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Você gosta de ficção científica?

*Este post é uma participação especial do meu irmão Gabriel Nóbile Diniz, que também é engenheiro químico e nerd – veja o canal dele no YouTube.

Naves espaciais, armas a laser, robôs quase humanos, equipamentos estranhos, Pads…

Eu acho fantástico. Adoro! E é muito interessante ver como os filmes de ficção científica
antigos têm coisas… atuais!

Quando nós assistimos a um filme de ficção científica antigo, nós vemos que alguma parte da “ficção” se tornou real. Por exemplo, os Pads que apareciam antigamente, se tornaram reais. Robôs com comportamento humano estão sendo criados, com mais e mais inovações. Carros e outros veículos com recurso de camuflagem, invisíveis à primeira vista, estão sendo desenvolvidos a partir de câmeras fotográficas e LED. A evolução da ciência segue seu curso.

Mas e o mais legal? E as naves espaciais com velocidade mais rápida que a luz? A exploração de outros sistemas solares?

Crédito: http://www.flickr.com/photos/andresrueda/
Crédito: http://www.flickr.com/photos/andresrueda/

A estrela mais próxima do planeta Terra, tirando o Sol, é a Proxima Centauri, a mais de 4 anos-luz de distância (ou seja, a luz da Proxima Centauri demora 4 anos para atingir a Terra). Para você ter uma ideia do que isso significa, o Sol está 8 minutos-luz longe da Terra. E já é uma distância difícil de percorrer.

A velocidade da luz é a maior velocidade que um objeto pode atingir. Qualquer objeto. E atingir a velocidade da luz, simplesmente, não é possível. A luz chega a essa velocidade por que não tem massa. Só assim. Qualquer objeto com massa requer uma energia infinita para atingir a velocidade da luz. Então, é impossível.

Outra detalhe sobre a velocidade da luz é que o tempo é distorcido quando algum objeto chega a uma velocidade próxima. Enquanto no planeta Terra o tempo passa sempre na mesma velocidade, um objeto em uma velocidade próxima a luz está quase que parado no tempo. Complicado não? Tudo previsto por Einstein utilizando apenas um quadro negro.

Só que isso não ocorre nos filmes de ficção científica! Eles viajam a velocidades SUPERIORES à da luz usando propulsores especiais. Não são os mesmos propulsores que um foguete. São propulsores que empregam uma técnica especial de viagem espacial. E cada filme diferente tem uma técnica também diferente de viagem no espaço. São três técnicas conhecidas: Hiperespaço, Buraco de Verme e Dobra Dimensional.

Agora, um cientista resolveu provar que é possível utilizar a Dobra Dimensional na vida real. E está tentando colocar uma nave para voar a uma velocidade superior à da luz.

Mas, antes de falar desse cientista extremamente maluco desenvolvendo sua máquina, vou abordar as três teorias de viagem acima da velocidade da luz. Hiperespaço, Buraco de Verme e Dobra Dimensional. E tudo aquilo que é “real” sobre a ficção científica.

Hiperespaço

Crédito: NASA, ESA, and the Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
Crédito: NASA, ESA, and the Hubble Heritage Team (STScI/AURA)

Hiperespaço é a forma de viagem mais comum em filmes. Funciona teletransportando a nave para um espaço alternativo onde as regras da física são diferentes do nosso espaço e, posteriormente, trazendo a nave para o espaço normal. Como é um espaço diferente do que vivemos, é chamado de Hiperespaço.

Nos filmes de ficção científica, a viagem por Hiperespaço requer grandes e precisos cálculos matemáticos para obter rotas. Em Star Wars, por exemplo, é necessário que a nave percorra caminhos já conhecidos pelo espaço para não colidir com nenhum astro ou objeto. Será fatal se ocorrer tal colisão. Quando o espaço não é “mapeado”, é necessário fazer diversos “pequenos saltos” para o Hiperespaço sempre visualizando os eventuais perigos e a viagem demora muito mais tempo que o normal.

Na trilogia de livros de Douglas Adams, “Guia dos Mochileiros da Galáxia”, um salto no Hiperespaço distorce a sensação de espaço ao redor de uma pessoa e depois o constrói novamente. A velocidade é tanta que até achata os objetos. Por isso, a viagem foi substituída pelo “Gerador de Improbabilidade Infinita”. Este faz o cálculo de “Qual a probabilidade de se fazer um Gerador de Improbabilidade Infinita” com a ajuda de chá pelando. É muito mais eficiente. Por alguma razão que ninguém sabe qual é…

Apesar de ser a forma mais comum de viagem mais rápida do que a luz citada por filmes, não existe qualquer referência a experimento ou teoria física que torne possível tal coisa. Não existe qualquer prova de uma dimensão, espaço ou local alternativo. Muito menos que seja possível viajar por ela.

Buraco de Verme (Wormhole ou Ponte Einstein-Rosen)

Crédito: http://www.flickr.com/photos/ge_photo/
Crédito: http://www.flickr.com/photos/ge_photo/

A teoria de Buraco de Verme é possível em conceitos matemáticos, mas nunca foi feito na prática. Einstein falava que entre dois pontos no espaço é possível ter uma ponte, com distância menor do que percorrer o mesmo espaço em si. Em um exemplo visual, é como se você tivesse duas opções para atravessar um rio. Nadando por ele ou com uma ponte acima de você, entre os dois pontos. É mais rápido passar pela ponte desde que você consiga visualizá-la e percorrê-la.

O mesmo ocorre na teoria Buraco de Verme. Existe um caminho extra para ir de um ponto a outro do universo. A nave percorre o caminho a uma velocidade abaixo da luz. Porém, como o caminho percorrido é menor, a nave chega ao destino antes da luz que seguiu pelo caminho normal.

Buracos de Vermes não estão apenas limitados a viagem espacial. Através de Buracos de Vermes, teoricamente, é possível se viajar no tempo já que é considerado uma dimensão a ser calculada, de acordo com Einstein.

É claro que, mesmo em obras de ficção, a teoria se torna difícil de explicar. Podem existir Buracos de Verme naturais, criados aleatoriamente, sem um destino controlado pelas pessoas. Como um fenômeno natural. Só que eles são limitados a conectar os mesmos locais sempre. Também existem Buracos de Verme criados artificialmente, em que há um portal para ser atravessado e seguir de um ponto a outro. As máquinas que fazem isso nem sempre são explicadas.

Os mais famosos Buracos de Verme estão no seriado/filme “Stargate” e “Babylon 5”. “Stargate” tem um portal elegante e bonito e todo um efeito especial para jogar pessoas de um espaço para outro. Outro Buraco de Verme muito interessante está no jogo eletrônico “Portal” (com versões 1 e 2). Uma arma dispara portais faz o jogador percorrer um ponto ao outro, disparando o portal em uma parede lisa.

Como dito anteriormente, a teoria do Buraco de Verme, mesmo sendo a menos utilizada em filmes, é a mais provável. Afinal, o próprio Einstein foi quem começou a falar sobre ela.

Dobra Dimensional

Crédito: http://www.sxc.hu/photo/828752
Crédito: http://www.sxc.hu/photo/828752

A Dobra dimensional é conhecida nos filmes “Star Trek”. O conceito é muito simples. Pegue uma folha de papel. Qual é a distância mais curta que uma formiguinha num ponto pode ir até outro ponto do papel? Uma linha reta. Porém, se você pegar a folha de papel e dobrá-la, os dois pontos podem ficar encostados um ao outro. E a formiguinha não mais precisa andar o caminho. Isso é dobra dimensional. Pegar o espaço, o dobrar totalmente até que os dois pontos, onde está e o destino, estejam extremamente próximos. Difícil imaginar em três dimensões, não é?

Fazendo dessa forma, não é necessário percorrer o espaço na velocidade mais rápida que a luz, pois o espaço é que se dobrou para se percorrer os dois pontos. Isso sem quebrar a continuidade do espaço-tempo. Apenas distorcer o espaço e o tempo ao redor da nave. A nave é empurrada da mesma forma que um barquinho de papel em uma onda do mar. Na onda do mar, a água à frente do barco diminui e atrás do barco aumenta. É o que acontece com a nave espacial. O espaço atrás dela aumenta de tamanho e o espaço à frente diminui de tamanho.

A Dobra Dimensional é um fenômeno muito comum no espaço. Uma forma de dobra dimensional é vista ao redor de buracos negros. Buracos negros são grandes concentrações de massa em um único ponto do espaço. Um buraco negro de tamanho “intermediário” tem mil vezes a massa do Sol e o tamanho do planeta Terra.

Como a massa de um astro define sua gravidade, então esta se torna diferente do normal. A gravidade nestes locais é tão forte que o espaço e o tempo distorcem. E a luz ou qualquer onda eletromagnética que percorre a direção do buraco negro sofre uma alteração de seu caminho, como se no caminho da luz tivesse uma lente de vidro que force a luz percorrer um caminho mais árduo e diferente do que estava previsto. Este efeito chama-se Lente Gravitacional, muito fácil de se observada no espaço.

Muitas pessoas acreditam que a luz é atraída por buracos negros, por atração da gravidade. Isso não é verdade. A luz é um corpo sem massa, então ela não sofre atração pela gravidade. O que ocorre em buracos negros que impedem a luz de saírem dele, ou que faz com que a luz externa, olhando de fora, apresenta um “retardo” para sair do buraco negro é a Lente Gravitacional. O espaço-tempo é distorcido completamente. Não é culpa da atração gravitacional. A luz, no ponto de vista dela, está sempre percorrendo o caminho reto mais curto possível.

*****

A Dobra Dimensional que está sendo criada é chamada de Propulsão de Alcubierre. Sendo Alcubierre o físico mexicano que descobriu essa técnica a partir da fórmula da relatividade. Ele pegou as fórmulas de Einstein e as manipulou até ver, em números, uma maneira de distorcer o espaço mantendo o tempo parado sendo possível utilizar uma quantidade de energia para pular de um ponto a outro no universo.

Porém, a fórmula é difícil de aplicar. Para ser possível, é necessário usar algo chamado matéria exótica. A matéria exótica, como o próprio nome diz, é um tipo de matéria que não tem as mesmas propriedades físicas da matéria convencional. Por exemplo, a propriedade física mais comum é: matéria atrai matéria. Grandes corpos celestiais atraem objetos para si. Um grande corpo feito de Matéria Exótica repele corpos. Na ponta do lápis, uma matéria exótica desse tipo tem “massa negativa”, já que está fazendo o inverso.

Outra propriedade de qualquer matéria é que matéria pode ser transformada em energia. Muita energia. Trata-se da velha fórmula muito conhecida e pouco explicada E = mc² de Einstein. Ela significa que a Energia contida em uma massa é determinada multiplicando a massa pelo quadrado da velocidade da luz. Isso tem uma proporção catastrófica. Por exemplo, uma grama transformada em pura energia contém 25 milhões de kilowatt-hora. O que permite iluminar uma cidade. Ou, com essa energia, é possível fazer uma bomba de 21,5 kilotons, quase duas vezes mais forte que a bomba de Hiroshima.

Na teoria, a matéria exótica, dona de massa negativa, quando é transformada em energia faz na verdade energia negativa. É esta energia a necessária para fazer a Dobra Dimensional, de acordo com as contas de Alcubierre. Fazer uma viagem curta (daqui para a Proxima Centauri) vai requerer cerca de 700 kg (negativos, claro) de matéria exótica. É muita matéria exótica.

Se os cientistas não descobrirem como fazer matéria exótica de uma forma artificial ou não descobrirem como “minerar” em algum lugar, ficará difícil continuar os experimentos. Vamos ver o que a ciência terá a dizer sobre isso. Aguardaremos ansiosos!

Luzes misteriosas na Cordilheira dos Andes

Nem preciso dizer que adoro observar paisagens naturais e fenômenos da natureza – deve dar para perceber de acordo com o que post aqui no blog, não? Gosto de ver as nuvens carregadas de chuva se formarem, a chuva cair, os meteoros passarem, os plânctons brilharem… Esse estado de contemplação esvazia a minha mente, chega a ser uma espécie de meditação – tente também. Bom, como observar as estrelas é uma das minhas pirações preferidas, quando estava, literalmente, no meio da Cordilheira dos Andes, em dezembro no Chile, saí do chalé onde pousava durante a noite para voltar os olhos ao céu.

Reflita comigo: um lugar alto como aquele onde as instituições instalam telescópios deve ter uma boa vista. Era fato. Nunca vi um céu tão estrelado. Lá entendi porque, antigamente, nossos antepassados viam cinturões, ursos, todos os representantes do zodíaco, etc, formados por estrelas. Naquela fresta entre as copas das árvores da pousada e as gigantescas encostas pude observar estrelas com diversas intensidades de brilho e aparentando vários tamanhos. Eram muitas, incontáveis, como as cartas recheadas do céu. Porém, além dessa bela surpresa, meu respectivo e eu tivemos outra tão interessante quanto – se não mais pelo mistério.

 

Enquanto entortávamos nosso pescoço encantados com aquele infinito de estrelas, vimos alguns clarões no céu. Verdade seja dita. Ele percebeu primeiro e chamou a minha atenção. Eu respondi que era impressão. Até que, observando de novo, vimos vários clarões. Não havia barulho como de trovão, nem raios, apenas uma espécie de flash iluminando o céu. Um atrás do outro, espaçadamente – por minuto, uns dois ou três. No dia seguinte, sem falarmos nada sobre o assunto, nosso guia contou em tom de novidade: “Aqui em Cajón del Maipo [a região da Cordilheira], toda noite lá pelas onze horas é possível observar luzes diferentes iluminando o céu”. “Nós vimos!”, dissemos empolgados. “E o que são essas luzes?”, claro que emendei a pergunta.

O simpático chileno não tinha certeza e elaborou uma interessante tese. Para ele, as Cordilheiras com suas montanhas repletas de variados minérios esquentam com os raios solares. Durante a noite, elas liberam o calor dos minérios emanando luzes. Em busca de uma explicação, conversei com poucos amigos pesquisadores e recorri ao Google. Nada. Será que alguém aí conhece a chave desse enigma? Kentaro Mori, do 100nexos, poderá nos ajudar? De qualquer maneira, uma lição óbvia da história: preservar a natureza nos dá a chance de nos encantamos com seus caprichos. Pense nisso e aproveite para pasmar observando o que ela oferece.

Tenha uma boa semana – e aguarde mais posts sobre o Chile, sobre pedaladas em Campos do Jordão (SP), vídeos dos plânctons de São Sebastião (SP) e palmas para o aniversário da cidade de São Paulo!

 

Obs.: As montanhas da foto têm mais de quatro mil metros de altura, pena que não dá para perceber… Estávamos andando de carro no vale. Do lado esquerdo, cerca de 500 metros abaixo de nós corria o rio El Volcán. E, sim, mais para frente era possível ver o vulcão San José. Vou postar foto dele aqui!

Parabéns ao telescópio brasileiro!

tel160.jpgO Observatório do Pico dos Dias (OPD), localizado em Minas Gerais, completou 30 aninhos! Ele possui três telescópios sendo, um deles, o maior em solo brasileiro com espelho de 1,6 m – esses “bichos” são medidos pelo tamanho da lente. Ok, é pequeno se comparado aos Keck, no Havaí, com 10 m cada um dos dois. Mas eles são 15 anos mais novos…
O importante é frisar que nem só de macaco vive o Brasil. Na nossa selva, temos um telescópio bacanérrimo que, graças a ele, um astrônomo conterrâneo meu fez uma descoberta que deixou o mundo de queixo caído.
O paranaense Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo (USP), desde 1989 observava a Eta Carinae – a maior e mais luminosa estrela da nossa galáxia, a Via Láctea. Assim, graças ao pesquisador e ao OPD, descobriu se que, na realidade, a Eta Carinae era duas estrelas. Leia mais sobre a pesquisa aqui.
Não é divertido? O OPD faz parte do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) que, por sua vez, é uma das unidades de pesquisa integrantes da estrutura do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Para saber mais, clique aqui. Au revoir!