Poucas horas com Van Gogh

Rembrandt, The Holy Family at Night, 1638-40

Van Gogh, The Starry Night, 1889
14. 05. 2009, Amsterdam
O dia está ensolarado. A temperatura, agradável. As charmosas pontes sobre os canais continuam a abrigar suas tantas bicicletas. Flores para todos os lados. Nas placas, muitas vogais. Museu Van Gogh – primeira parada. Além do acervo permanente, visito a exibição temporária “Van Gogh and the colours of the night”. Durante toda a sua vida, o pintor foi fascinado pelas cenas noturnas. A noite era o seu abrigo. Os demônios, para ele, desfilavam sob a luz do sol. O primeiro óleo da exposição é o que mais me fascina. “The Holy Family at night”, de Rembrandt. Sim. Um tributo ao seu ideal de ofício. Van Gogh sempre admirou e estudou as obras de seu conterrâneo e nunca o esqueceu de dizer. Tenho que me apressar. O voo para Riga sai em pouco mais de duas horas. Letônia, próxima parada.

P.S.: Li, há pouco, nota sobre o lançamento de livro sobre o episódio da orelha. Tentativa especulativa de um casal de estudiosos alemães de instaurar a tese definitiva de autoflagelação. Quanto vale uma orelha?

Viajando, de novo

Caríssimos,
viajo hoje para os países bálticos e Rússia. Riga e Tallinn, capitais de Letônia e Estônia, respectivamente, e São Petersburgo e Moscou. Um pouco de trabalho, um muito de lazer. Assim como Hemingway, meu caderno de anotações Moleskine viajará comigo.
Até a volta!

Dois. Muitos

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Acabo de ler “My stroke of insight”. Escrito por Jill Bolte Taylor, ex-professora de neuroanatomia de Harvard, é o relato de sua recuperação após uma hemorragia cerebral no hemisfério esquerdo. Portadora de uma malformação vascular, o que significa um enovelamento congênito anormal entre veias e artérias enfraquecidas, e, por isso, com suscetibilidade aumentada a sangramentos, ela se viu, repentinamente, desprovida de sua capacidade de falar, ler e entender uma conversa qualquer. Por outro lado, ela foi “presenteada” por um hemisfério direito que podia agir sem qualquer “repressão egóica” que é normalmente exercida pelo hemisfério esquerdo. Para que possamos seguir em frente, uma rápida explicação: a metade esquerda do cérebro, em virtualmente qualquer indivíduo destro, é responsável pela linguagem, entendida como a capacidade de falar, compreender e ler, mas não só isso. É também a estrutura responsável por sabermos quem somos, onde vivemos, o que planejamos, o que é ontem, hoje e amanhã; traçar planos, elaborar uma idéia com começo, meio e fim; manter o nosso perene diálogo interno. Por sua vez, o hemisfério direito é intuitivo, capaz de apreciar, sem ter que explicar com palavras, a grandeza de um Rembrandt ou Van Gogh; é a metade direita que percebe o não dito durante uma conversa, que se emociona com Rachmaninoff. De maneira grosseira, poderíamos dizer que o hemisfério esquerdo é aquele que usamos no dia-a-dia, enquanto o direito é utilizado nos momentos de lazer; pensamos com a metade esquerda, “sentimos” com a direita. Pois é. Peguei-me pensando nessas diferenças ouvindo Jane Monheit. Tentei gostar de Jane Monheit, mas não consegui. Ela é extremamente técnica, fidedigna às notas e à partitura. Canta com o hemisfério esquerdo. Ella Fitzgerald e Billie Holiday davam um banho, eram quase só metade direita. Somos dois, pelo menos.  Somos muitos. Haverá heterônimos que nos bastem, Pessoa?   

Seattle (2)

Seattle é mais que o cenário do entediante seriado Grey’s Anatomy. Foi lá que surgiu a famigerada Starbucks, em 1971. Foi também lá que nasceram Bill Gates – e a Microsoft – e Jimi Hendrix. Foi lá que surgiu a grunge music (algo como “música suja”) e quase tudo o mais a ela associada. É considerada uma das cidades mais verdes dos Estados Unidos, não só pela presença de montanhas e da baía de Elliot, mas, principalmente, pelo comportamento ecologicamente correto de boa parte da população. Visitei o Experience Music Project Museum, que dá provas da vocação da cidade para a inovação musical, de Hendrix a Pearl Jam. Lá, entre doumentação detalhada da vida do guitarrista e uma “timeline” dos acordes surgidos em Seattle, é possível encontrar uma sala que possibilita uma organizada e nada superficial “music experience”: teclados, guitarras, baterias, simuladores de cuíca, tamborete, pandeiro e triângulo, dentre outros, estão todos à disposição do visitante, que pode, sem limites, se esbaldar com tudo isso. Mas confesso que aquilo que mais me chamou a atenção, durante as minhas andanças pela cidade, foi o número de mendigos e pedintes. Já estive em outras cidades dos EUA, mas nenhuma se equivale a Seattle em número de beggars. Não acho que seja efeito da crise. Cada vez mais, por tudo o que disse, tenho certeza que a “América” é a terra mais heterogênea e contraditória do mundo. E isso, talvez, seja a causa de sua grandeza. God save America!

P.S.: O “Public Market” também tem lá o seu charme…

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