Psicologia Brazuca: Helmuth Krüger e a cognição social

Helmuth Krüger

No início deste ano de 2012, a Universidade Católica de Petrópolis (UCP) abriu um programa de pós-graduação em psicologia, com a área de concentração em cognição social. Foi com muita alegria e entusiasmo que eu e Marcus recebemos esta notícia, assim como alguns psicólogos sociais brasileiros interessados nesta subárea! Recomendamos a estudantes interessados na área que busquem informações sobre este programa aqui.

O diretor do programa, o professor Helmuth Krüger, nos concedeu uma entrevista discutindo questões relacionadas à cognição social no Brasil e à psicologia de maneira mais ampla, nos fornecendo um panorama de um profissional que vivenciou boa parte da construção da psicologia brasileira e que agora investe seus esforços na consolidação da cognição social no Brasil.

O professor Krüger é formado em filosofia e em psicologia pela Universidade do Estado da Guabanabara (atual UERJ), é mestre em psicologia aplicada e doutor em psicologia pela Fundação Getúlio Vargas – FGV e por mais de vinte anos foi professor efetivo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Universidade Gama Filho. Sem dúvidas o Professor Helmuth Krüger é um dos grandes nomes da psicologia nacional, além de ter orientado uma grande geração de pesquisadores da psicologia social comprometidos com a ciência e a ética na psicologia. Para mais informações sobre o trabalho do professor Krüger, dê uma olhada no currículo dele aqui.

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Usando psicologia social para resolver pepinos de verdade

Kurt Lewin

Algumas restrições alimentares foram impostas a muitas pessoas ao longo da segunda guerra mundial. Entre elas, o fornecimento de carnes mais comuns se tornou dificultoso. Olhando para problemas como este, Kurt Lewin, um dos maiores psicólogos sociais de todos os tempos (já falecido), e sua equipe, pensaram em experimentos sobre influência social que poderiam oferecer uma possível solução alternativa para o problema [1]. A elegância de um destes estudos é, sem dúvida, a melhor parte para comentar aqui.

Com o problema no suprimento de carnes, havia uma grande demanda para convencer as pessoas a comerem outros tipos de carne menos usuais, como tripas e rins, o que ofereceria uma alternativa para compensar a falta de fontes de proteínas mais comuns. Lewin e seus colegas perceberam que as mulheres casadas eram a chave para resolver o problema, pois elas é quem decidiam, no final das contas, qual a carne que iria parar na mesa de suas famílias.

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Altruísmo ou egoísmo: Qual é a motivação para a generosidade?

Qual é a nossa motivação quando ajudamos alguém?

Imagine que você acaba de ajudar uma senhora simpática, mas com dificuldade de andar, a atravessar uma rua. Ao terminar a travessia, ela lhe agradece com um grande sorriso no rosto e você se sente muito bem por ter ajudado ela. Nessa situação, qual teria sido a sua motivação para ajudar esta senhora?

Uma possível resposta a isso é que a sua capacidade de experienciar estados afetivos correspondentes aos estados afetivos de outra pessoa que você está observando (ou imaginando) e à qual você consegue reconhecer que é a fonte do seu estado afetivo atual – a famosa empatia [1]* – te induziu a uma motivação altruísta, ou seja, a um estado motivacional com o objetivo final de aumentar o bem-estar daquela senhora [2].

Outra possibilidade é que o seu ato solidário foi influenciado por uma motivação egoísta, ou seja, um estado motivacional visando aumentar o seu próprio bem-estar. Muitos acreditam que todas as nossas ações bondosas são movidas por motivações egoístas, já que, quase sempre, podemos nos beneficiar – mesmo que indiretamente – quando ajudamos outra pessoa (no exemplo anterior, o benefício poderia ser o sentimento positivo resultante da ajuda, por exemplo). Mas será que esta hipótese, a do egoísmo universal, está sempre por detrás da prosocialidade humana? Uma rica linha de pesquisa indica que não. Continue lendo…

Burgess: Como o seu cérebro te diz aonde você está

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Discutindo evidências intrigantes sobre os avanços da neurociência cognitiva na compreensão da memória espacial, Neil Burgess, neurocientista associado ao UCL Institute of Cognitive Neuroscience e o UCL Institute of Neurology traz uma palestra breve e didática sobre os mecanismos neurais subjacentes à nossa capacidade cognitiva de memorizar localizações e orientações espaciais. Na palestra postada originalmente no site do TED, é possível ativar as legendas em português.

A psicologia da UnB precisa de atenção, mas “só se for agora”

Nada como salas maquiadas e defasadas para começar bem um semestre... (Foto: Mariana Costa/UnB Agência)

As aulas dos alunos de psicologia na Universidade de Brasília (UnB)  tiveram o seu início adiado este semestre por uma semana até agora. O motivo é que a situação da psicologia nesta instituição está grave, muito grave.

Os professores do Instituto de Psicologia (IP) tiveram 60 salas alocadas para darem suas aulas provisoriamente, por conta de obras no Instituto Central de Ciências da UnB. Muitas das salas estão com: janelas quebradas, buracos nas janelas e nas grades (por onde pessoas podem entrar pela sala a qualquer momento), vestígios de urina e fezes nas salas, problemas na iluminação e na fiação, falta de cadeiras para o número de alunos das disciplinas, falta de ventilação em salas pequenas no subsolo do prédio… a lista é grande. Neste vídeo é possível ver um pouco desta situação frustrante com a qual estamos convivendo.

A diretoria do IP alertou inicialmente que poderia adiar o início do semestre por conta da falta de condições mínimas para trabalhar – e foi exatamente o que aconteceu, pois poucas das mudanças necessárias foram efetivadas até o momento pela administração da universidade, de acordo com a diretoria do IP. Continue lendo…

Uma homenagem ao mestre César Ades

Autor: Francisco Dyonísio C. Mendes (Dida)*

César e Dida (à direita)

“Minha linha de pesquisa é a curiosidade”. Assim César Ades explicava, com o bom humor e perspicácia de sempre, porque seu currículo era tão eclético. Em seus 47 anos de carreira como psicólogo especialista em comportamento animal, estudou assuntos e espécies diversos: da memória utilizada por aranhas para recuperar as presas na teia às diferenças de ciúmes entre homens e mulheres; do comportamento parental de cobaias ao simbolismo na comunicação entre humanos e cachorros.

Quase causava estranheza como dominava tantos assuntos com tanta facilidade, mas sua característica mais marcante era a paixão – paixão pelos animais, pela psicologia, pela ciência e pela vida! Poucos minutos a seu lado eram suficientes para perceber isso, e assim César costumava encantar aqueles que o conheciam. Esta paixão, e a alegria constante que a acompanhava, escondia sua experiência com a II Guerra no Egito, aonde nascera, teve a perda prematura de um filho e outras histórias que mencionava muito raramente. César queria viver e produzir conhecimento, e para isso seu sorriso farto e sua energia positiva eram mais importantes que recordações negativas. Continue lendo…

Quais são os pré-requisitos para a acumulação cultural?

O que permitiu a acumulação cultural?

No início deste mês, a revista Science trouxe um trabalho investigando os pré-requisitos cognitivos e sociais básicos para que um organismo seja capaz de acumular cultura. Enquanto uma caraterística distintivamente humana, a capacidade de acumular cultura tem sido estudada e debatida há muitos anos, com muitas questões ainda levantando discordâncias.

Um posicionamento  influente na área é que algumas características cognitivas e sociais constituíram os ingredientes básicos para que a capacidade de acumular cultura pudesse se expandir de maneira tão acentuada e “repentina” do ponto de vista evolutivo, como indicam os dados arqueológicos acerca da produção de ferramentas ao longo da história evolutiva humana. Alguns destes pré-requisitos são a capacidade de ensinar, a linguagem, a imitação e a prosocialidade.

 Por outro lado, alguns autores defendem que determinados aspectos sociais impediram o desenvolvimento de acumulação cultural em outras espécies que não a humana, como o cleptoparasitismo, a tendência de indivíduos dominantes monopolizarem recursos e uma tendência a direcionar menos atenção a “inventores” com status social baixo no grupo. Continue lendo…

Entendendo o cérebro humano

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Terrence J. Sejnowski é atualmente um dos pesquisadores mais importantes na neurociência computacional, área essa na qual ele foi um dos pioneiros. Na entrevista acima, Sejnowski comenta, entre muitas questões, sobre um editorial na Science [1] que ele publicou no final de 2011 com um colega acerca da grande quantidade de conhecimento sobre o cérebro produzido nas neurociências que ainda não foi acompanhado por um esforço em sintetizar e compreender as relações entre estes conhecimentos. Ele defende que a acumulação de conhecimento é uma etapa importante, mas que já é hora das neurociências repensarem sobre o que esperam encontrar no final deste turbilhão.

ResearchBlogging.orgSejnowski também comenta sobre as implicações no campo jurídico, ético e educacional das pesquisas em neurociências, enfatizando adicionalmente as importantes implicações para estes tópicos das pesquisas em outras áreas como na ciência cognitiva e na psicologia. Um ponto importante que Sejnowski aponta é que aspectos sociais e contextuais são fundamentais para compreender a experiência humana e que estas ainda são variáveis muito difíceis de serem estudadas no âmbito das neurociências (embora estejam surgindo oportunidades inovadoras para investigá-las).

Uma questão é crucial hoje nas neurociências, segundo Sejnowski: se cada vez fica mais claro que o cérebro é um sistema tão dinâmico e flexível, como é possível haver simultaneamente estabilidade a longo prazo? Como é possível que, em um cérebro com sinapses sendo modificadas o tempo todo, possamos reter memórias de episódios ocorridos há décadas, com detalhes minuciosos de informações que somos capazes de recuperar? Vale a pena assistir a esta entrevista, na qual este grande cientista explora diversas questões atuais sobre o desenvolvimento e as implicações das pesquisas em neurociências.

Referências:

[1] Brenner, S., & Sejnowski, T. (2011). Understanding the Human Brain. Science, 334 (6056), 567-567 DOI: 10.1126/science.1215674

Sacks: O que alucinações revelam sobre a mente

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O olhar da mente

Alucinações são fenômenos psicológicos intrigantes que têm ocupado a atenção e os esforços de psiquiatras e psicólogos por muitos anos. Elas fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, sendo que muitas delas temem reconhecer publicamente suas experiências com medo de serem taxadas de “loucas”. Mas será que este tipo peculiar de fenômeno pode nos ajudar a entender como a mente funciona? Para Oliver Sacks, um médico popularmente conhecido pelo seu trabalho de divulgação científica, as alucinações podem revelar informações importantes sobre o funcionamento cognitivo.

Na palestra do TED acima, Sacks descreve alguns casos impressionantes de pacientes com alucinações visuais, relatados também em seu último livro, publicado em português há pouco tempo atrás, O olhar da mente. Sacks enfatiza que alucinações visuais são um fenômeno comum e descreve que em alguns quadros onde ocorre a perda de visão gradativa, pode haver uma hiperativação de áreas do cérebro relacionadas ao processamento visual que, por fim, pode resultar em alucinações.

Após fazer uma descrição de vários avanços que foram feitos na compreensão de como o cérebro processa informações visuais e de como estruturas neurais altamente específicas estão envolvidas no processamento de determinados aspectos visuais, Sacks reafirma a importância em reconhecer que ninguém sofre necessariamente de um transtorno grave por viver este tipo de experiência e o quanto o nosso conhecimento sobre estes fenômenos tem permitido insights importantes sobre “como o teatro da mente pode ser gerado pela máquinaria do cérebro.” Na palestra exibida no site do TED, é possível optar pela legenda em português. Ao final da palestra, Sacks confessa que também vivencia regularmente alucinações visuais, provavelmente resultantes das suas deficiências visuais.

Psicologia Brazuca: Vitor Haase e a neuropsicologia

Vitor Haase

O professor Vitor Geraldi Haase é coordenador do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND-UFMG) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Configurando-se hoje como um dos maiores pesquisadores na área de neuropsicologia, tanto a nível nacional quanto internacional, o professor Vitor foi recentemente aprovado em primeiro lugar no concurso de professor titular da Psicologia da FAFICH-UFMG. Além de imerso em diversos projetos de pesquisa, ele escreve o blog Neuropsicologia e desenvolvimento humano, mais voltado para a divulgação de conhecimento científico na área, e o blog Reabilitação neuropsicológica, voltado para divulgar informações a pacientes e às suas famílias. Vejam esta ótima e profunda entrevista que o professor Vitor gentilmente nos cedeu, comentando sobre os mais diversos problemas não apenas da neuropsicologia, mas da psicologia de maneira mais ampla, estreando a nossa série Psicologia Brazuca em grande estilo!

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