou! Vamos ter que ler o artigo inteiro para entender? Geralmente, não.

Temos no artigo uma introdução que “ambientaliza” o cenário. A introdução pode conter: “Eu era um fazendeiro, cuidando de minha horta”. Então temos, ali, uma região rural como cenário. No artigo que temos de exemplo, a primeira frase é: “De todas as forças da Natureza, a gravidade é a mais universal”. Então o que ele está dizendo é que vai falar sobre como a gravidade é vista há tempos. Não precisamos ler tudo, mas lendo por cima a introdução (pulando muito mesmo) vemos os nomes de Newton e de Einstein, além da frase, “geralmente, holografia é estudada na visão da relatividade”. Assim, dá para deduzir que ele quer pegar a visão antiga da gravidade e dar uma nova visão, com as ciências modernas.

Ciências que quase ninguém entende. Relatividade? Está brincando comigo…

Ok, sem problemas. Existem muitos que falam de relatividade, mas nem será necessário entendê-la para ler o artigo. Em seguida, o artigo aborda a força entrópica, as leis da inércia, a força elástica, várias e várias situações. Não desista! Alguma resposta está por vir! Pule a parte da explicação e vá para próximo do final!

Conclusão e Discussão… é isso! É aqui que a verdade é dada! Ambos são equivalentes ao epílogo do livro, onde tudo é explicado e detalhado! Se você quer uma resposta, lá teremos! Assim, lemos no próximo subtítulo (6.1): “O fim da Gravidade como uma força fundamental”.

Em nenhum momento o artigo fala que a gravidade não existe. Em nenhum momento o jornalista afirma que o artigo fala que a gravidade não existe. A intenção original do nosso prezado cientista é dizer que a gravidade é uma força. Mas não uma força fundamental. Ele disse que o tipo de força é que muda. Ele estava apenas falando da ORIGEM da gravidade! E não que as coisas flutuam pelo espaço.

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