#EstudarValeaPena

Estudar vale a pena

Hoje, dia Nacional do Estudante, o Instituto Unibanco está mobilizando as redes sociais brasileiras com a blogagem coletiva intitulada “Estudar Vale a Pena”, mesmo nome dado à campanha desenvolvida pelo próprio instituto com alunos do Ensino Médio de escolas públicas dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.

O intuito dessa mobilização é encorajar os jovens em idade escolar a prosseguir com seus estudos através de nossos depoimentos pessoais, contando como os estudos fazem nossa vida melhor, tanto cultural como financeiramente.

No semestre passado, durante meus estágios em turmas do Ensino Médio de escolas públicas de Campinas, voltei a me encontrar com a triste realidade do ensino público brasileiro. A desestruturação da escola, a falta de capacitação dos professores e a marginalização do aluno de instituições públicas é de arrancar lágrimas dos olhos. De 7 anos para cá, não mudou nada. O desânimo que pairava/paira sobre uma turma de terceiro colegial que não se sente capaz de traçar um futuro brilhante para sua vida é indescritível.

Hoje, quero relatar a vocês a minha própria história de estudos, que se passou totalmente dentro de escolas mantidas pelo governo estadual.

Comecemos então, pela família.

Venho de família simples, sem condições alguma de me matricular em uma escola particular, portanto, cursei todo o Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio em escolas públicas, parte em Minas Gerais, parte no estado de São Paulo.

Durante o ensino fundamental, nas rodas de amigos, já discutíamos o que faríamos quando terminássemos o então “colegial” e que rumos tomariam nossas vidas quando chegássemos no ponto em que teríamos que escolher nossas carreiras, um desafio um tanto quanto difícil, para quem iria terminar o terceiro ano com 16 anos de idade.

Quando ingressei no Ensino Médio os papos das rodas mudaram, e não se ouvia falar em universidade, nem mesmo em carreira. A vontade dos meus colegas de classe era terminar aquilo logo para ser ver livres de tanta chateação, vontade que não condizia com a minha e que me fazia uma pessoa chata, tanto para os colegas quanto para os professores, que muitas vezes de deslocavam para levar apenas um formulário de simulados de vestibular: o meu.

Minha escola não era melhor do que as da atualidade, eu não tinha base alguma para prestar um vestibular, tanto é que eu fazia os simulados mas não acertava quase nada. 

Minha família continuava não possuindo condições de me colocar em uma escola melhor, nem mesmo de me matricular em um curso pré-vestibular. Foi aí que o desespero bateu e eu pensei: será mesmo que estou fadada a terminar o Ensino Médio e fim da linha?

Então decidi arrumar um emprego. Mas eu precisava de um curso profissionalizante para um emprego que pudesse arcar com as despesas de um curso pré-vestibular e eu não podia pagar um curso profissionalizante.

Veja bem, eu arrumei um emprego para fazer um curso profissionalizante, para então ter a esperança de arrumar um emprego melhor e finalmente pagar o curso pré-vestibular.

Finalmente fiz os cursos profissionalizantes, mas não arrumei um emprego melhor.

Depois de passar um ano inteiro sem estudar para o vestibular, consegui um emprego de secretária na frente do cursinho mais barato da cidade, que além disso, me pouparia algumas passagens de ônibus, bastando apenas atravessar a rua. Mas o salário ainda não dava para custear os estudos. O cursinho não era caro, eu é que ganhava pouco.
Foi então que eu tive a estúpida idéia de ficar sem jantar para poder economizar mais alguns.

Em suma: fiquei doente, emagreci 9Kg (que nunca foram recuperados) e não passei no vestibular, arrá!

No ano seguinte, vendo minha situação calamitosa, meus pais fizeram um esforço bruto no orçamento da família para pagar este cursinho e eu finalmente pude me dedicar integralmente aos estudos do vestibular. Para pagar as taxas absurdas de inscrições das provas, eu vendia brigadeiros para os colegas e professores. Faço brigadeiros ótimos, sério!

Eu estudava em torno de 9 horas por dia e nos fins de semana também para passar em Ciências Biológicas. Minha cabeça só pega no tranco, amigos.

Terminei o Ensino Médio em 2004 e só entrei na universidade em 2008, quando passei nas 3 melhores universidades do país: USP, Unicamp e Unesp. Resolvi escolher a Unicamp, onde estou até então.

Hoje, as dificuldades do dia a dia universitário continuam comigo. E quem disse que iria ser fácil? Atualmente minha bolsa de Iniciação Científica não paga nem meu aluguel.
Mas posso dizer que estou a caminho da minha realização pessoal e acredito que as coisas melhoram com tempo, mas isso não significa que vai ser rápido, por isso é necessário paciência.

Sem contar as novas experiências que a universidade me proporciona, como aprender um novo idioma, viajar pelo país e para fora dele (um dia eu chego lá) para mostrar meu trabalho, sem gastar um centavo.

Sou uma pessoa imensamente feliz por ter persistido com toda esta loucura e tenho certeza que terei uma vida melhor futuramente.

O governo pode não fornecer as melhores condições para que você leve a frente seus sonhos, mas se você quiser, dá até para “ignorá-las” e dar o seu jeitinho. 🙂