O que religião tem a ver com moralidade?

Religião e moralidade

Para muitos religiosos, a pergunta “O que religião tem a ver com moralidade?” teria uma resposta óbvia: “a religião é a base da moralidade e torna as pessoas moralmente melhores.” Entretanto, para muitos ateus, a resposta seria bem diferente, algo como: “a moralidade independe da religião e a religião torna as pessoas moralmente piores.” Podemos passar horas a fio construindo argumentos contra cada uma destas posições, mas melhor do que isso talvez seja analisar o conhecimento empírico que temos sobre a relação entre ambas. Foi com esse intuito que Paul Bloom, professor na Universidade Yale, publicou recentemente uma revisão discutindo a evolução da religião e da moralidade e como estes dois fenômenos se relacionam [1]. Trago abaixo uma breve discussão dos principais pontos discutidos por Bloom.

ResearchBlogging.orgA aversão que as maiores religiões do mundo compartilham por aqueles que “não crêem,” frequentemente vistos como indivíduos sem moralidade, ilustra a importância central que usualmente se dá às crenças religiosas para a moralidade. “Se um indivíduo não compartilha de determinadas crenças religiosas, ele deve possuir uma moralidade menos sólida do que a minha, que acredito”, reza a lenda. Por outro lado, o que um grande corpo de evidências tem demonstrado nos últimos anos é que se a religião tem alguma influência na moralidade das pessoas, esta influência não se deve às crenças religiosas, mas à outros aspectos menos aparentes das religiões, compartilhados por outros grupos sociais. Como muitas vezes as pesquisas na psicologia e nas ciências humanas indicam, mesmo intuições tão difundidas , como as que relacionam moralidade com crenças religiosas, podem se mostrar equivocadas a partir de um exame rigoroso.

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Como Lidar com a Morte?


Eu tive o infortúnio de perder dois familiares recentemente – uma tia não resistiu a um câncer agressivo e uma prima que teve complicações durante uma cirurgia. Minha falta de proximidade e convivência com as mesmas atenuou a terrível sensação de perda que deve atormentar tantas pessoas que tiveram entes queridos tomados de si repentinamente. Entretanto, estes acontecimentos me relembraram que eu também irei morrer um dia. Muitos de nós normalmente se acostumam com esse conhecimento e vivemos nossas vidas como se sempre pudessemos contar com o amanhã, mas mortes de pessoas próximas podem nos lembrar que um dia, certamente, o amanhã não existira mais para nós. A morte ocupa um espaço particular em nossa compreensão do mundo, já que é um dos poucos eventos que podemos prever desde a infância e com grande nível de certeza que ocorrerá conosco, mesmo que outros eventos no nosso futuro ainda sejam obscuros. A pintura que inicia o texto de Gidoret, pintor francês que viveu entre os séculos XVIII e XIX, representa esta sina humana – a de ser obrigado a abandonar as pessoas que aprendeu a amar durante suas vidas nos braços da morte.

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Número de católicos brasileiros é o menor desde 1872

Fonte: Correio Braziliense via Bule Voador

Introdução: Em uma matéria sobre a redução dos católicos no Brasil, o editor do Bule e estudante de psicologia, André Rabelo, foi entrevistado pelo Correio Braziliense (com direito a foto no jornal, mais abaixo), importante jornal de Brasília.

André Rabelo, entrevistado do Correio BrasilienseAlém de ser a segunda unidade da Federação com menor número de católicos no Brasil, o Rio de Janeiro, que já começou a se preparar para receber o papa Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude em 2013, é um dos locais com a maior proporção de ateus e agnósticos, perdendo apenas para Roraima. Recordista em espíritas e nas crenças afro, a cidade escolhida pelo Vaticano representa, de uma forma mais intensa, as transformações em curso nos quatro cantos do país (veja quadro). Enquanto cerca de 190 mil pessoas deixam a Igreja Católica por ano, que ainda detém 68% da população como seguidora, a proporção de evangélicos dobrou na última década, representando atualmente cerca de 20% dos brasileiros. No Distrito Federal, o que mais chama a atenção é o número de ateus. Um em cada 10 moradores da capital não segue qualquer crença, bem superior à média nacional, de 6,7%. Os dados são do estudo Novo mapa das religiões, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Continue lendo…

Com a Diminuição da Religião, Será o Ateísmo Suficiente?

Fonte: Psychology Today

Autor: Dave Niose (presidente da American Humanist Association)

Tradução: André Rabelo

 

Em minhas viagens como presidente da Associação Humanista Americana, sou frequentemente pedido para explicar a diferença entre ateísmo e humanismo. Como a pergunta é levantada tão frequentemente, eu pensei que seria uma boa idéia fornecer uma explicação curta aqui.

Para entender a diferença entre os termos ateísmo e humanismo, compreenda inicialmente que o primeiro se refere à uma visão sobre uma única questão específica (a existência de deuses), enquanto o último é uma perspectiva filosófica ampla. A partir dessa premissa, o resto se encaixa facilmente.

Quando Sally se descreve como uma atéia, ela só está revelando um fato sobre ela mesma: ela não acredita em deuses. Note que ela não está dizendo nada sobre outras crenças sobrenaturais, e ela não está dizendo nada sobre seus princípios éticos/morais. Embora ateus, não possuindo quaisquer crenças em deuses, usualmente não aceitem outras crenças sobrenaturais (como a crença na astrologia, reencarnação ou vida após a morte), tecnicamente Sally poderia acreditar nestas noções e ainda assim usar o rótulo de “atéia”.

Além disso, enquanto alguns possam se sentir inclinados a tirar certas conclusões sobre os princípios éticos de Sally ao saber que ela se identifica como atéia, tais presunções, baseadas unicamente em sua identidade ateísta, são injustificadas. Pelo fato da identidade ateísta se referir unicamente a uma questão singular sobre a crença em deuses, ela não diz nada sobre a sua estatura moral, boa ou ruim. Continue lendo…

Prevalência Percebida de Ateus Diminui o Preconceito

O fenômeno religioso tem chamado cada vez mais a atenção de psicólogos e antropólgos nos últimos anos, muitos buscando explicações para a existência quase universal da religião em diferentes culturas, como já comentado aqui no blog. Mas pouco se tem estudado sobre as pessoas que não se enquadram dentro dessa tendência humana – os ateus.

Sendo uma minoria em muitos países, os ateus por vezes sofrem discriminação e possuem uma imagem excessivamente negativa em muitas culturas. Recentes levantamentos de opinião tem apontado os ateus como o grupo de pessoas em quem as pessoas menos confiariam, votariam para presidente do seu país ou gostariam que seus filhos se casassem (Edgell et al, 2006).

Buscando uma melhor compreensão deste fenômeno, alguns psicólogos têm se debruçado sobre a questão e avaliado estratégias para reduzir o preconceito. Um artigo publicado recentemente pelo psicólogo social Gervais (2011) relata 4 estudos indicando que a prevalência percebida de ateus pode diminuir o preconceito contra ateus por parte de religiosos. Continue lendo…