As verdades transitórias
Estive ocupado na última semana preparando uma aula sobre a evolução do conceito de vida mental, mais exatamente enfocando as diferentes visões ao longo da História sobre a sede dos processos mentais. Para os egípcios, por exemplo, o coração era a sede de toda a vida mental. Essa teoria – cardiocêntrica – prevaleceu desde 3500 a.C. até o início do século I d.C.. Platão acreditava que todas as emoções e o pensamento eram produzidos pelo cérebro, enquanto o seu contemporâneo Aristóteles defendia acirradamente a primazia do coração. Foi somente com os filósofos naturalistas, liderados por Tales de Mileto, que o cérebro passou a ser o protagonista, embora não exatamente o tecido cerebral mas sim os ventrículos cerebrais, que são cavidades que contém líquor e não possuem nenhum papel relevante na produção das atividades cerebrais. O cérebro propriamente dito só foi visto como o único responsável por toda a vida mental a partir do século XVII com as descobertas do inglês Thomas Willis. Essa pequena passagem ratifica a observação de que “a ciência é o reinado das verdades transitórias”. Caros candidatos a cientistas, parodiando Dante, Lasciate ogne Arroganza, voi ch’entrate.
Discussão - 2 comentários
interessante a divergência entre Platão e Aristóteles. Acho que foram fatos como esse que tornaram Aristóteles bastante popular na Idade Média, não foi?
As idéias de Aristóteles eram convenientes na medida em que fortaleciam a "fé" e minimizavam a razão, o homem como centro do universo. As idéias de Descartes que irão dar lugar ao antropocentrismo e queimarão alguns na fogueira da Santa Inquisição.