Consumo e Aquecimento Global
Consumir “corretamente” sob os padrões ecológicos vai muito além de comprar lençóis de fibra de maconha (também conhecida como canhamo) ou cosméticos produzidos com matérias-primas retiradas sustentavelmente da Amazônia. Consumir “corretamente” muitas vezes passa antes por NÃO consumir. “Tenho que trocar de celular de novo”, “Tenho que comprar um carro flex“, “Tenho que trocar meu monitor por um LCD, que é mais econômico” são frases mais comuns do que deveriam ser.
“O grande objeto de desejo agora são as TVs de plasma. Para onde vão os tubos catódicos das TVs antigas? Cada um deles contêm até 4 kg de óxido de chumbo.” Professor Efraim Rodrigues, aqui
O consumo sustentável e ecologicamente correto deve obedecer a três princípios: o respeito aos limites ambientais; a justiça social; e a viabilidade político-econômica. O desbalanço entre qualquer um destes princípios pode causar danos catastróficos ao meio ambiente, a sociedade e a economia de uma nação. É extremamente complicado ter os três princípios balanceados. E é por isso que um comportamento sustentável deve vir seguido de uma transformação cultural, de uma mudança de hábitos.
Se de um lado os consumidores devem se conscientizar de que os produtos consumidos compulsiva e inadequadamente dependem de recursos naturais, energéticos, humanos, entre outros, do outro lado existe a necessidade de desenvolvimento tecnológico e investimentos na eficiência do uso destes recursos. Aos produtores e aos consumidores, deve estar claro que as necessidades de ambas as partes devem ser supridas utilizando-se o mínimo de recursos, iniciando-se por praticar os três Rs: Redução, Reuso e Reciclagem.
“A exploração crescente dos recursos naturais coloca em risco as condições físicas de vida na Terra, na medida em que a economia capitalista exige um nível e tipo de produção e consumo que são ambientalmente insustentáveis.” Professor Pedro Jacobi, aqui
A aplicação dos 3R´s diminui o uso de recursos ao mesmo tempo que diminui a poluição e reduz as emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Consumo e aquecimento global andam de mãos dadas. Mudanças de hábitos, a nível pessoal, industrial ou governamental devem ocorrer rapidamente, mas todos tem a responsabilidade perante ao problema. Ficar só esperando mudanças nas empresas ou na política é uma maneira de “lavar as mãos” e virar as costas para a crise ambiental.
Leia mais:
A cara do “consumo ecologicamente correto”
Shell Wildlife Photographer of the Year 2007
Na semana passada, iniciou-se a exposição do Museu Britânico de História Natural, com as fotos premiadas no Shell Wildlife Photographer of the Year 2007. As fotos ficam expostas no Natural History Museum, em Londres e, para os menos afortunados – ou não – online aqui!
Aproveitando que a WWF e o Greenpeace adoram um mamífero de olhos grandes para “alertar” sobre o aquecimento global, para falar sobre conservação de espécies, desmatamento e o que quer que seja relacionado à meio ambiente e ecologia, blogo uma das fotos ganhadoras do prêmio “One Earth Award”. Vale a pena visitar o site e conferir as outras fotos, ganhadoras de prêmios ou não.
Mais:
Uma Malla Pelo Mundo
Ônibus movido a álcool chega a São Paulo
Esta parece ser a boa notícia da semana para a cidade de São Paulo. Após alguns anos de estudos e financiamentos internacionais, vinculado ao Projeto Best (BioEthanol for Sustainable Transport, na sigla em inglês), chega às ruas de São Paulo o primeiro ônibus movido a álcool.
Segundo informações da Agência FAPESP, um único ônibus circulará a partir de dezembro, durante um ano, no corredor Jabaquara–São Matheus, que tem 33 quilômetros de extensão e atende cerca de seis milhões de passageiros por mês, com parada em nove terminais e deslocamento em quatro municípios: São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo e Santo André. De acordo com Marcio Schettino, gerente de desenvolvimento da EMTU, as linhas deste corredor permitem estudo da eficiência e viabilidade do motor movido a álcool submetidos a diferentes topografias e demanda de passageiros.
O preço do ônibus movido a álcool assemelha-se ao preço de um ônibus convencional. E, embora o álcool custe indiscutivelmente mais barato que o diesel, a quantidade necessária para rodar a mesma quilometragem é maior, o que significaria um aumento de 6 a 7% a mais no custo de operação. Isso sem contar o custo dos aditivos que devem ser incorporados ao álcool, e que devem ser importados. O UOL Economia destaca que este aumento pode chegar a até 20%.
“O motor chega a reduzir em 87% a emissão de hidrocarbonetos, em 92% a de monóxido de carbono e em 100% a de óxidos de enxofre e de dióxido de carbono, quando comparado ao motor a diesel”, disse o presidente do conselho gerenciador do Cenbio, José Roberto Moreira. “O argumento de que você está salvando vidas e economizando gastos com internações hospitalares deve ser uma justificativa para o governo aceitar usar um combustível mais caro”, afirmou.
Sem dúvida é um ótimo investimento na esfera ambiental. A cidade de São Paulo opera com 15.000 ônibus movidos a diesel. O uso de ônibus movidos a álcool reduziria consideravelmente a quantidade de gases tóxicos e gases do efeito estufa liberados todos os dias na cidade.
A Scania, empresa fabricante dos veículos, continua estudando novos meios de aumentar a eficiência dos motores, desenvolvendo novas tecnologias constantemente. Esperamos que estas tecnologias, aliadas a novas rotinas e políticas públicas ajudem a reduzir as emissões de GEEs e melhorar a qualidade de vida na cidade de São Paulo.
Saiba mais:
Ônibus a etanol será testado em São Paulo – UOL
São Paulo ganha primeiro ônibus a álcool – Agência FAPESP
Scania ethanol buses to be tested in Brazil – Press Release – Scania
Por que é polêmico produzir etanol a partir de milho?
Um dos assuntos nas pautas dos principais jornais e revistas dos últimos dois meses, pelo menos, é a polêmica da produção de álcool a partir do milho. Os conflitos giram em torno de causas ambientais, sociais e econômicas. Segundo artigo publicado pela BBC Brasil de hoje, a utilização de etanol de milho “não é uma solução para o aquecimento global, nem uma maneira de reduzir a dependência de petróleo”.
Os EUA são os maiores produtores de etanol do mundo, seguidos pelo Brasil, que produz, principalmente, etanol a partir de cana-de-açúcar.
Problemas
Água – Um dos problemas associados à cultura de milho é o alto consumo de água (maior que para produção de soja e algodão, considerada a mesma área de cultivo). Junto a isso, existe o problema do uso indiscriminado de nitrogênio como fertilizante do solo, que pode vir a contaminar o lençol freático, os rios e águas costeiras. Outro artigo, publicado a partir de estudos do National Research Council, dos EUA traz um dado acerca do consumo de água pela refinaria de álcool. A mesma quantidade utilizada para abastecer uma usina que produz 100 milhões de galões de combustível por ano poderia abastecer uma cidade de 5.000 habitantes.
Aumento no preço de alimentos – 2007 promete a maior safra de milho dos EUA desde 1944. O preço do milho dobrou nos últimos anos, e a tendência é continuar aumentando. Enquanto esta é uma boa notícia para os produtores de milho, para os consumidores a idéia não é tão aprazível. Há quem se pergunte quais outros cultivos serão substituídos por milho, que é mais rentável, colocando ainda mais pressão nos preços dos alimentos. A produção de soja teve seus preços projetados para aumentar 30% no próximo ano. Como o preço do principal componente da ração animal americada vem aumentando, é de se esperar aumento também nos preços de leite e derivados e carne de frango e ovos. A notícia é do NYT.
Área – Um dado da Organization for Economic Cooperation and Development diz que trocar 10% do combustível utilizado pelos motores nos EUA por biocombustível necessitará de um terço da área utilizada hoje para produção de cereais, sementes oleaginosas e lavouras de açúcar. Leia mais aqui no NYT.
Milho X Cana-de-açúcar
+ O balanço de energia para converter milho em energia é negativo (1:1,29), ou seja, para cada 1Kcal de energia fornecida pelo etanol de milho, foi necessário 29% a mais de energia (1,29Kcal) para produzi-lo. O balanço energético da cana-de-açúcar é positivo (1:3,24), ou seja, cada 1 Kcal investida tem 3,24 Kcal de retorno.
+ A cana-de-açúcar produz três vezes mais álcool por área do que o milho.
+ O custo de produção do etanol de cana-de-açúcar é U$ 0,28/L e o de milho U$ 0,45/L.
+ A redução de gases do efeito estufa na produção e combustão do etanol de cana-de-açúcar, comparada com combustíveis fósseis, foi de 66%. Para o etanol de milho, esta redução foi de apena 12%.
+ A indústria de álcool americano somente é viável devido ao subsídio de U$4,1 bilhões por ano para a produção de milho e etanol. No Brasil, esta prática não existe.
Outras comparações aqui.
A produção de etanol a partir de milho pode ser uma estratégia utilizada pelo governo brasileiro para manter os preços, principalmente durante a entresafra da cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar é, dos pontos de vista econômico, energético e ambiental, a melhor alternativa para a produção de biocombustíveis no Brasil.
Saiba mais:
+ Lugar do milho não é no tanque de gasolina, diz jornal americano – Folha Online
+ The High Costs of Ethanol – The New York Times
+ Cana-deAcúcar: a Melhor alternativa para Conversão da energia solar e Fóssil em Etanol – Andreoli e De Souza
Até onde os fins justificam os meios?
Crise de abastecimento de água na África? Calor de 40ºC no Paquistão? Derretimento acelerado das geleiras do Ártico? Não…
Tem gente mesmo é preocupada com a proliferação de algas na praia onde surfa e com a dificuldade de vender os suéteres de casimira.
Enfim… se todo este discurso hollywoodiano servir para conter o aquecimento global em larga escala, por que não? Vale a pena dar uma conferida neste artigo só pra rir e constatar que o governo não é mesmo igual para todos.
Primeiro Projeto MDL de Reflorestamento
A AES Tietê, uma das grandes geradoras de energia elétrica do Brasil (10 hidrelétricas, capacidade de 2,65 mil MW), responde por cerca de 20% da energia gerada no Estado de São Paulo e de 2% da produção nacional. Em 2001, a empresa entrou com um ousado projeto de reflorestamento de Mata Ciliar nativa nas Áreas de Preservação Permanentes (APPs) às margens das represas das usinas hidrelétricas nos municípios de Boracéia, Barra Bonita, Ibitinga, Promissão e Ouroeste, no Estado de São Paulo.
Para o projeto, serão utilizadas aproximadamente 16 milhões de mudas, de no mínimo 80 espécies de árvores nativas, em uma área total de 9,6 mil hectares. Após 20 anos de acompanhamento das plantas, estas terão sido capazes de fixar cerca de 3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, através do processo de fotossíntese.
O recuperamento da floresta nativa deverá trazer grande parte da fauna local de volta ao espaço. Fora isso, o projeto tem como objetivo proteger os rios, evitando assoreamentos e melhorar a qualidade de vida das populações vizinhas aos reservatórios. Para a empresa, o Projeto deverá render créditos de carbono, que poderão ser vendidos à exemplo do que ocorreu com o Aterro Sanitário Bandeirantes
O Programa de Reflorestamento da AES Tietê foi apresentado à Junta Executiva do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Esta Junta é responsável pela certificação de créditos de carbono (RCE – Reduções Certificadas de Emissões) a iniciativas que resultam ou na redução das emissões de GEEs (CO2 , CH4, NO2 ,etc.) ou na remoção de dióxido de carbono por projetos de aflorestamento ou reflorestamento.
Os projetos de reflorestamento são os mais polêmicos no MDL. As dificuldades para aceitar este tipo de projetos incluem a definição de floresta, da quantificação do número de toneladas de carbono fixado, do tempo que o carbono permanece preso e às reações das florestas às mudanças climáticas.
Saiba mais:
AES Tietê
Carbono Brasil
Agenda – 25 de outubro
O que: 2º Simpósio USP Recicla – inscrições gratuitas
Onde: Universidade de São Paulo – Anfiteatro de Engenharia Mecânica
Quando: 25 de outubro de 2007
Objetivo: Tem como foco a proposição de um documento oficial que contemple a organização e a normatização dos sistemas e estruturas que tenham vínculo com compra, utilização e descarte de materiais na USP. Adequar contratos de serviços e de pessoal técnico relacionado ao tema. Reunir pessoas que possam trazer subsídios para a implementação de ações sustentáveis no contexto da USP.
Temas:
+ “Actions for a sustainable campus: The case of the University of Colorado at Boulder – USA”
+ “Caminhos para um Campus Sustentável: Instâncias e Responsabilidades”
+ “Da pá virada: revirando o tema lixo – vivências em educação ambiental e resíduos sólidos”
+ “Inventário de Gases do Efeito Estufa: Possível Escopo para os campi da USP”
Mais informações:
2º Simpósio USP Recicla
A exploração do Ártico
Terça-feira, fui acordada com a notícia “Dois pesos, duas medidas” no Blog do Planeta, falando sobre os interesses de grandes nações como o Canadá, a Rússia e os EUA em ocuparem o território do Ártico para explorações minerais, de gás natural e petróleo.
Com o aquecimento global e a redução do gelo na região, tais explorações se tornariam mais fáceis e menos onerosas. Isto significa que, ao invés de se preocuparem em conter as emissões de gases do efeito estufa em suas nações, os governantes estão mais interessados nos lucros que o aquecimento global pode trazer.
Tudo isso me fez lembrar de uma cena em “Uma verdade inconveniente” que um dos slides da apresentação do Prêmio Nobel da Paz 2007, Al Gore, trazia uma balança que de um lado continha muitas barras de ouro e do outro o Planeta Terra. E a discussão era justamente que não há muito o que pensar. Que sem Planeta Terra, de pouco valem as barras de ouro. Para minha surpresa, os governantes estão mesmo escolhendo o lado das barras de ouro!
Hoje, a notícia que me acordou foi uma tradução feita pela UOL de um vídeo promovido pelo Jornal The New York Times (assista aqui ao vídeo em inglês). A notícia “Nova tarefa para a Guarda Costeira em um Oceano Ártico em processo de aquecimento” traz a notícia que a Guarda Costeira Norte-Americana está pensando em construir a primeira base operacional na região, obviamente com o intuito de “controlar as navegações” que, devido ao aquecimento global, começam a ganhar o espaço que antes pertencia ao gelo.
Assistam ao vídeo, leiam a reportagem e tirem suas próprias conclusões. Os interesses econômicos dos EUA na área são claros, já que podem garantir a exploração de minerais, petróleo e gás natural, como já constatado por estudos científicos. É uma pena, mas ainda estamos na fase de que poucos querem ganhar muito dinheiro às custas da exploração e em detrimento de outros.
Anexando…
Ponho aqui um anexo do texto feito para o Blog Action Day pelo amigo Jonny, que tem, entre outros blogs e podcast, o Infoblog.
Porque o que é bom deve ser compartilhado!
Aí vai um dos melhores textos que eu li no dia 15 de outubro:
Conhecimento – a arma para salvar o futuro
Parabéns pelo texto Jonny!