O Hoje

Château de Montaigne, em Périgord

Caros amigos, eis o último post de 2007. O ano foi muito bom. Muitas leituras e grandes viagens, além de ótimos momentos musicais e gastronômicos. Após ler a coluna “Sinopse” de hoje (Daniel Piza, O Estado de São Paulo), rememorei duas passagens que me marcaram. A primeira encontrei no romance mais novo de Philip Roth (com o passar dos anos, um escritor que ainda é capaz de melhorar), Homem Comum: “A velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre” (pg.114). A outra, no romance histórico “A Medida do Mundo”, do jovem escritor alemão Daniel Kehlmann – obra bastante despretensiosa que narra as aventuras e desventuras de Humboldt e Gauss: “Ele esfregou os olhos. Como havia ficado tão velho? Tinha dificuldades para andar, não enxergava mais direito e pensava devagar. Envelhecer não era trágico. Era ridículo” (pg.219). Ah, claro, ia me esquecendo da “madeleine” que foi o texto do Piza: “É claro que tenho meus planos, para 2008 e para depois, mas procuro não fazer como a maioria que nunca está no momento em que está, que nunca vive o agora e só o antes e o depois, que não se abre aos acasos felizes da vida”. Que não me acusem de plágio, mas desejo a todos vocês, poucos porém seletos leitores, que no ano que nos bate à porta sejamos capazes de viver o agora.

Mehmari e Hamilton de Holanda : saudades da minha infância…

Depois de ter passado boa parte do dia aprisionado dentro do carro, em meio ao caos paulistano produzido pela chuva e também pela famigerada falta de infra-estrutura da cidade, cheguei à seguinte conclusão: só a música, só ela vale a pena o nosso hercúleo esforço de viver. Pode ser uma hiperbóle motivada pela desagradável situação de se ver em meio à poluição, às buzinas e aos motoristas do século XXI, que certamente fizeram escola com os romanos que conduziam bigas dentro das arenas (como diria Bandeira, “é atavismo”…). Mas todos esses pensamentos caleidoscópicos não teriam brotado se não fossem dois jovens talentosos músicos brasileiros: André Mehmari e Hamilton de Holanda. O CD chama-se “Contínua Amizade” e, na minha opinião, já pertence à história do melhor que a música instrumental brasileira produziu em todos os tempos. Há clássicos de Pixinguinha (“Rosa”) e Cartola (“Acontece”), com ótimos improvisos jazzísticos levados ao extremo nos primeiros segundos da interpretação da música de Morricone, tema de “Cinema Paradiso”. É fechar os olhos e se lembrar do pequeno Totó, da reprodução cinematográfica feita por Alfredo (o saudoso Philippe Noiret) em plena praça pública, do incêndio, tudo isso misturado às nossas próprias reminiscências da infância, que só sabemos o melhor tempo de nossas vidas quando já estamos bem crescidinhos…

OURO PRETO, VIDA RICA

Voltei. Final de ano, fim de mais um semestre letivo, notas para entregar na faculdade…Também estive alguns dias na charmosa Ouro Preto, que muito me espantou por seu preparo para receber turistas, desde os hotéis e pousadas até bons restaurantes, como o Bené da Flauta, e um bem localizado centro cultural, que abriga um café capaz de servir deliciosos quitutes mineiros e uma razoável livraria. Mas é óbvio que toda essa infra-estrutura só faz sentido porque a cidade é a grande protagonista. Comecei pelo Museu da Inconfidência, que deve servir de exemplo de organização e sinalização do acervo para muitas instituições semelhantes no Brasil; além de contar com guias muito bem informados, também há recursos multimídia interativos, que fazem de uma aula de história uma prazerosa viagem virtual para a Vila Rica do século XVIII, com todos os seus ilustres pesonagens. Passei pela Igreja de São Francisco de Assis, obra-prima de Aleijadinho, que valeria um “post” exclusivo. Terminei o passeio pelo casarão barroco de Tomás Antônio Gonzaga, sede da atual Secretaria de Turismo e Cultura, e pela casa em que viveu um de meus pintores brasileiros favoritos, Alberto da Veiga Guignard.Visitei a exposição “Cartões de Guignard para Amalita”. Segundo relatos, Guignard conheceu a pianista Amalita Fontenelle numa tarde de junho de 1932, durante um concerto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Apaixonou-se subitamente e passou a dedicar pequenos cartões ilustrados à pianista. Até onde se sabe, tais cartões nunca foram entregues…

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