Ciência e inferência. Parte II: Popper e a tese do holismo.
Fonte: Bule Voador
Autor: Rodrigo Véras
A tentativa de escapar do dilema Humeano perpetrada por Popper – ao encarar a inferência científica como um processo hipotético-dedutivo falsificacionista – parece não ter surtido o efeito esperado. Os críticos muito rapidamente perceberam que esta abordagem destoava de boa parte das práticas dos cientistas. As aspirações normativas do modelo Popperiano de oferecer um critério de demarcação capaz de diferenciar a ciência da pseudociência, de maneira clara e simples, também não prosperaram, ainda que a refutabilidade de uma hipótese possa ser um guia útil em muitas situações, como estratégia preliminar na prática demarcatória.
Ciência e inferência. Parte I: A dúvida de Hume e a solução de Popper.
Fonte: Bule Voador
Autor: Rodrigo Véras
Ao imaginar um cientista, muitos ainda devem visualizar um indivíduo que coleta várias dados e faz muitas observações, às vezes ao longo de uma vida inteira, e a partir delas obtém leis gerais sobre algum fenômeno. No cerne desse procedimento está uma forma de inferência de extrema importância, a indução. De uma maneira bem simples, quase caricata, na indução se parte de observações ou casos isolados e se chega à generalizações. Dependemos, o tempo todo, em nosso dia a dia, deste tipo de raciocínio. Ao valermo-nos dele, empregando-o intuitivamente, acreditamos que algo que deu certo antes dará certo de novo, que o dia se seguirá à noite e que efeitos se seguirão às causas. Porém, pelo menos desde Hume, existem pensadores que acreditam que há algo de pernicioso em relação à indução. Algo de intrinsecamente irracional estaria oculto por trás desta inocente forma de inferência, e acabaria por contaminar todos nossos esforços em busca de conhecimento e nem mesmo as ciências estariam imunes. Continue lendo…
Homeopatia e Plausibilidade
Fonte: Science-Based Medicine
Autor: Steven Novella
Tradução: Rodrigo Véras e André Rabelo
O conceito fundamental da medicina baseada em ciência (MBC) é que a prática médica deve ser baseada na melhor evidência disponível. Isso pode parecer óbvio, mas existem muitos detalhes importantes para sua aplicação, como a relação entre evidência clínica e da ciência básica. Alegações clínicas requerem evidência clínica, mas evidência clínica pode ser capciosa e em geral é preliminar.
Uma análise minuciosa da ciência básica e clínica por trás de uma alegação médica pode ser resumida pelo termo “plausibilidade”, ou “probabilidade prévia” caso você queira colocá-lo em termos estatísticos. Quando dizemos que uma determinada crença é plausível queremos dizer que é consistente com o que sabemos do resto da ciência. Em outras palavras, por causa das muitas fraquezas das evidências clínicas, para que uma terapia seja geralmente aceita como parte da MBC, esta deveria ter um mínimo de evidências clínicas apoiando-a e plausibilidade científica geral.
Isso pode ocorrer em diferentes proporções – por exemplo, uma terapia pode ser altamente plausível (seria chocante caso ela não fosse verdadeira) e ter modesto suporte de evidências clínicas, enquanto outra poderia ter plausibilidade desconhecida, mas sólidas evidências clínicas de sua eficácia. Mas nenhuma terapia deveria ter evidências clínicas que sugerem falta de eficácia, nem extrema implausibilidade (não simplesmente desconhecimento do mecanismo, mas nenhum mecanismo possível).
O garoto propaganda da extrema implausibilidade científica dentro da medicina é, discutivelmente, a homeopatia. Sua “lei dos similares” é pouco mais do que magia simpática, e a “lei de infinitesimais” leva a misturas diluídas a tal ponto que elas têm de “zero” ingrediente ativo e apenas a memória mágica deixada para trás. É esta realidade que inspirou um recente artigo de revisão a caracterizar a homeopatia como “bruxaria”.