Philip Roth, o super-homem pós-datado


Hércules matando o centauro Nesso.
Giambologna, Florença, 1599.

Acabei. Numa sentada só. Apesar de classificado como romance, está mais para novela o novo livro de Philip Roth, “A humilhação” (Companhia das Letras). Ainda que não tão bem recebido pela crítica como seus livros anteriores, Roth é o melhor escritor em atividade. O relato do caso amoroso entre o sexagenário ator de teatro Simon Axler e a quarentona lésbica Pegeen escancara, mais uma vez, o lado degradante e irreversível do envelhecimento. Mas nem tudo é só sofrimento e resignação. Apaixonado, Axler chega a cogitar a paternidade – coisas que só a paixão, acéfala e extasiante, é capaz de fazer. A descrição das cenas de sexo tem a marca inconfundível do Roth de “O Complexo de Portnoy”, mas que, aqui, atingiu o seu apogeu. Só por isso já vale a leitura.

Fiquei pensando, ao fechar o livro, no conto de F.S. Fitzgerald, “O curioso caso de Benjamin Button”. Não, nada seria mais cruel do que a experiência de um velho e combalido Roth aliada ao vigor da juventude de qualquer super-homem de vinte e poucos anos. Sim, porque nessa idade somos todos super-homens.             

                

O sentido da vida

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Ilustração retirada daqui.

Terminei de ler o agradável “Conversa sobre o tempo” (Editora Agir, 254 páginas). Trata-se de um bate-papo entre Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo mediado por Arthur Dapieve. O livro está dividido em quatro partes: amizade e família; paixões; política e morte. Os dois escritores foram protagonistas e testemunhas de um tempo singular na história recente do Brasil, passando pelos terríveis anos de chumbo até atingir a recente consolidação da democracia brasileira. Veríssimo é, ao lado de Oscar Niemeyer, um dos dois esquerdistas autênticos que restam por essas bandas.  Legitima o MST e se diz decepcionado com o PT e, em especial, com o Lula. Zuenir é, declaradamente, alguém preocupado com as injustiças sociais no país mas prefere, até onde possa, não se envolver com política.  Com o seu humor habitual, quando indagado por Zuenir sobre o que achava da morte, Veríssimo respondeu “eu sou contra”.  Mais adiante, ainda falando sobre esse tema, tive de discordar da afirmação do escritor gaúcho de que “a morte torna a vida sem sentido” (página 33). É justamente a morte que dá sentido à vida,  pois se cumprimos as etapas escolares, desde o pré-primário até a universidade e pós-graduação, se planejamos a maternidade (e a paternidade), se exigimos de  nós mesmos um comportamento ético – pelo menos deveríamos – é porque iremos morrer. Uma vida perene, infinita, teria outra cadência, certamente. Discutir o sentido da vida só faz sentido porque somos finitos, mortais, degenerescentes.  É a certeza da morte que serviu de motivação – que deu sentido – para Albert Camus escrever “O mito de Sísifo” . E  a resposta ao enigma da vida, se me atrevo a dizer, é vivê-la de modo feliz. Como muito bem lembrou Dapieve, a última frase no livro de Camus diz “é preciso imaginar Sísifo feliz”. Que não nos falte imaginação.                             

O que é o normal?


René Magritte

“Normal é o que não se nota”.
(Ivo Pitanguy, hoje, O Estado de São Paulo)

“Seria o estado patológico apenas uma modificação quantitativa do estado normal?”
(Georges Canguilhem, 1966, in O Normal e o Patológico)

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