Destino cruel
Tive a dica de leitura no ótimo Cultural Amnesia, de Clive James. Há um verbete endereçado a Heda Margolius Kovály e uma espécie de resenha sobre a sua autobiografia Under a cruel star: a life in Prague 1941-1968. Fiz a encomenda pela Amazon. Nada mais oportuno que a sua leitura para aqueles que viram em Gaza “um novo Holocausto”. Nada mais absurdo que tal ingênua – ou mal-intencionada – comparação. Algumas passagens. No gueto de Lodz, um médico judeu tenta confortar pessoas doentes: “His mother, so thin that she herself looked like a child, was crying quietly in the corner. The doctor took out his stethoscope, listened for a while, patted the little boy’s head and sighed; he could do no more. At that moment, the child turned toward his mother and sternly, like a adult, said, ‘You see Mother? I told you all the time I was hungry but you give me anything to eat. And now I’m going to die.'” Mais adiante, durante um incêndio no gueto, Heda tenta remover o seu primo tuberculoso, fraco, então um menino com dezesseis anos de idade, que, apesar de sobreviver ao incêndio, morre três semanas depois: “My mother prayed, but I could not see the point of pleading with God for someone who had to die at the age of sixteen after so much suffering. There is nothing more senseless, more cruel, than dying before we have become guilty of sins that might justify death.” Seria possível seguir o conselho horaciano de manter a mente tranquila na adversidade*?
(*Aequam memento rebus in arduis servare mentem)
Discussão - 2 comentários
Possível sim, mas improvável!Helena
Amigo, que história triste! Não parece possível acreditar que algo pior que Hitler poderia acontecer e aconteceu na vida dessa mulher. Pobre Heda! Horácio não viveu o holocausto e não manteria a calma. Concordo com a Helena.