Psicologia Brazuca: Dida, a etologia e a psicologia evolucionista

O Dida, como é mais conhecido o professor Francisco Dyonisio C. Mendes, é atualmente professor de psicologia evolucionista (PE) na Universidade de Brasília (UnB). A sua carreira acadêmica está diretamente associada ao programa de psicologia experimental da Universidade de São Paulo (USP), no qual ele fez a maior parte da sua pós-graduação sob a orientação do professor César Ades.

Apesar de possuir um especial interesse e atuação na etologia ao longo de sua carreira, o professor Dida, assim como muitos outros etólogos brasileiros, tem se aproximado cada vez mais da psicologia evolucionista e desenvolvido projetos especialmente situados nesta área. Ele explorou com clareza algumas questões, muitas vezes mal compreendidas, sobre o estudo dos animais na perspectiva evolucionista nesta ótima entrevista cedida gentilmente por ele. Além disso, acreditamos que muitos comentários do Dida acerca da realidade que pesquisadores brasileiros enfrentam para conduzir suas pesquisas soarão familiares a muitos.

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César Ades: Uma entrevista com o mestre

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Os vídeos acimas são as duas partes de uma das últimas entrevistas que o professor César Ades deu antes do seu recente falecimento, que entristeceu muito toda a nossa comunidade. Agradeço ao Vinícius Ferreira por ter compartilhado esta entrevista no seu blog, o Psicologia Cognitiva. Assistindo à entrevista, eu acho que comecei a entender porque ele era tão admirado e querido pelos seus colegas. Não tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, mas quisera eu ter conhecido ele e poder bater um papo. A nossa perda foi grande, mas o seu legado e a inspiração que ele espalhou pela USP certamente ainda terão reflexos por muito tempo na ciência brasileira.

Que mundo maravilhoso…

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Vale a pena ver esse vídeo curtinho, mas cheio de filmagens lindas, embalado pelo David Attenborough recitando a lendária what a wonderful world. Depois de assistir, um pensamento específico é quase irresistível de pensar, pelo menos para mim: que mundo maravilhoso!

Altruísmo ou egoísmo: Qual é a motivação para a generosidade?

Qual é a nossa motivação quando ajudamos alguém?

Imagine que você acaba de ajudar uma senhora simpática, mas com dificuldade de andar, a atravessar uma rua. Ao terminar a travessia, ela lhe agradece com um grande sorriso no rosto e você se sente muito bem por ter ajudado ela. Nessa situação, qual teria sido a sua motivação para ajudar esta senhora?

Uma possível resposta a isso é que a sua capacidade de experienciar estados afetivos correspondentes aos estados afetivos de outra pessoa que você está observando (ou imaginando) e à qual você consegue reconhecer que é a fonte do seu estado afetivo atual – a famosa empatia [1]* – te induziu a uma motivação altruísta, ou seja, a um estado motivacional com o objetivo final de aumentar o bem-estar daquela senhora [2].

Outra possibilidade é que o seu ato solidário foi influenciado por uma motivação egoísta, ou seja, um estado motivacional visando aumentar o seu próprio bem-estar. Muitos acreditam que todas as nossas ações bondosas são movidas por motivações egoístas, já que, quase sempre, podemos nos beneficiar – mesmo que indiretamente – quando ajudamos outra pessoa (no exemplo anterior, o benefício poderia ser o sentimento positivo resultante da ajuda, por exemplo). Mas será que esta hipótese, a do egoísmo universal, está sempre por detrás da prosocialidade humana? Uma rica linha de pesquisa indica que não. Continue lendo…

Uma homenagem ao mestre César Ades

Autor: Francisco Dyonísio C. Mendes (Dida)*

César e Dida (à direita)

“Minha linha de pesquisa é a curiosidade”. Assim César Ades explicava, com o bom humor e perspicácia de sempre, porque seu currículo era tão eclético. Em seus 47 anos de carreira como psicólogo especialista em comportamento animal, estudou assuntos e espécies diversos: da memória utilizada por aranhas para recuperar as presas na teia às diferenças de ciúmes entre homens e mulheres; do comportamento parental de cobaias ao simbolismo na comunicação entre humanos e cachorros.

Quase causava estranheza como dominava tantos assuntos com tanta facilidade, mas sua característica mais marcante era a paixão – paixão pelos animais, pela psicologia, pela ciência e pela vida! Poucos minutos a seu lado eram suficientes para perceber isso, e assim César costumava encantar aqueles que o conheciam. Esta paixão, e a alegria constante que a acompanhava, escondia sua experiência com a II Guerra no Egito, aonde nascera, teve a perda prematura de um filho e outras histórias que mencionava muito raramente. César queria viver e produzir conhecimento, e para isso seu sorriso farto e sua energia positiva eram mais importantes que recordações negativas. Continue lendo…

Quais são os pré-requisitos para a acumulação cultural?

O que permitiu a acumulação cultural?

No início deste mês, a revista Science trouxe um trabalho investigando os pré-requisitos cognitivos e sociais básicos para que um organismo seja capaz de acumular cultura. Enquanto uma caraterística distintivamente humana, a capacidade de acumular cultura tem sido estudada e debatida há muitos anos, com muitas questões ainda levantando discordâncias.

Um posicionamento  influente na área é que algumas características cognitivas e sociais constituíram os ingredientes básicos para que a capacidade de acumular cultura pudesse se expandir de maneira tão acentuada e “repentina” do ponto de vista evolutivo, como indicam os dados arqueológicos acerca da produção de ferramentas ao longo da história evolutiva humana. Alguns destes pré-requisitos são a capacidade de ensinar, a linguagem, a imitação e a prosocialidade.

 Por outro lado, alguns autores defendem que determinados aspectos sociais impediram o desenvolvimento de acumulação cultural em outras espécies que não a humana, como o cleptoparasitismo, a tendência de indivíduos dominantes monopolizarem recursos e uma tendência a direcionar menos atenção a “inventores” com status social baixo no grupo. Continue lendo…

Entendendo o cérebro humano

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Terrence J. Sejnowski é atualmente um dos pesquisadores mais importantes na neurociência computacional, área essa na qual ele foi um dos pioneiros. Na entrevista acima, Sejnowski comenta, entre muitas questões, sobre um editorial na Science [1] que ele publicou no final de 2011 com um colega acerca da grande quantidade de conhecimento sobre o cérebro produzido nas neurociências que ainda não foi acompanhado por um esforço em sintetizar e compreender as relações entre estes conhecimentos. Ele defende que a acumulação de conhecimento é uma etapa importante, mas que já é hora das neurociências repensarem sobre o que esperam encontrar no final deste turbilhão.

ResearchBlogging.orgSejnowski também comenta sobre as implicações no campo jurídico, ético e educacional das pesquisas em neurociências, enfatizando adicionalmente as importantes implicações para estes tópicos das pesquisas em outras áreas como na ciência cognitiva e na psicologia. Um ponto importante que Sejnowski aponta é que aspectos sociais e contextuais são fundamentais para compreender a experiência humana e que estas ainda são variáveis muito difíceis de serem estudadas no âmbito das neurociências (embora estejam surgindo oportunidades inovadoras para investigá-las).

Uma questão é crucial hoje nas neurociências, segundo Sejnowski: se cada vez fica mais claro que o cérebro é um sistema tão dinâmico e flexível, como é possível haver simultaneamente estabilidade a longo prazo? Como é possível que, em um cérebro com sinapses sendo modificadas o tempo todo, possamos reter memórias de episódios ocorridos há décadas, com detalhes minuciosos de informações que somos capazes de recuperar? Vale a pena assistir a esta entrevista, na qual este grande cientista explora diversas questões atuais sobre o desenvolvimento e as implicações das pesquisas em neurociências.

Referências:

[1] Brenner, S., & Sejnowski, T. (2011). Understanding the Human Brain. Science, 334 (6056), 567-567 DOI: 10.1126/science.1215674

Como adivinhar de verdade o que alguém está pensando

Lendo pensamentos no cérebro

Quem nunca brincou de tentar adivinhar o que outra pessoa estava pensando? Será que conseguiremos algum dia pedir para alguém pensar em alguma coisa e então adivinhar, sem que a pessoa fale absolutamente nada? Ao que parece, os primeiros passos para isso acontecer estão sendo dados pelo pessoal do Gallant Lab, na Universidade da Califórnia, Berkeley.

Eu já havia traduzido um texto aqui no blog comentando sobre o artigo publicado na revista Current Biology onde o pessoal deste laboratório conseguiu, a partir de registros da atividade neural dos participantes, reconstituir de maneira aproximada as imagens que os participantes observavam. Neste link, tem o vídeo comparando as reconstituições obtidas com as imagens que de fato os participantes olharam.

ResearchBlogging.orgDesta vez, os destemidos membros deste laboratório publicaram um estudo na revista PLoS Biology onde eles conseguiram, novamente a partir da atividade neural, reconstruir palavras nas quais os participantes estavam pensando. Em outras palavras, eles conseguiram adivinhar a palavra que a pessoa estava pensando só a partir da atividade elétrica do cérebro dos participantes! Sim, é isto mesmo, você não está lendo nada errado!

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Annie Paul: O que aprendemos antes de nascermos

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Nesta provocante palestra do TED, Annie Murphy Paul apresenta uma área de pesquisa chamada de fetal origins (origem fetal), interessada em estudar as capacidades de aprendizagem humana durante o período de gestação no útero. Já não bastasse a extrema complexidade que caracteriza a relação entre cultura e herança genética no desenvolvimento dos seres humanos a partir do nascimento, esta área de pesquisa ainda vem nos mostrar evidências de processos de aprendizagem muito básicos que, aparentemente, ocorrem enquanto estamos no útero de nossas mamães, preparando-nos para o ambiente que iremos enfrentar! A área tem reunido evidências nas últimas duas décadas de que os 9 meses de gestação são cruciais para a saúde posterior das pessoas e é um período de férteis experiências sensoriais uterinas que influenciam várias características posteriores, como a preferência alimentar, a  saúde, a inteligência e a aprendizagem da língua de sua cultura. Annie Paul lançou em 2010 o livro Origins, onde apresenta um panorama dos principais achados desta interessante linha de pesquisa. Para quem quiser legendas em inglês, espanhol ou português de portugal para o vídeo, recomendo que vejam o vídeo no próprio TED.

A Gentileza de Estranhos

Fonte: Project Syndicate

Autor: Paul Bloom

Tradução: André Rabelo

Porque somos gentis com estranhos?

Eu admito que esta seja uma maneira incomum de ver o mundo, mas, ao ler o jornal, eu fico constantemente impressionado com a extensão da gentileza humana. A mais nova boa notícia vem do Centro sobre a Riqueza e Filantropia no Boston College, que estima que os americanos vão doar cerca de $250 bilhões em contribuições individuais de caridade  em 2010, muitos bilhões a mais do que no ano passado.

Pessoas doam seu sangue a estranhos, viajam em missões humanitárias para lugares como o Haiti e o Sudão e arriscam suas vidas para lutar contra a injustiça em outros lugares. E nova-iorquinos têm crescido acostumados a ler sobre heróis do metrô – bravas almas que saltam em direção aos trilhos para resgatar passageiros e então frequentemente somem, inconfortáveis com a atenção ou o crédito.

Como um psicólogo, eu sou fascinado pela origem e as consequências de tal gentileza. Alguns de nossos sentimentos morais e motivações morais são o produto da evolução biológica. Isso explica porque nós somos frequentemente gentis com a nossa própria carne e sangue – aqueles que compartilham nossos genes. Isto também pode explicar nossas ligações morais com aqueles que vemos como membros da nossa tribo imediata. Continue lendo…