O espectador como ator

“A arte torna-se uma generalidade, um processo antes de mais nada existencial e, conseqüentemente, filosófico”. Vilém Flusser (Praga,1920-São Paulo,1992).

Poucas obras de arte exigem mais reflexão e são dotadas de tantos significados como Las Meninas, de Velásquez. Para quem quiser saber um pouco mais, recomendo “As palavras e as coisas “, de Michel Foucault. Só para instigar: divida o quadro a partir de uma linha diagonal que se inicie no canto superior direito; note que há um nítido predomínio de linha curvas na metade inferior direita, enquanto predominam as linhas retas na outra metade. Está iniciado o primeiro debate filosófico que a obra sugere…

Discussão - 9 comentários

  1. Anonymous disse:

    A arte precisa ser tão complicada assim???????????????

  2. Anonymous disse:

    Vc é da FFLCH? tem cara, opsss!!! nada de Lombroso, tem o perfil!Adorei o espaço, genial!!!!! arte é tudo, o que seria de nós sem ela???Foucault, sempre que lembro dele, lembro de quando entrei na universidade e dei de cara com Eu, Peirre Riviere que Degolei, minha mãe, minha irmã e meu irmão. Um livro pequeno, na capa "as marcas do sangue" assim começava estudar a história do Quotidiano!Depois os Annales e lá estava Foucault, bem depois Vigiar e punir... e agora estou aqui, olhando tudo isso e feliz por ter passado no blog do meu amigo e encontrado seu blog!sem contar que Montaigne é um capítulo que merece muitoooo mais consideração!ps: eu sou assim um pouco metida na vida alheia, por isso se for a sua praia e vc curtir o assunto, faça um poste sobre o Erasmo de Rotterdam e o Elogio da Loucura! Beijos felizes!Tatyhttp://tatyana.legal.zip.net

  3. Amigo de Montaigne disse:

    Anônimo, a complicação da arte depende de quem a observa, apenas. Quanto mais simples somos, mais óbvia os significados imediatos da arte. Portanto, a arte é democrática: todos a aproveitam de alguma forma.

  4. amigo de montaigne disse:

    Não, não sou da FFLCH...Que bom que esteja aproveitando o blog!

  5. Lacerda disse:

    Estimado Amigo,Penso que a obvservação da arte não deve ser tão complicada a ponto de desconsiderar a simplicidade que o artista quis transmitir; mas também não pode ser tão simples a ponto de desconsiderar o que arte, independentemente da intenção do artista,consegue, por si só, transmitir ao observador. Foi realmente fantástica a constatação das linhas curvas e retas. A propósito, qual é a sua interpretação? Grande abraço de quem muito o admira!

  6. Daniel César disse:

    Caro Amigo de Montaigne,
    Apenas recentemente tenho visto alguns de seus posts.
    Gostei da sua visão da Arte. Concordo que ela não é simples ou complexa por si só; mas, quando rica em elementos, permite interpretações nos mais variados níveis.
    Seguindo sua sugestão de analisar o quadro, achei surpreendente quantas idéias surgiram. Não sei se algumas delas já foram consideradas por especialistas, ou se são só “uma viagem”. Veja o que você acha...
    1. A divisão do quadro não é só entre linhas retas e curvas; é também entre masculino/escuro e feminino/claro, respectivamente. Pode ser uma sugestão de que o mundo feminino é mais iluminado, mais colorido, relacionado à arte, enquanto o masculino é mais sombrio, prático, relacionado historicamente a decisões “mais sérias”.
    2. Pode também haver uma relação com os símbolos sexuais: o feminino, cruz para baixo; o masculino, flecha para cima à direita. Se considerarmos que a figura masculina retratada à esquerda é o próprio pintor, do ponto de vista dele a direção dos símbolos fica correta (embora do ponto de vista do público o masculino esteja à esquerda no quadro).
    3. Incluindo uma interpretação oriental do universo: o “yin” está relacionado ao feminino, à introspecção, ao sentimento, à reflexão, ao escuro, enquanto o “yang” está relacionado ao masculino, à extroversão, à razão, à ação, ao claro. No quadro, as polaridades se encontram invertidas: o masculino seria “yin” e o feminino seria “yang”. Caso isso tenha sido proposital, talvez seja uma tentativa do autor em demonstrar sua preocupação em entender a natureza fundamental das diferenças; afinal, homens também têm sentimentos, e mulheres também têm razão...
    4. Outro aspecto que me chamou a atenção foi que o pintor (à esquerda) está muito distante da tela (à esquerda, mais à frente). Em perspectiva, as meninas (a parte clara do quadro) se encontram entre o pintor e a tela. Assim, podemos também pensar que as meninas não fazem parte da realidade; são o sonho, a imaginação, a inspiração do pintor, presentes entre ele e a tela no momento da pintura. E, em uma realidade sombria, reta e triste, é natural que a imaginação seja clara, curva e alegre.
    5. Por fim, à direita e ao fundo, nota-se uma figura que, embora masculina, de roupas escuras e sob uma porta de linhas retas, dirige-se a um ambiente claro. Pode se tratar de um “alter ego” do autor, buscando uma saída da realidade escura, rumo a um ambiente que, embora claro, não permite que se vislumbrem suas características. E isso pode também ser uma metáfora para a própria arte, uma vez que ela abre portas ao desconhecido: ao tomar o pincel, nem sempre o pintor sabe o que vai “sair” (mesmo que saiba isso, não sabe por que portas o observador poderá passar...).
    6. Curioso também que, na realidade escura (onde não há sequer lustres no teto), até mesmo os quadros (produto da arte de outros) são também escuros – com exceção de um! O autor pode estar demonstrando sua intenção de produzir algo mais relevante do que a média do que é comumente produzido; algo capaz de verdadeiramente registrar a claridade, nem que seja pelo contraste.
    Um grande abraço!
    Daniel

  7. Chloe disse:

    Caro Amigo de Montaigne,
    na minha maneira de ver a obra, a parte direita inferior, caracterizada pelas linhas curvas, maior luminosidade, vida, calor... representaria o nosso plano das idéias, nossos fundamentos, nossa base, o que realmente somos.
    Contrastando com as linhas retas, plano sombrio e emoldurado segundo padrões rigidos, que a meu ver representariam o que mostramos de nós segundo as diretrizes que a sociedade nos impõe, tolhendo nossa maleabilidade para nos enquadrar em arestas que tanto machucam.
    Abç. : )
    C.

  8. Amigo de Montaigne disse:

    Caro Daniel,
    obrigado pelos comentários. Devo dizer que algumas das suas observações já foram feitas antes, o que não invalida, de maneira nehuma, aquilo que você percebeu. Essa tela já valeu acaloradas discussões entre mim e um velho professor. A arte é infinita porque nós somos infinitos e nos renovamos a cada dia. O tal enigmático aforismo de Heráclito não é assim tão hermético. Nunca nos banharemos duas vezes na mesma água.
    Abraço, Amigo de Montaigne.

  9. Amigo de Montaigne disse:

    Cara Chloe,
    sim, as interpretações são múltiplas, infinitas.
    Abraço, Amigo de Montaigne.

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