Breviário do Amigo de Montaigne
Amigos, estive ausente do blog por questões profissionais. Retomo o Amigo de Montaigne com algumas breves e díspares notas:
1. Estive pensando, após a tragédia em Realengo, se a internet teve alguma parcela de culpa. É simplista e ingênuo achar que houve somente um ou dois fatores envolvidos no morticínio. Mas imaginem vocês se o assassino tivesse nascido no início do século passado. Qual teria sido o seu desfecho? Há farta evidência de que a internet serviu para pelo menos duas coisas: a aquisição de carregadores de arma e o acesso a sites de fundamentalistas cristãos e muçulmanos. Cem anos atrás, e o que teria ocorrido?
2. “…Tolstoi se fazia invisível, alcançando o ideal desapaixonado que tão violentamente exigia Flaubert do escritor: ser invisível e estar em todas as partes, como está Deus em Seu universo”. Escrito por Vladimir Nabokov, em Curso de literatura russa.
3. Ronaldinho Gaúcho foi condecorado pela ABL, que lhe concedeu a mais alta distinção da casa: a comenda Machado de Assis. A continuar assim, acho que o Amigo de Montaigne tem chance.
4. “O deleite produzido pela beleza é o único verdadeiramente desinteressado e livre. Em efeito, nossas demais satisfações provém dos interesses necessários de nossos sentidos ou de nossa razão”. Immanuel Kant.
5. O mundo digital vive a febre do IPad. Tenho resistido bravamente às tentações do tablet. Havia filas e listas de espera para a compra na loja da Apple em Nova York. Seria o consumo a capacidade de julgar como imprescindível o supérfluo?

Discussão - 8 comentários
Olá, meu caro. Sobre a internet, convenhamos, a tecnologia é neutra. A internet não tem culpa de nada.
Lara, eu tive a mesma reação inicial. No entanto, não acho que a resposta seja assim tão simples.
o item número um desse vosso texto me lembrou muito um pano: aquele de coar café. e que parecia uma meia suja e a boca da panelinha era larga e engolia ele todo e o café escorria gordo por diversos e democráticos orifícios do tecido: uma orgia, festa, uma alegria. aí veio o funil. e agora fica todo mundo numa mesma fila, esperando escorrer, esperando descer por um único e mesmo buraquinho.
a sociedade moderna espremida num funil escorre realengos todos os dias (ainda que em gêneros e graus muito distintos)
que a internet estreita o orifício, é evidente mas e o que se soca, diariamente, pra dentro do gargalo?
e cem anos pra frente, o que será do orifício?
só quem sabe usar meu corpo é deus.
naturalmente que sim - tudo é uma questão de bola e orifício.
a beleza é individual e intransferível.
o resto somos nós corrompendo os demais.
lembre-se: a maçã fodeu o paraíso.
Eva,
sua observação foi pertinente.
Deixarei a maça longe de mim.