Thanks, Bandeira!

Caros amigos, como devem ter percebido, ultimamente tenho atualizado este blog muito menos do que gostaria. Fruto de intermináveis viagens a trabalho. Sinto-me um despatriado. Escolhi um companheiro de viagem. Ele me faz lembrar que sou brasileiro e que falo português. Grande conforto e refúgio são as páginas de Estrela da vida inteira. Redescobrir a poesia do micrognata Bandeira, nas alturas ou nas cadeiras dos aeroportos, eis meu potente antídoto contra a distância de casa. O poder da poesia é esse. Ou é este: “Vou lançar a teoria do poeta sórdido./ Poeta sórdido:/Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida./Vai um sujeito./Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira/ esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma/ nódoa de lama:/É a vida./O poema deve ser como a nódoa no brim:/Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero./Sei que a poesia é também orvalho./Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que /envelheceram sem maldade.” (Nova Poética)

Da tradução

Paris and Helen, de Jacques-Louis David, 1788. Óleo sobre tela

O problema da tradução. Quando leio Dostoiévski, sou invadido, invariavelmente, por um pensamento intrusivo: “-Em russo deve ser diferente”. Recrimino a mim mesmo por não ter aprendido o tal idioma. Com Homero, a mesma coisa. “-Ah! Se eu soubesse grego…”. A maldição de Babel? Umberto Eco praticamente esgotou o tema da tradução, os seus aspectos positivos, os pontos negativos. Decidi parar de me lamentar. Se uma “Ilíada” já é monumental, o que pensar do deleite proporcionado por duas, três, quatro boas traduções, por várias “Ilíadas”? Veja você mesmo. Abaixo, a tradução dos primeiros versos do Canto I:

“Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
Verdes no Orço lançou mil fortes almas,
Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
O de homens chefe e o Mírmidon divino.”
(tradução de Odorico Mendes)

“Canta-me a cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles Pelida,
causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos
e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados
e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
desde o princípio em que os dois, em discórdia, ficaram
cindidos,o de Atreu filho, senhor de guerreiros, e Aquiles divino.”
(tradução de Carlos Alberto Nunes)

“Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.”
(tradução de Frederico Lourenço)

Du vin et du fromage seulement?

Um grande crítico literário e ensaísta alemão que visitou o Brasil na década de 60 do século passado elencou três obras que, a seu ver, constituíam a base do pensamento ocidental. Felizmente, lembro-me das obras, mas não consigo recuperar o nome do erudito alemão. Peço ao gentil leitor que, se possível, ajude-me nessa minha empreitada mnemônica. Tenho de confessar que, após alguns bons anos, concordo com a sucinta lista: 1. Essais, de Montaigne; 2. Pensées, de Pascal; e 3. Discours (de la méthode), de Descartes. Tudo começou na mesa do bar. Amigos falando sobre carro.( – Adoro o Peugeot 307! -Isso é carro para mulher, disse o marido). Todos concordaram, após alguns tragos de bordeaux, que carro é japonês. “Os franceses são bons de vinhos e queijos. E só.”, proclamou um mais exaltado – ou só embriagado. Relembrei a passagem do germânico professor por terras tupiniquins e fiz questão de citar, em bom francês, os títulos listados. Salue!

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