Ciência Cognitiva da Religião

Fonte: Bule Voador

Autores: Daniel Gontijo e André Rabelo

A Ciência Cognitiva da Religião (CCR) baseia-se nas ciências cognitivas e nas abordagens evolucionistas, trazendo a proposta de explicar o pensamento e o comportamento religioso a partir de teorias que gerem hipóteses testáveis. O psicólogo Justin L. Barrett (2011), entusiasta da CCR, explica que “características universais da mente humana, interagindo com seus ambientes social e natural, informam e restringem o pensamento e o comportamento religiosos”. “Adicionalmente”, prossegue Barrett, “a CCR considera de que forma fatores religiosos, culturais e ambientais particulares estendem ou modificam tendências cognitivas naturais”.

Simpósio Internacional de Filosofia da Biologia

Fonte: Evolucionismo

Autor: André Rabelo

 

Recentmente a UnB sediou o Simpósio Internacional de Filosofia da Biologia, organizado pelo professor Paulo Abrantes do departamento de filosofia da UnB. Eu tive o privilégio de participar de dois dos três dias do Simpósio, e trago aqui um breve relato das discussões que mais me interessaram.

Anteriormente ao simpósio, houve a publicação no começo desse ano do livro Filosofia da Biologia. Pesquisadores internacionais e nacionais, tanto biólogos como filósofos, integram os colaboradores do livro assim como boa parte deles também foram palestrantes no simpósio, juntamente com outros pesquisadores convidados.

De um modo geral, as comunicações dos palestrantes estimularam e ilustraram uma visão muito clara e enfatizada pelo professor Abrantes: ciência e filosofia estão intimamente atreladas, uma tendo contribuições fundamentais para oferecer avanços à outra. Não me refiro aqui à óbvia relação histórica entre ambas, mas à atual de dependência entre elas. A ciência necessita de uma discussão filosófica que esclareça seus problemas de investigação e que facilite a sua construção teórica através de uma ênfase na clareza e na lógica do uso de seus conceitos e de suas teorias. A filosofia precisa usar o conhecimento produzido pela ciência se quiser ter avanços em suas investigações, do contrário ela perde uma grandiosa contribuição. Continue lendo…

Psicologia Evolucionista

Porque o ser humano é capaz de atos tão heróicos, mas também de outros tão cruéis? Porque fazemos sexo e fazemos guerra? Como indagava o grande Cazuza, porque que a gente é assim?

No final da década de 1980, pesquisadores de diversas áreas interessados no comportamento humano começaram a se perguntar se a teoria da seleção natural de Darwin poderia ajudar a responder esse tipo de pergunta, fundando uma das áreas mais influentes e importantes da psicologia atualmente – a Psicologia Evolucionista.

Darwin, ciente das implicações de sua teoria, conclui o seu livro A Origem das Espécies prevendo que “a psicologia será baseada em novos alicerces”. Provavelmente devido ao receio das reações que o seu provocativo livro causaria, Darwin não explorou muito a questão neste livro. Em livros subsquentes como A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais e A Origem do Homem e a Seleção Sexual, Darwin trouxe evidências que indicavam a importância de sua teoria para a compreensão da natureza humana.

Muitas questões levantadas por ele ficaram em aberto e só foram retomadas por volta de 100 anos após a publicação de A Origem das Espécies com o advento da Etologia, da Sociobiologia, da Ecologia Comportamental e, mais recentemente, da Psicologia Evolucionista. Boyer e Heckhausen (2002) consideram a Psicologia Evolucionista como um dos mais importantes desenvolvimentos recentes nas ciências do comportamento. Continue lendo…

Seleção x Sorteio

Fonte: Folha Biológica

Autor: Rubens Pazza

Definitivamente, evolução não ocorre ao acaso. Mas afinal, o que torna a evolução biológica não aleatória?

Sem mesmo cunhar o termo “Evolução”, Darwin nos explica que as espécies sofrem mudanças ao longo das gerações, e que um processo chamado de “seleção natura” atua escolhendo os indivíduos que transmitirão suas características aos descendentes. Em outras palavras, a seleção natural determina quem viverá o tempo suficiente para se reproduzir, através do instinto básico de perpetuação da espécie.

Ora, se há uma seleção, não pode haver aleatoriedade. Não existe seleção “ao acaso”. Tomemos um exemplo: toda semana, inúmeras pessoas escolhem seis números que imaginam (e esperam) que sejam escolhidos dentre 50 em um determinado jogo da loteria. Caso acertem, recebem uma soma em dinheiro. Em um local apropriado, há uma urna contendo 50 bolas que representam os 50 números do jogo. Dessa urna retiram-se seis bolas, completamente ao acaso. Nenhum fator específico força a saída de um número da urna em detrimento de outro. Ou seja, os números são sorteados, tirados da urna aleatoriamente, um a um. Jamais diríamos que seis números selecionados, mas sim, que foram sorteados. Continue lendo…

Inato x Aprendido (Parte 2)

Autores: André Rabelo e Felipe Novaes

Texto também publicado no Blog NERDWORKING

A rejeição contemporânea da natureza humana tem a ver com o medo da desigualdade, do racismo, da guerra e da violência, visto que durante o século XX algumas explicações biológicas foram (mal) forjadas por pessoas para justificar idéias eugenistas e racistas.

Portanto, tais receios não são totalmente injustificáveis, visto que movimentos como o nazismo, por exemplo, ficaram conhecidos por fazer uso de explicações supostamente biológicas (como a noção de raça superior que deveria dominar), de uma forma totalmente deturpada para cometer atrocidades.

O problema é que estas preocupações que se pautam exageradamente no passado acabam ignorando a proposta atual da utilização de explicações biológicas, que é diferente da que foi feita, de forma distorcida e desonesta, no passado por certas figuras políticas.

A própia biologia se encarregou de demonstrar que somos todos primos, unidos pela mesma árvore da vida, sendo que diferenças superficiais como a cor da pele ou o formato dos olhos não podem dizer quais são os nossos potenciais nem as nossas características fundamentais, muito menos a nossa função social. Dois avanços importantes na teoria genética ajudaram a desmisitifcar o determinismo genético (Gould, 1991): a idéia de herança poligênica e a falta de diferenciação genética entre humanos. Essas duas idéias podem ser resumidas, respectivamente, da seguinte forma: as características humanas são o resultado da participação de vários genes juntamente com um “exército de efeitos interativos e ambientais” (Gould, 1991); as diferenças genéticas entre indivíduos das diversas raças humanas são extremamente pequenas, ou seja, não existem “genes raciais” que diferenciem uma raça da outra.

A antipatia à explicações biológicas, ironicamente uma “herança” do debate entre o que era inato ou aprendido, surgiu principalmente por conta de idéias como o darwinismo social, o determinismo genético e a frenologia. Continue lendo…

Inato x Aprendido (Parte 1)

Autores: André Rabelo e Felipe Novaes

Texto também publicado no Blog NERDWORKING

Desde a Grécia antiga até os dias de hoje, uma idéia tem tido grande influência na discussão acerca da natureza humana – a dicotomia entre comportamentos inatos e aprendidos ou explicações biológicas e culturais do comportamento, o que ficou conhecido com o debate nature or nurture, natureza ou criação, inato ou aprendido.

Este debate acalorado teve seu auge na metade do século passado e seu período mais crítico durou cerca de 20 anos, apesar de muitos ambientes acadêmicos ainda enfrentarem este fantasma, fruto de uma antiga disputa que misturou posições ideológicas e políticas com científicas.

De um lado, sociobiólogos e etólogos afirmavam que grande parte dos comportamentos eram inatos; do outro, pesquisadores das ciências sociais e psicólogos behavioristas defendiam que a maior parte dos comportamentos (ou todos) eram aprendidos. Continue lendo…

Perspectivas Evolucionistas Acerca da Religião

Muitas pessoas buscaram explicações para a natureza da religião – porque ela é tão comum em grupos humanos e porque ela parece ser “natural”, já que é encontrada em tantas sociedades e tribos?

Afinal de contas, muitas religiões estimulam comportamentos de alto custo reprodutivo, como atentandos suicidas (e.g. homem-bomba), mutilação genital e o celibato (Bulbulia, 2007). Além disso, alguns rituais religiosos exigem sacrifício de recursos e são exaustivos, perigosos, dolorosos e cansativos.

E se deus não existir, como muitos pensam, as pessoas que acreditam nele estão sistematicamente errando os seus julgamentos acerca do mundo e a seleção natural deveria ter reduzido ou eliminado tendências religiosas, pois entender o mundo de forma errada normalmente incorre em custos altos (e.g. não perceber que um tigre está vindo na sua direção ou pensar que deus  irá protegê-lo do tigre).

Algumas das explicações mais comuns fazem referência à necessidades humanas críticas, como a vontade de evitar infortúnios, a morte ou de compreender o universo, mas muitas destas explicações se baseiam em noções erradas sobre religião (Boyer, 2003) e não possuem evidências advindas de testes empíricos. Continue lendo…

A Natureza Humana – Entre o Amor e a Guerra

Uma série de vídeos  foi produzida em 2010, patrocinada pela The Leakey Foundation, onde os primatologistas Frans de Waal e Richard Wrangham, assim como o psicólogo Steven Pinker, discutem a natureza humana. Os vídeos exploram perguntas como: Somos pacíficos ou agressivos por natureza? Tendemos a criar conflitos ou a cooperar?  Macacos possuem um senso de “justiça”? O que ocorre quando o poder é concentrado em um indivíduo ou uma nação? Continue lendo…

The Changing Ape

The Changing Ape (algo como O Macaco Mutante ou que se modifica) foi um documentário produzido em 2010, onde a antropóloga Jill Pruetz, que por 9 anos se dedicou a estudar uma população de Chimpanzés em Fongoli, no Senegal, compartilha achados importantes que, segundo ela, podem reescrever o nosso entendimento do que é ser um humano e ser um chimpanzé.

Pruetz fez muitas filmagens que revelam comportamentos inesperados desses chimpanzés. A caça, a cultura, a diversão e o manuseio de ferramentas foram por muitos tempo aspectos considerados como delimitadores que separavam nós dos outros animais. Os dados que Pruetz relata e ilustra nas filmagens bota em questionamento o quanto esses aspectos realmente nos diferenciam, visto que muitos deles puderam ser observados nos chimpanzés de Fongoli. Continue lendo…

O Derradeiro Homem

O Derradeiro Homem – A Raça Humana (Last Man Standing: The Human Race) é um documentário produzido pela National Geographic em 2006. O documentário buscou divulgar novas evidências sobre a origem do homo sapiens. As imagens que ilustram nossos ancestrais são constantes e intercaladas com relatos de pesquisadores que fizeram descobertas de importantes evidências.

O documentário descreve as pressões ambientais que nossos ancestrais enfrentaram e os caminhos a que essas pressões levaram eles. Enfatiza-se também a incrível adaptabilidade dos nossos ancestrais a diferentes ambientes e o papel que a cooperação teve no desenvolvimento deles. Continue lendo…