Sobre a campanha “Meia Amazônia Não”

Eu sei que o linguajar jurídico é meio mala, mas vejam só. Sobre a campanha “Meia Amazônia Não“: ou está atrasada, ou tem outros interesses.
O Projeto de Lei 6424/2005 ( o qual pode ser consultado aqui) aponta várias emendas de extrema importância para a preservação da Amazônia, entre elas a de regularização dos imóveis (emenda aceita), o georreferenciamento das áreas a serem preservadas dentro de uma propriedade rural (emenda aceita), a possibilidade de venda de créditos de carbono caso haja recuperação de área degradada (emenda rejeitada), entre outros.
A proposta de emenda número EMC 5/2007 CAPADR (Emenda Apresentada na Comissão) – Wandenkolk Gonçalves do PSDB, é a que preocupa a supracitada ONG Meia Amazônia Não, já foi rejeitada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural como expôem o parecer do relator Homero Pereira, na íntegra, AQUI e sobre a votação AQUI.
Três observações que merecem consideração:
1) O deputado Wandenkolk Gonçalves do PSDB do PA foi o autor da emenda que tentava diminuir o tamanho das áreas de preservação dentro de um imóvel de 80% para 50% deve ter todos os seus passos seguidos com cuidado. Entre a justificativa para tal emenda, o deputado acrescenta:

“Amazônia Legal de 50% para 80%, além de inibir a perspectiva de uma expansão econômica na região, criou a obrigação de recomposição florestal nas propriedades cuja reserva legal possua extensão inferior ao exigido, o que significa mais ônus para o produtor rural. Acontece que, segundo o cadastro do INCRA, a área ocupada por propriedades ou posses rurais na Amazônia é de, aproximadamente, 60 milhões de hectares, o que representa pouco mais de 15% do total da superfície da Região. O restante é ocupado por terras indígenas, unidades de conservação
ou terras devolutas.
Portanto, é errôneo culpar apenas os produtores rurais pelo aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia. O problema está muito mais relacionado à invasão, grilagem e exploração predatória das terras públicas.
Da mesma forma, a solução para se reduzir as taxas de desmatamento na Amazônia não está em limitar, pura e simplesmente, a utilização das terras nas propriedades rurais. Uma maior fiscalização e um maior controle sobre os atos predatórios em terras públicas seriam muito mais apropriados para se atingir esse
objetivo.”

– minha opinião pessoal: medo, medo, medo…
2) Na minha opinião, o real problema do Projeto de Lei 6424/2005 é que ele prevê o reflorestamento e reposição florestas da Amazônia Legal com espécies exóticas e palmáceas.
3) Meus conhecimentos sobre projetos de lei se resumem ao que posso encontrar e acompanhar pela votação no Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Se existe alguma ferramenta que possibilita a “re-votação” das propostas de emendas, leitores, falem agora ou calem-se para sempre!
Continuo guardando minhas minhas ressalvas pessoais (e intransferíveis) sobre as campanhas ambientais que rolam por aí sob o nome de instituições famosas e conceituadas.

Carros movidos à água! Só se o Papai Noel trouxer…

Os noticiários nesta semana mostraram um carro lançado no Japão que é, supostamente, movido à água. A notícia impressionou muitos, tanto que até a Reuters lançou um videozinho divulgando o bichinho.
Só que é absolutamente impossível um carro ser movido à água. Sim, a água pode desencadear uma reação química, a água pode diluir um combustível, a água pode ser um produto da reação química que propulsionar o carro mas nunca, NUNCA, vai ser o combustível.
Estaria eu fechando a minha mente às novas tecnologias? Não, meu caro Watson, o problema é que a energia que move os carros está armazenada nas ligações químicas dos combustíveis. Quando queimamos o etanol, por exemplo, estamos misturando esta molécula ao oxigênio, decompondo-a em gás carbônico e água. Usamos a energia das ligações químicas do etanol para impulsionar os pistões do motor do carro.
O problema é que as ligações químicas da água exigem muita energia para se quebrar, mais energia do que elas irão gerar no final. Desta forma não há excesso de energia para mover o carro.
Não foi possível ver nenhum detalhe técnico do carro lançado mas ele pode funcionar assim: o carro contém em seu tanque alguma sunstância que reage fortemente em contato com a água, sódio metálico, por exemplo. Desta forma, ao colocar água no tanque, você tem uma reação que produz energia. Neste caso, porém, o combustível é o sódio metálico e não a água. A água é somente um truque!
Outro argumento é o de que existe uma tecnologia que converte a água em hidrgênio e, depois, o hidrogênio reage com o oxigênio, fazendo água novamente. Santo Newton! Se esta reação funcionasse teríamos um motor perpétuo! Não é preciso dizer que esta sequência de reações não são auto-sustentáveis né?
A mensagem para levar para casa é esta: devemos tentar salvar o planeta obedecendo as leis da termodinâmica…

A História das Coisas em português!

Tem um ótimo mini-documentário chamado a “The Story of Stuff” de Annie Leonard. Este documentário, de apenas 20 minutos, mostra de forma leve os problemas da sociedade de consumo em que vivemos. Ao mesmo tempo que ele traz muitos dados interessantes, ele não tem um tom pastoral pesado, muitas vezes encontrados em filmes deste tipo.
Se o documentário não é muito novidade, uma versão legendada em português talvez o seja. Assistam e reflitam!

Fontes de energia: o futuro já chegou?

Quando se debate fontes de enrgia, é comum as pessoas dizerem algo do tipo: “Não deveríamos usar X, deveríamos usar Y porque é muito melhor.” Quando X é uma tecnologia usada atualmente, como petróleo, etanol de cana, hidroelétricas, usinas de fissão nuclear e Y é uma tecnologia que está surgindo: hidrogênio, etanol celulósico, usinas solares e usinas de fusão nuclear.
Geralmente este tipo de argumento é difícil de contra-atacar: quem é contra usinas solares? Somente quem defende o status quo, certo? Na realidade o quadro é muito mais complexo.
No caso das usinas de energia solar, a questão está no custo X eficiência. Nas tecnologias atuais, o custo de se instalar uma usina destas é altíssimo e os beneficios são muito pequenos. Se contarmos ainda os custos energéticos (ou de emissão de carbono) de se produzir células fotovoltaicas, com suas placas de vidro e silício temperado com metais tóxicos, podemos ver o quão longe do ideal a energia solar ainda é. Uma análise de custos revela que um painel solar demora cerca de 15 anos para se pagar, financeiramente e ecologicamente. Isso quer dizer que não deveríamos investir em energia solar? De jeito nenhum! Painéis solares são ótimos para se gerar energia em locais longe de usinas de distribuição, para aquecer a água de chuveiros e para se colocar nos telhados de prédios, onde nenhuma energia seria gerada de outra maneira. O problema é querer substituir usinas termoelétricas por solares…
Seguindo a lista, vamos analisar o caso do etanol celulósico. Muitas empresas dizem que conseguem usar celulose como fonte de etanol. Isto é ótimo, pois podemos usar papéis usados, madeira velha e restos de alimentso para se gerar etanol, além de aumentar o aproveitamento energético da cana-de-açúcar. Maravilha! Só que nenhuma empresa de etanol celulósico conseguiu fazer lucro até hoje, mostrando que ainda é uma tecnologia inviável, pelo menos nas escalas necessárias para se tornar uma alternativa.
E o hidrogênio? Energia limpa com apenas liberação de água? Só que não falaram do custo energético de se fazer este hidrogênio, da baixa capacidade de armazenamento das abterias de hidrogênio (nem sua toxicidade). Novamente, a utilização de células de hidrogênio são um sonho muito distante. Nem vou comentar sobre o delírio da fusão nuclear a frio, que tem muitas qualidades mas ainda nenhuma praticidade.
A lição que devemos levar para casa é que todas estas tecnologias ainda estão amadurecendo, portanto ainda é inviável pensar em implementá-las em grande escala. O que nos resta é apostar em fontes de enrgia não-ideais mas menos impactantes que o petróleo e carvão. Por isso defender o etanol de cana-de-açúcar, hidrelétricas e usinas de fissão nuclear, com todos os seus defeitos, não é um impropério tão grande assim.

Roda Viva ontem

Ontem não… Na verdade, semana passada.

Estava eu, segunda-feira passada a esta hora, sendo maquiada (!!!) para participar do Roda Viva ao lado da Maira e da Clau Chow. O entrevistado? O presidente da FUNAI, Márcio Meira. O que o Rastro de Carbono tem com índios? Talvez (mas só talvez) o Markun saiba responder.

A entrevista não foi lá aquelas coisas. Não que os entrevistadores não tivessem feito sua parte. As perguntas eram sensacionais, e tão cheias de informação, que as respostas deixaram muito a desejar. Ainda estou me perguntando se a culpa é da situação ou do presidente, mas tenho aqui minha resposta preferida.

Tento me fazer entender assim: quem é índio? Pelo estatuto de índio:

Art.3º Para os efeitos de lei, ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas:

I – Índio ou Silvícola – É todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se indentifica e é intensificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distingem da sociedade nacional;

Quem quer ser índio? Bom… tirando uma meia dúzia que acham uma maravilha se auto-nomear índio, mesmo não sendo, para “tirar proveito” dos 13% de terras destinadas a 0,3% da população nacional. Pena, desses 13% tudo é do governo. A exploração pode, desde que sustentável. A renda é pouca. Luz elétrica? Água encanada? Postos de saúde e médicos de plantão? Só para a imensa minoria. Ser índio não é fácil. E, não só isso, ser índio é ser de mais de 200 populações distintas, que falam cerca de 180 línguas distintas. Quem é índio? E, afinal, quem não é?

Os casos são muitos. É índio que morre queimado em ponto de ônibus, é índia estuprada. É índio que agride. É índio que é agredido, é índio com imensas dificuldades de inserção no que é “ser brasileiro”. É índio que cobra pedágio, que é alcoolatra. É índio que faz tráfico de drogas é índio que nem sabe que Portugal existe. Enfim… com isso, dá pra dar sempre a mesma resposta a qualquer pergunta que se faça. E as agressões? E o desmatamento? E a exploração em terras indígenas? “Depende… cada caso é um caso.”

Twittar no Roda Viva é um show a parte. Até porque, todo meu conhecimento sobre o “detrás das câmeras” era da câmera de algum colega ou parente. Televisão é uma caixa mesmo… Luzes, câmeras, ação! Desliga o celular, retoca a maquiagem. Aperta aqui, puxa o fio dali. Twitta, twitta, twitta. Ouve pergunta, ouve resposta. E se passam duas horas sem se notar.

O que tiro dessa experiência? A oportunidade é excelente. O canal está aberto. Acho que temos, finalmente, uma TV democrática.

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P.S. Dado mais importante e impressionante para mim nessa história toda (e nem foi o presidente da FUNAI quem falou): De toda área desmatada da Amazônia, somente 1,14% estão dentro de terras demarcadas indígenas.

Contextualizando Carlos Minc

A idéia deste post é dar uma introduçãozinha ao entrevistado de hoje no Roda Viva (TV Cultura, 22h40).
O novo Ministro do Meio Ambiente (MMA) substitui a ambientalista Marina Silva, que estava no cargo desde o início do governo Lula. A saída da ministra foi muito controversa e gerou repercussão até no exterior pois Marina Silva tem uma biografia brilhante na área e é muito conceituada no exterior. As razões da saída da Marina Silva, não oficialmente, é a política do Governo Lula de deixar a questão ambiental de lado frente à questões econômicas e de desenvolvimento.
Carlos Minc assume o MMA diante das enormes pressões do governo, materializadas na Ministra da Casa Civil DIlma Rousseff, para que se apresse o processo de licenciamento ambiental, necessário para a aprovação de toda obra, do governo ou não.
Ex-guerrilheiro, membro-fundador do Partido Verde, deputado estadual por 6 mandatos seguidos e Secretaria de Estado do Ambiente do RIo de Janeiro, o novo ministro tem como desafio mostrar que consegue ter relevância federal, uma vez que sua esfera de atuação tem sido, principalmente, a estadual.
Espero que a entrevista logo mais discuta a questão da ocupação e do desmatamento na Amazônia (principalmente do Programa Amazônia Sustentável), a proteção de ambientes fora da Amazônia, o futuro dos biocombustíveis e como mantê-los genuinamente verdes.
E, afinal, quem deveríamos priorizar, o desenvolvimento ou o ambiente? Por quê é quase impossível conciliar ambos?
Veja a página de Carlos Minc.

Rastro no Roda Viva: ontem e amanhã

Na semana passada o Rastro de Carbono bateu ponto no Roda Viva comentando a entrevista com o Márcio Meira, presidente da Funai (Paula, cadê o relato?) junto com Claudia Chow do Sustentabilidade/Ecodesenvolvimento e da Maira Begalli.
Pois então, se você perdeu, amanhã tem mais! A entrevista de amanhã (TV Cultura, 22h40) com o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc contará com os comentários do blogueiro-colaborador-e-marido Carlos Hotta via Twitter. Junto comigo estará Lúcia Malla (que tem um ótimo post sobre consumo ecológico de peixes) que deve garantir comentários de qualidade.
Para saber mais sobre o Twitter, clique aqui. Para saber mais sobre o Twitter no Roda Viva clique aqui e aqui.

Problemas no feed

Pessoal, a Miriam Salles nos escreveu falando que os feeds estão com problemas. Acho que agora consertei,, alguém pode me confirmar?