Você vai decidir ver esse video? (vídeo)

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Será que você veio parar nesse vídeo por causa do título dele? Ou por que você estava de bom humor hoje e saiu clicando em todos os links que viu? Ou por causa da imagem que você viu do vídeo? O tema do vídeo de hoje é como processamos informações de maneira automática ou controlada e como isso impacta as nossas ações, desde a nossa simples percepção de linhas até como dirigimos de volta para casa.

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A sua própria decisão de ver esse vídeo pode ter sido influenciada pelo processamento automático da imagem do vídeo, já que ela é considerada um tipo de imagem que chama mais a atenção das pessoas. Embora isso talvez não seja surpreendente para você, normalmente não estamos totalmente conscientes desses fatos nos influenciando antes de tomarmos uma decisão – nós simplesmente realizamos as ações e temos quase sempre a impressão de que nossas decisões são tomadas de maneira racional, embora muitas vezes isso não seja verdade.

Referências recomendadas

Mlodinow, L. (2012). Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas. Rio de Janeiro: Zahar.

Nesse livro, o autor descreve como o processamento automático influencia muitos outros aspectos de nossas vidas. Além de descrever os estudos sobre provadores de vinho, ele também fala sobre a automaticidade envolvida na percepção visual (algo que ilustramos no início do vídeo). Eu publiquei aqui no blog uma resenha que fiz desse livro.

Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar: Duas formas de pensar. São Paulo: Objetiva.

Quando o assunto é processamento automático e controlado, esse deve ser o livro mais recente e importante sobre o assunto. Um dos maiores nomes da psicologia que se debruçou por anos sobre essa questão descreve a sua trajetória profissional e as descobertas científicas sobre como a nossa mente funciona.

O novo inconsciente na psicologia – Resenha do livro “Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas”

2014-03-11 21.12.28Muitas coisas acontecem bem na nossa frente sem que tenhamos consciência. Isso acontece porque existe muito mais informação no nosso ambiente do que nossa mente é capaz de captar e perceber conscientemente. Mas quando se trata das nossas próprias ações, é claro que temos consciência do que estamos fazendo e das razões pelas quais estamos realizando uma ação, certo? Bom… nem sempre, pois também podemos operar “no piloto automático”, mesmo quando realizamos ações complexas, como dirigir de volta para casa, por exemplo.

O livro Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas descreve como o inconsciente influencia as nossas ações e pensamentos, para o bem e para o mal. “Uau, alguém falando de psicanálise nesse blog, finalmente hein féra!” CALMA, muita calma! Não é o inconsciente do qual Freud falava. A nova concepção de inconsciente na psicologia e na neurociência, também explorada no livro Rápido e devagar: Duas formas de pensar, de Daniel Kahneman, é que captamos e usamos informações do ambiente basicamente de duas maneiras: de uma maneira mais automática e inconsciente ou de uma maneira mais controlada e consciente. Quando nossa “mente inconsciente” está no comando, ela preenche lacunas no nosso conhecimento e usa alguns truques bacanas para guiar nossas ações sem que a gente perceba, permitindo-nos assim realizar feitos incríveis, considerando a pouquíssima quantidade de esforço exigida (mas, infelizmente, também pode nos levar a erros igualmente “incríveis” e indesejáveis).

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Porque tentar não pensar em algo é uma cilada

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A armadilha da supressão do pensamento

Podemos sentir que controlamos nossos pensamentos quando quisermos. Se você quiser pensar, por exemplo, em uma casa, neste exato momento, você é capaz de imaginá-la detalhadamente. Mas apesar de sermos eficientes na arte de iniciar um pensamento, muitas vezes não somos igualmente bons na arte de encerrá-los ou suprimi-los. Nossos pensamentos nem sempre nos obedecem – quem nunca teve aquele pensamento que não saia da cabeça, por mais indesejável e desagradável que fosse?

O que este tipo de experiência parece indicar é que nem sempre temos o controle da nossa cognição. Se nossa capacidade de “mandar” no que iremos pensar fosse eficiente, alguns problemas que milhares de pessoas vivenciam nem deveriam existir. Um exemplo disso ocorre com pessoas que sofrem de insônia. Muitas pessoas com este problema vivenciam uma “enxurrada” de pensamentos que os induzem a um estado de agitação incompatível com o sono. Outro exemplo drástico de quem convive com este problema é quem enfrenta o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o famoso TOC. Nesta condição, as pessoas vivenciam diariamente pensamentos repetitivos e frequentes sobre um ou mais determinados conteúdos (ex: sujeira) que as levam a realizar ações compulsivas relacionados aos seus pensamentos obsessivos (ex: lavar a mão para evitar a sujeira). Por mais que elas tentem parar de ter estes pensamentos, eles continuam ressurgindo em suas mentes e causando sofrimento.

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Medidas implícitas: Indo além da consciência

Indo além da consiência

Como comecei a comentar no último texto, a psicologia têm desvendado nos últimos anos a dimensão implícita ou inconsciente de nossas mentes, que na maior parte do tempo não somos capazes de perceber ou não temos motivação para relatar. Isso significa que, a princípio, podemos possuir avaliações negativas de grupos, como conservadores ou homossexuais, das quais nem nos damos conta ou nos sentimos desencorajados a revelar em público, mas que podem ainda assim enviesar nossos pensamentos e ações no cotidiano.

ResearchBlogging.orgPara lidar com estes problemas – o da limitada capacidade de introspecção e da falta de motivação para relatar certas informações -, os psicólogos buscaram alternativas para as medidas de auto-relato, e foi a partir dai que o estudo da cognição implícita passou a se tornar uma vasta área de pesquisa não só na psicologia social, mas abrangendo os mais diversos tópicos de interesse – preconceito racial, auto-estima, relacionamento romântico, religião, transtornos mentais, tendências suicidas, vício em drogas [1, 2] – e subáreas da psicologia – psicologia clínica, psicologia forense, psicologia política, psicologia do desenvolvimento, psicologia da saúde e psicologia do consumidor [1, 2]. Uma das principais contribuições que essa área ofereceu foi o desenvolvimento das chamadas medidas implícitas, que nos permitiram tentar responder a perguntas sobre o que estava além da consciência.

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Dizendo mais sobre nós mesmos do que podemos saber

O que podemos saber sobre o que influencia nossos comportamentos?

Imagine o seguinte cenário: alguém lhe pergunta qual era o nome de solteira da sua mãe. Você consegue responder com grande facilidade. Em seguida, a pessoa lhe faz outra pergunta: “como foi que você conseguiu lembrar disso?” Provavelmente, você responderia algo como: “eu não sei, eu só lembrei mesmo.” No dia-a-dia, confiamos regularmente na capacidade das pessoas de explicarem seus próprios comportamentos, como quando perguntamos “porque você fez isso?” ou “porque você não gosta disso?”

Também confiamos, sem perceber, na nossa própria capacidade de avaliar isso, considerando a rapidez com que somos capazes de oferecer explicações para os nossos comportamentos quando somos questionados sobre porque fizemos algo. Mas ao considerarmos o que a psicologia tem a dizer sobre esta capacidade, as pesquisas indicam que com frequência dizemos mais sobre nós mesmos do que poderíamos saber.

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Usando a meditação para controlar impulsos

Reações impulsivas podem ser um problema sério na vida de muitas pessoas. Assim como o Cookie Monster, personagem da vila sésamo, podemos ter poderosas reações impulsivas ao nos depararmos com algo que gostamos muito, como biscoitos, no caso dele. A impulsividade alimentar pode agravar quadros de obesidade e também problemas de pressão alta, colesterol e depressão. Se considerarmos que as nossas mentes podem ser influenciadas de maneira tão automática por pistas no ambiente, como alimentos saborosos na prateleira de uma cozinha, seria muito útil se conseguíssemos desenvolver procedimentos que ajudassem as pessoas a se regularem.

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Felizmente, tais procedimentos vêm sendo desenvolvidos em diversas frentes da psicologia nos últimos anos. Na terapia cognitiva, por exemplo, diversas técnicas que fazem uso de princípios da meditação têm apresentado resultados animadores na capacidade de auto-regulação das pessoas. Muitos estudos têm indicado que algumas técnicas de meditação podem ser poderosas ferramentas de intervenção no tratamento de diversos transtornos, como os de ansiedade, abuso de substância e depressão. Uma publicação recente trouxe evidências de que uma breve intervenção de atenção meditativa pode prevenir reações impulsivas, facilitando a auto-regulação no caso da impulsividade alimentar.

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Kahneman: Como ideias vem à mente?

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Thinking: Fast and Slow

No vídeo acima, Daniel Kahneman, psicólogo laureado com o nobel de economia de 2002 e atualmente professor de psicologia na Universidade de Princeton, fala sobre os dois sistemas de processamento de informações discutidos em seu mais recente livro, Thinking, Fast and Slow (Pensamento, Rápido e Devagar) publicado no final de 2011.

O livro é certamente uma boa recomendação para quem se interessa  nos processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão, um tema para o qual Kahneman ofereceu enormes contribuições com uma linha de pesquisa riquíssima que extrapolou as vizinhanças da psicologia, ajudando a fundar uma das áreas mais importantes da economia atualmente, a economia comportamental. Mais detalhes sobre os modelos de processamento duplo discutidos por Kahneman podem ser encontrados aqui no blog.

Estes modelos ainda carecem de uma formalização e aprofundamento, pois muitos deles  se mantiveram em uma dimensão mais descritiva e a sua utilidade tem se situado principalmente no valor heurístico que eles oferecem para a interpretação de dados e elaboração de hipóteses. Existem, entretanto, esforços na área para formalizar computacionalmente estes modelos e oferecer um maior poder explicativo.

Para um aprofundamento mais denso neste tema e um panorama da área, juntamente com as contribuições da filosofia, recomendo a leitura do livro In two minds: Dual processes and beyond. Jonathan Evans, primeiro autor do livro anterior, também lançou em 2010 o livro Thinking Twice: Two minds in one brain. Este trabalho vai em uma direção muito semelhante ao do Kahneman, divulgando os achados na psicologia sobre os nossos sistemas cognitivos. A leitura destes livros são dicas para aqueles interessados na racionalidade humana, na intuição e na consciência.

Priming

Um paradigma experimental bem estabelecido na Cognição Social é o que investiga o processo de priming, já apresentado anteriormente no blog no texto sobre o Modelo Duplo de Processamento da Informação. O paradigma se baseia em uma idéia simples: a mera exposição de estímulos relacionados a determinadas categorias conceituais associadas na memória de uma pessoa resultará em maiores tendências comportamentais relacionadas a essas categorias. Em outras palavras, o termo priming se refere ao processo pelo qual experiências recentes criam, de forma automática, prontidões de conduta (Bargh e Chartrand, 2000).

John A. Bargh foi e ainda é um dos pesquisadores mais importantes no estudo de priming, e “nesse” vídeo ele discute de forma simples e objetiva a idéia do paradigma, apresentando um estudo realizado por um aluno do seu laboratório. Continue lendo…

Modelo dual de processamento de informações

Em inúmeras situações do nosso cotidiano, fazemos coisas aparentemente sem pensar muito, como quando dirigimos um carro, trancamos a porta de casa mas logo em seguida não lembramos se de fato fechamos, ou subimos escadas de um edifício. “Aonde eu estava com a cabeça” uma pessoa pode dizer ao se dar conta de que jogou na máquina de lavar a roupa limpa que ia usar e vestiu a roupa suja que ia colocar na máquina.

Em casos mais extremos, agir de forma “instantânea” pode ter resultados muito piores do que trocar roupas. Vejamos um exemplo dado por Fiske e Taylor (2008): Pedro está no shopping e vê de repente dois homens negros sendo perseguidos por um segurança branco, ambos vindo em sua direção. Quando Pedro se dá conta do que está acontecendo, o primeiro dos dois homens estava passando ao seu lado, mas ao ver o segundo homem se aproximar Pedro se levanta e o segura, achando que poderia deter ao menos um dos ladrões que o segurança perseguia. O homem agarrado diz que é o dono da loja e que o ladrão (o primeiro homem) estava fungindo.

Esses são exemplos de situações onde as pessoas parecem não estar muito atentas ao que fazem, de tão acostumadas que já estão em realizar certas ações ou de tão pouco tempo que dispõe para tomar uma decisão. Uma parte dos nossos comportamentos parece se dar de forma automática, sem que precisemos deliberar e planejar de forma consciente cada detalhe das nossas ações. A maioria das situações cotidianas demanda que nos comportemos de forma rápida e eficiente, sendo que se tornaria inviável para fins práticos se tivessemos que pensar sobre cada detalhe das nossas ações antes de realizá-las. Isso é o que vários estudos em Cognição Social tem investigado nos últimos anos.

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Cognição Social

A cognição social é um campo da psicologia social que investiga a forma como as pessoas compreendem as outras pessoas e elas mesmas (Fiske e Taylor, 2008). Surgiu do interesse de psicólogos sociais pela psicologia cognitiva, que começaram a utilizar os modelos cognitivos para entender os processos básicos subjacentes às interações sociais. Essa área de pesquisa tem como aspectos básicos:
  • o mentalismo, que confere importância aos processos e representações mentais;
  • a formação, operação e mudança dos processos cognitivos dentro dos contextos sociais;
  • a utilização de métodos, teorias e modelos desenvolvidos em outras áreas pela psicologia social, como a psicologia cognitiva e a neurociência social cognitiva;
  • a aplicação ao mundo real (aplicação à temas como comportamento de ajuda, preconceito, esteriótipos, relacionamentos íntimos e outros). Continue lendo…