Desaparecer



Labirint
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O último livro do escritor catalão Enrique Vila-Matas acaba de ser publicado no Brasil. “Doutor Pasavento” (Cosac Naify, 410 páginas) trata do desaparecimento do sujeito e do ato de escrever como artifício para se ausentar de si mesmo. Recheado de eruditas e bem humoradas citações, Vila-Matas percorre o tema desde o imperador romano Tibério até Robert Walser e – claro – J.D. Salinger. Em seu ensaio-romance anterior, “Bartleby e companhia”, o assunto já havia sido abordado, ainda que com outro enfoque. Parece que, assim como os recorrentes tigres e labirintos de Borges, o  catalão é obcecado pela ideia de desaparecer e existir apenas na amorfa e anônima multidão, reflexão mais do que oportuna na atual era da celebrização a qualquer preço. Paradoxalmente, Vila-Matas assinala a perenidade da obra, que abrigaria a sombra quase esquecida do voluntário recluso autor. Citando o poeta sírio Adonis, o paradoxo está desfeito e esclarecido: “Todos esses mortos ao nosso redor,/ onde sepultá-los senão na linguagem?”. Ou, como diria o escritor brasileiro Pedro Maciel, “o leitor é mais importante do que o autor”.

Doutor Pasavento roubou minha voz. Parece que após algum tempo sem falar perdemos a vontade de assim o fazer. E percebemos que não há nada para dizer. Tudo já foi dito. Tudo é irrelevante. Calemo-nos.

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