Nosso primeiro impulso é ser gentil ou egoísta?

Nosso primeiro impulso é ser gentil ou egoísta?

Responda o mais rápido que você puder à seguinte pergunta: se alguém te desse dez reais para fazer o que quisesse, mas dissesse que você poderia doar uma parte deste dinheiro a uma instituição de caridade, você doaria? Se sim, quanto você doaria? Agora, se possível, chame alguém próximo de você e peça para ele responder à mesma pergunta, mas use uma instrução diferente – peça para que ele pense por pelo menos dez segundos antes de responder à pergunta. Uma série de participantes foram colocados em situações parecidas com estas e os resultados foram relatados em um artigo recente na prestigiada revista Nature. O propósito do artigo era entender se, quando agimos por intuição, nosso primeiro impulso seria agir de maneira gentil ou egoísta. Além disso, também foi investigado qual seria o nosso impulso caso pensássemos mais detidamente sobre a decisão de ser gentil antes, ao invés de agir por mera intuição.

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Nojo, moralidade e preconceito

O que nojo tem a ver com moralidade?

Se você sentir um cheiro forte de fezes logo após entrar em um banheiro público, você provavelmente sentirá nojo. De maneira semelhante, se você ouvir uma história sobre um caso de pedofilia, é provável que você também sinta, em algum nível, nojo. Esta emoção poderia eliciar em você um padrão de expressão facial muito parecido com o que a maioria das pessoas ao redor do mundo exibiria: seu lábio superior levantaria, seu nariz se enrugaria, suas pálpebras levantariam e suas sobrancelhas abaixariam [1] – a famosa “cara de nojinho.” Em sua forma mais aguda, este estado mental de nojo poderia vir acompanhado de náuseas e vômitos.

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O que é e para que serve um experimento?

Fonte: Bule Voador

Autor: André Rabelo

Quando ouvimos as conclusões impressionantes que os cientistas são capazes de chegar a partir de suas pesquisas, podemos nos perguntar sobre como eles são capazes de descobrir tantas coisas a partir de tão pouco – como estudos aparentemente tão simples nos permitem chegar à conclusões tão precisas. É com grande frequência que o método experimental será apontado como um dos grandes pilares responsáveis pelo sucesso da ciência em compreender o universo. Apesar de não ser nem um método perfeito nem o único disponível para os cientistas, além de não conseguir nos dar todas as respostas e explicações que gostaríamos, sua utilidade e supremacia são de difícil contestação.

De forma simples, o método experimental consiste na modificação de uma variável (variável independente) e na averiguação do efeito que pode ser atribuido à essa modificação por meio de uma medida (variável dependente). Uma variável independente é qualquer coisa que possa ser variada em um estudo e que o pesquisador julgue ter relação causal sobre outra variável mensurada; uma causa é aquilo que se julga responsável por um efeito observado sobre outra variável; um efeito é a diferença entre o que aconteceu em um experimento e o que teria acontecido hipoteticamente caso a manipulação não tivesse sido feita [1].

SELO: a xícara no anel aromático, também conhecido como "Benzeno o Chá"Em grande parte dos fenômenos que os cientistas estudam, o número de causas envolvidas é muito grande, sendo raros os casos em que podemos falar “da causa” suprema de algo. Nesse sentido, muitas das relações causais discutidas e apresentadas por cientistas se referem à uma causalidade probabilística (tal variável aumenta a probabilidade de se observar tal efeito), e não à uma causalidade determinista (tal variável é necessária e suficiente para explicar tal efeito). É por isso que a previsibilidade é muito difícil em vários campos de pesquisa como a meteorologia, por exemplo.

Uma importante distinção a ser feita é entre descrições causais e explicações causais [1]: uma está relacionada à descrição das consequências que podemos atribuir às manipulações de variáveis, enquanto a outra está associada à explicação dos mecanismos e das condições nas quais uma relação causal se manterá. O método experimental é um dos mais úteis e mais valorizados na ciência pela sua capacidade de permitir a elaboração de descrições causais. Por outro lado, os experimentos em si muitas vezes não nos ajudam tanto na hora de desenvolvermos explicações causais. É ai que as teorias ganham tanta importância no empreendimento científico por permitirem a generalização dos resultados que obtemos em experimentos. Continue lendo…

A vida é um grande experimento de priming…

Fonte: We’re Only Human
Autor: Wray Herbert
Tradução: André Rabelo

Uma das idéias mais robustas advindas da psicologia cognitiva em anos recentes é o priming (para entender o que é o priming, leia “aqui” e “aqui“). Cientistas têm demonstrado inúmeras vezes que conseguem influenciar de forma sútil as mentes inconscientes das pessoas  através de pistas, para pensar e agir de determinadas maneiras. Estas pistas podem ser conceitos – como frio, ou rápido ou  velhice – ou metas, como sucesso profissional; de qualquer forma, estes estímulos moldam nosso comportamento, frequentemente sem que tenhamos qualquer consciência de que estamos sendo influenciados.

Isso é desconcertante, especialmente quando você pensa sobre as implicações disso para as nossas crenças e ações cotidianas. Os experimentos de priming são feitos em laboratórios, usando estímulos escolhidos de forma deliberada, mas na verdade o nosso mundo está cheio de pistas que atuam em nossas mentes o tempo todo, para o bem ou para o mal. De fato, muitas das nossas ações são reações à estímulos aleatórios fora da nossa consciência, significando que as vidas que vivemos são muito mais automatizadas do que gostamos de reconhecer.

Mas quão automatizadas? Estamos realmente impotentes diante dessas pistas onipresentes? Ou temos algum poder para reconhecer e sobrepor estas forças? Existe alguma forma de nos protejer – nossas metas e intenções – da sinalização aleatória do mundo, especialmente destas influências intrusivas que minariam nossas vidas e valores? Continue lendo…

A Temperatura de um Copo Pode Influenciar Nossas Decisões?

Um estudo publicado em 2008 na Science (periódico de grande impacto mundialmente) obteve os seguintes resultados: pessoas que seguraram brevemente um copo de café quente perceberam uma pessoa alvo como significativamente mais calorosa (warmer) do que pessoas que seguraram um copo de café gelado; e pessoas que seguraram uma bolsa “terapêutica” quente responderam de forma mais prosocial em uma tarefa de tomada de decisão do que participantes que seguraram uma bolsa fria. Em suma, experiências com calor e frio parecem influenciar nossas percepções e até tomadas de decisões. Continue lendo…

Priming

Um paradigma experimental bem estabelecido na Cognição Social é o que investiga o processo de priming, já apresentado anteriormente no blog no texto sobre o Modelo Duplo de Processamento da Informação. O paradigma se baseia em uma idéia simples: a mera exposição de estímulos relacionados a determinadas categorias conceituais associadas na memória de uma pessoa resultará em maiores tendências comportamentais relacionadas a essas categorias. Em outras palavras, o termo priming se refere ao processo pelo qual experiências recentes criam, de forma automática, prontidões de conduta (Bargh e Chartrand, 2000).

John A. Bargh foi e ainda é um dos pesquisadores mais importantes no estudo de priming, e “nesse” vídeo ele discute de forma simples e objetiva a idéia do paradigma, apresentando um estudo realizado por um aluno do seu laboratório. Continue lendo…