Nem toda montanha dos Andes é de “pedra”

Quem observa a Cordilheira dos Andes da janela do avião (clique nas imagens para ampliar), além de sentir euforia misturada com frio na barriga por voar entre os picos, tem a sensação de que todas suas montanhas são parecidas. Geralmente, olhando de lá de cima, o topo das montanhas está coberto de neve e suas rochas refletem uma homogênea cor escura. Já no Chile, da cidade de Santiago, é possível observar os magníficos paredões quando a poeira e poluição baixam. Porém, ainda parece que suas montanhas são todas iguais. Ledo engano.

Em Cajón del Maipo, uma região localizada no coração dos Andes a uma hora da capital chilena, o guia me alertou: “Repare que os ‘cerros’ [colina, em espanhol] têm cores diferentes”. Era cedo, cerca de 8h da manhã. Os raios solares não alcançavam nem um terço das altas montanhas – algumas passavam de 5 mil metros de altura. Conforme a gente caminhava horas naquele lugar considerado o centro energético mundial por Dalai Lama (li a informação num mapa turístico local), o sol subia no horizonte iluminando as íngremes encostas. Aí, meus olhos brilharam.

 

Entendi o que o simpático chileno quis mostrar. Cada montanha – próxima, grudada ou nascendo na outra – tem uma cor diferente. Sério, as tonalidades são muito e perceptivelmente diversas. Algumas montanhas são verdes, outras avermelhadas, outras amarelas (acredite!), outras pretas, outras marrons claras, marrons escuras ou esbranquiçadas. Isso significa que, apesar dos Andes emergirem do fundo do mar, a proveniência das suas rochas é variada.

 

O guia, pertencente a uma família de mineradores – a principal atividade econômica da região -, sabe “do que a montanha é feita” só de olhar para um pedrisco. Tropecei numa rocha com discretas listras verdes. “Nessa pedra tem cobre”, disse o guia. Entramos em termas com água esbranquiçada. “Nessa montanha deve haver gesso”, conta. Percebi que, principalmente, o vulcão San José e o Cerro El Mirador del Morado com glaciar (um gelo que permanece muitos mil anos sem descongelar, imagem à esquerda) têm cor preta. Ou seja, sua composição tem basalto – uma rocha vulcânica de cor escura.

 

O chileno não sabia dizer qual a composição do Cerro Amarillo (montanha de cor amarela, claro, foto acima), localizado em frente ao Parque Nacional El Morado – ainda vou falar sobre esse lugar divino neste blog. Mas contou que ele era bem maior. A cada verão a montanha se desfaz, sendo levada abaixo pelas águas do degelo. Assim, sua observação somada ao seu antigo trabalho como minerador e sabedoria popular indica qual a melhor montanha para praticar alpinismo, caminhar, encontrar traços de civilizações já extintas e por aí mundo afora. Não é incrível? Proteger a natureza é viver. Boa semana colorida!

Google Street View debaixo do mar

As imagens são tão incríveis que preciso compartilhar. O Google e a Universidade de Queensland, na Austrália, com o patrocínio do grupo multinacional de seguros Catlin, estão mapeando fotograficamente a Grande Barreira de Corais australiana, a maior do mundo com 2,3 mil km de comprimento. O objetivo do projeto, chamado Catlin Seaview Survey, é verificar os impactos do aquecimento global nesse ambiente marinho.

Nós, peixes fora d’água, podemos fazer um tour virtual pelo maravilhoso mundo do coral sem molhar um dedinho! As instituições disponibilizam as imagens no esquema Google Street View – Seaview (mar + vista) , pegou? – para qualquer ser humano que navegue na internet. Basta você clicar aqui e cair no mar australiano. Por enquanto, apenas sete pontos do coral estão disponíveis, mas 20 já foram fotografados. O grupo diz que irá publicar as imagens já tiradas – e quem sabe outras novas.

 

Se você tem medo de mergulhar ou curiosidade sobre como é a vida marinha, eis a chance. Não é a mesma sensação que pular no mar carregando um cilindro nas costas, mas dá para saciar a vontade. Além da página do projeto, os organizadores criaram um canal no Youtube – que tem, por enquanto, apenas um vídeo. Para saber mais informações sobre o projeto clique nos links: Catlin Seaview Survey, Universidade de Queensland, press release da Catlin Group, matéria na NewScientist e post no Guizmodo.

Como é mergulhar
Lembro do meu primeiro mergulho com cilindro como se fosse ontem: ponto Cagarras, Fernando de Noronha, 2009. Estava ansiosa no Porto Santo Antônio. Enquanto esperava o barco que nos levaria ao ponto de mergulho, com os cotovelos apoiados no encosto do banco de madeira, observava os siris indo e vindo com a maré no fundo do mar e jogava conversa fora com um forasteiro que se autodenominava “pirata”.

 

Ele morava em São Paulo e, a cada seis meses, seguia para a ilha da fantasia admirar seu animal preferido: a ave fragata. Durante o voo, a pirata aérea rouba o alimento de outros pássaros batendo na cabeça deles até regurgitarem o peixe pescado.

 

O céu da manhã continuava azul límpido pontilhado de próximas aves quando a embarcação aportou. Respirei fundo: a hora se aproximava. Sempre quis mergulhar. Era um sonho, mas ao mesmo tempo, um pesadelo. Sentia falta de ar só por pensar em permanecer debaixo da água presa a um cilindro que tem a metade do meu peso – mal eu sabia seria amarrado, na minha cintura, mais pesos. Mas a curiosidade, para variar, era maior que o meu receio.

 

Após navegarmos por menos de meia hora em direção a outras ilhas do arquipélago mais ao norte, o capitão desliga o motor. Chegamos. Paramos em frente a uma ilha rochosa. O mar estava calmo. O céu também. As aves. Vamos ao que chamam de “bastimo” guiado por instrutores. Tivemos uma breve aula em alto mar sobre mergulho e como proceder com os equipamentos. Beleza! Sou sorteada para ser guiada por um dos instrutores mais experientes – e bem humorados.

 

Vesti o macacão de borracha, os pés de pato, a máscara. O instrutor me ajudou a colocar um colete inflável, pesos na cintura e, por fim, o cilindro. A maioria dos marinheiros de primeira viagem saltaram em direção a água. “Quem garante que o colete suporta na superfície do mar o meu peso e mais o de todos esses equipamentos comigo?”, pensei. Não quis pular. Já na água, o instrutor me deu a mão e eu saltei sentada. Agora, vamos lá!

 

Estava tão tensa que nem reparei no azul profundo em minha volta. Segundos seguidos, fiquei eufórica. U-A-U. Aquele mundo, que só tinha visto em documentário ou da superfície com meu equipamento de snorkeling, se abria. Rapidinho, senti uma paz tomando conta do meu corpo e da minha mente.

 

O guia percebeu que eu não apertava mais a sua mão. Viu minha risada estampada. E me guiou por um mundo de corais que se fecham ao se aproximarem dos dedos, polvo vermelho arredio à nossa presença muito próxima dele, moreias verdes e coloridas ameaçadoras a menos de 30 cm de distância, tartarugas com comportamento parecido ao do filme “Procurando Nemo”.

 

Além da sensação de paz e segurança, o que mais me chamou a atenção foi passar despercebida pelos peixes e tartarugas. Eles não se assustavam com a nossa presença. Pareciam até chegar mais perto por curiosidade. Éramos peixes. Um novo mundo calmo e colorido se abria. Encantador.

 

Atingimos cerca de 15 metros de profundidade. Eu olhava para cima, via o paredão de pedra sobre mim e na superfície o sol refletido. Enquanto viajava naquela nova imensidão, o guia cobrava a subida. A meia hora passou como se fosse um minuto. Eu fazia que não com o dedo e a cabeça. Queria mergulhar mais… De nada adiantou teimar. Colete inflado pelo guia, superfície à vista. Bem que os instrutores alertaram: “Quando estiver lá embaixo, não vai querer subir”. E, assim, eu me apaixonei.

Aprenda com o passado da Ilha de Páscoa

A dica de hoje é o Museo de Arqueología e Historia Francisco Fonck, na litorânea cidade com ar-condicionado natural Viña del Mar, no Chile. Ele primeiro atrai a atenção por expor um grande moai (aquelas estátuas da Ilha de Páscoa) com mais de dois metros em seu jardim – este, aliás, era o meu interesse inicial, pois queria novamente a euforia sentida ao ver um moai no British Museum. Pesquisando sobre o museu, vi que ele tinha, além de uma área destinada à história natural, mais peças da polinésia chilena. Já me deu coceira. Tenho loucura por essas ilhas do Oceano Pacífico. Aliás, já que estou toda cultureba, se você também gosta da cultura polinésia veja o filme ” Tabu, a Story of the South Seas” (1931), dos cineastas Robert Flaherty e Friedrich Wilhelm Murnau – a obra é a vanguarda muda e em preto e branco dos documentários atuais.

Viajando de volta ao Chile, o museu expõe muitos textos sobre a Ilha da Páscoa. Além da já sabida (geralmente sem detalhes) história de que os próprios moradores da ilha, o povo Rapa Nui, a desmatou inteira, lá descobri que sua cultura é bem diferente das outras civilizações polinésias ou indígenas contemporâneas (antes do século XVII). Entre as informações que chamaram a atenção: ninguém até hoje sabe sua origem exata, cada moai tem um nome (quem lembrar dos dados do que está exposto no Museu Fonck e no British Museum deixe nos comentários deste post), eles eram mais guerreiros que o povo do Hawaii e do Tahiti (brigaram à beça entre os próprios povos e para que os europeus fossem embora da ilha) e praticavam a horticultura. Esta está diretamente relacionada ao desflorestamento do local.

Os rapanui pescavam, mas a horticultura era a base da sua subsistência – alguns indígenas brasileiros são coletores (vivem de colher frutos e afins da natureza, sem plantar). Eles cortavam e queimavam árvores para abrir lugar aos cultivos principalmente de: batatas, taro (“batata dos trópicos”) e inhame. Para produzir o fogo, friccionavam um pedaço de madeira dura sobre o tronco de uma planta chamada hau hau. Nas festas, cozinhavam a comida em grandes fornos cobertos por folhas e húmus. Os tocos de árvores também eram usados em fornos de residências, nas cremações, nos cerimoniais. Porém, o uso indiscriminado da madeira ao longo do tempo causou a falta de matéria-prima, dificultando a construção de embarcações, o que impedia migrações.

Enquanto isso, a população crescia na ilha. Consequentemente, cada vez mais, o espaço livre diminuía e os conflitos entre grupos rivais aumentavam. Havia aristocracia, sacerdotes, guerreiros, gente “comum”. Segundo o museu, a batalha do Poike entre dois grupos foi o momento culminante da crise na ilha no fim do século XVII. Depois dessa guerra, os habitantes tiveram que se virar com os recursos naturais e pessoais que sobraram. As plantações foram protegidas com jardins de pedras para conservar a umidade. Os cadáveres deixaram de ser cremados: seus ossos eram guardados limpos dentro de câmaras debaixo de altares. As cerimônias asseguradas eram para proteger a fertilidade e para saber administrar com destreza os recursos para a subsistência.

Além de várias histórias, como essas informações, o museu também conta com algumas peças do período precolombiano (inclusive uma múmia). Como o principal museu de arte precolombiana do mundo estava fechado para reformas de expansão, o Museo Chileno de Arte Precolombino, me contentei com o pouco que se mostrou muito. E fui feliz aprendendo com uma cultura que ainda vou conhecer mais de perto ao visitar sua terra natal. Sonhar é preciso. Boa viagem!

O Pablo e o mar

Aqui estão duas, hoje e amanhã, breves dicas para quem aproveita o carnaval para programar viagem ainda sem destino ou ao hermano Chile. A primeira delas é o museu Isla Negra, localizado na cidade litorânea El Quisco – apesar do nome, ele não está instalado em uma ilha. Fiquei emocionada ao visitá-lo por ser uma das casas do poeta Pablo Neruda e por sentir pertinho a proximidade do escritor com o mar. Relação que já conhecia por meio de seus livros, mas pessoalmente se revelando uma surpresa marejada.

Pablo Neruda amava o mar e sentia por ele um grande respeito. Brandava ser um marinheiro em terra firme. No quintal de sua casa encravada em uma praia pedregosa, com o constante estrondoso barulho das ondas se chocando contra elas, colocou um velho barco comprado em certa ocasião. Nunca levou-o de volta às águas, dizia que não precisava. Gostava de beber com os amigos sentado em seus bancos e, ao levantar, já saía mareado da embarcação.

Dentro de todos os cômodos da “casa-barco” repleta de personalidade, reutilizava diversos objetos principalmente remetentes, claro, ao mar como as esculturas inseridas na frente das embarcações – não lembro o nome dado a elas em português, em espanhol se chamam “mascarón de proa”. Vou me segurar nos detalhes sobre a decoração para evitar estragar as surpresas. Apenas ressaltar que, para Neruda, as residências deveriam ser lúdicas. E destacar sua consciência ambiental já naquela época, antes da década de 1970.

Certa vez, ao observar um dia agitado do mar, o poeta viu um objeto boiando próximo às pedras. Pediu a Matilde, sua última esposa, ajuda para retirar o que se relevou um pedaço maciço de madeira. “O mar me deu de presente o tampo de uma mesa”, disse. Depois de muito esforço, o casal levou para dentro de casa a peça a ser instalada em seu escritório caseiro.

Essas são poucas – e descritas neste post de maneira muito simples para um poeta tão grandioso – de muitas impressões e histórias guardadas em minha memória após visitar o abrigo de Neruda e ler as suas obras. Sua vida é um exemplo de respeito ao meio ambiente, amor às artes e compaixão ao próximo. Se tiver oportunidade de visitar sua residência que hoje é o museu Isla Negra, agarre-a firmemente.

Enquanto isso, do meu “apartamento-barco”, esta simples mortal que agora, mais ainda, se sente parte de uma versão feminina do poeta – alguém que me entende -, resiste a mostrar para outros os poemas que escreveu relacionados ao tema e deixa um registro do legado de Neruda para você se marear com ou sem o balanço das ondas:

El mar

 

Necesito del mar porque me enseña:
no sé si aprendo música o conciencia:
no sé si es ola sola o ser profundo
o sólo ronca voz o deslumbrante
suposición de peces y navios.
El hecho es que hasta cuando estoy dormido
de algún modo magnético circulo
en la universidad del oleaje.
No son sólo las conchas trituradas
como si algún planeta tembloroso
participara paulatina muerte,
no, del fragmento reconstruyo el día,
de una racha de sal la estalactita
y de una cucharada el dios inmenso.

 

Lo que antes me enseñó lo guardo! Es aire,
incesante viento, agua y arena.

 

Parece poco para el hombre joven
que aquí llegó a vivir con sus incendios,
y sin embargo el pulso que subía
y bajaba a su abismo,
el frío del azul que crepitaba,
el desmoronamiento de la estrella,
el tierno desplegarse de la ola
despilfarrando nieve con la espuma,
el poder quieto, allí, determinado
como un trono de piedra en lo profundo,
substituyó el recinto en que crecían
tristeza terca, amontonando olvido,
y cambió bruscamente mi existencia:
di mi adhesión al puro movimiento.

Onde nascem as águas

 

Em tempos de águas de março, saiba que o líquido que sai transparente da torneira da sua residência desceu muita serra. Haja corredeira! A dica é de uma exposição permanente do Parque Estadual de Campos do Jordão, vulgo Horto Florestal, localizado na linda Serra da Mantiqueira. Segundo o parque, “mantiqueira” significa “lugar onde nascem as águas” em tupi – as mina pira na semiótica. A água que passarinho bebe em algumas cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais é proveniente da Serra da Mantiqueira, da Cantareira e do Mar.

No caso da Serra da Mantiqueira, seus riachos, ribeirões e rios têm leitos pedregosos quase sempre com corredeiras. Geralmente, essas águas são frias, límpidas, oxigenadas e rasas. E são diversas, mais belas que o rio que corre pela minha aldeia. Em apenas quatro horas dentro do Horto Florestal, encontrei muita água além daquela que veio do céu: visitei a cachoeira do Galharada e fiz uma breve caminhada ao lado do rio Sapucaí-Guaçu, que corta o parque. Recomendo a visita.

Já o nome Serra da Cantareira não tem origem indígena, mas também remete ao precioso líquido. De acordo com o Parque Estadual Serra da Cantareira – outra dica de passeio incrível e, o melhor, não é preciso nem sair da cidade de São Paulo para conhecê-lo – “o nome ‘Cantareira’ foi adotado por conta da grande presença de tropeiros entre os séculos XVI e XVII que guardavam seus cântaros [vasos] de água em móveis chamados ‘cantareiras‘”. Essa água, como é de se imaginar, era retirada da respectiva serra.

Sempre gosto de saber a proveniência dos produtos e alimentos consumidos por mim. É uma maneira de entrar em contato com a terra – e com a Terra. De voltar às origens. De estabelecer uma ligação com aquilo aparentemente tão distante. Ai, ai. Neste momento, sorrio observando a linda Serra da Cantareira da janela da minha sala. Ainda bem que está aí emoldurando a paisagem.

Obs.: A foto tirei do Pico do Itapeva com cerca de 2 mil metros de altitude. De lá de cima, é possível ver várias cidades no planalto como Tremembé, Aparecida, Taubaté, Pindamonhangaba e São José dos Campos e, mais ao fundo, a Serra do Mar. <3

Passeie pela “mata das nuvens”

“Mata das nuvens”… Poética essa composição de palavras, não? Confesso que emprestei daquela exposição permanente sobre a Serra da Mantiqueira no Horto Florestal de Campos do Jordão, interior de São Paulo. Quem já andou no meio do mato em ambientes serranos do Sul e Sudeste deve ter reparado que alguns locais têm uma névoa quase permanente entre e sobre a vegetação. Para mim, essa paisagem remete aos sonhos ou, se existissem, aos lugares onde viveriam as ninfas. Outros já a relacionam aos filmes de terror.

Essa névoa “mágica” é resultado da umidade levada para as serras do Mar e da Mantiqueira por meio dos ventos que sopram do mar em direção ao continente. O nome “verdadeiro” desse misto de nevoeiro e chuva é mata nebular. Segundo a exposição no Horto Florestal, a mata nebular “é densa, formada por árvores de tronco retorcido, quase sempre cobertos de musgos, bromélias e orquídeas”. Mais detalhes: “Nela são encontradas árvores como o cambuí, o guamirim e o pinho-bravo”.

Os ambientes de mata nebular estão, geralmente, acima de mil metros de altitude. A foto deste post tirei em um local com “mata das nuvens”, dentro do Parque Estadual de Campos do Jordão – o vulgo Horto Florestal. Enquanto eu pasmava sentada sobre uma pedra ao som distante da maior queda da Cachoeira da Galharada, aproveitava para capturar o frescor da mata. Respirava fundo. Ai, ar puro e úmido.

Parece pasto, mas não é

Veja como um passeio de bicicleta ao parque é cultura. Enquanto caía a tradicional chuva das duas horas da tarde do verão* de Campos do Jordão, cidade serrana de São Paulo, aproveitei para visitar um pequeno museu localizado dentro do Horto Florestal – leia aqui o post sobre esse parque. Lá dentro, fiz uma feliz descoberta: muitas terras localizadas principalmente no Sudeste e no Sul do Brasil parecem pasto, mas na realidade são exemplos do ecossistema chamado Campos de Altitude (partes das montanhas sem árvores na foto).

 

Lembro nitidamente as paisagens das minhas viagens de infância e adolescência ao Paraná. Em uma ocasião, a rodovia seguia por um lado de uma serra. Lá embaixo, no vale, corria um magro rio com pedras nas margens que refletia o tom azul escuro. Acompanhando o leito, um bucólico trem transportava a carga por uma ponte de ferro. Conforme o carro avançava, o trem ficava para trás e ao lado dele “subia” uma montanha tomando nossa visão. O alto morro pelado parecia ser coberto por uma vasta pastagem. Apenas uma solitária araucária fazia sombra.

 

No momento, a composição me encantou. Parecia uma pintura feita no início da tarde. Porém, logo em seguida, pensei: “A Floresta de Araucária foi desmatada para dar lugar aos bois? Pena”. Detalhe é que não vi um gado sequer pastando naquelas terras. Hoje, creio que esse lugar perdido nos rincões paranaenses era, na verdade, um exemplar do Campo de Altitude. Segundo pesquisei, esse ecossistema é comum nas áreas mais elevadas – acima de 1.500 metros de altitude – da Serra do Mar, da Mantiqueira e na Cadeia do Espinhaço (em Minas Gerais). Geralmente, são encontrados em locais com solo rochoso.

 

A exposição no Horto Florestal informava que os Campos de Altitude são fundamentais na dinâmica ecológica dessas serras. No inverno, se tornam bem secos propícios a incêndios. Quando chega a primavera, são tomados pelas cores das flores. Aliás, o ecossistema é rico em espécies – muitas delas vivem apenas neles. O engraçado é que sua paisagem lembra as que encontrei na Cordilheira dos Andes – aguarde fotos em novos posts. Claro que guardadas as devidas proporções, principalmente, do tamanho das cadeias de montanhas! Deve ser por isso que me senti tão à vontade no meio daqueles gigantes.

 

 

 

 

*Obs.: Todo dia, na hora do almoço entre 12h30 e 14h, chovia em Campos do Jordão. Mas chovia, chovia muito. Está vendo essas “pedrinhas” brancas no chão da foto ao lado (clique nela para ampliar)? É o resultado de 15 minutos de queda de granizo. Lindo. Ah, e a ciclista da foto acima soy yo.

Tuitando no Roda Viva

Hey, uma nota rápida. Segunda-feira (6), fui ao programa Roda Viva da TV Cultura como tuitera. Sérgio Gabrielli, que está deixando o cargo de presidente da Petrobras, era o entrevistado. Ele falou sobre vários temas polêmicos como o alto custo da gasolina no país e as comuns propagandas institucionais da empresa. Com relação ao meio ambiente, disse que a indústria automobilística não tem, no Brasil, tecnologia suficiente para evitar a poluição causada pelos veículos ao consumirem o combustível proveniente do petróleo. Sobre os vazamentos do ouro negro durante a exploração, afirmou que a empresa investe em tecnologia para evitar tragédias ambientais. Concorde ou discorde, o papo foi quente com direito a todos (entrevistados, apresentadores e perguntadores) falarem ao mesmo tempo e continuarem as discussões até nos intervalos (bastidores). Interessou? Veja o programa na íntegra aqui. Você também pode checar as melhores partes da conversa no meu perfil do Twitter.

 

Obs.: Na foto acima, seguro a charge que Caruso (esquerda) fez de nós – tuiteiros de plantão – durante o programa. Sou a de verde e a Amanda Wanderley, do podcast Decodificando, ao meu lado.

Estacionamento para bikes parece “as europas”

Noites e manhãs frias em pleno dezembro de verão, casas com arquitetura alemã, pinheiros plantados em passeios públicos, florestas circundado a cidade e estacionamento para bicicletas no centro comercial. A descrição não parece de uma cidade brasileira, não é mesmo? Deixando o gosto duvidoso da arquitetura e da introdução de espécies exóticas de lado, ter um lugar para parar as magrelas no principal centro comercial turístico de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, é um mínimo apoio aos ciclistas (foto). Acho civilizado. E o povo usa. Quem vai trabalhar. Quem vai comer ou comprar. Quem é turista. É para todos. As quatro bicicletas da foto tiraram quatro carros das entupidas ruas do badalado “centrinho”. Melhor se exercitar do que ficar dentro do possante meia hora dirigindo a 5 km/h até encontrar uma vaga na rua ou no estacionamento – e dirigir por no máximo 6 quilômetros para chegar ao tal centro, distância da maioria dos hotéis. Todas as cidades brasileiras deveriam ter um lugar destinado às bicicletas nos centros comerciais. Isso, sim, é ser “phyno”.

Obs.: Conhece mais cidades tupiniquins com estacionamento para bikes? Conte aí!