Síndrome de Ronaldinho

Garoto do Haiti, Word Press, Aloisio Milani
Após o desempenho pífio da delegação brasileira na Olimpíada, fui aos jornais do dia. Encontrei os dizeres do cineasta João Moreira Salles registrados no Estadão de hoje: “Somos tropicais com veleidades de seres temperados. Disso pode resultar pessoas pouco à vontade na própria pele, como alguém que falasse um idioma que aprendeu tarde e não é sua língua nativa”. Diria que somos colonizados com ambição de colonizador, o brasileiro que se queria inglês ou alemão. É dessa falta de identificação consigo mesmo que o Brasil é vítima e carrasco ao mesmo tempo. Sofremos da síndrome de Ronaldinho. Nós, mestiços, pardos, negros, preferimos nos declarar brancos e, como se isso não bastasse, lastimar por aqueles que têm um pouco mais de melanina. Nossos vizinhos argentinos não ficam muito atrás. Beatriz Sarlo declara o argentino como protagonista do trágico tango de Gardel, alguém fadado a sofrer porque imagina alcançar a redenção pelo sofrimento. E, como não atinge o seu objetivo, prefere se declarar “o europeu da América” a assumir a sua condição tropical. Tristes trópicos…O Big Ben é aqui. O Big Ben não é aqui.

Puccini na Amazônia- “Che calda manina”

Caros amigos, acabo de chegar de Belém, onde estive a convite para falar de assuntos relacionados às neurociências. A quente e úmida capital paraense possui alguns excelentes restaurantes (Lá em casa, Don Giuseppe e Manjar das Garças, para citar os que mais me impressionaram) e ótimos sorvetes. De resto, é uma cidade bastante castigada pela desigualdade social que, fruto do coronelismo que ainda custa caro à vida de muitas pessoas, há décadas empresta uma aparência de projeto urbanístico inacabado. Tive a oportunidade de ir ao Theatro da Paz, orgulho compreensível da população local, e fui presenteado por uma arrebatadora e técnica La bohéme, capaz de surpreender até o mais exigente dos críticos. A apresentação fez parte do II Festival Intenacional de Ópera da Amazônia. Rodolfo foi representado pelo tenor Atalla Ayan – que, apesar do nome, é paraense -e nada ficou devendo ao grande Pavarotti (não me venham vocês com Plácido & cia.). Sem exageros.

Andar pelas ruas de Belém me deixou triste. As oligarquias políticas ainda governam e condenam à miséria a maior parte do Brasil. “O resto é silêncio”.

Fantasma angustiado

Caros fiéis leitores, o trabalho me manteve afastado deste blog por alguns dias além do habitual. Estive em Buenos Aires e, entre um compromisso e outro, aproveitei para reler O Coração das Trevas, que havia lido há muito tempo. O meu livro predileto de Joseph Conrad não é esse, mas A Linha de Sombra. Decide tomar Conrad entre os dedos novamente após a leitura da última obra de Philip Roth (Fantasma sai de cena, Cia. das Letras), que faz muitas alusões e referências ao escritor polonês. Em meu velho exemplar sublinhara as seguintes passagens ditas pelo capitão Marlow:
“Não gosto de trabalhar – homem algum gosta – mas gosto daquilo que está no trabalho, – a chance de se descobrir. Sua própria realidade – para vocês mesmos, não para os outros -, aquilo que nenhum outro homem jamais pode saber”
“Até mesmo o sofrimento extremo pode acabar se transformando em violência, mas é mais comum que assuma a forma de apatia…”
“Coisa engraçada é a vida – misterioso arranjo de lógica implacável para um propósito frívolo. O máximo que você pode esperar dela é algum conhecimento de si mesmo … que chega tarde demais… e uma colheita de arrependimento sem fim. Eu já havia lutado contra a morte. É a batalha menos interessante que se pode imaginar…”
“E talvez aí esteja a grande diferença; talvez toda a sabedoria, toda a verdade e toda a sinceridade estejam comprimidas naquele intervalo de tempo imperceptível em que transpomos as fronteiras do invisível”
Conrad. Joseph Conrad.

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