Balanço pessoal 2010
A pedidos, o meu balanço cultural 2010:
Romance estrangeiro: Nemesis, de Philip Roth.
Romance nacional: (ano sem Milton Hatoum).
Inclassificável estrangeiro: Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas.
Inclassificável nacional: Retornar com os pássaros, de Pedro Maciel.
Biografia/Memórias: Eu, aos pedaços, de Carlos Heitor Cony.
Livro de poesia: Em alguma parte alguma, de Ferreira Gullar.
Crítica: O poder da arte, de Simon Schama.
Disco: Bach, por Richard Galliano.
Filmes e teatro: sem tempo suficiente.
Espetáculo: Grupo Corpo, ainda que com os repetecos de “Imã” (2008) e “Lecuona” (2004).
Exposição internacional: Henri Cartier-Bresson – The Modern Century, no MoMA.
Exposição nacional: Max Ernst, no MASP.
Blog de ciência: Ecce Medicus, do ScienceBlogs Brasil (scienceblogs.com.br/eccemedicus).
Blog de cultura internacional: Edge (www.edge.org).
Blog de cultura nacional: Daniel Piza (blogs.estadao.com.br/daniel-piza).
Que 2011 nos traga sabedoria e saúde. Porque, caso isoladas, ainda que com saúde, mancos seremos.
Nemesis: entre a húbris e a sofrósina
Nemesis. Achei que o mais recente livro de Philip Roth me decepcionaria. Sim, tive essa impressão por 237 páginas, mas reencontrei o genial Roth de sempre nas 43 derradeiras páginas. A trama se desenrola a partir da epidemia de poliomielite que assolou o escaldante e pacato verão de Newark, em 1944. O míope professor de educação física e protagonista, o judeu Bucky Cantor, se vê impotente diante da doença que paralisa e mata alguns de seus mais diletos alunos. Como pode um Deus infinitamente bom e misericordioso permitir que a vida de alegres e inocentes crianças seja ceifada de maneira tão cruel? É justamente esse questionamento que atormenta Bucky durante toda a narrativa, fazendo com que ele oscile entre a blasfêmia contra Deus e o próprio sentimento de culpa produzido pela firme ideia de ser ele mesmo o culpado pela disseminação da poliomielite. O respeitado médico e pai de sua namorada, Dr. Steinberg, tenta demover Bucky de sua agourenta crença: “You have a conscience, and a conscience is a valuable attribute, but not if it begins to make you think you’re to blame for what is far beyond the scope of your responsability.” A tragédia que se desenrola, guiada pela marca inconfundível do cético e maduro Roth, culmina na passagem que condensa toda a essência de Nemesis:”Sometimes you’re lucky and sometimes you’re not. Any biography is chance, and, beginning at conception, chance – the tyranny of contingency – is everything.” Depois de 31 livros, Roth não me decepcionaria.