Desafiando o consenso científico: Quando os especialistas estão errados?

Fonte: Psychology Today

Autor: Paul Thagard *

Tradução: Rodrigo Véras e André Rabelo

 

Penso que a psicologia, a medicina e até mesmo a filosofia deveriam ser baseadas em evidências, o que exige que nos voltemos aos cientistas especializados para a reavaliação de nossas crenças correntes. Mas faz parte da natureza da ciência que, por vezes, os especialistas estejam errados. Quando é legítimo desafiar o consenso científico?

Decisões sobre psicoterapia, outros tratamentos médicos, e até mesmo sobre dilemas filosóficos não deveriam ser baseadas em intuições sem suporte de dados, mas em evidências experimentais. A melhor forma de descobrir quais evidências estão disponíveis é consultando especialistas que tenham revisado os estudos relevantes e os relatado objetivamente. No entanto, existem muitos casos na história da ciência em que o consenso científico entre os especialistas estava errado. Os exemplos incluem: As visões psicanalíticas freudianas das doenças mentais que foram dominantes nos anos de 1950, a perspectiva médica pré-1990 sobre as úlceras estomacais serem causadas por estresse e excesso de acidez, e a astronomia pré-copernicana que, confiantemente, colocava a Terra no centro do universo. Continue lendo…

Inato x Aprendido (Parte 2)

Autores: André Rabelo e Felipe Novaes

Texto também publicado no Blog NERDWORKING

A rejeição contemporânea da natureza humana tem a ver com o medo da desigualdade, do racismo, da guerra e da violência, visto que durante o século XX algumas explicações biológicas foram (mal) forjadas por pessoas para justificar idéias eugenistas e racistas.

Portanto, tais receios não são totalmente injustificáveis, visto que movimentos como o nazismo, por exemplo, ficaram conhecidos por fazer uso de explicações supostamente biológicas (como a noção de raça superior que deveria dominar), de uma forma totalmente deturpada para cometer atrocidades.

O problema é que estas preocupações que se pautam exageradamente no passado acabam ignorando a proposta atual da utilização de explicações biológicas, que é diferente da que foi feita, de forma distorcida e desonesta, no passado por certas figuras políticas.

A própia biologia se encarregou de demonstrar que somos todos primos, unidos pela mesma árvore da vida, sendo que diferenças superficiais como a cor da pele ou o formato dos olhos não podem dizer quais são os nossos potenciais nem as nossas características fundamentais, muito menos a nossa função social. Dois avanços importantes na teoria genética ajudaram a desmisitifcar o determinismo genético (Gould, 1991): a idéia de herança poligênica e a falta de diferenciação genética entre humanos. Essas duas idéias podem ser resumidas, respectivamente, da seguinte forma: as características humanas são o resultado da participação de vários genes juntamente com um “exército de efeitos interativos e ambientais” (Gould, 1991); as diferenças genéticas entre indivíduos das diversas raças humanas são extremamente pequenas, ou seja, não existem “genes raciais” que diferenciem uma raça da outra.

A antipatia à explicações biológicas, ironicamente uma “herança” do debate entre o que era inato ou aprendido, surgiu principalmente por conta de idéias como o darwinismo social, o determinismo genético e a frenologia. Continue lendo…

A Ciência Sob Ataque

No documentário “A Ciência Sob Ataque” (Science Under Attack), Sir Paul Nurse, que é um bioquímico, prêmio nobel em 2001 e atual presidente da Royal Society, busca compreender a desconfiança e a hostilidade que andam circundando a relação entre a população e os cientistas.

Paul discute como algumas conclusões praticamente consensuais no meio científico receberam nos últimos anos uma onda de ataques infundados com o objetivo de negá-las, especialmente nos debates acerca da causa do aquecimento global, da causa da AIDS e das pesquisas sobre alimentos geneticamente modificados (a lista poderia se estender a muitos outros tópicos). Muitas das críticas deixaram o plano do debate pacífico e passaram para ameaças e ataques diretos a laboratórios e pesquisadores por parte de ativistas enfurecidos. Continue lendo…

Negacionismo

“O sono da razão produz monstros” (el sueño de la razón produce monstruos) é o título que acompanha a obra ao lado, de Francisco Goya, onde um homem adormece e é assombrado por “monstros” da noite. Goya foi um defensor do iluminismo e satirizou a sociedade de sua época na série de gravuras “Los Caprichos“.

A sociedade da época de Goya guarda muita semelhança com a sociedade em que vivemos, ainda impregnada pela superstição, pela religião, pelo misticismo e pela antipatia à razão.

Avançamos muito desde o século XVIII nesse sentido, tempos onde uma mulher seria queimada viva se alguém a denunciasse como bruxa – mesmo que não existissem provas – e um homem poderiar ser torturado até a morte se duvidasse de algum dogma religioso.

Ao longo do século passado houve uma tendência, principalmente nos círculos filosóficos mas na população de um modo geral, de se negar evidências e tentar demonstrar que não havia consenso sobre vários conhecimentos estabelecidos. A crítica que visava invalidar a razão e relativizar tudo ad infinitum ficou conhecida como o negacionismo. Continue lendo…

Ninguém Vai Mudar de Signo?!

Uma reportagem entrevistando um astrólogo saiu recentemente no portal “Extra Online” da Globo, discutindo sobre a possibilidade de existir um outro signo além dos 12 já usados pela astrologia e da mudança das datas correspondentes a eles, proposta por um grupo de astrônomos que restauraram o zodíaco babilônico e o atualizaram com as mudanças ocorridas desde então.

Para quem considera exagero criticar a astrologia por essa não ter la grandes pretensões além das financeiras, vejam que na reportagem é comentado sobre um “Sindicado de Astrólogos do Estado do Rio de Janeiro”, além do astrólogo entrevistado dizer que a astrologia “é uma  ciência com mais de oito mil anos”. Continue lendo…

Astrologia

A astrologia tem grande aceitação do público em geral, oferecendo formas de auto-conhecimento, possibilidades de prever acontecimentos e de ganhar importância no universo. Pode-se dizer que é comum hoje em dia acreditar em algo assim, mesmo que seus pressupostos mais básicos sejam desprovidas de qualquer evidência e não sejam coerentes com o conhecimento produzido até hoje na física e na astronomia em particular.

Uma possível explicação para o sucesso da astrologia é que ela oferece uma forma de preencher certas dificuldades inerentes à condição humana como a insegurança diante da instabilidade do mundo, assim como o medo e a necessidade de controle das situações cotidianas. Mas os mais prováveis motivos pelos quais a astrologia tem tanta aceitação pública é porque ela faz alegações genéricas o suficiente para que nunca pareçam estar erradas; suas alegações não costumam ter implicações muito negativas para a vida das pessoas; e seu acesso é fácil e barato.

Além disso, como Carl Sagan descreve em seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, “as divulgações escassas e malfeitas da ciência abandonam nichos ecológicos que a pseudociência preenche com rapidez”. Alcançando mais rapidamente o público em geral e fazendo alegações que naturalmente despertam sentimentos profundos de admiração, as pseudociências tem seu sucesso garantido na população. Se a ciência investisse tanto em divulgação quanto a pseudociência, talvez a astronomia hoje fosse mais popular que a astrologia.

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Programa Fronteiras da Ciência

O programa “Fronteiras da Ciência” é transmitido na rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e é apresentado e organizado por um grupo de professores da UFRGS. O programa discute os limites entre o que é ciência e o que é mito.

O primeiro programa foi ao ar em 07/06/2010, tratando das diferenças entre ciência e pseudociência. Numa periodicidade semanal, o grupo de professores discute temas como astrologia, ufologia, homeopatia, evolução, medicina alternativa, física e outros temas. As discussões são muito ricas e bem exploradas, um programa altamente instrutivo e bem encadeado.

É digna de muitos aplausos a iniciativa desses professores, sem dúvida esse tipo de discussão baseada na razão e no rigor científico fazem muita falta aqui no Brasil ainda. O site que disponibiliza o áudio de todos os programas até agora pode ser acessado “aqui“.

Terapias Placebo

Seria mais honesto chamar as famosas “terapias alternativas” de “terapias placebo”, pois esse é um dos elementos que todas dependem para, às vezes, funcionar. Como já discutido anteriormente, o efeito placebo é comumente a razão pela qual algumas práticas como a aromaterapia, auraterapia, anjoterapia, terapia magnética, naturoterapia, florais de Bach e um número muito maior de ditas “terapias”, funcionam.

A anjoterapia deveria soar estranha até mesmo para os mais fundamentalistas religiosos. Esta terapia new age postula que se comunicar com os anjos é a chave para a cura de doenças. Susan Stevenson, uma hipnoterapeuta que pratica terapia de regressão à vida passada, diz que vê anjos em qualquer lugar. Continue lendo…

A Mente Crédula

Seguem alguns sábios trechos:

A mente crédula […] experimenta um grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quanto mais estranhas forem, mais facilmente serão aceitas; mas nunca leva em consideração as coisas simples e plausíveis, pois todo mundo pode acreditar nelas. Continue lendo…

Os Charlatães em Ação

Você ja ouviu falar no “Reincarnation Bank” (Banco da Reencarnação)? Lá você poderá fazer depósitos que teoricamente serão recuperados por você na sua próxima encarnação. A máxima de que “nada se leva dessa vida” perderia sentido. A grande questão é: como você poderá ser identificado em outro corpo?

Independente da questão espiritualista propriamente dita, a prática estabelecida por essa instituição não soa nada bem, pois eles têm suas própias formas de identificar se você foi João Não Sei o Que em outra vida, e podem simplesmente dizer que você não foi, como foi constatado nos testes deles.

Como você vai provar que foi o João Não Sei o Que (supondo que reencarnação realmente exista e que você conseguiria se lembrar disso, até mesmo da senha da sua conta no rencarnation bank)? O golpe que essa instituição tenta aplicar configura mais um dos vários enganos praticados por charlatães que usufruem da ignorância e crendice das pessoas, um mercado que já se provou muito lucrativo. Continue lendo…