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Carnaval: pode usar glitter?

Está chegando, em alguns locais como na Bahia e nas capitais paulista e carioca já chegou, uma das épocas do ano que mais adoro: o Carnaval! E a cada ano aumenta a polêmica em torno de um brilho muito usado pelos foliões: o glitter. A maioria do glitter é feito de pequenos pedaços de plástico que demoram mais de 400 anos para se decompor. E, por serem tão pequenos, passam direto pelos filtros das estações de tratamentos de esgoto das cidades (quando há tratamento). Assim, caem nos rios e córregos que, mais cedo ou mais tarde, desembocarão no mar. Muitos animais aquáticos como ostras, pequenos peixes e até baleias ingerem esse glitter. Ele pode ser confundido com os plânctons, organismos bem pequenos que fazem parte da base da cadeia alimentar aquática. Então, surge a dúvida: o que usar no lugar do glitter comum? Escolha o glitter biodegradável, que não prejudica o meio ambiente. No Brasil, existe até glitter vegano biodegradável. O problema é que esses produtos ainda são caros. Assim, deixo a dica para quem quer sair ecologicamente purpurinado: use glitter comestível para brilhar. No YouTube, dá para encontrar receitas caseiras. Outra opção é comprar glitter comestível com atenção ao rótulo: ele deve ser livre de plástico e de metais. E bom carnaval!

*Este texto foi falado por esta palpiteira oficial no programa Desperta, da Rádio Transamérica, apresentando pelos queridos Carlos Garcia e Irineu Toledo.  Uma vez por semana, minha coluna vai ao ar por volta das 6h15 da manhã! Geralmente, às quintas-feiras. Beijo!

Foto: Carnaval de 2018/ Isis Diniz

Que tipo de praieiro é você?

Hoje, dia 8 de junho, é comemorado o Dia Mundial dos Oceanos. Você, que como eu ama o mar, manja do ambiente marinho onde estica sua canga e pega sua onda? Vamos ver! Teste seus conhecimentos abaixo.

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  1. O Brasil tem a segunda maior barreira de corais do mundo?a)Verdade, parte dela fica no litoral nordestino.
    b)Verdade, os Corais da Amazônia fazem parte dela.
    c)Mentira, todo mundo sabe que barreira de coral quem tem é a Austrália.
    d)
    Mentira, a segunda maior barreira de coral fica na Flórida, Estados Unidos.
  1. O que é um tsunami?
    a)Uma onda gigantesca que perde pouca energia e pode aumentar de tamanho perto da praia.
    b)Uma onda gigantesca que nasce do mesmo tamanho e segue destruindo tudo.
    c)Indiferente. O que importa é surfar a onda.
    d)Uma onda como as marolas que se acabam na praia, mas por ser maior destrói mais.
  1. Com quantas árvores se constrói uma canoa caiçara “de um só pau”?
    a)
    Pelo menos duas, uma para os bancos e outra para a estrutura. b)Prefiro não responder a esta pergunta capciosa.
    c)
    Com um único tronco esculpido de maneira artesanal.
    d)Com um tronco apenas que também é usado para levantar a vela.
  1. O que é um molusco bivalve?
    a)É um personagem inventado para o desenho do Bob Esponja.
    b)
    É aquela famosa conchinha de duas partes que encontramos na beira do mar.
    c)
    É um animal com duas válvulas que vive no fundo do oceano e se alimenta de invertebrados.
    d)
    É uma espécie de esponja marinha que se fixa nos corais.
  1. Qual a diferença de um siri para um caranguejo?
    a)
    O caranguejo tem duas pinças e o siri tem uma.
    b)O caranguejo tem dez patas e o siri tem oito patas.
    c)O siri tem duas patas traseiras que são como nadadeiras.
    d)Só sei que quem anda para trás é caranguejo.
  1. O que é uma “baía”?
    a)Ô, Meu Rei, é apenas um estado brasileiro.
    b)
    Uma área de terra que avança para o mar e cercada de água por todos os lados.
    c)
    Um eufemismo para uma praia “bonita”.
    d)
    Um acidente geográfico onde o mar é quase todo rodeado por terra.

7. O que são peixes bentônicos?
a)
Peixes que vivem junto ao sedimento marinho.
b)Uma espécie de peixe chamada assim em homenagem ao Chico Bento, da Turma da Mônica.
c)Peixes que se alimentam de algas bentas.
d)Peixes que vivem próximos à superfície do mar.

  1. O que são bancos de algas?
    a)Onde os animais marinhos guardam suas economias.
    b)Um local de refúgio e de alimentação para espécies como cavalo-marinho e tartaruga-marinha.
    c)Algas à deriva que enroscam em embarcações.
    d)Algas que invadem a praia deixando a água colorida.

Gabarito:

1.a 2.a 3.c 4.b 5.c 6.d 7.a 8.b

Se você acertou menos de quatro questões, é mergulhar mais no tema para não morrer na praia!

Se você acertou entre cinco e sete questões, já é quase um surfista na crista da onda.

Se você acertou entre oito e nove, quem sabe com mais braçadas alcança o tesouro do pirata?

Agora, se você acertou tudo, parabéns sereia ou sereio do mar! Seu mar está para peixe!

Saiba mais sobre o ambiente marinho e áreas costeiras acompanhando o trabalho do Instituto Costa Brasilis! Mais teste aqui!

 

 

Já pensou em lagartear sob o Sol?

Toda vez que visito um local paradisíaco natural muito frequentado por humanos em temporadas, mas com pouca ou quase nula fauna silvestre, penso: “Cadê os bichinhos que estavam aqui?” Existiriam animais que ainda frequentam o lugar? Quais seriam? Em qual quantidade? Em quais épocas do ano esses animais vêm para cá? A natureza sempre nos surpreende.

Passei o último fim de semana em São Sebastião (litoral norte de São Paulo) e, já que não tinha compromisso na capital, aproveitei para emendar mais dois dias na praia. Quando tenho a possibilidade de fazer isso é comum me deparar com animais marinhos. Estes devem ficar escondidos – onde? -, enquanto o tumulto toma conta da praia.

Certa vez, quando só avistava no máximo dez pessoas em toda uma praia de cerca de três quilômetros, quase pisei em uma arraia enquanto entrava no mar. Paulistanos sabem o quanto isso é raro aqui no litoral do Sudeste. Em outra ocasião, durante um deslumbrante pôr do sol no qual a maioria dos humanos já havia se evadido da areia, vi duas tartarugas no raso (a água estava abaixo do meu joelho) dançando e se alimentando de restos de vegetais conforme o balanço das ondas.

Muitas outras vezes encontrei siris de diversas cores e estampas, caranguejos rosa-choque, uma quantidade surpreendente de maria-farinha, de mergulhões, de golfinhos, de ermitões, etc. É o que se espera de um ambiente litorâneo, certo? Nem sempre! Desta vez… os lagartos estavam por todas as partes!

Não sei se é época de reprodução, mas na estrada que dá acesso à praia vi um teiú correndo para o meio das árvores. Achei sorte. Até comentamos no carro! Seguimos em frente. Caminhando para a praia, vi mais dois teiús em momentos diferentes e de diferentes tamanhos correndo para o mato. Ok.

https://www.instagram.com/p/BZea_52ge-o/

Na segunda-feira, quando voltamos à areia da praia, notei que ela estava repleta de pegada de lagartos! E um teiú com mais de um metro e meio (não é história de pescador) correu para dentro de uma pequena caverna na praia! Ficamos de tocaia esperando ele sair para vê-lo de perto. Conseguimos!

Em seguida, ao virarmos a cabeça para o caminho que acaba na praia, observamos um teiú pequeno, parecia jovem, correndo e saltando mais de dois metros! Um lagarto sal-tan-do. Nunca vi isso. Mas analisando a anatomia do bicho, um rabo grande e patas com dedos longos, dá para entender que o corpinho deles deve ter se adequado para a modalidade salto à distância.

https://www.instagram.com/p/BZecYg3Aq4Z

Era tanto lagarto tomando sol próximo da gente que até a novidade perdeu a graça. De ambos os lados. Nem mais os lagartos corriam de nós como nem as crianças queriam saber de correr atrás dos bichos para vê-los mais de perto.

Olhando para o lado direito, a moça deitada sobre a canga com o braço protegendo os olhos, e para o lado esquerdo, o lagarto parado nos fitando ao longe, deu para entender a expressão. Lagartear ao Sol. Aliás, o sol estava tão forte, a brisa tão fresca e branda e o céu tão azul que ninguém resistia ao lagartear. Nada melhor para dar aquela esquentadinha no sangue e liberar endorfina. Que o Sol brilhe para todos.

Baleias: elas voltaram!

IMG_8232Reparou que, no último mês, há mais notícias de baleias jubarte sendo avistadas na costa brasileira? Principalmente, vistas de passagem pelos estados da região Sudeste como São Paulo e Rio de Janeiro? Coincidência? Não (na foto, uma réplica de filhote de jubarte, no Projeto Baleia Jubarte, Bahia).

Nesta época, inverno, essa espécie de baleia (Megaptera novaeangliae) sobe o litoral brasileiro até a região da Bahia, onde parem seus belos e gigantes filhotes que nascem com quatro metros e pesam mais de uma tonelada! Lá, no divino estado brasuca, ficam até cerca de novembro amamentando a cria. Quando o filhotinho está mais rechonchudinho, ela volta para as águas frias do oceano em busca de alimento, o krill (um minúsculo camarão).

Devido à proteção delas, sua população está aumentando. Se você for para a Praia do Forte (Bahia), entre julho e outubro, poderá fazer um passeio de barco para avistar esses belos animais – eles ficam cerca de três quilômetros longe da costa. Duas dicas: faça o passeio com agências credenciadas pelo Projeto Baleia Jubarte e em qualquer época visite a organização.

O Projeto oferece visita monitorada no local explicando muita curiosidade sobre os cetáceos (animais dos quais ela faz parte) e há algumas réplicas fabulosas para crianças. É uma visita rápida, mas de intenso aprendizado.

Então, se você é daqueles que só gosta de praia no verão, repense. Se tiver sorte, pode ver maravilhosas baleias dando um “oi” com seus saltos (elas saltam para se livrar dos piolhos, eca) ou batendo suas caldas por aí (é por meio da calda que os pesquisadores sabem qual baleia é, o desenho é como uma impressão digital). Este ano, minha cunhada viu jubarte em São Sebastião. Eu bem que fiquei horas e dias fitando o mar, mas não tive a mesma sorte. Mas já observei pinguins no litoral de São Paulo e de Santa Catarina. <3

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Aliás, outra informação rápida. As jubartes não são as únicas baleias que procuram o litoral do Brasil para procriar. A maravilhosa baleia-franca (Eubalaena australis), aquela cheia de cracas brancas, também sobe até Santa Catarina para ter seus filhotinhos nesta época do ano. E você também pode vê-las saltar sentado na areia (!) ou de barco (a foto acima e abaixo tirei de uma franca na África do Sul – se for para lá, tenho muitas dicas de passeio para parques).

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Por fim, última curiosidade: você sabe como as baleias e golfinhos dormem? O porquê deles não fecharem os olhos? Pois descobri lá no Projeto Baleia Jubarte. Os lados direito e esquerdo do cérebro desses animais são separados. Na hora do sono, eles “desligam” um dos lados, enquanto o outro mantém atividades básicas de sobrevivência como não deixar afundar. Incrível, né?

Bom, eu pretendo fazer mais aparições por aqui. Espero conseguir. A maternidade e a experiência do meu trabalho na Iniciativa Verde me trouxeram mais repertório e uma nova maneira de ver a vida. Um beijo desta amante dos cetáceos. Vamos falar baleiês!

Conhece o gigante bambu do mar?

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Já ouviu falar sobre o gigante bambu do mar? Ele vive em alguns locais com águas frias do sul do planeta como no litoral da África do Sul. Pode ser encontrado jogado na areia, geralmente, arrancado pela força das ondas do mar. Mas sua beleza se realça quando um bambu vive ao lado do outro formando uma misteriosa floresta aquática. E, assim, percebemos que a natureza é superlativa na África até debaixo da água.

Conheça o único fiorde brasileiro

Ando meio sumida por aqui, né? Por enquanto, farei posts mais espaçados devido ao tempo dedicado ao trabalho (http://revistapesquisa.fapesp.br/) e a outros projetos tomara rentáveis – preciso pagar o financiamento no fim do mês! Mas saiba que assuntos para compartilhar não faltam. Por exemplo, você já ouviu falar sobre o único “fiorde” brasileiro?

Em junho, viajei com amigos para o Saco do Mamanguá, em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. O local é conhecido por ser o único “fiorde” brasileiro – fiorde é uma formação geológica em que o mar passa entre altas montanhas. A paisagem é comum em países próximos à Antártida ou ao Ártico como a Noruega e a Nova Zelândia.

Segundo uma matéria na revista Mundo Estranho, essas formações foram criadas pela ação do degelo. Há milhares de anos, quando a temperatura do planeta esquentava, a água derretida avançava pelo vale “cavando” ainda mais a terra. Resultado: nesses locais, as montanhas são altíssimas e a água pode ter mais de um quilômetro de profundidade.

Logo… não existe fiorde no Brasil. De acordo com um “informativo sobre o Saco do Mamanguá” que recebi dos donos da casa que alugamos – fino, não? -, o local é uma formação conhecida como “ria”, ou seja, um leito de rio que foi invadido pelo mar. Mesmo assim, o Mamanguá é incrível.

Imagine um braço de mar com água transparente, calma e com tons que variam do verde-esmeralda ao azul-calcinha. Esse braço de mar avança entre duas cadeias de montanha de 11 quilômetros de comprimento e recobertas pela Mata Atlântica bem preservada. Ao fim do braço de mar, uma cachoeira desagua no mangue. Ah, detalhe, a areia das praias é dourada.

Em frente à casa alugada, entre o íngreme morro e o mar, duas tartarugas-marinhas todo dia colocavam o rosto para fora da água – lá a profundidade máxima é de 9 metros no centro do braço de mar. Para atravessar de uma margem à outra, bastavam alguns minutos remando em uma canoa – a distância entre as margens opostas deve ser de um quilômetro ou mais.

Bom, cerca de 100 famílias caiçaras vivem no Mamanguá – entre as salpicadas mansões. Os habitantes prestam serviços para os turistas e aos donos das casas – como fazer o transporte das pessoas para o local usando barcos, já que é inacessível de carro -, pescam e praticam a agricultura de subsistência, o extrativismo e o artesanato.

Duas unidades de conservação se sobrepõem na região: Área de Preservação Ambiental de Cairuçu (em âmbito federal) e a Reserva Ecológica da Juatinga (estadual). Detalhe: os barulhentos jet-skis não são bem-vindos no lugar onde a Bella e Edward, protagonistas do hit adolescente Crepúsculo, passaram a lua de mel.

Conheça os plânctons!

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Depois de muitas tentativas frustradas, consegui filmar os plânctons – organismos bem pequenos que vivem na coluna de água do mar – dos quais tanto falo por aqui. Eles impressionam. Quando agitamos a água, esses organismos (algas, larvas, pequenos animais) emitem uma luz própria. Em alguns locais mais preservados do litoral brasileiro, como no Saco do Mamanguá, os plânctons emitem luz com a quebra das ondas e quando um peixe ou outro animal marinho faz movimentos bruscos sob a água. A luz emitida por eles forma círculos e pontos no mar como se fossem fogos de artifício. Apaixonante.

Existe apenas 10% da vida marinha no Rio?

No feriado de Corpus Christi, peguei um barquinho – cujo quase todo o casco permanece dentro da água e mal tem espaço para uma pessoa sentada sem bater a cabeça na lona azul que o recobria – e fui embora feliz da vida para um lugar onde não chega sinal de celular. Aliás, e nem energia elétrica. Após suportar o vento com chuvisco soprado do Sul por cerca de 45 minutos, desembarco no Saco do Mamanguá, em Paraty. Não sei se o lugar é um vilarejo, afinal, havia mansões e casinhas de pescadores separadas por trilhas por todo o local – depois escrevo um post sobre a incrível geologia de lá para entender melhor esse salpicado de construções.

Visualmente, o Saco do Mamanguá parece um lugar intocado. Sua vasta e densa mata, os altos morros que acabam no mar, a água azul-clara e verde-esmeralda, as pequenas faixas de areia dourada-clara me levaram longe. Lembraram paisagens asiáticas de países como o Vietnã. Um lugar naturalmente imponente. Talvez, por isso mesmo, difícil de ser domado pelo homem. A única vendinha ficava distante cerca de 20 minutos por trilha – ou, dependendo da direção e velocidade do vento, 5 minutos remando – da casa onde me hospedei com amigos. Bom, resolvemos encarar o barro para explorar a mata, vislumbrar as paisagens e comprar mais velas e frutos do mar direto do pescador.

 

Escolhemos alguns quilos de peixes. Enquanto a moça limpava, por quase 20 minutos aprendi mais sobre meteorologia e sobre a natureza com um senhor de 79 anos. Esperto, há cerca de 50 anos tem sua mesma casa privilegiada de frente para o mar e pretende continuar por ali mesmo, longe da bagunça dos grandes centros urbanos que ele conhece bem. Atentamente, eu olhava nos olhos profundos e vividos do senhor, hoje, ex-pescador e dono da vendinha. Ele dizia que o sol apareceria quando voltar a ventar novamente do Sudoeste e, passado um tempo, começar a entrar vendo do Leste – foi o que aconteceu no domingo. Ele tinha razão.

 

Deixamos o céu, focamos no mar. Nós, moradores de São Paulo, ficamos com vontade de comer camarão e lula. Porém, a quantidade muito pequena disponível para a venda não daria para alimentar todas as bocas da casa que alugamos. O senhor contou que, nos últimos 20 anos, ele viu despencar o número de peixes e de frutos do mar pescados. Antes, com a água no joelho, pegava peixes de 16 quilos. Agora, não há nada de consistente no raso. Nós pudemos observar tartarugas, siris e peixes “bebês”. Perguntei o quanto a vida marinha diminuiu na região. “Hoje em dia, pesco 10% do que pegava há 50 anos”, disse. “10%”, repeti, inconformada, na esperança de ter ouvido errado. “Isso.”

 

Ele disse que a pior queda aconteceu nos últimos 20 anos. Listou ao menos cinco espécies de peixes que nunca mais viu no local. Para o ex-pescador, a pesca indiscriminada dos cardumes – sem deixar um peixe no mar para contar história – foi uma das causas do problema. Ele também falou sobre o defeso do camarão, quando sua coleta é proibida no Sul e Sudeste entre os meses de março e maio devido à época de reprodução do animal. Contou que no fim do ano o camarão também se reproduz e teceu uma vasta argumentação técnica alegando que deveriam haver dois defesos. Infelizmente, não tenho informações científicas para confirmar ou refutar a queda na pesca e o breve causo do defeso – se você tiver, deixe nos comentários. Espero que tudo isso não passe de história de pescador.

Quando os barcos olham para o Sul

O cotidiano de quem mora em ilhas – com exceção de algumas como Florianópolis e Manhattan, claro – é bem diferente se comparado ao dia a dia daqueles que vivem em centros urbanos. Os habitantes têm uma relação mais próxima com o meio ambiente que o cerca e tem noção que dependem diretamente da natureza. Por exemplo, é comum as operadoras de turismo cancelarem passeios quando o mar está “mexido” (agitado demais). Infelizmente, nesses casos, alguns pescadores se arriscam devido às suas condições econômicas. De qualquer maneira, os habitantes, de modo geral, percebem quando é melhor fincar o pé em terra firme. E, assim, para garantir a própria preservação naquele ambiente isolado, colocam em prática os conhecimentos empíricos – aqueles adquiridos pelas experiências cotidianas.

No feriado do dia primeiro de maio, durante o café-da-manhã eu observava os barcos ancorados na Vila do Abraão, Ilha Grande, em Angra dos Reis. Fazia frio e o céu estava coberto de nuvens. O fracês dono da pousada percebeu meu olhar de dúvida perdido no horizonte. Chegou à mesa em que estava sentada com meu marido: “Os barcos estão olhando para o Sul”. Era verdade, a frente dos barcos estavam voltadas a esse ponto da rosa dos ventos. “Isso significa que está vindo uma frente fria”, explicou. E, com base no movimento dos barcos, completou a previsão do tempo: “Hoje vai ser frio e chegará mais chuva”. Acertou, mas mesmo assim aquele sol ardido de chuva mostrou as cores completamente transparente das águas e a area dourada.

 

Eu, que sou toda mar, comecei a reparar com outros olhos a dança dos barcos. Quando eles estão presos pela âncora ou amarrados por um só ponto, se movimentam sobre as águas, principalmente, de acordo com a velocidade e a direção do vento. Por isso que em uma baía é raro uns se chocarem com os outros mesmo ancorados lado a lado. Para algumas pessoas, essa história pode parecer boba. Afinal, já temos diversas instituições pesquisando sobre meteorologia e divulgando na internet as previsões do tempo. Não desmereço o trabalho deles, ao contrário, admiro. Mas não deveríamos perder a conexão com o meio ambiente que nos cerca. Seja em Manhattan, seja em Ilha Grande.

Tenha um dia colorido

 

O poético cenário acima foi fotografado no dia 1º de maio, na Vila Abraão, em Ilha Grande (Angra dos Reis). Os dois arco-íris apareceram para nos despedir horas antes de deixarmos a ilha da fantasia e voltarmos à nossa realidade no continente. Como paisagens encantadoras nunca são demais, compartilho essa beleza da natureza com um desejo de bom dia para você.