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Educar para socorrer o peixe-boi-marinho

Durante minhas andanças por Alagoas, passei para conhecer o Projeto Peixe-Boi-Marinho no povoado de Porto da Rua, mais especificadamente, no rio Tatuamunha. Foi en-can-ta-dor!
Antes dos colonizadores portugueses comerem o animal até ele – agora – correr risco de extinção, o peixe-boi-marinho habitava quase toda a costa brasileira. Se não me engano, estava presente desde o norte do Espírito Santo até o Pará. Mas no mar? Pois… é.
O Trichechus manatus, nome científico do bicho, é diferente do peixe-boi do Amazonas. A espécie (Trichechus inunguis) da Floresta Amazônica vive apenas em rios. O peixe-boi-marinho nasce nos rios, em meio ao mangue, e fica por lá com a mãe até sair da amamentação. Depois disso, segue para o mar.
Porém ele não vai muito longe da costa. O peixe-boi-marinho prefere as águas rasas. Ele se alimenta de algas que arranca com ajuda de sua unha – veja na foto. Segundo a guia – super atenciosa que quer cursar biologia, tomara que consiga -, de alga em alga ele pode pesar mais de 500 kg!
Apesar do tamanho, o peixe-boi-marinho é um animal super dócil. Esse foi um grande problema. Por ser fofinho – literalmente, não? -, ele se aproximava do homem. Não tinha tanto medo do Homo sapiens. O que facilitou sua caça.
Atualmente, o projeto com patrocínio da Petrobras e apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) busca repopular a costa brasileira. No rio Tatuamunha, há um espaço destinado à readaptação do animal – veja a foto. Os bebês que se perderam da mãe, os indivíduos estressados ou machucados são levados para esse cercadinho.
Biólogos alimentam e acompanham os animais até se certificarem de que eles estão aptos para voltar a serem livres na natureza. Durante 24 horas, um segurança no local checa se está tudo bem com os bichinhos. Qualquer problema, liga para o biólogo de plantão.
Todos podem visitar o projeto, eu escolhi uma guia credenciada pelo Ibama. Paga-se uma taxa, creio que R$ 20 por pessoa, que será revertida para a preservação. O passeio começa no mangue.
Nós andamos por 15 minutos em tábuas fincadas sobre o mangue e sobre o rio. No mangue, o clima é bem abafado. Depois, pegamos uma espécie de balsa que nos leva até o recinto de readaptação. Como tivemos sorte, conseguimos encontrar solto no rio o peixe-boi-marinho Aldo!
A balsa não pode se aproximar do animal. Deve ficar até 200 metros de distância dele. Mas o Aldo é curioso. Foi até nós e abraçou o barco! Apaixonante. Diferente dos outros compatriotas que foram soltos no rio – a fêmea Lua, por exemplo, passeia por toda a costa do Alagoas e vai até Porto de Galinhas, em Pernambuco -, o Aldo não saiu do Tatuamunha. Ainda não se sabe ao certo o porquê.
Para monitorar esses animais, logo após serem soltos, durante um período os responsáveis pelo projeto colocam um rádio no peixe-boi-marinho. Trata-se de um equipamento desenvolvido no Brasil. O rádio é amarrado na cauda, de forma que não atrapalhe e nem machuque o bicho. Depois de checar que está tudo ok com o comportamento do animal, o equipamento é retirado.
Quando chegamos ao rio, uma bióloga recém-formada olhou feio para nossa balsa. Um passarinho verde contou que ela reprova a visita de turistas. Mas, graças aos turistas, o projeto conseguiu empregar os pescadores que antes matavam o animal – o peixe-boi-marinho, diferente das tartarugas, quando se enrosca nas redes de pesca tem força suficiente para rasgá-las. Também gerou emprego para artesãos que fazem souvenir e para habitantes que agora têm o sonho e emprego se cursar biologia.
Além disso, ao conhecer mais sobre os hábitos e ver o quão o animal é cativante, as pessoas tendem a cuidar de seu ambiente. E a respeitar mais o peixe-boi-marinho. Educação é tudo. Confira mais fotos do passeio aqui. Saiba mais sobre o peixe-boi-marinho ali. Dica: faça o passeio no final da tarde para aproveitar o maravilhoso pôr-do-sol no rio Tatuamunha.

Olha o coco!

Continuando sobre minha viagem pelo Nordeste…
O estado de Alagoas é forrado de coqueiros. Eles estão por toda a parte. Inclusive, é bom olhar para cima, eventualmente… Para chegar à Praia dos Morros, por exemplo, tivemos que desviar dos cocos.
Existem algumas maneiras de visitar essa que é considerada uma das praias mais lindas do país: seguindo por uma longa trilha, de carro, caminhando por toda a Praia do Carro Quebrado, atravessando o rio Camaragibe a nado ou de balsa.
Para nós, o caminho mais perto e prático era de balsa. Paga-se dois reais – passagem de ida e volta – diretamente para o jangadeiro remar até a outra margem. O carro pode ficar estacionado na belíssima Barra de Camaragibe.
Para chegar até a balsa, deve-se caminhar pela areia por poucos minutos. Porém… Moradores da região falaram que era mais fácil atravessar uma fazenda de coqueiro. Péssima ideia. Havia pessoas colhendo os cocos – subindo nos coqueiros, cortando os cachos e deixando o coco despencar na caçamba de um caminhão-trator.
Os coqueiros são naturais do Brasil?
Certa vez, li que os coqueiros não são endêmicos do Brasil. Algum lugar afirmava que eles foram trazidos da Ásia pelos colonizadores, mas não achei um artigo que comprovasse essa suspeita. Eu sei que o litoral do Alagoas era forrado de Mata Atlântica. E, para variar, foi desmatado.
Passei por praias praticamente desertas como a do Toque, do Laje, do Patacho. De um lado, os pés são molhados por aquele mar verde-claro, azul-calcinha, verde-esmeralda e verde-água de tirar o fôlego. Do outro… observa-se terrenos com coqueiros e mais coqueiros. Estranho.
Tem pescador que não consegue morar de frente para o mar. Vive em dignos povoados na beira da estrada como São Miguel dos Milagres. Então, por que a faixa litorânea está repleta de coqueiros? Por que os pescadores não moram de frente para o mar?
Segundo alguns moradores com os quais conversei, isso ocorre graças à especulação imobiliária. Veja bem, o que pode ter outro nome. Pessoas de fora dessas cidadezinhas adquirem os terrenos de frente ao mar. Plantam coqueiros para dizer que a terra é produtiva. Pegou? Veja mais fotos aqui.

Uma viagem inesquecível

Olá! Fiquei fora por cerca de 20 dias. Por isso… Os últimos comentários entraram no ar apenas hoje. Aos poucos, o Xis-xis voltará completamente ao lugar. E com novidades nordestinas.
Estava de férias – se é que jornalista e blogueiro consegue essa proeza. Viajei pelo litoral de Alagoas e Pernambuco. Passei por praias, cidades, povoados e paisagens como: Maceió, Penedo, Piaçabuçu, foz do Rio São Francisco, São Miguel dos Milagres, Praia do Morro, Praia do Toque, Rio Tatuamunha, Porto de Pedras, Japaratinga, Maragogi, São Bento, Praia dos Carneiros, Porto de Galinhas, Pontal do Cupe, Praia de Muro Alto, Recife, Olinda e – a cereja do bolo – Fernando de Noronha.
Claro que, em todo o percurso, a curiosa xeretou os modos de viver, as especificidades das marés e dos ventos, os comportamentos e as curiosidades da fauna e da flora dos locais. Aos poucos, colocarei tudo aqui no blog.
É encantador ver tanta riqueza natural de perto. Principalmente, aquela derivada do mar e dos rios. Ao mesmo tempo, é triste perceber que tudo isso pode acabar em poucos anos devido à exploração de terras, de pessoas e do turismo depredatório. Falta muita educação ambiental, inclusive em Fernando de Noronha, geralmente, por parte daqueles que migram para esses lugares.
Bom, mas nesses dias que virão reviverei a viagem neste blog com um olhar ambiental e científico. Por vezes, crítico. O Brasil é muito belo. Convido para participar dessa caminhada.