Copa do Mundo:um pouco além de Lanzarote

Parcos e seletos leitores, a Copa do Mundo e a morte do estimado escritor José Saramago roubaram o tempo deste blog. Logo, logo estarei de volta.     

Prosa entre amigos


Piet Mondrian

Há poucos dias, entre amigos e conversas, perguntaram-me qual o romance que mais mexeu comigo. É claro que essa questão é muito vaga, pois os bons livros podem e devem mobilizar, no leitor, os mais diversos sentimentos e reações.  Permitindo-me, dentro da ressalva prévia, responder à indagação, lembrei-me imediatamente de um livro, e, poucos instantes depois, do outro. Vamos a eles. O primeiro foi um romance do Carlos Heitor Cony, Antes, o verão (Alfaguara, 198 páginas). Fui acometido por uma avassaladora tristeza, capaz de enegrecer a mais albina das biles, a cada página virada. De peito dilacerado e olhos marejados me vi quando findei a sua leitura. Fiquei mudo, indisfarçavelmente mudo. Mutismo digno apenas do infante Cony. Decepcionado, caro leitor? Não por mim, mas para me reabilitar com você, vamos ao segundo livro: Crime e castigo. A história de F.M. Dostoiévski me chacoalhou de uma maneira diferente, não só pela tensão do texto mas principalmente pela onipresença de Rodion Românovitch Raskólnikov. Acordava, respirava e trabalhava com o protagonista. Tinha certeza, todo o tempo, que Raskólnilov estava ao meu lado. Podia sentir, em alguns momentos, o cheiro do casaco sujo, molhado pelo tempo úmido e marcado pelo tempo pobre de São Petersburgo. Cheguei a temer o poder de convencimento de seu discurso e, não tenho vergonha de agora assim o confessar, sem toga, eu o inocentei de seu duplo homicídio qualificado. Talvez traído pela memória, que sempre nos prega peças, tenha negligenciado alguns outros livros. Mas sei que com Cony e Dostoiévski não estou em má companhia.

Escreveria sobre a influência de determinados livros, do poder que eles têm de modificar, subliminarmente, o clima e o desfecho de nossas ações práticas durante a leitura. Citaria  Dante Alighieri e o “Inferno” da Divina Comédia -será que alguém também notou momentos infernais invadirem a sua vida durante a leitura ou eu fui o único amaldiçoado? Não me senti capaz e abandonei a ideia em detrimento do post acima. Ganhei eu. Ganhamos nós.
                                     

O nosso MASP

Após quase quatro anos, voltei ao MASP. Foi ontem, em pleno sábado que prometia “90% de chance de chuva” e, adivinhem?, nenhuma gota caiu do céu. Já havia me esquecido da grandeza desse nosso museu, que não deve nada aos melhores museus do mundo. A exposição do surrealista Max Ernst está digna das melhores exibições temporárias do MoMA ou do Solomon Guggenheim. Encantado mesmo fiquei diante da mostra “Romantismo – A arte do entusiasmo”, em cartaz desde 5 de fevereiro. A excepcional curadoria de Teixeira Coelho encontrou em Novalis o seu arcabouço teórico. O movimento romântico, em contraposição aos ideais iluministas, converteu-se em religião, aqui entendida, segundo o filósofo alemão, como entusiasmo. Entusiasmo, do grego “en” + “theos”, “em Deus”. O subjetivismo, típico dos românticos, exige distanciamento, pois a proximidade das coisas e das pessoas provoca e  exige a reflexão analítica. Não por acaso, a mostra inicia-se com a seguinte passagem de Novalis: Tudo que é visto à distância transforma-se em poesia: montanhas distantes, povos distantes, fatos distantes. Tudo, assim, vira romântico. Ato contínuo, lembrei-me dos famosos versos do soneto “Mal secreto”, de Raimundo Correa:Se se pudesse o espírito que chora/ Ver através da máscara da face,/ Quanta gente, talvez, que inveja agora/ Nos causa, então piedade nos causasse!”.

O jardim do vizinho é sempre mais florido que o nosso…  

                                

Ridi, Pagliaccio

Ninguém foi como ele!

 

Pavarotti Vesti La Giubba – I Pagliacci

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