Brincando de Montaigne

Selecionei trechos de matérias que li nos jornais de ontem. Acho que vale a pena postá-los aqui.

1) Sobre o caso Isabella (“Pais sem rumo, crianças sofridas”), texto de Maria Rita Kehl, Estadão, Caderno Aliás: “(…) Mas a família moderna, fechada sobre si mesma, toda voltada para a produção de bem-estar, fundada nas formas mais egoístas de amor, é um canteiro propício, no mínimo, à violência psicológica. Os filhos frustram as expectativas dos pais, o amor vira moeda de barganha e chantagem mútua, a esperança de entendimento de parte a parte é freqüentemente obstruída pela culpa que cada um sente por não amar o outro tanto quanto devia(…)”

2) “De afetos e paixões”, coluna de Daniel Piza, Estadão, Caderno Cultura: “(…) ‘A habituação embota a visão de nosso discernimento’ escreveu Montaigne (e eu estou brincando de Montaigne aqui; todos nós que escrevemos não-ficção brincamos de Montaigne)”

3) “Com a língua solta”, uma conversa de titãs entre Ian McEwan e Steven Pinker, Folha de São Paulo, Caderno Mais: “Quando eu estava na universidade, aprendi que Wittgenstein estava certo ao dizer que os limites do meu mundo são os limites da minha língua. Mas Chomsky e depois você – refinando muito Chomsky-, ao considerar como o pensamento realmente evolui – e por experimentação empírica-, sugerem que os modos como pensamos independem da linguagem” (McEwan).

Foi um domingo divertido. Há tempos que os jornais não andavam tão bons.

Nueva York

Cheguei. Os pontos altos da viagem foram os restaurantes de Chicago e Nova York, nessa ordem, os museus de ambas – pude conferir uma abrangente exposição de Edward Hopper no Art Institute of Chicago – e, a melhor parte, a palestra com Giacomo Rizzolatti, candidatíssimo ao Nobel de Medicina pelas descobertas em neurofisiologia, incluindo os neurônios em espelho (mérito compartilhado com V.S. Ramachandran). Os EUA estão em recessão. Nota-se pelas ruas, invadidas por franceses, alemães, japoneses e, como não poderia deixar de ser, brasileiros. Todos “aproveitando” a crise ianque. Os hispânicos são onipresentes e, como mostra a disputa das prévias democratas, eles podem decidir o candidato e contribuir significativamente para a eleição deste ou daquele presidente. As placas bilíngües dão o testemunho da relevância de colombianos e mexicanos, principalmente, na economia norte-americana. Li no New York Times ou, talvez, no USA Today, declarações indignadas de imigrantes e nativos que se rebelam contra um possível e absurdo decreto que tenta oficializar o inglês britânico como língua oficial dos poderes executivo e judiciário. É óbvio que o inglês americano não é o mesmo que o inglês britânico, sem contar o fato de que a língua é dinâmica e está sujeita a modificações constantes e que são bem-vindas. A presença hispânica já adicionou novas palavras ao dicionário “inglês americano”. É o casamento de Tio Sam e Nossa Senhora de Guadalupe – se os mais beatos assim o permitirem. Que sejam felizes…
P.S.: Também assisti a Anne-Sophie Mutter na Sinfônica de Chicago, hors concours.

Descanso em New York

Dear friends,

estou em Nova York. Em poucos dias, estarei em Chicago. Tentarei escrever. Ate a volta!

P.S.: Faz bastante frio para a epoca do ano. O idioma mais falado aqui eh o castelhano. O policial da imigracao chamava-se Ramires. Ha uma invasao de europeus – em especial franceses – em busca dos baixos precos produzidos pela recessao, que eh evidente.

Borgianas

Tenho viajado muito. Mais do que eu gostaria. Em Buenos Aires, no último mês, comprei “Hombres y engranajes”, livro de pequenos ensaios sobre a “crise da cultura moderna”. De autoria de Ernesto Sabato, foi escrito em 1951. Folheando ao acaso, encontrei uma crítica bastante atual e resolvi “extraditar” o livro. Segue passagem do ensaio “El Paraíso Mecanizado”: Os meios se transformam em fim. O relógio, que surgiu para ajudar o homem, se transformou em instrumento para torturá-lo. Antes, quando se sentia fome, dava-se uma olhadela no relógio para ver que horas marcava; agora, consulta-se o relógio para saber se temos fome. Mais adiante, sob o título “De la realidad a la superrealidad”, diz o argentino: O que está em crise não é a arte, mas o conceito de realidade que dominou o Ocidente desde o Renascimento (…) Pois na vida e na literatura, o que logicamente é absurdo, psicologicamente é rigoroso e real: “creio porque é absurdo”. Borgiano, não?

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