Minha filha, infelizmente, não conhecerá o Museu Nacional do Rio de Janeiro como eu o visitei na minha infância. Aliás, esse era um grande sonho que vou ter que dormir com ele. Acabar o domingo com esse fim.
O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, era a mais antiga instituição científica do Brasil. Um dos principais museus da América Latina, quiçá o mais relevante. Simplesmente, isso. As chamas levaram embora a nossa história brasileira e parte do passado da Terra.
Para se ter uma ideia da sua importância, a Luzia, o esqueleto mais antigo das Américas, estava lá. Durante a sabatina que fiz ao Walter Neves, pesquisador que descobriu a importância desse achado, perguntei para ele: “Posso ver a Luzia”? Ele sorriu: “Ela não fica exposta ao público, esta lá no Rio de Janeiro. Quando for para lá, quem sabe?”
E eu estive, em agosto, no Rio de Janeiro. No estado. Por motivos pessoais, não fui até a capital. Que pena. Era a chance da minha filha ter conhecido o Museu Nacional. Mas ela não verá o Museu Nacional que eu vi.
A importância do Museu Nacional
Fui algumas vezes ao meu Museu Preferido, principalmente, antes de cursar faculdade. Mas uma dessas vezes, quando eu tinha cerca de 14 ou 16 anos, foi inesquecível. Quando me dei conta da sua imponência (pausa para as lágrimas).
Estava com meus pais e meu irmão. Acho que minha madrinha foi junto. Passamos um dia todo no museu – quem dera se pudéssemos ficar a noite para ver tudo “acordar”.
Lembro como se fosse ontem dos sarcófagos e múmias egípcias que Dom Pedro II trouxe. Algumas delas foram mumificadas de um modo único, sendo um dos poucos exemplares do mundo.
Também vi algumas múmias encontradas nos Andes. Perfeitas, pareciam até que estavam vivas! Tinha cílios, roupas, cabelo comprido. Impressionante.
Tive a oportunidade de contemplar por minutos que pareciam a eternidade o maior meteorito encontrado no Brasil. E, o melhor, com explicações sobre ele dadas por um geólogo, meu pai.
Entre tanta beleza, outro item me chocou: o descaso. No ambiente onde estavam as múmias, haviam goteiras. Fungos na parede. Mofo! Muita umidade. Abandono. Itens mal cuidados. Fazem 20 anos isso. Tragédia anunciada.
Tenho certeza que o descaso não partia dos funcionários e nem dos pesquisadores. Muito menos dos frequentadores que se admiravam. Nem dos moradores orgulhosos com tanta preciosidade numa cidade tão maravilhosa. O Museu Nacional não passava vergonha frente ao Museu de História Natural de Nova York. Não é ufanismo.
Pelo celular, vi queimar a minha infância. O nosso passado. A história de todos os habitantes do planeta água. Desde que comecei a namorar meu marido, o Gustavo, eu dizia que um dia o levaria ao Museu Nacional. Ele ia amar.
Mas, infelizmente, o Gustavo não terá essa oportunidade. Nunca saberá o que era o Museu Nacional. E nem minha filha. Desculpe, meu amor. Gostaria de deixar um país melhor para você. Ficaremos com as palavras.