Queremos parques “de bonito” ou para serem curtidos?

IMG_6381Na África do Sul, quando caminhávamos – vendo uma foca brincar nas ondas – pela areia da praia do Parque Nacional Tsitsikamma (foto acima) em direção a uma trilha, para subir 300 metros de morro, um homem nos parou. Abriu um sorriso: “Oi, tudo bem? De onde vocês são?” Respondemos que éramos do Brasil. “O que acharam do parque, estão gostando?” O lugar era lindo com animais marinhos, fantástico com paredões que despencavam na água, bem cuidado, bem estruturado, com uma lanchonete que não metia a faca na gente, seguro em relação a tudo, enfim, estávamos amando. “Que bom que estão aproveitando, desculpe-me a intromissão, mas sou o diretor do parque e queria saber se estavam contentes.” É por essas e por tudo o mais que amo a África do Sul, mesmo com seus graves problemas sociais.

Na África do Sul e nos maiores parques da Argentina e do Chile, é possível dormir dentro delesAproveitar a lanchonete, geralmente, sem preços muito abusivos. Também dá para caminhar com segurança pelas trilhas bem demarcadas e obter informações sobre o local com os funcionários. Os safáris da África dizem por si no imaginário das pessoas – é tudo isso o que você pensa. Aqui do outro lado do Atlântico, gente, o Chile nem parece um hermano brasileiro. As entradas aos parques são baratas e eles são bem sinalizados, organizados, têm excelentes estradas e trilhas – coração para o Parque Nacional Torres del Paine (foto do Sol, abaixo) e Parque Nacional El Morado. Se perder neles, só se for em pensamento…

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África do Sul, que há cerca de 15 anos estava em meio a uma guerra civil, conseguiu se reerguer economicamente sabendo usar o ecoturismo. Aliás, o ecoturismo colaborou até para recuperar áreas naturais e espécies. O Chile, apertadinho entre tanta beleza, tem parques desde o deserto do Atacama até o frio da Patagônia. Quem nunca sonhou em conhecer uma das belezas naturais do Chile? Digo o mesmo para a Argentina, que divide conosco as Cataras do Iguaçu, que tem o Perito Moreno e o Parque Nacional Tierra del Fuego lá no Fim do Mundo. E o Brasil, o que tem? Desse tamanho todo, não tem nada?

Muitos parques (reservas) brasileiros, sejam eles públicos ou privados, se encontram em triste situação. A maioria deles sofre com falta de planejamento e do famoso manejo. Em alguns parques, onde o atrativo eram as aves, não se observam mais aves. Outros quase tiveram que fechar as portas por conta da falta de dinheiro para mantê-los. Outros são depredados pelos visitantes, que em vez de terem orgulho da beleza nacional, preferem destruir o nosso patrimônio. Claro que, já que Deus é brasileiro, ainda há palmeiras onde canta o sabiá.

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Existem inúmeros bons exemplos no Brasil. O mais recente que eu visitei, a convite da Fundação Boticário que o mantém, é o Reserva Natural do Salto Morato (foto abaixo) distante apenas 170 quilômetros de Curitiba, capital do meu maravilhoso Paraná. O lugar tem cachoeira de 100 metros, piscina natural, figueira de 350 anos, quase 600 espécies de plantas, cerca de 350 espécies de pássaros (fáceis de serem avistados), mais de 80 espécies de mamíferos… Dá para caminhar por ele com segurança, dá para acampar e ele tem lanchonete. A entrada inteira? Sai por sete reais.

Vamos aproveitar o que temos de lindo e de melhor. Vamos conhecer as reservas respeitando a cultura local, sem retirar nada do lugar, tendo cuidado com nós e com os outros, guardando o meio ambiente. Assim, com essas ações, nós estimularemos a conservação desse e de mais locais. O Brasil é gigante. O Brasil é lindo. A população brasileira é uma das mais simpáticas e generosas do mundo. Isso tudo é o que temos de melhor. Alguns ecoturismo são caros, sim. Então, vamos estimular aqueles que são viáveis para que os inviáveis economicamente se tornem mais acessíveis. E, sempre, sempre com consciência. O ecoturismo pode impactar um lugar, mas pode ajudar a preservá-lo.

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Obs.: Todas essas fotos do pots pertencem ao Xis-xis. Por favor, peça autorização para usá-las.

Por que eu tenho olhos castanhos? Ou azuis?

Vou fazer uma pausa nos posts e vídeos sobre a minha amada Patagônia para postar um vídeo da parceria do Xis-xis, este blog que vos fala, e do Aprenda.bio! Você nunca entendeu que raios é o tal do gene? E muito menos o que é gene recessivo, dominante e o porquê de você não ter olhos claros? Calma, minha gente. Estamos aí para ajudar. Veja o vídeo abaixo e tire suas dúvidas! Qualquer coisa, só escrever nos comentários! Um abraço e boa iluminada semana!

[youtube_sc url=”http://youtu.be/xNxNjFwZeYM”]

Como um glaciar é formado?

[youtube_sc url=”http://youtu.be/6yUKPA28b5w”]

Antes de viajar à Patagônia, procurei informações em português sobre glaciares. Achei pouca coisa – não temos glaciares no Brasil… A maioria das informações estava em inglês e, algumas, em espanhol. Portanto, para ajudar pessoas como eu, fiz um vídeo explicando como os glaciares se formam. Parece mágica, mas não é! De quebra, você ainda verá em HD imagens exuberantes desse presente da natureza!

Você sabe o que é uma lagoa de sistema fechado?

sarmiento1Alguns lagos ou lagoas são chamados de “sistema fechado”. Ou seja, recebem água, mas sua água não corre para outro lugar (apenas evapora ou infiltra no solo). No maravilhoso Parque Nacional Torres del Paine (Chile), existem dois exemplos divinos de sistema fechado: o Lago Sarmiento (acima) e a Laguna Amarga (abaixo).

Nestes casos (de sistema fechado), os rios levam água – e minerais – para eles que não têm aonde correr (devido a sua posição). Quando isso acontece, os minerais ficam dentro deles. No caso da Laguna Amarga, conforme o tempo foi passando, essa acumulação aumentou. E, consequentemente, a água dela foi ficando mais salina… Assim, micro-organismos encontraram o ambiente ideal para crescer e se proliferar, já que muitos deles não conseguiriam sobreviver em locais com drenagem ou pH mais neutro – leia aqui sobre o pH da Laguna Amarga. 😉

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Fonte: próprio Parque Nacional Torres del Paine. Ambos os ambientes das fotos podem ser vistos nas entradas dos parques. Fique atento!

Em tempo: lago tem água doce e lagoa, salgada!

O que é o gosto amargo

IMG_3173Essa, da foto, é a Laguna Amarga. Ela fica no considerado parque mais lindo da América do Sul: o Parque Nacional Torres del Paine (Chile). Como uma boa curiosa, advinha qual foi a minha ideia quando vi esse lugar divino? Não, não foi me jogar na água – que deveria ter menos de 5 ºC. Foi prová-la! Isso, mesmo prová-la! Sabe do que ela tem gosto? De bicarbonato de sódio!

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Como você deve ter percebido, viajar para mim é muito mais do que apenas “checar” o lugar bonito e tirar uma foto nele dizendo que estive lá. Eu gosto de entendê-lo e aproveitá-lo em tudo o que o for possível. O maridão e eu estávamos nos despedindo do parque quando paramos para tirar a foto acima em frente ao maciço Paine que dá nome ao parque, aquelas três belíssimas torres lá trás – depois, farei um post sobre essa geologia. O mapa do parque apontava esta como sendo a Laguna Amarga. AMARGA. Eu sabia que todas as águas do parque são potáveis, mas, como alguns lagos têm peixes, recomendo beber as águas das fontes ou dos rios para evitar um piriri.

Perguntei para o maridão: “Vamos provar a água da Laguna?” “Sério, mesmo?”, ele retrucou. Claro! Depois de muito sorrir para ele, se disponibilizou a colocar a mão na água friiiia para encher a garrafinha. Acho que bebi primeiro. Pouquinho. Ele bebeu: “Nossa, que água salgada!” Eu, de novo: “Humm, gosto de bicabornato de sódio”. Por que será?

Ah, rá! Graças ao pH da água! O pH varia de ácido, neutro e básico. Ele varia de 0 até 14, quanto maior o número mais básico (ou amargo) ele será. Por exemplo, o suco de limão tem pH 2 (ácido de baterias, 0). O cloro que usamos para limpar a casa tem 14. O bicabornato de sódio, 9. E a Laguna Amarga… 9.1! Não é divertido? Seu pH deu o nome à lagoa! Ah, por curiosidade, o pH da água “normal” é 7.

Viu como podemos aprender ciência em uma bela viagem? A sigla pH significa Potencial Hidrogeniônico, diretamente relacionado com a quantidade de íons de hidrogênio de uma solução. Quanto menor o pH de uma substância, maior a concentração de íons H+ e menor a concentração de íons OH-. Ou seja, o pH é um indicador.

Quer saber se tivemos dor de barriga? Não!

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Dica de viagem: Da Laguna Amarga e da Laguna Azul (andando mais para frente na estrada de terra, foto logo acima), dá para ver direitinho as três famosas torres que dão nome ao parque. Ambas ficam distantes das principais atrações, acho que cerca de 20 quilômetros para frente, então, se estiver de carro, certifique-se de que tem combustível. Aliás, se for à Torres del Paine de carro, leve tanque extra e planeje as trilhas de maneira que não tenha que circular à toa.

Lobos-marinhos acasalando

IMG_1743Huuuum, danadinhos. Peguei no flagra! Enquanto um pequeno lobo-marinho descansava sob a pedra fria, o casal do lado direito “dançava” e rugia alto. Acho que era um macho e uma fêmea acasalando – confesso que não tenho certeza. Segundo esse texto, a época de acasalamento desses animais é no verão. Vai ver que, para os dois da foto, -15ºC é calor…

Na região do Ushuaia (Argentina), na Terra do Fogo, vivem dois tipos de lobos-marinhos. Os lobos-marinhos de um pelo e, de dois pelos. Isto significa que a segunda espécie citada tem, em vez de um, dois pelos para se proteger do frio. Por isso consegue viver até na Antártida.

No inverno, é comum encontrarmos esses animais no Brasil. Para entender, deve-se considerar que as correntes marinhas do Atlântico Sul, geralmente, funcionam assim: a corrente fria sobe margeando a costa da África, esquenta no Equador e desce margeando a costa do Brasil. Nos meses mais frios, correntes podem subir pela costa da América do Sul, trazendo consigo ao nosso país animais marinhos mais comuns em regiões frias como os lobos-marinhos e pinguins. Meteorologia é incrível, não? Minha paixão.

Com certeza, já ouviu alguma garota do tempo dizer: “Entrará no Brasil uma corrente fria proveniente da Argentina”. Agora, você pode entender melhor do que se trata.

Cadê os pinguins da Patagônia?

Estão aqui no Brasil, tirando uma onda. Afinal, nem os pinguins aguentam as temperaturas negativas da Patagônia Austral.

pinguimTodo mundo que vai para o Fim do Mundo espera ver pinguim, mas nem sempre eles estão por lá. Eu os observei na África do Sul, onde eles (Spheniscus Demersus, espécie parente dos sul-americanos) mantêm residência fixa – dá até para ajudar comprando uma casinha para eles, nós investimos no sonho da casa própria desses bichos. Na Patagônia, os famosos pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) são avistados nos meses quentes, principalmente, no verão. Então, se quer ver aquelas colônias gigantes de pinguins, escolha entre eles ou a neve.

Segundo este site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), principalmente os pinguins jovens migram para locais mais quentes em busca de alimento. Por isso, é comum no inverno ouvirmos notícias dessas aves encontradas no Sul do Brasil e até na Bahia e no Rio de Janeiro. A primeira vez que vi um pinguim no Brasil (e uma foca ou leão-marinho bebê!) foi no litoral do Paraná, há cerca de dez anos, perto da balsa que nos leva até a lindinha Ilha do Mel. Infelizmente, outros eu vi mortos nas areias do litoral de São Paulo. Muitos se perdem durante a volta, chegam exaustos ou sofrem com a interferência do homem no oceano e acabam morrendo. Triste.

Anote na agenda, se você pretende ver um monte de pinguim tudo junto ao mesmo tempo, vá à Patagônia no verão. Agora, se você ama a vida marinha, tem que ir à Península Valdés, na Argentina. Eu não conheço o lugar pessoalmente, mas é lá que podemos ver as orcas (<3) caçarem na areia da praia! Dica muito amiga: neste site, há um calendário da fauna de Puerto Madryn, região da Península Valdés. Parece ser imperdível! E super pertinho de nós.

IMG_1754Obs.: A primeira foto acima foi tirada pelo Gustavo Mendes, em São Sebastião (SP). A foto mais abaixo foi tirada no Ushuaia, Argentina.

Como destruir vários ambientes com espécies invasoras

IMG_1848Duas ideias de jerico. Na realidade, três se formos falar sobre as ovelhas, mas esta fica para outro post. Quem visita o Parque Nacional da Terra do Fogo, em Ushuaia, Argentina, pode observar o trabalho de castores canadenses fazendo suas represas. Sim, esses bichos são geniais, derrubam árvores para conter água. Acontece que, como deve ter reparado, eles são canadenses! E o que fazem do lado oposto do continente? E por que as lebres-europeias, provenientes do outro lado do Atlântico, também podem ser vistas ao lado deles no Fim do Mundo?

Bem, resumindo a história que você pode saber mais aqui, os castores foram introduzidos na região em 1946 pela indústria da pele. Sem predadores naturais, os 25 pares se transformaram em 100 mil indivíduos! Um problema para a bicharada local, que tem que competir por espaço e comida com eles, e para as árvores. Estas são derrubadas sem tempo de recomporem bosques, agora, no chão. Quer dizer, na água.

Por sua vez, as lebres-europeias foram colocadas na Patagônia para serem caçadas pelos homens. Isso mesmo, como um instrumento esportivo. Mas elas foram longe… Atualmente, podem ser encontradas aqui no estado de São Paulo comendo plantações! O caso da lebre-europeia é tão sério, que ela está causando a extinção da lebre-da-patagônia. Esta é rara de ser observada. Agora, a outra, eu mesma vi do ônibus dentro do Parque Nacional Los Glaciares, onde está o famoso glaciar Perito Moreno (Argentina). Aliás, há alguns anos, creio que foi ela que observei no Paraná. Para você ver como a ação humana sobre os animais pode causar um estrago continental.

Turista: não alimente os animais silvestres

IMG_1813Quem nunca, não é mesmo? Quando a gente, Felícia da vida, vê aquele animalzinho bonitinho ou gracinha de tão feinho tem vontade de apertar, passar a mão ou de perguntar, “quer ser meu amigo”? Mas resista à tentação! Se você gosta mesmo dele, tem que deixá-lo livre em sua natureza. Caso contrário, pode prejudicar aquele que diz que ama. Um exemplo é o problema com as raposas (Pseudalopex culpeus) da Patagônia que eu pude ver com meus próprios olhos, graças a um brasileiro.

Chegando ao Parque Nacional da Terra do Fogo, no Ushuaia, um brasileiro bagunceiro – pleonasmo – ficou mais animado ainda ao ver uma raposa se aproximando da vã que parava. Quando descemos do veículo, todos soltamos ao mesmo tempo: “Que lindinha!”. Foi um alvoroço geral. Todos queriam tirar foto da raposa e vê-la de pertinho. Ela se aproximou de nós, menos de dois metros de distância. Nesse momento, o brasileiro não se conteve. Abaixou, esticou o braço e tentou passar a mão na cabeça do bicho. A raposa em um piscar de olhos deu uma mordida na mão dele. Fiquei preocupada, mas ele disse ao amigo: “não foi nada”. Passada mais de uma hora, ouvimos um amigo exclamar: “Nossa, ficou feio”.

IMG_1920Elas são muito, mas muuuito lindinhas – saiba mais sobre essa espécie aqui. Têm um olhar e andar de gato – aliás, li em algum lugar que as raposas em geral são parentes mais próximas de gato que de cachorro, alguém saberia dizer se a informação procede? As raposas ou zorro, como as chamam os hermanos, parecem dóceis. Além disso, é comum elas chegarem perto de pessoas nos parques, principalmente, da Argentina como aconteceu conosco. Por que será?

Simples, porque as pessoas as alimentam. Para que caçar se você pode ganhar? Ou roubar um churrasquinho suculento? Quando nós alimentamos os animais silvestres causamos uma série de problemas. Resumindo, eles “desaprendem” a caçar, podem passar mal com a nossa comida, desenvolver uma doença e infectar outros semelhantes. Também, essa ação pode causar um desequilíbrio no ecossistema local, afinal, as raposas deixarão de comer suas caças que, consequentemente, poderão se multiplicar. Para piorar, as lindas raposas podem ficar agressivas contra os humanos. Não duvide, vão morder para conseguir comida ou quando se sentirem ameaçadas.

IMG_1815Obs.: Outro problema semelhante ocorre na fronteira da também Argentina com o Brasil. Os quatis roubam a nossa comida no Parque Nacional do Iguaçu. Em uma ocasião, no parque do lado da Argentina, vi o animal subindo na mesa de uma gringa e tirando o lanche da mão dela. Atenção, os animais podem transmitir raiva. Se for mordido, vá a um pronto-socorro tomar vacina.
Dica de viagem: No inverno, algumas trilhas do Parque Nacional da Terra do Fogo, como a costeira, estão fechadas por causa do volume da neve – eu tentei fazer, andava com neve pelo joelho. Inviável, perigoso cair em um buraco. Por outro lado, a entrada é grátis. Em um dia é possível ver as principais atrações do parque. Se for no verão e curte natureza, reserve dois dias para fazer as principais trilhas. Em ambos os casos, leve lanche e água.