Roth encara o “Shoah”
Sobre Entre nós (Cia. das Letras), coletânea de entrevistas feitas por Philip Roth. O escritor vai ao cerne das questões essenciais com os seus entrevistados, sem perguntas retóricas ou que queiram demonstrar a superioridade intelectual do entrevistador. Há algumas passagens que mereceriam um pouco mais de dissecção, que dão ao leitor a impressão de uma edição talvez meio precoce demais. As entrevistas com os escritores judeus Primo Levi (1986), Aharon Appelfeld (1988) e Ivan Klíma (1990) dificilmente alcançariam o mesmo impacto caso o entrevistador não fosse também judeu. Poucos poderiam elaborar a indagação feita por Roth e dirigida a Appelfeld: “Afinal, o que fizeram os sobreviventes do Holocausto, e de que modo eles foram irremediavelmente modificados?” Diz Appelfeld: “O Holocausto é o tipo de experiência monstruosa que nos reduz ao silêncio. Qualquer procedimento, qualquer afirmação, qualquer ‘resposta’ é minúscula, sem sentido, por vezes rídicula. Até mesmo a maior das respostas parece mesquinha”. Resumidamente, Appelfeld diz que duas foram as consequências do Holocausto: o sionismo (há um lugar seguro, “o mundo inteiro não é mau”) e a postura religiosa (“paradoxalmente, como um gesto dirigido a seus pais assassinados, muitos dos sobreviventes adotaram a fé religiosa… Mas é uma posição sufocante, uma espécie de monasticismo judaico, de autopunição indireta”). “Nunca mais ser como carneiros levados ao abate”. Nunca mais.
Discussão - 4 comentários
Que lindo isso...Bjos
Amigo, muito ocupado?Aguardando novo post!Helena
Como vai a guerra?
Caro Amigo de Montaigne,
como você mesmo mencionou em linhas passadas, conforme vamos desenvolvendo o hábito da leitura vamos aprimorando a capacidade de fazer links com outras obras.
E com essa postagem lembrei-me de Os Ensaios I, cap II: Da Tristeza (que, a propósito, achei muito interessante).
E é de lá que copio a frase:
'Curae leves loquuntur, ingentes stupent.'
('As dores pequenas falam; as grandes se calam.' - Sêneca)
Abç. ; )
C.