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Luzes misteriosas na Cordilheira dos Andes

Nem preciso dizer que adoro observar paisagens naturais e fenômenos da natureza – deve dar para perceber de acordo com o que post aqui no blog, não? Gosto de ver as nuvens carregadas de chuva se formarem, a chuva cair, os meteoros passarem, os plânctons brilharem… Esse estado de contemplação esvazia a minha mente, chega a ser uma espécie de meditação – tente também. Bom, como observar as estrelas é uma das minhas pirações preferidas, quando estava, literalmente, no meio da Cordilheira dos Andes, em dezembro no Chile, saí do chalé onde pousava durante a noite para voltar os olhos ao céu.

Reflita comigo: um lugar alto como aquele onde as instituições instalam telescópios deve ter uma boa vista. Era fato. Nunca vi um céu tão estrelado. Lá entendi porque, antigamente, nossos antepassados viam cinturões, ursos, todos os representantes do zodíaco, etc, formados por estrelas. Naquela fresta entre as copas das árvores da pousada e as gigantescas encostas pude observar estrelas com diversas intensidades de brilho e aparentando vários tamanhos. Eram muitas, incontáveis, como as cartas recheadas do céu. Porém, além dessa bela surpresa, meu respectivo e eu tivemos outra tão interessante quanto – se não mais pelo mistério.

 

Enquanto entortávamos nosso pescoço encantados com aquele infinito de estrelas, vimos alguns clarões no céu. Verdade seja dita. Ele percebeu primeiro e chamou a minha atenção. Eu respondi que era impressão. Até que, observando de novo, vimos vários clarões. Não havia barulho como de trovão, nem raios, apenas uma espécie de flash iluminando o céu. Um atrás do outro, espaçadamente – por minuto, uns dois ou três. No dia seguinte, sem falarmos nada sobre o assunto, nosso guia contou em tom de novidade: “Aqui em Cajón del Maipo [a região da Cordilheira], toda noite lá pelas onze horas é possível observar luzes diferentes iluminando o céu”. “Nós vimos!”, dissemos empolgados. “E o que são essas luzes?”, claro que emendei a pergunta.

O simpático chileno não tinha certeza e elaborou uma interessante tese. Para ele, as Cordilheiras com suas montanhas repletas de variados minérios esquentam com os raios solares. Durante a noite, elas liberam o calor dos minérios emanando luzes. Em busca de uma explicação, conversei com poucos amigos pesquisadores e recorri ao Google. Nada. Será que alguém aí conhece a chave desse enigma? Kentaro Mori, do 100nexos, poderá nos ajudar? De qualquer maneira, uma lição óbvia da história: preservar a natureza nos dá a chance de nos encantamos com seus caprichos. Pense nisso e aproveite para pasmar observando o que ela oferece.

Tenha uma boa semana – e aguarde mais posts sobre o Chile, sobre pedaladas em Campos do Jordão (SP), vídeos dos plânctons de São Sebastião (SP) e palmas para o aniversário da cidade de São Paulo!

 

Obs.: As montanhas da foto têm mais de quatro mil metros de altura, pena que não dá para perceber… Estávamos andando de carro no vale. Do lado esquerdo, cerca de 500 metros abaixo de nós corria o rio El Volcán. E, sim, mais para frente era possível ver o vulcão San José. Vou postar foto dele aqui!

Com a cabeça nas nuvens

Adivinhe onde tirei esta foto? Na varanda da minha casa (suspiro). Aliás, a primeira coisa que faço ao chegar no apartamento é abrir a cortina – faça chuva ou sol, seja dia ou noite. Tenho necessidade desse respiro profundo: admirar a Serra da Cantareira, observar a mudança de tempo e do clima, ver a vida. Sinto que a maioria dos moradores de grandes centros urbanos, ou seja, mais da metade da população do país, perde essa relação com a natureza por vontade própria ou sem querer.

Por exemplo… Há alguns anos, seguia pelas estradas no interior do Mato Grosso do Sul rumo ao ocidente. Meu destino final era a cidade de Bonito. Lembro direitinho daquela paisagem como se fosse ontem: plantação rasteira de soja em ambos os lados, rodovia de mão dupla quase sem curvas que parecia infinita e, elevando os olhos um pouco acima do horizonte, o céu azul claro com nuvens salpicadas. Este era um espaço amplo, livre da interferência de extensas e unidas construções.

 

Minha tia compartilhou os seus pensamentos: “Nossa! Há quanto tempo não vejo um céu assim, infinito?” Ela – e todos nós naquele carro – ficou admirada. Mesmo morando no Rio de Janeiro, cidade que tem um lado (o do mar) com o horizonte de certa maneira livre, naquele momento sentiu e percebeu que falta o céu nos faz.

 

Eu vou perder a vista observável a partir da minha varanda – é verdade que ganharei outras condições como um parque e mais movimento de pessoas no espaço público. Por enquanto, sigo admirando o máximo possível os tons de azul que mudam a cada dia, as nuvens, as montanhas, a chuva, o sol, o clima, o tempo. É importante ter o pé no chão, mas jamais quero perder o meu céu.

Baía de Guanabara contra águas e morros?

Este é um post no estilo: você sabia? Ao menos 15% da Baía de Guanabara, aquela coisa linda circundada por cidades como Rio de Janeiro e Niterói, foi aterrada desde a “descoberta” do Brasil. Uma famosa obra do tipo é o aterro onde está inserido o Parque do Flamengo – delicioso ficar pasmando nele admirando o Pão-de-Açúcar. Bom, apesar de sua beleza, qual o limite para tal ocupação? Há muitas “estórias” para refletirmos sobre as alterações feitas por nós na paisagem.

 

Segundo um pessoal da Fiocruz, localizada no bairro de Manguinhos, antigamente o mar chegava até a avenida Brasil (veja no mapa), umas das vias expressas mais importantes de entrada da Cidade Maravilhosa e que possui a péssima fama de ser perigosa devido aos tiroteios. Também já ouvi e li rumores de que praias como a do Botafogo e Copacabana sofreram com a interferência humana.

 

Talvez a história mais triste sobre aterros na Baía de Guanabara diz respeito ao Aeroporto Santos-Dumont. Existe um bairro, no centro do Rio, chamado Castelo que ainda hoje é conhecido por alguns como “Morro do Castelo”. O local era histórico. De acordo com notícias publicadas em jornais, foi nesse morro que os portugueses, em 1500 e bolinhas, se abrigaram após expulsarem os franceses da cidade (aliás, dizem que o “r” carioca é pronunciado puxado devido ao sotaque francês). Então, foi ali que a cidade se estabeleceu.

 

Assim, vários edifícios históricos foram construídos desde a época dos jesuítas e se mantiveram de pé até o começo de 1900 – entre eles, uma fortaleza que inspirou o nome dado ao morro. Até que, nos anos de 1920, o morro foi ladeira abaixo. Sob o pretexto de melhorar a circulação de ar na cidade para as comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil, o prefeito Carlos Sampaio mandou demolir o local.

 

Aquele montão de terra tirada de lá foi usado, entre outros, para aterrar a área do Aeroporto Santos-Dumont. E, assim, a história literalmente se encontrou demolida. Prédios históricos, acidente geográfico natural, residências, lembranças… ao chão – ou no fundo do mar. Valeu a pena? Como disse meu marido, “parece que as pessoas tentam insistentemente deixar o Rio de Janeiro feio, mas mesmo assim não conseguem”. Tomara.