Nemesis: entre a húbris e a sofrósina
Nemesis. Achei que o mais recente livro de Philip Roth me decepcionaria. Sim, tive essa impressão por 237 páginas, mas reencontrei o genial Roth de sempre nas 43 derradeiras páginas. A trama se desenrola a partir da epidemia de poliomielite que assolou o escaldante e pacato verão de Newark, em 1944. O míope professor de educação física e protagonista, o judeu Bucky Cantor, se vê impotente diante da doença que paralisa e mata alguns de seus mais diletos alunos. Como pode um Deus infinitamente bom e misericordioso permitir que a vida de alegres e inocentes crianças seja ceifada de maneira tão cruel? É justamente esse questionamento que atormenta Bucky durante toda a narrativa, fazendo com que ele oscile entre a blasfêmia contra Deus e o próprio sentimento de culpa produzido pela firme ideia de ser ele mesmo o culpado pela disseminação da poliomielite. O respeitado médico e pai de sua namorada, Dr. Steinberg, tenta demover Bucky de sua agourenta crença: “You have a conscience, and a conscience is a valuable attribute, but not if it begins to make you think you’re to blame for what is far beyond the scope of your responsability.” A tragédia que se desenrola, guiada pela marca inconfundível do cético e maduro Roth, culmina na passagem que condensa toda a essência de Nemesis:”Sometimes you’re lucky and sometimes you’re not. Any biography is chance, and, beginning at conception, chance – the tyranny of contingency – is everything.” Depois de 31 livros, Roth não me decepcionaria.

Discussão - 4 comentários
Amei, certa feita, o corpo de um homem que tinha parcas e tristemente breves intenções físicas. Oscilava muito no decorrer: escorregava, se aturdia, murchava, babava e até mesmo chegava a ganir com um simples e suave plié das coxas minhas. Ao final, graças ao dedicado exercício da paciência, ao vigor dos músculos e à ninfomania dos gens(também meus), os 43 últimos segundos compensaram os 237 minutos de angústia que os precederam.
Prova viva de que o primeiro interrompido, facto, a gente nunca esquece.
Roth nunca interrompi. Mas confesso ter gozado menos com o passar dos últimos volumes.
E tenho a vaga compreensão de que uma obra que nos exaure por volumosas 237 páginas me parece bem mais consequência da vergonha, medo e vaidade do editor que a publica do que um twist de linguagem do autor. Gregos, afinal, gostam da loucura mais que do cansaço.
Mas o que também saberia eu, tão vulgar e ordinária existência perto de tão suave e nobre e sábio e docemente aristocrático senhor?
Ah! Tão vasto é o mundo das dualidades: bem e mal, húbris e sofrósina, gregos e troianos... Eita vida besta meu Deus. Ah! Carlos, Ah! Carlos...
O Acaso. Hehe. Preciso ler Roth. Mas a hybris e sophrosyne são de quem?
Me pareceu bem interessante!
Mas o que também saberia eu, tão vulgar e ordinária existência perto de tão suave e nobre e sábio e docemente aristocrático senhor?