Vampiros
Castelo de Bran, Transilvânia
A onda das sagas vampirescas parece não ter fim. Desde as prateleiras das livrarias até as salas de cinema, passando pelas vitrines de lojas de roupas para adolescentes e revistas de fofoca, há uma verdadeira invasão. Não assisti aos filmes e nem li os livros que tratam do tema, embora isso não invalide as minhas opiniões a respeito do fenômeno. Antes de mais nada, precisamos analisar a mítica figura do vampiro e a razão contextualizada de seu sucesso em pleno século XXI. Ora, os predicados encarnados pelo conde Drácula são irresistíveis: imortalidade e sex appeal. Temos, acessoriamente, a forma esbelta, que, não nos esqueçamos, é moldada às custas de sangue humano, e o poder de encantamento de animais noturnos. Em uma sociedade que valoriza cada vez mais a juventude, o vigor sexual, o corpo sarado e as explicações místico-religiosas para os fenômenos naturais e evolutivos, nenhuma surpresa causa o triunfo da figura diabolicamente sedutora do vampiro. Li que há jovens que conhecem em detalhes inacreditáveis tudo o que diz respeito a tal série de Stephenie Meyer – Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer. Existem, até mesmo, relatos de pacto de sangue envolvendo adolescentes e a fidelidade a preceitos “vampirescos”. Lembrei-me destes versos do poeta maldito François Villon:
“Príncipe, eu sei, de tudo estou a par,
Conheço os de tez branca ou de carmim,
Sei que a Morte vem tudo consumar,
Tudo conheço, caso exclua a mim.”
Será assim? Esses jovens conhecem tudo, menos a eles próprios?
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P.S.: Estive na Argentina, sem tempo para o blog. Peço a compreensão dos fiéis leitores.
Horowitz plays Mozart piano concerto 23 2nd mov
Desaparecer
Labirint
O último livro do escritor catalã
o Enrique Vila-Matas acaba de ser publicado no Brasil. “Doutor Pasavento” (Cosac Naify, 410 páginas) trata do desaparecimento do sujeito e do ato de escrever como artifício para se ausentar de si mesmo. Recheado de eruditas e bem humoradas citações, Vila-Matas percorre o tema desde o imperador romano Tibério até Robert Walser e – claro – J.D. Salinger. Em seu ensaio-romance anterior, “Bartleby e companhia”, o assunto já havia sido abordado, ainda que com outro enfoque. Parece que, assim como os recorrentes tigres e labirintos de Borges, o catalão é obcecado pela ideia de desaparecer e existir apenas na amorfa e anônima multidão, reflexão mais do que oportuna na atual era da celebrização a qualquer preço. Paradoxalmente, Vila-Matas assinala a perenidade da obra, que abrigaria a sombra quase esquecida do voluntário recluso autor. Citando o poeta sírio Adonis, o paradoxo está desfeito e esclarecido: “Todos esses mortos ao nosso redor,/ onde sepultá-los senão na linguagem?”. Ou, como diria o escritor brasileiro Pedro Maciel, “o leitor é mais importante do que o autor”.Doutor Pasavento roubou minha voz. Parece que após algum tempo sem falar perdemos a vontade de assim o fazer. E percebemos que não há nada para dizer. Tudo já foi dito. Tudo é irrelevante. Calemo-nos.