Mais atual do que nunca

“Conhece-te a ti mesmo”, disse Sócrates ter aprendido com o oráculo de Delfos. Árdua tarefa a proposta pelo óraculo. Primeiro, caberia refletir se somos realmente um só, se há um único ser à espera da descoberta. A literatura de Fernando Pessoa deixa evidente que não somos um único “eu”, mas vários. E são outros “eus” na medida em que são heterônimos, e não meros pseudônimos, que designariam uma mesma pessoa, um mesmo “eu”. Fernado Pessoa não é Alberto Caeiro, que não é Ricardo Reis, que não é Álvaro de Campos, que não é Bernardo Soares, e que são todos Pessoa. Segundo, como disse Ortega y Gasset, “yo soy yo, y mis circunstancias”. Um mesmo “eu” pode se manifestar de maneiras diferentes de acordo com cada situação pessoal ou, mais dialeticamente, contexto histórico. No âmbito da filosofia, Kierkegaard, o idealizador do existencialismo, também abriu mão de “quase-heterônimos”, pois não eram meras alcunhas, no meu entender, para muitas de suas obras: Johannes de Silentio, Victor Eremita, Constantin Constantius, Frater Taciturnus, Virgilius Haufniensis, Johannes Climacus, dentre outros. Numa era de crise de identidade, de crise existencial, em que tédio é uma palavra cada vez mais freqüente em nossas bocas, nota-se que a mensagem do oráculo, assim como toda a filosofia grega, ainda é bastante atual. E dá-lhe existencialismo!

Discussão - 9 comentários

  1. denis disse:

    nào sabia que kierkgaard tinha pseudonimos. existem outros exemplos?

  2. Anonymous disse:

    Belíssimo post. O pior é vc descobrir que entre os seus "eus" apenas um ou dois te agradam de fato!

  3. denis disse:

    Amigo, você nào me respondeu!?

  4. Boa idéia. Vou acender um charuto enquanto observo atentamente a metafísica da tabacaria.

  5. amigo de montaigne disse:

    É, Thoureau, "há metafísica bastante em não pensar em nada"...

  6. Paulo Lima disse:

    Caro Amigo,Bravo!!!Belíssima reflexão. Nada a acrescentar a não ser sugerir um "Alonso Menendez, Angelina ou o velho e saboroso Cohiba" ao Thoreau...Grande abraço

  7. Paulo Lima disse:

    De fato, o Monte Cristo, também acompanha muito bem, ainda mais se for regado um Tinto de qualidade.

  8. Chloe disse:

    Caro AM,
    seria mesmo, o poeta, um fingidor?
    E nós?
    Seriamos também fingidores em nossos pseudônimos e heterônimos?
    Ou simplesmente sentimos com a imaginação?
    Adoro o poeta, adorei a postagem!
    Preciso ler o filósofo.
    O outro, pois este já estou a ler e a gostar. ; )
    C.

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