Religião, pobreza e ignorância

Círio de Nazaré, Belém, Pará, 2011 

Já nos sabíamos o maior país católico do mundo. E parece que não são somente números. Há práticas, rituais. O círio de Nazaré, em Belém, é o maior acontecimento do catolicismo e do mundo religioso. Os preparativos para o dia de Nossa Senhora Aparecida, que acontece amanhã, mobilizam os noticiários nos principais veículos de comunicação. Há devotos que seguem a pé, de joelhos, de bicicleta, no lombo de burro, rumo a Aparecida do Norte. Pessoas em transe relatam “milagres” e a obrigação do pagamento de promessas “pela graça alcançada”. Os dogmas venceram. Os indivíduos dogmáticos venceram.Há algo de podre no reino de josé sarney. As pesquisas realizadas pelo IBGE demonstram que a religiosidade é maior nos estados do nordeste e entre indivíudos sem ensino superior. Também é muito maior nas famílias com renda inferior a dois salários mínimos. Pobreza e baixa instrução parecem os ingredientes essencias para forjar um crente. É claro – e ninguém precisa me apontar o contrário – que existem indivíduos ricos e universitários religiosos e praticantes. A perversidade, e eis a minha indignação, é que não existe opção para a maioria. Num país desigual como o nosso, pobreza é destino; ignorância, decorrência natural. Infelizmente, a estreiteza intelectual que caracteriza o dogmático é perene e inamovível. E como escreveu Ortega y Gasset, tornamo-nos vítimas da “peculiarísima brutalidad y agresiva estupidez con que se comporta un hombre cuando sabe mucho de una cosa y ignora de raíz todas las demás”.

Discussão - 8 comentários

  1. Sibele disse:

    Para muitos, interessa a ignorância das massas.

  2. Voltaire disse:

    Fogueira nestes vagabundos religiosos!

  3. Apenas uma pergunta: de quem é a autoria da imagem fotográfica acima?

  4. Eliana Teixeira disse:

    Caro Amigo,

    Tenho sentido falta de seus posts. Como já está chegando o fim do ano, espero que você se dê ao trabalho - chatíssimo, eu sei - de publicar a sua lista dos melhores de 2011.
    Como consolo, pense no bem que faz aos seus leitores, ao, eventualmente, trazer à luz novos tesouros que não havíamos percebido.
    Foi assim que li Lavoura Arcaica; da mesma forma, tornei-me leitora voraz de Philip Roth. E agora, quando vejo um post tão lindo quanto O prurido de Enrique, posso deliciar-me com ele às minhas próprias custas, porque, tendo aprendido a ler contemporâneos com você, apaixonei-me por Vila-Matas.
    E, coisa mais estranha, o primeiro Philip Roth que li, Pastoral Americana, provocou em mim a mesma sensação de desmoronamento que Lavoura Arcaica havia provocado. Fiquei dias remoendo o sentimento, após terminar a leitura de ambos, o que ocorreu com grande intervalo de tempo. E o que fez de Raduan Nassar um Bartleby?
    Como vê, sua ausência é muito sentida. Falta-me um norte.

    Abraços,

    Eliana

  5. Guilherme Ceolin disse:

    Ótimo post e ótima análise.
    Só uma correção, a terra de José Sarney é o Maranhão e ele é senador pelo Amapá (?!). O Pará fica perto mas não tem nada a ver.

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