A água nossa de cada dia

Hoje estou meio contemplativa e por isso, minha participação no Blog Action Day 2010, cujo tema é ÁGUA, foi se transformando em imagens. Dependendo da fotografia que você escolha contemplar comigo, é difícil entender alguns números e algumas estatísticas. Por exemplo… pra mim, olhando uma fotografia do Planeta Terra (tem uma que eu gosto muito neste post aqui), é absolutamente impossível ter a noção exata do que significa a seguinte matemática: de todo o 3/4 de superfície terrestre menos de 2% é de água doce e, desse tanto de água doce, uma parte mínima está diponível para consumo (porque parte está congelada em geleiras ou no solo, parte está na atmosfera, parte está poluída… vai vendo). Tem um gráfico bem bom sobre essa matemática toda da água bem aqui.

Então, vamos às imagens que eu escolhi pra dividir com vocês e depois, vamos aos números.

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+ A Organização das Nações Unidas calcula que, sejam necessários, por dia, 40 a 50 litros de água por pessoa para que sejam realizadas todas as suas necessidades. No Brasil, nosso consumo é de mais de 200 litros de água, por dia, por pessoa. Nos Estados Unidos são mais de 400 litros de água por dia, por pessoa.

+ 12% da água doce do mundo está no Brasil.

+ Por dia, 2 milhões de toneladas de lixo humano são despejados em fontes de água. Fonte: UN Water.

+ 1,2 bilhões de pessoas não tem acesso a água tratada. 2,6 bilhões não tem acesso a rede de esgoto ou qualquer forma de saneamento básico. Human Development Reports.

+ Aproximadamente 38.000 crianças morrem todas as semanas porque consumiram água contaminada e imprópria para consumo. Fonte: Charity: Water.

+ Se contarmos todas as crianças que perdem aulas por estarem doentes com diarreia ou com vermes por terem consumido água contaminada, teremos uma perda de 443 milhões de dias letivos por ano. Sem contar que essas doenças podem causar diminuição do aprendizado e atraso no desenvolvimento cognitivo. Fonte: Water Advocates.

+ Você pode calcular quanta água foi consumida para produzir seu alimento favorito. É só baixar este aplicativo para o seu iPhone.

+ Por falar em iPhone, cada vez que você carrega o seu, calcule um gasto de 500 ml de água. Considere também que existem 80 milhões de iPhones (e subindo) no mundo, que precisam ser recarregados pelo menos uma vez por dia. Fonte: IEEE Spectrum.

Outras fontes de dados:

FAO Water

Evento verde tem de ser sustentável?

Há alguns meses fui convidada para uma exposição de lançamento do que seria o tão esperado evento SWU. Não fui. Problemas pessoais e a expectativa de um trânsito infernal na hora do rush me impediram.

Daí, há uns 15 dias, fui convidada por duas pessoas diferentes para ir ao evento – uma delas, eu nem tive a oportunidade de responder ainda… – e por uma terceira pessoa para escrever sobre o tal e propor alguma tarefa aqui no blog. Por motivos de forças menores de um ano eu não poderia ir ao evento, então tive que recusar o convite. E como dificilmente escrevo sobre eventos que não fui, ou não vou, também resolvi desencanar de responder o email sobre fazer a propaganda do evento – na real, depois que eu fiquei sabendo que o evento ia ser patrocinado pela Rede Globo, eu meio que perdi o tesão… – não porque eu não gosto da Rede Globo, mas porque em dois segundos, a coisa pareceu muito muito muito comercial – TODOS os telejornais da Globo falaram sobre alguma coisa do evento e isso cheirou meio mal.

OK. Eu tinha desencanado do evento, não ia escrever sobre ele. E não vou. Muitas pessoas escreveram e os textos que eu recomendo uma espiada estão:

+ No Isabellices, que inclusive está linkando muitos textos sobre o evento;

E para nós, público, é essencial saber nos organizar para não mais aceitarmos algo assim, não comprarmos ingressos, rejeitarmos o modelo premium, desconfiarmos de um “movimento social” proposto por uma holding de publicidade, deixarmos falir um festival mal organizado antes que ele capture 50 mil pessoas que vão seguir suas ordens, aceitar suas condições, repetir um discurso raso do que é sustentabilidade, pagar 100 reais no estacionamento e depois sofrer, acordar e reclamar para ninguém ouvir.

+ No uôleo

“[…] como eu já insinuei, o local estava repleto de lixo empilhado em formas de “obras de arte” e cheio de ideias inovadoras como transformar papel de confeito em vestidos que nunca serão utilizados, apenas aumentando o desperdício da energia usada na fabricação da vestimenta. Isso tudo passa por “sustentável”, não é?
Ah, mas tinha uma roda-gigante que claramente não estava sendo movida pelos ciclistas ao lado. Sustentabilidade no ápice de seu significado!”

+ No blog do Denis Russo – Sustentável é pouco

“[…] Milhões de pessoas estão ascendendo socialmente, o que vai lentamente superlotando as áreas vips. Talvez esteja chegando a hora de elas serem abolidas de uma vez. A hora de tratar bem o público inteiro e de permitir que quem chegar antes ao show possa escolher o melhor lugar. A hora de respeitar a audiência pela sua humanidade, e não pela cor do seu crachá. Isso sim seria um festival “sustentável”.”

+ No elucidativo texto do Rainha Vermelha

“O evento do SWU deste ano mal acabou e já começa um #mimimi geral, com
reclamações de que foi ruim, mal organizado e afins. Essa é a maior das
provas de que as pessoas — principalmente os chamados formadores de
opinião — não estão preparadas para tomar uma atitude sustentável de
verdade. Tais queixas são claramente de quem não entendeu o espírito do
evento, e provavelmente possuem uma mente pequena demais para acomodar o
conceito de uma atitude verde.”

Eu ainda não tive a oportunidade de encontrar os textos das duas pessoas que me convidaram para o evento, mas espero que elas também possam dar suas opiniões.

Mas, Rastro de Carbono, se você não vai escrever sobre o evento, vai escrever sobre o quê?!?!?!

Simples: minha reflexão depois de tantas leituras foi a seguinte:

Um evento que se propõem a discutir sustentabilidade PRECISA SER sustentável?

Eu acho que não. Acho, por exemplo, se uma universidade resolve dar um curso sobre sustentabilidade ela não precisa investir uma grana pra mudar a estrutura que já tem, só pra fazer daquele cursos sobre sustentabilidade um evento sustentável. Se eu resolvo, na minha casa, montar um grupo de discussão para conversar sobre sustentabilidade, não preciso reformar minha casa para torná-la 100% sustentável para receber as pessoas. E, um evento gigante, com milhares de pessoas, NÃO precisa ser sustentável para fazer um fórum sobre sustentabilidade. O tchans disso é: já que não vai ser sustentável, ASSUMA de uma vez por todas e PARE de se chamar de sustentável SÓ porque pretende fazer um fórum e botar umas escultura de lixo no meio do caminho – aliás, acho isso ABSOLUTAMENTE INSUSTENTÁVEL. Saca aquelas árvores de Natal de garrafas PET HORRENDAS que aparecem Natal ou outro na cidade? Feias e desnecessárias, fala aí? Afinal, se as garrafas não foram pro lixo antes do Natal, certamente irão depois que o Natal passar e o problema continuou ali. Foi postergado, mas continuou ali, em forma de árvore de Natal.

Voltando… mais do que o monte de lixo produzido, a quantidade de energia gasta pra transportar a galera, as bandas, as tralhas das bandas, a quantidade de energia gasta pra ligar o som, as luzes, os telões, é necessário que se foque numa coisa mais essencial: a grana que alguém tá botando no bolso chamando uma coisa INSUSTENTÁVEL de ecológico, verde, sustentável… E sem precisar! Porque eu APOSTO que, se as X mil pessoas que foram porque o evento era “verde” deixassem de ir porque o evento NÃO ERA VERDE, outras X mil pessoas iriam para ver o show de suas bandas favoritas e fim de conversa. 

O que você pensa? Falaí!