O sentido da vida
Ilustração retirada daqui.
Terminei de ler o agradável “Conversa sobre o tempo” (Editora Agir, 254 páginas). Trata-se de um bate-papo entre Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo mediado por Arthur Dapieve. O livro está dividido em quatro partes: amizade e família; paixões; política e morte. Os dois escritores foram protagonistas e testemunhas de um tempo singular na história recente do Brasil, passando pelos terríveis anos de chumbo até atingir a recente consolidação da democracia brasileira. Veríssimo é, ao lado de Oscar Niemeyer, um dos dois esquerdistas autênticos que restam por essas bandas. Legitima o MST e se diz decepcionado com o PT e, em especial, com o Lula. Zuenir é, declaradamente, alguém preocupado com as injustiças sociais no país mas prefere, até onde possa, não se envolver com política. Com o seu humor habitual, quando indagado por Zuenir sobre o que achava da morte, Veríssimo respondeu “eu sou contra”. Mais adiante, ainda falando sobre esse tema, tive de discordar da afirmação do escritor gaúcho de que “a morte torna a vida sem sentido” (página 33). É justamente a morte que dá sentido à vida, pois se cumprimos as etapas escolares, desde o pré-primário até a universidade e pós-graduação, se planejamos a maternidade (e a paternidade), se exigimos de nós mesmos um comportamento ético – pelo menos deveríamos – é porque iremos morrer. Uma vida perene, infinita, teria outra cadência, certamente. Discutir o sentido da vida só faz sentido porque somos finitos, mortais, degenerescentes. É a certeza da morte que serviu de motivação – que deu sentido – para Albert Camus escrever “O mito de Sísifo” . E a resposta ao enigma da vida, se me atrevo a dizer, é vivê-la de modo feliz. Como muito bem lembrou Dapieve, a última frase no livro de Camus diz “é preciso imaginar Sísifo feliz”. Que não nos falte imaginação.

Discussão - 2 comentários
No mundo em que vivemos é bem difícil, requerendo um bom esforço de imaginação... Que sejamos persistentes.
Impressionante como você, com poucas palavras, consegue me incitar a refletir sobre qualquer coisa, sempre!
Excelente.
Abraço!