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Baleias: elas voltaram!

IMG_8232Reparou que, no último mês, há mais notícias de baleias jubarte sendo avistadas na costa brasileira? Principalmente, vistas de passagem pelos estados da região Sudeste como São Paulo e Rio de Janeiro? Coincidência? Não (na foto, uma réplica de filhote de jubarte, no Projeto Baleia Jubarte, Bahia).

Nesta época, inverno, essa espécie de baleia (Megaptera novaeangliae) sobe o litoral brasileiro até a região da Bahia, onde parem seus belos e gigantes filhotes que nascem com quatro metros e pesam mais de uma tonelada! Lá, no divino estado brasuca, ficam até cerca de novembro amamentando a cria. Quando o filhotinho está mais rechonchudinho, ela volta para as águas frias do oceano em busca de alimento, o krill (um minúsculo camarão).

Devido à proteção delas, sua população está aumentando. Se você for para a Praia do Forte (Bahia), entre julho e outubro, poderá fazer um passeio de barco para avistar esses belos animais – eles ficam cerca de três quilômetros longe da costa. Duas dicas: faça o passeio com agências credenciadas pelo Projeto Baleia Jubarte e em qualquer época visite a organização.

O Projeto oferece visita monitorada no local explicando muita curiosidade sobre os cetáceos (animais dos quais ela faz parte) e há algumas réplicas fabulosas para crianças. É uma visita rápida, mas de intenso aprendizado.

Então, se você é daqueles que só gosta de praia no verão, repense. Se tiver sorte, pode ver maravilhosas baleias dando um “oi” com seus saltos (elas saltam para se livrar dos piolhos, eca) ou batendo suas caldas por aí (é por meio da calda que os pesquisadores sabem qual baleia é, o desenho é como uma impressão digital). Este ano, minha cunhada viu jubarte em São Sebastião. Eu bem que fiquei horas e dias fitando o mar, mas não tive a mesma sorte. Mas já observei pinguins no litoral de São Paulo e de Santa Catarina. <3

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Aliás, outra informação rápida. As jubartes não são as únicas baleias que procuram o litoral do Brasil para procriar. A maravilhosa baleia-franca (Eubalaena australis), aquela cheia de cracas brancas, também sobe até Santa Catarina para ter seus filhotinhos nesta época do ano. E você também pode vê-las saltar sentado na areia (!) ou de barco (a foto acima e abaixo tirei de uma franca na África do Sul – se for para lá, tenho muitas dicas de passeio para parques).

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Por fim, última curiosidade: você sabe como as baleias e golfinhos dormem? O porquê deles não fecharem os olhos? Pois descobri lá no Projeto Baleia Jubarte. Os lados direito e esquerdo do cérebro desses animais são separados. Na hora do sono, eles “desligam” um dos lados, enquanto o outro mantém atividades básicas de sobrevivência como não deixar afundar. Incrível, né?

Bom, eu pretendo fazer mais aparições por aqui. Espero conseguir. A maternidade e a experiência do meu trabalho na Iniciativa Verde me trouxeram mais repertório e uma nova maneira de ver a vida. Um beijo desta amante dos cetáceos. Vamos falar baleiês!

Manifestantes: país sem partido se chama ditadura

IMG_9479Este blog é um espaço para discutir questões relacionadas à ciência e ao meio ambiente. Mas eu queria pedir licença para fazer uma breve observação sobre as manifestações que estão ocorrendo. Afinal, elas atingem o país e indiretamente, como consequência querendo ou não, os temas que me proponho a tratar aqui.

Ontem à noite fui à comemoração pela tarifa ter voltado à R$ 3 do Movimento Passe Livre (MPL) na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Cheguei duas horas depois, às 19 horas, do que o combinado pelos manifestantes. Não vou descrever o que vi, afinal, isto está estampado em toda a imprensa. E, você deve saber que o MPL vai parar ao menos por enquanto com as manifestações. Vou falar sobre o que senti.

Olhe, o pessoal de modo geral está cansado com a política que temos e, consequentemente, com os partidos. Acontece que não existe democracia sem partido. País sem partido se chama ditadura. Você pode não concordar com alguns manifestantes de partidos que se organizaram para ir às manifestações, mas eles não podem ser agredidos. Além disso, eles também têm o direito de se manifestar. Podem, literalmente, levantar as suas bandeiras.

Agressão a outro modo de pensar e à imprensa, ainda mais com atos violentos, é antidemocrático. É contra a liberdade de expressão. Você pode discutir e debater, mas jamais agredir até mesmo com palavras. Portanto, a discussão e a liberdade de expressão, ambas, são pilares da democracia.

Manifestação pode ser uma ação democrática, mas a votação também é uma ferramenta a favor da democracia. Você também se expressa via votos. Se elegeu alguém, cobre desse seu governante transparência e que atenda aos objetivos propostos – os quais, provavelmente, você concorda já que votou nele. E, se está cansado dos partidos, monte novos ou exija melhoras dos quais simpatiza. Agora, país sem partido é ditadura.

Observação: eu simpatizo com a anarquia… Você que não gosta de partidos, leia sobre ela. 😉

Historiadora explica os “apenas” 20 centavos

Ansiosa e agitada com as manifestações, eu sentia ânsia por escrever algo sobre este momento lindamente histórico em que vivemos. Mas, nada… Nenhuma vírgula, verbo, adjetivo ou substantivo descreveria um pouco do significado da manifestação “Não são apenas pelos 20 centavos”, “Revolta do Vinagre” ou chame como quiser. Ela é muito maior do que qualquer palavra. O que fazer, então?

Liguei – agora! – para uma amiga historiadora e fiz o pedido: “Dá um depoimento sobre as atuais manifestações para meu blog?” Afinal, ela estudou, e muito, tem uma bagagem incrível para analisar o que acontece. A historiadora aceitou, mas preferiu não se identificar. Segue, abaixo, um resumo da nossa alegre conversa de mais de uma hora. Ah, antes de ler, quero ressaltar o que ela repetiu: “Desde a primeira passeata, eu não li o que a imprensa publicou, nem os colunistas que acompanho. Desta vez, quis construir o momento com outro olhar”.

O Brasil não está mudando, ele já mudou:

 

“O sentimento não estava parado: essa história de que o brasileiro é pacífico não existe. Esta manifestação mostra um amadurecimento político e assusta porque está bem consistente. Assusta, inclusive, os governantes. Além disso, este movimento nasce na ausência de uma esquerda articulada.

O brasileiro estava ansioso por ser representado pela esquerda porque se sentia cansado de receber imposições. Porém, após eleita, ela não fez mudanças significativas. Como consequência, o povo ficou politicamente órfão em uma ‘revolução inacabada’, onde há um espaço político vazio.

As pessoas começaram a se manifestar pela questão do aumento das tarifas do transporte público. Só que a tarifa é um rótulo. Há muito mais do que isso. Observando a manifestação, vemos diversas bandeiras de movimentos e cartazes com pedidos de várias áreas. Aí, alguns começaram a se dar conta: ‘Opa! A coisa está se pulverizando’. O que é mais importante desta manifestação é a articulação. Não existe falsa ideologia ou ausência de ideologia no movimento.

Durante este movimento, quando o governo deu abertura ao diálogo com os manifestantes, se mostrando disposto a conversar com os organizadores, confirmou o poder desses grupos. Quando você topa dialogar é porque acredita no que o outro está falando. Se você não acredita, não chama para conversar. Será que essa é a nossa Primavera Árabe? O que vai ser?

A manifestação irá ocupar o espaço da esquerda (e o da direita também!). Estou eufórica acreditando que, talvez, esteja acontecendo uma releitura da esquerda na América Latina. Eu tenho a impressão – pode ser que não seja isso – que, novamente, o Brasil está na frente falando aos quatro cantos da América Latina.

‘Não tem partido político nenhum por trás do movimento’, disse um dos rapazes que ajudaram a organizar a manifestação. Claro que, agora, haverão os oportunistas. Por isso, é preciso tomar cuidado para evitar uma futura desilusão. Pode ser que partidos políticos, vendo a força do movimento, afirmem: ‘Fui eu quem elaborei’. Além disso, também é perigoso quando o governo chama os manifestantes para definirem o trajeto da passeata. Isso porque ele tenta usar a geografia como manipulação de poder.

Na época da Ditadura, em 1964, os ditadores acabaram com as praças. Pode reparar, São Paulo praticamente não tem praça. Colocaram bancos nelas e muros de concreto para dificultar a reunião dos manifestantes nesses locais antes amplos e muitos simbólicos historicamente. No Vale do Anhangabaú, por exemplo, aconteceu em 1984 o último comício antes da votação da emenda Dante de Oliveira, a favor das Diretas Já – e eu estava lá! Os viadutos, por sua vez, são uma herança nazista usados para desagregar. Muitos não têm nem calçada para pedestres. Nós herdamos essa geografia.

Hoje, as pessoas, entre muitos motivos, vão à avenida Paulista porque ela é ampla. Ela permite a reunião de muita gente. Assim, o governo quer usar a geografia como instrumento de poder quando o governo tenta ditar o caminho que os manifestantes devem percorrer. Não deve combinar nada e, sim, deixar o pessoal passar.

As manifestações, em vários estados do Brasil, vão assustar. Aparentemente, existiam várias temáticas que incomodavam o brasileiro e que pareciam estar perdidas. Parecia que a sociedade não queria participar por uma qualidade de vida melhor. Mas não era isso. Virá um novo movimento que terá destaque maior com relação à ideologia do Século XXI. E o Brasil é o protagonista.”

São Paulo: Feliz Dia da Mata Atlântica

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A imagem foi captada no ano passado no Parque Estadual do Jaraguá. Este é uma das últimas vegetações remanescentes da Mata Atlântica na área urbana da Grande São Paulo. No meu lado direito de onde tirei a foto estava o Pico do Jaraguá, ponto mais alto do município com seus 1.135 metros de altitude. A legenda crítica da foto deixo por sua conta sem risco.

Serra da Cantareira: aquela que São Paulo não vê

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=MvkjUg3f9Xg”]

Durante dois anos (entre junho de 2011 e maio de 2013) fotografei a Serra da Cantareira da sacada do meu apartamento, na cidade de São Paulo. O resultado você pode ver no vídeo acima.

Nela, há o Parque Estadual da Cantareira com área equivalente a oito mil campos de futebol de Mata Atlântica preservada que pode ser contemplada do horizonte – quando os prédios da cidade permitem.

Apesar de abraçar a Zona Norte sendo um dos pontos mais altos do município e de abastecer a região metropolitana com suas águas, a Serra da Cantareira segue impotente, imponente e muda, ignorada pelos habitantes sem tem tempo para voltar os olhos ao que é belo.

São Paulo não é mais a Terra da Garoa

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Vídeo produzido pelos colegas da Pesquisa FAPESP explica o porquê de não garoar como antigamente na capital paulista. A culpa é da poluição. As partículas de sujeira pairando no ar impedem que as gotículas cheguem ao solo da cidade. Fica tudo junto sobre as nossas cabeças, “agarrado”. Quando elas caem, é em forma de pé d’água.

Além disso, o vídeo tira a dúvida que ronda a nossa cabecinha branca: Chove mais forte em São Paulo devido ao excesso do emprego de concreto na cidade ou devido às mudanças climáticas? Esta pergunta não vou responder. Veja o vídeo para descobrir!

E tenha uma quinta-feira liiiiiiiiiiiinda e com inversão térmica – saiba mais sobre este fenômeno aqui, no texto e infográfico que produzi enquanto trabalhava lá na revista Pesquisa FAPESP!

Cuidado: arqueólogos trabalhando

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Toda vez em que passo pela região do Largo de Pinheiros, próxima à estação Faria Lima do Metrô (na cidade de São Paulo), fico curiosa em saber o que tanto escavam atrás daquelas placas de proteção – coisas que só percebe quem anda a pé, e não de carro. Várias vezes vejo algumas pessoas com água na mão, mochila nas costas, chapéu de tecido bege ou capacete branco nos quais se leem a palavra: “Arqueologia”. Uniforme diferente dos macacões dos operários.

 

Há mais de um ano, lembro-me de ter lido que as obras atrasariam um pouco mais porque acharam algumas peças arqueológicas, mas as matérias sobre o assunto nunca diziam com detalhes que tipo de peças eram, em quais condições estavam ou quais as esperanças dos arqueólogos. Aliás, dizem as “más línguas” que a maioria das empresas envolvidas com obras do tipo não gosta quando encontra resquícios arqueológicos. Afinal, nestes casos, obrigatoriamente a obra deve parar para começar a pesquisa – leia aqui uma matéria bacana, da Pesquisa FAPESP, sobre escavações no porto do Rio de Janeiro.

 

DSC00740A curiosa de plantão, aqui, se delicia com essas pesquisas. Não é fantástico escavar um quintal e encontrar resquícios de alguém que viveu no mesmo lugar que você? Portanto, semana passada não resisti. Parei em frente a um dos locais que estavam sendo escavados e vi um rapaz com o capacete mágico escrito “Arqueologia”. Como uma típica conversa informal que antigamente travávamos na rua com desconhecidos, ação cada vez mais incomum, falei “olá” para o arqueólogo e perguntei: “Tudo bem? Olhe, estou super curiosa, já encontraram bastante peça interessante aí?”.

 

Gente boa, o arqueólogo contou que, em épocas de chuva, antigamente o rio Pinheiros chegava até aquela região – isso explica a areia preta, bem típica de rio e ótima para adubo, debaixo dos nossos pés (foto logo acima). Quase peguei um punhado para colocar nos vasos das minhas plantinhas! Como lá era uma área alagável, quase um pântano, algumas peças não sobreviveriam à umidade. Por enquanto, ele disse que encontraram fragmentos na casa do milhar (se não me engano, mais de 110 mil).

 

A maioria das peças, inclusive as mais inteiras, eles acreditam que sejam de cerca de 1890 e 1950. São louças como pratos, um até com a suástica nazista e tanques pintados (!), garrafas de leite antigas, entre outros. Segundo o arqueólogo, ainda é necessário analisar a idade de cada objeto encontrado para ter certeza e aferir mais informações. Eles também encontraram ossos de animais, ainda não se sabe ao certo qual animal e de que época. E descobriram que, em uma ruela, a galeria de esgoto é de 1950.

 

Eu adoraria ver as peças, mas conforme são encontradas, elas são encaminhadas para estudo, claro. Questionei o que farão, depois, com elas: “Acredito que serão realizadas mais pesquisas sobre elas e doadas a museus”. Aí, o grand finale: “Dizem que uma tribo indígena, lá pelos idos do ‘descobrimento do Brasil’, vivia bem aqui no local. Vocês já encontraram algo sobre ela?”. O olhar do arqueólogo encheu de brilho: “Nós estamos buscando, mas devido ao tipo de solo, não sabemos se haverá algo preservado”. Voltar ao passado é sonhar.

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Obs.: A obra de reforma da região começou em 2007 (!), saiba mais sobre o projeto nesta matéria publicada na Folha de S. Paulo. Ah (suspiro), essas escavações me lembraram de Roma. Quando estive lá, em 2007, a obra de extensão do Metrô estava parada porque eles encontraram mais resquícios dos antigos impérios. <3 Em Roma, eu também coloquei o cabeção sobre os tapumes para ver, claro! Aliás, até peguei um ônibus na área para observar as escavações do alto!

 

Documentários grátis sobre meio ambiente

Recentemente, tenho visto documentários incríveis pela internet disponibilizados pelos próprios autores. Uma maravilha. Não preciso passar na locadora ou cruzar os dedos torcendo para que os canais de televisão transmitam algum documentário interessante. Basta eu ligar a internet e aproveitar o filme via YouTube, mesmo. Praticidade total.

O primeiro filme que recomendo, rapidinho, não tem 20 minutos, é o “Agricultura Legal” produzido pela ONG Iniciativa Verde – onde eu trabalho no momento. Não é puxa-saquismo. O breve documentário relata uma experiência bem interessante onde agricultores contam as vantagens em preservar as matas ciliares e outras áreas protegidas de acordo com a lei ambiental. Saiba mais aqui.

O segundo filme, um pouco maior com quase uma hora, “O Vale”, de de Marcos Sá Corrêia (fundador do “O Eco”) e João Moreira Salles, mostra como o Vale do Paraíba, em São Paulo, foi completamente devastado. É um filme emocionante, triste, deprimente, sem final feliz – na verdade, o final feliz depende de nós. Foi também indicado pelo Blog do Planeta. Veja o documentário na íntegra aqui.

 

Aproveite a sessão pipoca e tenha uma boa semana!

Veja pequeno documentário sobre a história da rua Augusta

Tenho um carinho muito grande pela rua Augusta, via da cidade de São Paulo, por vários motivos pessoais. Um deles diz respeito ao documentário “Augusta a 120/h”, realizado em 2003. Somado à monografia, o vídeo é o resultado do nosso – meu e de mais três amigas – trabalho de final de curso (faculdade de Jornalismo) quando, na ocasião, a cidade de São Paulo completava 450 anos. Foi a nossa homenagem para a querida Terra da Garoa.

 

Na época, o “Baixo Augusta” estava lotado de puteiros e “saunas”. Ratos passavam pelos nossos pés, mendigos nos ameaçavam, seguranças de portas de teatro nos impediam de gravar a via pública. Os porteiros das “casas de diversão” nos conheciam e nos cumprimentavam – passávamos o dia inteiro caminhando em busca de personagens e boas tomadas. Bons tempos.

 

Frequentamos todas as principais bibliotecas da cidade em busca do passado da rua. Assim, descobrimos que nosso trabalho era o primeiro a abordar apenas a rua Augusta. Uma pesquisa inédita e feita antes de mudar o perfil dos frequentadores do local. Apenas dois anos depois (em 2005), seria inaugurada a primeira casa noturna, o Vegas, que ajudou na mudança de perfil da região.

 

Divirta-se com o primeiro documentário realizado com o intuito de buscar a história da famosa rua – focamos nos anos 1960 quando os “brotos” saíam para paquerar na rua. O vídeo tem, apenas, cerca de 15 minutos. Boa sessão!
Obs.: O documentário tem menos de dez anos, mas repare como ele parece bem mais antigo! Na época, não existia Google Maps, por exemplo. Gravamos um mapa impresso. Incrível como a cidade e a tecnologia mudaram em tão pouco tempo.