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Minha terra terá mais parques onde canta o sabiá?

Sempre quis colaborar para mudar a qualidade de vida no bairro. Onde morava, pentelhei algumas vezes conselhos e subprefeituras. Minhas questões eram arborização, segurança e ciclovias. De alguns, tive resposta. Outros me ignoraram solenemente. Durante uma reforma das calçadas, por exemplo, pedi para alargá-las para a população caminhar com tranquilidade, sem correr o risco de um veículo atropelar alguém – em algumas partes, era necessário andar pela rua devido ao pouco espaço. Em vão.

Mudei de bairro, mas não de objetivo. Passei a sugerir melhorias para o conselho popular da subprefeitura de onde vivo. Tive retorno de alguns membros que queriam ideias para melhorar a qualidade de vida nesse local. Fiz uma pequena – ahãm – lista. E qual não foi a minha alegria quando descobri esta semana, no projeto de uma operação urbana, a quantidade de áreas verdes que querem implantar próximas ao meu bairro? Veja na figura acima – clique para aumentar. Agora, me aguardem nos debates públicos! Isis, ainda em busca de um mundo melhor.

Para ser um ecoturista decente

Da série especial de Weruska Goeking, sobre San Pedro do Atacama (Chile):

No Valle de La Luna estão as Três Marias. As pessoas que viviam na região e retiravam sal das minas acreditavam que as esculturas eram guardiãs do lugar. Hoje vemos apenas duas Marias e meia porque há cerca de dez anos um japonês tentou subir na escultura à esquerda para tirar uma foto. Como a formação rochosa é “recente”, aproximadamente mais de um milhão de anos, ela não aguentou e cedeu. Depois do acontecimento, de acordo com a guia local, quem ultrapassar a linha formada por pedras aos pés das Marias pode ser deportado.

Ao lado das Três Marias uma construção que até a década de 1970 serviu de abrigo para uma família que explorava sal nas minas locais. A cobertura feita de uma planta oca, parecida com mini bambus, é capaz de manter uma temperatura amena à sua sombra.

A ida à Duna Major reserva um pouco mais de aventura. O esforço para subir seus cerca de 100 metros é recompensado pela vista incrível ao chegar em seu topo, onde é possível enxergar a Cordilheira do Sal, o Vale da Morte e o Salar.

Ainda no início da subida ao topo da Duna Major, a vista surreal de rochas, areia e diversas montanhas nevadas ao fundo.

À frente, o caminho rochoso por onde é permitido subir a duna. Subir pela areia é vetado, já que as pegadas demoram de duas a três semanas para desaparecerem, variando conforme a incidência de ventos. No dia em que visitei três pessoas inadvertidamente deixaram suas pegadas. Uma pena. Um tipo de recordação que, definitivamente, a natureza não precisa.

Observação: Algumas “cavernas”  ao longo do Vale foram construídas pelo homem, quando ainda era permitida a exploração de sal no local.

Saiba mais sobre a participação no post Nem sempre onde há fumaça, há fogo.

Nem sempre onde há fumaça, há fogo

Minha amiga jornalista Weruska Goeking, que também responde pelo perfil do Twitter @Weruska, recentemente esteve em San Pedro de Atacama, no Chile. Suas fotos eram de tirar o fôlego – e sua agitação idem. Assim, a convidei para compartilhar conosco seus conhecimentos ambientais e científicos adquiridos na viagem. Sorte a nossa que ela topou! Segue uma série de posts sobre um dos lugares mais incríveis que pretendo visitar.

Quando deixei o Brasil para a cobertura de um evento no Chile já imaginava que encontraria belas paisagens e faria alguns passeios no intervalo dos compromissos corporativos, mas jamais poderia prever que conheceria lugares tão bonitos. Foram apenas três dias, mas fiz tanta propaganda da beleza do lugar que a Isis, amiga e responsável pelo Xis-xis, me convidou para contar um pouquinho do que vi para seus leitores.

Cordilheira dos Andes

O caminho até  San Pedro de Atacama é longo. Decolei às 9h10 em São Paulo e cheguei em Santiago por volta das 13h. Pouco antes de pousar já era possível ver a Cordilheira dos Andes pela janela do avião.

A vista era tão bonita que até um chileno que viajava ao meu lado ficou maravilhado. Segundo ele, não era sempre que as montanhas se apresentavam cobertas com tanta neve. O motivo eu descobri mais tarde, com um guia turístico: havia chovido mais do que o usual neste ano. Incríveis quatro dias em fevereiro.

Ao longe dava para ver o Aconcágua, ponto mais alto da América do Sul com 6.962 metros acima do mar. Pena não ter conseguido um clique deste momento.

O aeroporto de Santiago serve apenas para uma conexão. De lá segui em um voo de aproximadamente duas horas para a cidade de Calama. Depois do pouso, em que se tem a clara impressão de ter pousado no meio do deserto até descer do avião e ver a estreita pista, segui em uma van até a cidade de San Pedro de Atacama, que no idioma cunza significa “cabeceira do país”. Foram mais duas horas de viagem pelo deserto até chegar ao hotel.

Na estrada encontrei algumas vans com outros turistas, além de cruzes e pequenas casinhas com flores e santos ao longo da via. Elas marcam os locais de mortes e desaparecimentos de pessoas.

Entre os diversos vulcões vistos no caminho, um deles soltava essa “fumacinha” que se confundiria facilmente com uma nuvem, se o céu não estivesse absolutamente limpo.

Uma amiga que já  visitou o Chile contou que, em vulcões ativos, enquanto houver essa fumacinha, não há risco de ele entrar em erupção, já que essa seria sua “válvula de escape”. Ufa!

Procura-se o temido peixe-leão

IMG_1850.JPGNa porta da pousada finíssima em que ficamos no arquipélago caribenho Los Roques, estava pregada essa informação de “Procura-se”. O alerta até chamou nossa atenção, mas de início não demos a devida importância ainda maravilhados com a beleza local. Queríamos mais é nos deleitar sem preocupação na água azul-piscina-de-tirar-o-fôlego. Até que um passeio com parada na Fundación Científica Los Roques – em breve escreverei sobre o trabalho desses pesquisadores e dessa visita obrigatória -, estabelecida na ilha Dos Mesquises, transmitiu o tamanho da catástrofe.
IMG_1986.JPGO biólogo do local mostrou um exemplar do bicho que atende, popularmente, por peixe-leão. Ele é lindo e perigoso. Possui uma série de espinhos na parte superior do corpo que, quando pressionados, podem perfurar a pele e liberar o veneno. É raro causar a morte em humanos, mas deixa um machucado dolorido.
Apesar de sua aparente periculosidade – e de sua beleza que despertam, ao mesmo tempo, admiração e medo -, o peixe-leão está causando uma problema muito maior do que simplesmente ferir as pessoas. Trata-se de uma espécie invasora no Caribe endêmico, ou proveniente, da Ásia que se deu muito bem com as condições climáticas da América Central.
Mas a história só piora. O peixe-leão não tem predadores no Caribe. Os tubarões ou animais que poderiam se alimentar dele não o reconhecem como uma presa. Enquanto o peixe-leão vive livremente, se alimenta dos peixes menores do local causando um desequilíbrio no ecossistema. Por isso, inclusive, ameaça de extinção outras espécies.
Diz a lenda local, várias pessoas contaram isso para nós incluindo pesquisadores e mergulhadores, que o peixe-leão chegou ao mar do Caribe depois que um furacão destruiu aquários da Flórida. A espécie teria caído no mar e, com o passar dos anos, nadado rumo ao sul. Até, agora, chegar à Venezuela. Realizando uma rápida busca na internet, encontrei uma animação feita pela respeitável Agência de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS, em inglês) mostrando o avanço do peixe-leão pelo Caribe. Veja que triste:
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Para conter o problema, os cientistas pensaram até em inserir predadores do peixe-leão no Caribe. Uma emenda que poderia sair pior que o soneto. Os dois poderiam causar uma destruição ainda maior. Portanto, ainda sem solução, a regra é clara: viu um peixe-leão no Caribe? Capture-o e mate-o. Se tiver meios e coragem, claro.
IMG_2035.JPGEnquanto estávamos em Los Roques, alguns venezuelanos ainda duvidavam – ou tinham esperanças – de que o peixe-leão não tivesse chegado ao lugar. Durante a viagem de barco com destino ao recife de coral mais incrível que já vi por alcançar quase minha altura, no sul do arquipélago, os mergulhadores contaram que viram, em apenas um ponto para a prática do esporte, quatro deles.
Eu não tive a “sorte” de observar um peixe-leão no mar porque estava com o snorkel. A espécie invasora vive a uma profundidade que varia de cerca de 15 até 200 metros. O que dificulta, ainda mais, a sua captura. Lição? Nem tudo que é belo, deve ser bonito de se ver.

Rios da Amazônia na terra – e no ar

IMG_1724.JPGMinha empolgação para ir ao Caribe era grande, claro. Porém, para chegar lá, temos que sobrevoar uma região brasileira que também sonho em conhecer – onde morei quando era bebê, o que não conta -, a Amazônia! Como a viagem não tinha escalas, decidi observar a vasta floresta – e as imensas nuvens – do avião, mesmo.
Estava ansiosa para ver com meus próprios olhos aquele bando de água evaporada da mata que desce para o Sul e Sudeste trazendo, assim, as nossas conhecidas chuvas. Que hora causam transtorno, outras ajudam a fertilizar a terra.
Sem querer, acordei no momento certo – durmo como pedra em qualquer coisa que se movimente. Quando olho pela janela, um bando de nuvens atrapalha a visão da paisagem. “Estamos perto ou sobre ela”, pensei. De repente, entre as nuvens gigantescas e assustadoras e cinzas, observo um tapete verde. “Olha a Amazônia!”, aporrinhei.
O que eu não imaginava era ver, do alto, os rios amazônicos. Um barco, neles, era tão, mas tão pequeno, que difícil encontrar. Entendi quando minha mãe dizia que os rios da Amazônia parecem mar: “Não conseguimos ver a margem do outro lado”. Sério, o avião estava – sei lá – acho que voando a cerca de 12 mil metros de altitude – em relação ao nível mar. Mesmo assim os rios eram imponentes.
Veja nas fotos a seguir – lembre-se que a janela do avião é minúscula:
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Obs.: Alguém sabe identificar que rio é esse?

Entenda por que a areia do Caribe é “branca”

IMG_1881.JPGContinuando o bate-papo… Los Roques, um arquipélago no Caribe venezuelano, é o resto de um vulcão. Se as rochas vulcânicas são pretas (ou bem escuras) – o que dá para notar na foto dos morros de Gran Roque do post anterior – por que a areia das praias é tão clara? Meu pai geólogo, mais uma vez, é solicitado: “Devido ao calcário dos corais”.
Explico. O “esqueleto” dos corais é feito de calcário – me corrijam se estiver errada. Com milhares e milhares de anos de coral no lugar, sua “decomposição” virou essa areia de cor e textura invejáveis.
IMG_2441.JPGTanto que, em muitas praias de Los Roques, as areias estão cobertas pelo que os moradores de Los Roques chamam de “piedras”. Na realidade, essas “piedras” de vários tamanhos e formatos são restos de corais mortos – observação: amei a cor rosada que aparece foto. A maré leva eles até onde nós, seres humanos, pisamos e cortamos nosso pé. Mesmo assim, é lindo.
Eu ficava admirando as cores, os formatos e os bichinhos como ouriços que restavam nesses pedaços de corais. Mais um desbunde daquela região.

Um vulcão no Caribe

IMG_1816.JPGUm mergulhador que mora em Los Roques, parque nacional localizado no Caribe venezuelano, disse que o arquipélago é o “resto” de um antiquíssimo vulcão extinto. Pela formação circular do arquipélago, bem que parecia. Porém, o que me intrigava, é que todas as ilhas têm o relevo baixo. São quase planas. Apenas Gran Roque possui morrinhos que chamam a atenção. A desconfiada aqui perguntou para o pai geólogo.
Ele – Hélio Nóbile Diniz – confirmou: lá havia um vulcão há muitos milhares de anos (observe as rochas escuras na foto). A maioria das ilhas está dentro do que seria a boca dele – onde hoje a profundidade da água não passa dos 20 metros. É tão raso que, do barco, enquanto nos deslocamos de uma ilha para outra, vemos arraias e estrelas do mar no fundo do oceano.
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Amanhã, leia mais cenas do próximo capítulo explicando porque a areia é tão clara em Los Roques.

Los Roques, que que é isso?

IMG_2092.JPGA resposta correta para “Que praia é essa?” é… Gran Roque! Um lugar paradisíaco no Caribe em que estive na minha “luna de miel” – sim, casei. Nunca ouviu falar sobre?
IMG_1788.JPGBom, Gran Roque é o nome da maior ilha – onde estão a maioria das pousadas e a “infraestrutura” – do arquipélago Los Roques. Por sua vez, Los Roques está no mar do Caribe, há cerca de uma hora de teco-teco da cidade de Maiquetía, ao lado de Caracas (Venezuela).
O lugar é ma-ra-vi-lho-so. Do avião, antes de aterrissar, é possível ter uma ideia do arquipélago – já que Gran Roque é a maior ilha voando ao norte. Do alto, é possível observar diversas ilhinhas e bancos de areia com e sem vegetação. Também, acredite, dá para ver a sombra do coral no fundo do mar.
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Coral, vida marinha, mar azul-piscina transparente, ilhas de areias cremezinhas e uma vegetação baixa. Pronto. Isso é Los Roques.
Holandeses x espanhóis
IMG_2055.JPGOs moradores disseram que os primeiros europeus a chegarem em Los Roques foram os holandeses. Tanto que construíram um farol em Gran Roque, lá por 1700 e bolinhas. Dá para subir o morro e admirar a paisagem e a construção. O fato também explica os nomes impronunciáveis – acentuados pelo sotaque dos venezuelanos – de algumas ilhas: Franciskí, Madrisquí, Crasquí e por aí vai.
Em 1792, Los Roques foi intitulado Parque Nacional. Hoje, é a maior área – 2.251 km2 – de proteção natural da Venezuela. Para entrar, você paga uma taxa – como ocorre em Fernando de Noronha. Mas a ilha principal, Gran Roque, é completamente menor que Noronha. É uma vila, sem ruas asfaltadas, onde os ermitões corajosos – aqueles bichos em conchas – passeiam em frente às casas.
Em outro post contarei sobre a infraestrutura – ou não – do local como o que fazem com o lixo, como captam água doce, etc. Afinal, é uma área de preservação ambiental.