Domingo nublado

Claude Lévi-Strauss

Depois de alguns dias de intenso sol e calor, hoje amanheceu nublado. Menos pior. Fui convidado a participar de uma mesa redonda para discutir os limites de aferição da consciência. Independentemente da causa, após três semanas em coma, os indivíduos, quase sempre, abrem os olhos. Está restabelecido o ciclo sono-vigília. Durante o dia, olhos abertos; à noite, fechados. O dilema está, para quem avalia esses sujeitos, em determinar se há qualquer percepção de si próprio ou do ambiente. Caso não haja, trata-se de estado vegetativo, termo científico cunhado em 1972 por um grupo de neurocientistas. Caso contrário, quando é possível, objetivamente, detectar-se algum esboço de atividade mental – por exemplo: chorar quando o sujeito ouve a voz da filha, sorrir quando vê o neto, seguir o cãozinho com os olhos – estamos diante do diagnóstico de estado minimamente consciente. Será que existe alguma diferença prática entre esses dois estados, vegetativo e minimamente consciente? Sim, tanto do ponto de vista biológico – o metabolismo cerebral dos indivíduos em estado minimamente consciente é mais próximo dos indivíduos normais do que aqueles em estado vegetativo; não há percepção consciente de dor no estado vegetativo e há na outra situação – quanto do ponto de vista prognóstico – há relatos de recuperação total ou quase total da consciência após muitos anos em estado minimamente consciente, porém nenhuma possibilidade de recuperação quando em estado vegetativo persistente. Em 2006, pesquisadores ingleses relataram o caso de uma mulher de 23 anos de idade que, após um acidente automobilístico, encontrava-se há cinco meses em estado vegetativo. Submetida a avaliação por ressonância magnética funcional (fRM), ferramenta que permite observar as áreas cerebrais mais funcionantes sob a execução de determinada tarefa, foi notado que a mulher apresentava padrão de fRM idêntico àquele de indivíduos normais submetidos ao mesmo teste. Pedia-se que o indivíduo se imagina-se jogando tênis. Depois, que fizesse, mentalmente, o trajeto, a partir da entrada de sua residência, por todos os cômodos da casa. Assim, apesar de não exteriorizar qualquer vestígio de percepção, sua decisão de colaborar com os pesquisadores na realização de tarefas específicas tão sofisticadas pode ser interpretada como prova clara de que estava perceptiva de si própria e do meio ambiente. Como disse Claude Lévi-Strauss,”A ciência por si só é incapaz de responder todas as perguntas e, apesar de seu desenvolvimento, ela nunca vai”. Será?

Discussão - 3 comentários

  1. Anonymous disse:

    É Amigo...a ciência não será capaz, uma vez que o conhecimento é fonte de inesgotável saber...Abraço!

  2. Anonymous disse:

    Amigo vc realmente acha que : "apesar de não exteriorizar qualquer vestígio de percepção, sua decisão de colaborar com os pesquisadores na realização de tarefas específicas tão sofisticadas pode ser interpretada como prova clara de que estava perceptiva de si própria e do meio ambiente"? Perceber a si e ao ambiente de forma efetiva depende de diversas outras funções cognitivas, do insight por exemplo. Situações bem menos graves do que o EMC levam a uma dificuldade de autopercepção e do externo.

  3. Sim. Os padrões de ativação cerebral da mulher em questão quando comparados aos padrões de indivíduos normais foram exatamente iguais!

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