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Fachada verde fornece conforto térmico e sonoro

Veja só o que encontrei em uma volta descompromissada pela cidade de Santiago, no Chile, em dezembro: um hotel revestido por uma fachada viva! Eu estava tão exausta, cheia de bolhas nos pés e dores nas pernas devido às intensas caminhadas pelo país hermano, que resolvi pagar aquele ônibus vermelho turístico de dois andares – sim, fiz um passeio tiozão que prometi não contar para ninguém. Ele tem um esquema conveniente para quem está se arrastando de cansaço. O ônibus percorre os principais pontos e bairros turísticos da capital. Você pode descer ou subir em vários desses locais durante um dia todo pagando o passeio diário.

O novo setor financeiro da cidade – uma espécie de avenida Brigadeiro Faria Lima paulistana -, intitulado “El Golf” devido a um enorme campo de golfe próximo ao local, faz parte do trajeto do ônibus. Entre aqueles prédios robóticos espelhados e resquícios antigos da cidade, eis que encontro esse contemporâneo hotel com sua fachada revestida por plantas vivas, intitulado “The Garden Tower” (“A Torre Jardim”, em inglês). Os guias do ônibus não continham informações sobre essa arquitetura. Nem o site oficial do hotel aborda a fachada. Encontrei alguns detalhes sobre a tecnologia empregada no site Greenroofs.

Sobre a fachada do hotel, são 2.200 m2 de jardins verticais instalados nas faces oeste e sul distribuídos por 16 andares. Foram usadas três espécies de plantas para forrar a fachada: Ophiopogon, Ajuga e Ceratostigma com musgo. Como em cada época do ano essas plantas se apresentam de uma maneira – mais verdes no verão, algumas floridas na primavera e mais sequinhas no outono e inverno – a fachada quadriculada muda de cor de acordo com a estação. Efeito poético – suspiro. Mas a escolha pelo revestimento verde não foi feita apenas por sua beleza.

A parede verde reduz entre 40% e 60% os gastos de energia com ar-condicionado. As plantas (em geral) proporcionam melhor conforto térmico para o ambiente interno revestido por elas, devido ao sombreamento que fazem e à evapotranspiração (transpiração das plantas e do solo). Elas também ajudam a impedir que o barulho nas ruas entrem dentro do prédio e diminuem a poluição sonora da cidade. Se um hotel com toda sua complexidade apostou na fachada verde, o que te impede de ter ao menos um singelo jardim em casa ou no apartamento?

Boa semana!
Obs.: Repare na expressão do ciclista ao ver o discreto vermelho ônibus de turismo onde eu estava.

Baía de Guanabara contra águas e morros?

Este é um post no estilo: você sabia? Ao menos 15% da Baía de Guanabara, aquela coisa linda circundada por cidades como Rio de Janeiro e Niterói, foi aterrada desde a “descoberta” do Brasil. Uma famosa obra do tipo é o aterro onde está inserido o Parque do Flamengo – delicioso ficar pasmando nele admirando o Pão-de-Açúcar. Bom, apesar de sua beleza, qual o limite para tal ocupação? Há muitas “estórias” para refletirmos sobre as alterações feitas por nós na paisagem.

 

Segundo um pessoal da Fiocruz, localizada no bairro de Manguinhos, antigamente o mar chegava até a avenida Brasil (veja no mapa), umas das vias expressas mais importantes de entrada da Cidade Maravilhosa e que possui a péssima fama de ser perigosa devido aos tiroteios. Também já ouvi e li rumores de que praias como a do Botafogo e Copacabana sofreram com a interferência humana.

 

Talvez a história mais triste sobre aterros na Baía de Guanabara diz respeito ao Aeroporto Santos-Dumont. Existe um bairro, no centro do Rio, chamado Castelo que ainda hoje é conhecido por alguns como “Morro do Castelo”. O local era histórico. De acordo com notícias publicadas em jornais, foi nesse morro que os portugueses, em 1500 e bolinhas, se abrigaram após expulsarem os franceses da cidade (aliás, dizem que o “r” carioca é pronunciado puxado devido ao sotaque francês). Então, foi ali que a cidade se estabeleceu.

 

Assim, vários edifícios históricos foram construídos desde a época dos jesuítas e se mantiveram de pé até o começo de 1900 – entre eles, uma fortaleza que inspirou o nome dado ao morro. Até que, nos anos de 1920, o morro foi ladeira abaixo. Sob o pretexto de melhorar a circulação de ar na cidade para as comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil, o prefeito Carlos Sampaio mandou demolir o local.

 

Aquele montão de terra tirada de lá foi usado, entre outros, para aterrar a área do Aeroporto Santos-Dumont. E, assim, a história literalmente se encontrou demolida. Prédios históricos, acidente geográfico natural, residências, lembranças… ao chão – ou no fundo do mar. Valeu a pena? Como disse meu marido, “parece que as pessoas tentam insistentemente deixar o Rio de Janeiro feio, mas mesmo assim não conseguem”. Tomara.

 

Minha terra terá mais parques onde canta o sabiá?

Sempre quis colaborar para mudar a qualidade de vida no bairro. Onde morava, pentelhei algumas vezes conselhos e subprefeituras. Minhas questões eram arborização, segurança e ciclovias. De alguns, tive resposta. Outros me ignoraram solenemente. Durante uma reforma das calçadas, por exemplo, pedi para alargá-las para a população caminhar com tranquilidade, sem correr o risco de um veículo atropelar alguém – em algumas partes, era necessário andar pela rua devido ao pouco espaço. Em vão.

Mudei de bairro, mas não de objetivo. Passei a sugerir melhorias para o conselho popular da subprefeitura de onde vivo. Tive retorno de alguns membros que queriam ideias para melhorar a qualidade de vida nesse local. Fiz uma pequena – ahãm – lista. E qual não foi a minha alegria quando descobri esta semana, no projeto de uma operação urbana, a quantidade de áreas verdes que querem implantar próximas ao meu bairro? Veja na figura acima – clique para aumentar. Agora, me aguardem nos debates públicos! Isis, ainda em busca de um mundo melhor.