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Onde nascem as águas

 

Em tempos de águas de março, saiba que o líquido que sai transparente da torneira da sua residência desceu muita serra. Haja corredeira! A dica é de uma exposição permanente do Parque Estadual de Campos do Jordão, vulgo Horto Florestal, localizado na linda Serra da Mantiqueira. Segundo o parque, “mantiqueira” significa “lugar onde nascem as águas” em tupi – as mina pira na semiótica. A água que passarinho bebe em algumas cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais é proveniente da Serra da Mantiqueira, da Cantareira e do Mar.

No caso da Serra da Mantiqueira, seus riachos, ribeirões e rios têm leitos pedregosos quase sempre com corredeiras. Geralmente, essas águas são frias, límpidas, oxigenadas e rasas. E são diversas, mais belas que o rio que corre pela minha aldeia. Em apenas quatro horas dentro do Horto Florestal, encontrei muita água além daquela que veio do céu: visitei a cachoeira do Galharada e fiz uma breve caminhada ao lado do rio Sapucaí-Guaçu, que corta o parque. Recomendo a visita.

Já o nome Serra da Cantareira não tem origem indígena, mas também remete ao precioso líquido. De acordo com o Parque Estadual Serra da Cantareira – outra dica de passeio incrível e, o melhor, não é preciso nem sair da cidade de São Paulo para conhecê-lo – “o nome ‘Cantareira’ foi adotado por conta da grande presença de tropeiros entre os séculos XVI e XVII que guardavam seus cântaros [vasos] de água em móveis chamados ‘cantareiras‘”. Essa água, como é de se imaginar, era retirada da respectiva serra.

Sempre gosto de saber a proveniência dos produtos e alimentos consumidos por mim. É uma maneira de entrar em contato com a terra – e com a Terra. De voltar às origens. De estabelecer uma ligação com aquilo aparentemente tão distante. Ai, ai. Neste momento, sorrio observando a linda Serra da Cantareira da janela da minha sala. Ainda bem que está aí emoldurando a paisagem.

Obs.: A foto tirei do Pico do Itapeva com cerca de 2 mil metros de altitude. De lá de cima, é possível ver várias cidades no planalto como Tremembé, Aparecida, Taubaté, Pindamonhangaba e São José dos Campos e, mais ao fundo, a Serra do Mar. <3

Passeie pela “mata das nuvens”

“Mata das nuvens”… Poética essa composição de palavras, não? Confesso que emprestei daquela exposição permanente sobre a Serra da Mantiqueira no Horto Florestal de Campos do Jordão, interior de São Paulo. Quem já andou no meio do mato em ambientes serranos do Sul e Sudeste deve ter reparado que alguns locais têm uma névoa quase permanente entre e sobre a vegetação. Para mim, essa paisagem remete aos sonhos ou, se existissem, aos lugares onde viveriam as ninfas. Outros já a relacionam aos filmes de terror.

Essa névoa “mágica” é resultado da umidade levada para as serras do Mar e da Mantiqueira por meio dos ventos que sopram do mar em direção ao continente. O nome “verdadeiro” desse misto de nevoeiro e chuva é mata nebular. Segundo a exposição no Horto Florestal, a mata nebular “é densa, formada por árvores de tronco retorcido, quase sempre cobertos de musgos, bromélias e orquídeas”. Mais detalhes: “Nela são encontradas árvores como o cambuí, o guamirim e o pinho-bravo”.

Os ambientes de mata nebular estão, geralmente, acima de mil metros de altitude. A foto deste post tirei em um local com “mata das nuvens”, dentro do Parque Estadual de Campos do Jordão – o vulgo Horto Florestal. Enquanto eu pasmava sentada sobre uma pedra ao som distante da maior queda da Cachoeira da Galharada, aproveitava para capturar o frescor da mata. Respirava fundo. Ai, ar puro e úmido.

Mergulhando nas águas do vulcão

Ok, título exagerado. A foto acima é do Baños Colina, uma terma de águas que hoje chegam até 60 ºC de temperatura. Ao fundo, como disse nesse post, está o vulcão San José, com suas lavas responsáveis pela água muito quente. Arde a pele mergulhar o pé na piscina mais ao alto – a temperatura diminuía conforme a água corria para as piscinas localizadas mais abaixo. Só vi uma pessoa entrando com o corpo todo na água quentona. Apesar do calor da terma, nosso guia pareceu chateado quando soube qual era a temperatura.

Ele, que há 40 anos nasceu nessa região chilena chamada Cajón del Maipo, acompanha as mudanças do local. São várias, claro. Algumas boas, outras a agregação de valor depende do ponto de vista, sendo sutil a referente às termas. O guia disse que, antes, a temperatura da água chegava até 72 ºC. Existia uma gruta por onde a água brotava e escorria morro abaixo. Quando mais novo, ele contou que gostava de entrar nessa água durante as noites – quase sempre frias.

 

Não sei quando a gruta foi demolida. Construíram essas piscinas sendo cobrada uma entrada – não lembro mais quanto – lá em baixo como pedágio na própria estrada de terra. Devido à distância dos povoados e de outros pontos turísticos mais marcantes, quem mais frequenta as termas são os próprios chilenos. Alguns acampam. Outros fazem churrascos improvisados. Tem até vestiário com chuveiro de água aquecida com o calor da própria piscina mais quente – isso é ecologicamente inteligente (canos dentro da piscina na foto ao lado).

 

Eu queria ter visto como era a gruta. Tive que me contentar em mergulhar naquela água repleta de gesso – o que foi uma experiência única! Você sai branco, “quebrando” e com um cheiro parecido de enxofre. O revestimento das piscinas improvisadas parece um gesso mole, arenoso e denso. Uma indicação de que lá há a matéria-prima para ser explorada. Será que essas termas correm riscos de desaparecer?

Um vulcão para acalentar o dia

Quem acompanha meu perfil no Twitter (@isisrnd) deve ter lido minha emoção ao ver um vulcão pela primeira vez! Estávamos seguindo para o Parque El Morado, no Chile, em dezembro. No caminho, 10 minutos do destino, aparece ao fundo, entre as Cordilheiras, o vulcão San José com seus maravilhosos 5.856 metros acima do mar. Pedi para o guia: “Pare o carro”! Eu precisava descer para apreciar o momento – e tirar foto com meu respectivo e com o frondoso vulcão ao fundo. O que eu não sabia é que nos aproximaríamos mais dele e, aí, sim, veria a boca do vulcão.

Aquela que me encantou primeiro era a falsa cratera. A verdadeira estava mais ao lado esquerdo (clique nas fotos para ampliar). Não é incrível? Depois, relaxei nas termas de águas quentes – de repleta de gesso (!) – graças ao vulcão e com ele ao fundo! Pena que não tive tempo de escalá-lo. E o grandão nem soltou uma fumacinha. “Está ótimo assim”, brincou nosso simpático guia chileno.