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O Pablo e o mar

Aqui estão duas, hoje e amanhã, breves dicas para quem aproveita o carnaval para programar viagem ainda sem destino ou ao hermano Chile. A primeira delas é o museu Isla Negra, localizado na cidade litorânea El Quisco – apesar do nome, ele não está instalado em uma ilha. Fiquei emocionada ao visitá-lo por ser uma das casas do poeta Pablo Neruda e por sentir pertinho a proximidade do escritor com o mar. Relação que já conhecia por meio de seus livros, mas pessoalmente se revelando uma surpresa marejada.

Pablo Neruda amava o mar e sentia por ele um grande respeito. Brandava ser um marinheiro em terra firme. No quintal de sua casa encravada em uma praia pedregosa, com o constante estrondoso barulho das ondas se chocando contra elas, colocou um velho barco comprado em certa ocasião. Nunca levou-o de volta às águas, dizia que não precisava. Gostava de beber com os amigos sentado em seus bancos e, ao levantar, já saía mareado da embarcação.

Dentro de todos os cômodos da “casa-barco” repleta de personalidade, reutilizava diversos objetos principalmente remetentes, claro, ao mar como as esculturas inseridas na frente das embarcações – não lembro o nome dado a elas em português, em espanhol se chamam “mascarón de proa”. Vou me segurar nos detalhes sobre a decoração para evitar estragar as surpresas. Apenas ressaltar que, para Neruda, as residências deveriam ser lúdicas. E destacar sua consciência ambiental já naquela época, antes da década de 1970.

Certa vez, ao observar um dia agitado do mar, o poeta viu um objeto boiando próximo às pedras. Pediu a Matilde, sua última esposa, ajuda para retirar o que se relevou um pedaço maciço de madeira. “O mar me deu de presente o tampo de uma mesa”, disse. Depois de muito esforço, o casal levou para dentro de casa a peça a ser instalada em seu escritório caseiro.

Essas são poucas – e descritas neste post de maneira muito simples para um poeta tão grandioso – de muitas impressões e histórias guardadas em minha memória após visitar o abrigo de Neruda e ler as suas obras. Sua vida é um exemplo de respeito ao meio ambiente, amor às artes e compaixão ao próximo. Se tiver oportunidade de visitar sua residência que hoje é o museu Isla Negra, agarre-a firmemente.

Enquanto isso, do meu “apartamento-barco”, esta simples mortal que agora, mais ainda, se sente parte de uma versão feminina do poeta – alguém que me entende -, resiste a mostrar para outros os poemas que escreveu relacionados ao tema e deixa um registro do legado de Neruda para você se marear com ou sem o balanço das ondas:

El mar

 

Necesito del mar porque me enseña:
no sé si aprendo música o conciencia:
no sé si es ola sola o ser profundo
o sólo ronca voz o deslumbrante
suposición de peces y navios.
El hecho es que hasta cuando estoy dormido
de algún modo magnético circulo
en la universidad del oleaje.
No son sólo las conchas trituradas
como si algún planeta tembloroso
participara paulatina muerte,
no, del fragmento reconstruyo el día,
de una racha de sal la estalactita
y de una cucharada el dios inmenso.

 

Lo que antes me enseñó lo guardo! Es aire,
incesante viento, agua y arena.

 

Parece poco para el hombre joven
que aquí llegó a vivir con sus incendios,
y sin embargo el pulso que subía
y bajaba a su abismo,
el frío del azul que crepitaba,
el desmoronamiento de la estrella,
el tierno desplegarse de la ola
despilfarrando nieve con la espuma,
el poder quieto, allí, determinado
como un trono de piedra en lo profundo,
substituyó el recinto en que crecían
tristeza terca, amontonando olvido,
y cambió bruscamente mi existencia:
di mi adhesión al puro movimiento.

Pobreza, exploração e beleza do interior do Ceará

DSC_0033.JPGVoltando ao Rally dos Sertões – a viagem ainda vai render muitos posts, de certa maneira, atemporais… As cidades mais miseráveis – no sentido literal da palavra – pelas quais passei durante a competição ficavam nos estados do Ceará e do Maranhão.
Não era um interior “pobremente digno” – a pobreza em sua simplicidade. Porém, um interior que parecia uma periferia. Triste de ver. O interior do Ceará – nos momentos em que eu conseguia ficar acordada, já que estava exausta chegando ao final da viagem, choca mesmo quem viu de perto a pobreza em outros estados ou as favelas – o maranhão também é revoltante, diretamente, voltada à política – uma materinha sobre isso publiquei no Yahoo!.
interior ceara.JPGA natureza do interior estava bem seca. Desértica. Só que, ao mesmo tempo, era linda. Algo que nunca tinha visto antes – fotos aqui no Flickr do Yahoo! Notícias. Difícil descrever – parecia Marte com plantas. O solo era seco com pedregulhos, as árvores baixas com verde-escuro e havia algumas esparsas motanhas. Sem contar os rios intermetentes que estava secos. Era até engraçado, não fosse trágico, passar por uma ponte que se dizia sobre um rio que não existia naquele momento.
Adendo. Com exceção, o Parque Nacional de Ubajara – que merece um post a parte. O lugar lembra a Serra do Mar paulista – é úmido e verdinho, a estrada que corta a Serra da Ibiapaba é emocionate nas curvas e na paisagem de tirar o fôlego! O charme está na vegetação predominante, a tal da caatinga. Veja as fotos para ter uma ideia – repare que em uma delas, a curva é tão fechada, que aparece uma rocha na frente do carro.
DSC_0029.JPGBom, o fato é que vi algumas serras sendo exploradas. Tipo, escavadas – como na foto ao lado. Meu filing alertou: estranho. Até que, já em São Paulo, encontro essa matéria: “12 mineradoras de calcário são fechadas”. Resumindo: “Desprovidas de licença ambiental, áreas de extração de calcário sofreram intervenção do Ibama e Polícia Federal”. Tá explicado.
Silenciosamente, o calcário era explorado nos confins do Ceará. A região do Cariri, pela qual passei na estrada, possui mineradoras. Como as demais, são importantes para o desenvolvimento do país e do nosso consumo, porém dá um aperto no coração. A beleza das serras cobertas por caatinga está indo por terra abaixo.

Rally dos Sertões: aí vou eu!

rallyroteiro.jpgA partir de amanhã, domingão, vou respirar muita poeira na estrada. Embarco num avião rumo à segunda maior competição de rally do mundo. Avião? Sim. A disputa já começou, vou cobrir o trecho desde Palmas (TO) até… Fortaleza (CE). Maravilha, não?
Para muitos, seria um “programa de índio” – que expressão preconceituosa. Para mim, é algo que desde a primeira prova queria acompanhar de perto – este ano a competição atingiu a maioridade, completou 18 anos. Vou cobrir o evento – surpresa sobre os detalhes – para o portal do Yahoo! Leia as matérias aqui!
Passarei pelo Cerrado, Jalapão (!), Caatinga, verei o capim dourado em seu estado natural, costumes diferentes, culturas ricas e muita pressa. Aliás, deixo a deixa para pesquisar um pouco mais sobre Parque Estadual do Jalapão. Um lugar que reúne dunas, rios de água cristalina, cachoeiras, ainda preservado. Fui! Na volta, trago novidades! Afinal, o esporte é uma maneira de chamar a atenção para a natureza do interior brasileiro.

As três mil tumbas fenicio-púnicas de Ibiza

Ibiza – palavra mágica. Desde minha adolescência, minha amigona de infância e eu falámos que um dia aportaríamos na tal ilha catalã. A ilha da fantasia. Da balada. Dos hippies. Dos sonhos. Do impossível que… se tornou realidade. Quando chegamos lá, naquela euforia de sonho/ desejo concretizado, fomos do aeroporto deixar as malas no hotel para, já montadas desde Barcelona, seguirmos à tão famosa balada!
Deixando as – maravilhosas – festas para lá, antes de viajar eu pesquiso. Mesmo. Primeiro, quero tentar entender o que irei ver e viver. A cultura daquelas pessoas. O passado delas. A história. Contextualizar, diria como jornalista. Depois, porque não pretendo perder nada que julgar importante daqui do meu computador. Por fim, eu gosto de ver fotos dos locais que irei visitar para saber o que posso esperar. Aonde estão as belíssimas paisagens de karaokê.
Assim sendo, lá fui eu buscar na internet muito mais sobre Ibiza além das já famosas baladas. Pense comigo. Uma ilha no Mediterrâneo deve ter muita estória para contar. Da praia, eu via castelos e construções medievais. E aquela areia branquinha. E o mar-transparente-azul-piscina. E veleiros, muitos iates. E gente com seios e partes íntimas de fora – outra cultura.
Sítios arqueológicos
Qual não foi a minha felicidade quando descobri que uma praia paradisíaca da ilha possuía um sítio arqueológico fenício? Imagine você. Cerca de 1.400 a.C., os fenícios dominavam o comércio do Mediterrâneo. Naqueles barquinhos de madeira, deixaram onde hoje está o Líbano destino conquistar o mundo. E se estabeleceram em Ibiza.
Na praia chamada Sa Caleta, há um exemplo único de urbanismo fenício no Mediterrâneo. Considerado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o sítio arqueológico a céu aberto foi fundado no século VII a.C. por fenícios, provavelmente, em busca de metais. Os pesquisadores conseguiram identificar ruas e moradias entre aqueles muros baixos de pedras. Fantástico.
A ilha também abriga a maior e mais conservada necrópole da cultura fenicio-púnica (relativo a Catargo). Chamada Puig des Molins – a língua catalã é gracinha e familiar, uma mistura de espanhol, francês e português -, possui mais de três mil tumbas! A maior coleção de restos púnicos do mundo!
Pergunte se eu visitei esses lugares? Não – ai que dor no coração. Cheguei em Ibiza e queria abraçar o mundo. Visitar esses sítios, ver as belíssimas praias – com pinheiros (!) – e, ainda, me acabar na balada. Em pouquíssimos dias, se não horas. Perguntava para minha amiga e meus, então, novos amigos: “Vamos caminhar até aquelas ruínas? Vamos conhecer a fortificação de Felipe II – vulgo castelo?” Convencer os três, não foi fácil.
Ainda mais eles que moravam no frio de Londres, queriam é se esbaldar naquele verão calor litorâneo como as lagartixas – símbolo da ilha – estirados ao sol! Sozinha, muito caro e triste visitar os sítios. Sem contar que ficar com os amigos também é cultura. Dá vontade é de matar saudade. E rir junto. E brindar o ocaso com um bom – e barato lá – vinho espanhol.
Estava tão esgotada de tanto mochilar pela Europa, que durante os dias pasmei – e dormi para me recompor das baladas – em frente ao mar bem frequentado da praia de Ses Salines dividindo inesquecíveis momentos. E, claro, observava sem ter coragem de andar até a torre de defesa de Ses Portes, construída no século XVI em um dos extremos da praia.
Interessou pelo tema? Arrisque seu espanhol nesses dois sites oficiais: aqui e ali (do qual emprestei a foto do post).
Observação ecochata: dá para perceber que a ilha foi completamente apavorada. Muito desmatada. Essa ocupação de séculos do homem explica tudo. Além de sítios, os antigos plantavam e retiravam sal da ilha. Mas essa é outra história da ocupação humana. Arqueologia também pode ser relacionada à ecologia. Os maias diriam…

Quais seriam as dez maiores descobertas da arqueologia?

Estava no trabalho, quando meu editor sugeriu uma matéria para responder essa questão. Nem preciso dizer que amei a missão, certo? Meu cérebro ferveu. Quanto mais pesquisava, mais entrava em dúvida e várias ideias nasciam. Até postei no Twitter que entrevistara um pesquisador super prestativo.
Tratava-se do Pedro Paulo Abreu Funari, “atual professor do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro de instituições internacionais do mundo inteiro”. Já havia conversado o professor para uma matéria sobre Atlântida, mas essa teve um “quê” de relembrar o passado – pegou? Renomado mundialmente, o pesquisador foi fundamental para elaborar a lista. Afinal, ele é quem sabe a importância científica de cada detalhezinho escavado/ encontrado. Eu, apenas, admiro o tema.
E as descobertas eleitas foram: Busto de Nefertiti, Jericó, Lucy, Luzia, Palenque, Parque Nacional Serra da Capivara, Pedra Roseta, Pompeia, Roma e Tumba de Tutankamon. Leia aqui a matéria completa. É claro que, como qualquer lista, esta pode ser criticada por muitos. Natural.
Imagine o quanto já foi encontrado e fundamental à ciência… Foi cruel escolher apenas dez. Deixamos de fora outras cidades da mesopotâmia e bíblicas – contam mais sobre o início da nossa história -, Machu Picchu – encontrada praticamente intacta -, os vasos gregos como o famoso François – registros da civilização antiga -, Petra – achavam que não passava de uma lenda -, objetos e vestuários romanos, inúmeras descobertas egípcias e muito mais.
Aliás, o professor contou que escavaram, se não me engano na Inglaterra, várias tabuinhas de madeira com escritos romanos – relativo ao Império Romano. Imagine, detalhes da vida cotidiana que alguém escreveu há mais de 1500 anos! É raro registros feitos nesse material, como vestimentas, durarem até hoje. Ele próprio traduziu o que continha em das tabuinhas. O que foi gravado? Uma senhora convidando outra para ir à festa de aniversário dela. Não é emocionante?
Fiquei contente em saber que conferi, pessoalmente, dois itens da lista: Roma e Pedra Roseta – veja como foi, aqui. Agora, só faltam as outras oito… Bom, e você? Conte quais descobertas fariam parte da sua lista.

Dez lugares para conhecer no Brasil antes de morrer

16131_207773173323_567153323_3017952_7995322_n.jpgMuitos brasileiros desprezam o próprio país, incluindo suas descobertas científicas e até as belezas naturais – acredite. Aliás, prefiro concluir que isso se dá devido a falta de educação – formal, mesmo. O que, como consequência, reflete no “novo” Código Florestal – assunto para outro post – e, claro, no desmatamento. Bobinhas essas pessoas. Na matéria que escrevi sobre quais seriam as dez maiores descobertas da arqueologia, figuravam duas brasileiras. Ju-ro.
Uma era a nossa vovó Luzia – “O crânio de 11.500 anos de uma mulher (Homo sapiens), desenterrado em Minas Gerais, revolucionou as teorias sobre a ocupação do continente americano. Sugeriu que os humanos com traços negróides migraram para a América três milênios antes dos antecessores dos índios”. A outra, o Parque Nacional Serra da Capivara – “O homem já vivia na região do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, há 100 mil anos – foram cadastrados 1.301 sítios arqueológicos e 292 vestígios como aldeias. No local, duas figuras rupestres possuem 36 mil anos. ‘A descoberta derrubou a teoria de que a América do Norte teria sido povoada inicialmente e somente por volta de 15 mil anos atrás os homens teriam chegado à América do Sul’, explica a arqueóloga Niéde Guidon, diretora presidente da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham)”.
É óbvio que pirei, principalmente, no parque. Afinal, a Luzia está guardada no Museu Nacional/UFRJ, no Rio de Janeiro. Estive lá e não vi o crânio. Agora, as pinturas rupestres do Piauí tenho mais chance de conhecer pessoalmente. E requer o contato com a natureza! Divagando com meus pensamentos – para variar -, concluí que preciso conhecer muitos lugares no Brasil, antes que eles sejam destruídos. Locais de valor, principalmente, ambiental e, consequentemente, científico. Assim, resolvi fazer uma lista com os dez lugares brasileiros que todos deveriam conhecer antes de morrer – ou de serem destruídos.
Priorizei os valores ambientais – ou científicos muito antigos – do país. Infelizmente, ainda não conferi todos com meus próprios olhos. Mas a lista serve para lembrar que temos muito o que preservar e valorizar no Brasil. Haja tempo e dinheiro para tanta viagem. Bom, vamos à lista. E os dez lugares no Brasil para conhecer antes de morrer são:
Abrolhos
O arquipélago é o primeiro parque marinho do país com a maior biodiversidade no mar do Atlântico Sul.
Bonito
Localizado no Cerrado, possui águas transparentes graças ao calcário e abriga fósseis de mamíferos gigantes.
Cataratas do Iguaçu
Suas quedas possuem, em média, 65 m de altura e sua formação geológica data de aproximadamente 150 milhões de anos.
Chapadas
São as formações de relevo mais antigas do Brasil, entre elas estão a da Diamantina, dos Guimarães e dos Viadeiros.
Fernando de Noronha
O arquipélago vulcânico abriga as maiores colônias reprodutoras de aves em ilhas oceânicas do Atlântico Sul Tropical.
Floresta Amazônica
Possui o Arquipélago de Mariuá, maior de água fluvial do mundo, e tudo o mais que a floresta abriga.
Lençóis Maranhenses
São 155 mil hectares com dunas de até 40 metros de altura e lagoas de água doce, raro fenômeno geológico.
Mata Atlântica do Estado de São Paulo
Nesta, eu roubei. Incluo o Petar, com mais de 300 cavernas, a Serra do Mar e o Litoral Norte de beleza indescritível.
Pantanal
A maior planície alagável do mundo, ligado às Bacias do Prata e Amazônica.
Parque Nacional Serra da Capivara
Localizado na Caatinga, possui pinturas rupestres e indícios de que o homem esteve por lá 100 mil anos atrás.

Imagens de satélite do ano de 1958

mapas.jpgFantástico! Existe um site, chamado Geoportal, que disponibiliza imagens de satélite – como vemos no Google Maps -, mas do ano de 1958! É deveras curioso. Veja aqui.
As imagens estão em preto e branco, com menos definição do que as que temos hoje, obviamente. Só que não deixa de ser incrível. Dá para localizar áreas desmatadas, checar o crescimento desordenado das cidades e muito mais. Meu prédio, naquela época, nem estava construído. Aliás, as ruas eram de terra!
No entanto, creio que não existem imagens de satélite de todas as cidades brasileiras. Procurei minha queria terrinha natal, Telêmaco Broba (PR), e não encontrei fotos de 1958. O Geoportal foi criado pela empresa Multispectral.
Obs.: Na imagem, está a Av. Paulista. Repare que havia poucos prédios nela e no entorno. Clique na imagem para vê-la maior.

Poder x amor. Quem vence?

martin-luther-king.jpgEstive na Conferência Internacional (CI) Ethos 2010. A CI é organizada pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos. Durante o evento, são realizadas várias palestras e debates sobre sustentabilidade atrelada a questões empresariais. Bastante voltadas para as empresas que estão começando a se interessar pelo tema ou empresários que querem investir em novas tecnologias que poupam mais o meio ambiente.
Apesar das palestras, o que me chamou mesmo a atenção, foi o discurso do autor do livro “Amor e Poder”, o canadense Adam Kahane, especialista em resoluções de conflitos empresariais e sociais.
Era o lançamento do livro dele. Umas das primeiras frases de Kahane foi algo do tipo: “Não vejam minha palestra pensando que sabem tudo sobre o assunto. Tentem ficar abertos para novas ideias”. Hum, pensei, ok. Vamos ver o que ele tem a dizer. Kahane começou contando que, há 20 anos, trabalha em resolução de conflitos. Foi para a África do Sul trabalhar, na época do apartheid. Se apaixonou por uma mulher. E por lá está até hoje.
Na África, matutou: “Por que os desafios sociais emperram?” Na época do apartheid, o povo sul africano brincava que existiam duas maneiras de resolver o problema deles – resumindo, a segregação racial. O jeito miraculoso era dar certo os debates formados por brancos e negros e pelas opiniões opostas. O possível era ajoelhar e ter as preces atendidas. Por incrível que pareça, o milagre aconteceu.
De acordo com Kahane, isso foi possível porque o poder e o amor se equilibraram. Ele usa a definição, em poucas palavras, de que poder é a motivação em realizar de maneira ampla, o desejo de alcançar um objetivo. O amor, o impulso pela unidade, de se unir a outras pessoas. Os dois podem trazer dois tipos de frutos. No caso do poder, ele pode construir tanto como oprimir e destruir. O amor, gerar e dar a vida ou degenerar e reprimir. A falta do amor degenera o poder. A falta de poder torna o amor degenerativo. “O poder do amor pode ser negligente. E o poder sem amor, anêmico”, disse.
Qual a solução? Tentar o equilíbrio. Para ele, o poder não é inimigo do amor. “Grandes empresas que trabalham sem se preocuparem com a unidade podem gerar um resultado catastrófico”, alertou o autor. Ele acredita que, agora, de modo geral, precisamos de mais amor. E, dentro de nós…
Mais uma vez, de equilíbrio. “Cada um se sente mais confortável pendendo com um ou outro”, explicou. Na hora do aperto, cada um pende para um lado. Assim, ele disse que devemos fortalecer nosso lado fraco. Sejamos nós pessoas jurídicas ou pessoas físicas. A dica dele é treinar, é praticar. “Não há um caminho trilhável, cada um faz o seu”. Como disse Martin Luther King Jr.: “Poder sem amor é descuidado e abusivo, amor sem poder é sentimental e anêmico.”
*A inscrição desta no CI do Ethos foi feita pela Natura.

O que você não sabia sobre a arqueologia da Amazônia

Há um tempo recebi da editora Jorge Zahar Editor o livro “Arqueologia da Amazônia”, escrito pelo pesquisador Eduardo Góes Neves. Ontem de madrugada, em uma deitada só, devorei a obra. O livro é interessante. Ele sintetiza e contextualiza a arqueologia e outras informações importantes sobre região amazônica – englobando todos os países da qual ela faz parte.
Segundo o autor, uma das ideias do livro é que as informações sobre o passado podem ajudar a solucionar a ocupação atual da região. Afinal, ao contrário do que muita gente pensa, a Amazônia já foi populosa. Comunidades com culturas completamente diferentes viveram ao mesmo tempo nela. Algumas eram agrárias ou possuíam diversas fontes de alimentos – como plantações e praticavam a caça -, outras formaram redes de cidades com estradas, algumas praticavam o comércio.
E a ocupação é antiga… Um dos sítios arqueológicos mais remotos da Amazônia é de 12.000 a.C – localizado no vale do rio Guaporé, em Mato Grosso. Temos muito o que descobrir e aprender com o passado do nosso país. Além disso, precisamos cuidar para evitar os saques e contrabandos que acontecem, possivelmente, todas as semanas. De acordo com o livro, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) está pressionando para que os arqueólogos e órgãos públicos protejam o patrimônio. Como conhecer ajuda a preservar, selecionei algumas das informações interessantes que li no livro. Preciso compartilhá-las:

  • A ocupação da Amazônia nunca foi uniforme no espaço e no tempo;
  • Cidades contemporâneas como Santarém, Manaus, Manacapuru e Tefé foram construídas em cima de grandes sítios arqueológicos;
  • Nas zonas de estuário e do litoral, foram identificados sítios com algumas das cerâmicas mais antigas da América do Sul;
  • Na bacia amazônica, são faladas línguas de ao menos quatro grandes famílias distintas – tupi-guarani, arawak, carib e gê. A Europa, por exemplo, com exceção das línguas que foram introduzidas da África e da Ásia, possui apenas uma grande família linguística, a indo-européia;
  • Ao longo dos milhares de anos, o clima do planeta mudou e, consequentemente, a floresta amazônica. Entre 10.000 a.C. e 8.000 a.C., as condições climáticas e ecológicas da Amazônia eram semelhantes às atuais;
  • Os índios domesticaram – processo anterior à agricultura – uma série de plantas como o abacaxi, o amendoim, o mamão, a mandioca e a pupunha. É possível que a mandioca e a pupunha foram domesticadas onde hoje está o estado de Rondônia;
  • Na domesticação, algumas plantas desenvolveram uma dependência mútua com relação aos seres humanos. Por exemplo, algumas variedades da mandioca não lançam mais sementes ao solo. Seus galhos precisam ser quebrados e plantados pelos agricultores;
  • O solo amazônico é pobre, mas possuem faixas chamadas de “terras pretas” que são ricas em nutrientes – muito procuradas pelos agricultores atuais. Os arqueólogos acreditam que elas são o resultado do acúmulo de restos orgânicos de aldeias sedentárias de milhares de anos atrás.

Obs.: Quer saber mais sobre a Amazônia? Sugiro a leitura dos posts “A Amazônia não é virgem” e “Cientistas descobrem a idade do rio Amazonas“, este que escrevi para o Blog do Planeta. Também indico a leitura da matéria “Fique em dia com o planeta!“, no portal iG, para contextualizar mais.

Qual a origem da expressão “sem eira, nem beira”?

Este não é um post sobre ciência como a maioria das pessoas imaginam, mas enquadro na categoria humanidades. Bom, descobri o significado da expressão “sem eira, nem beira” passeando pelas ladeiras de Olinda, em Pernambuco.
Durante o Brasil colonial, os ricos construíam suas casas com três acabamentos no telhado. De baixo para cima, as partes eram chamadas de eira, beira e tribeira. As casas dos pobres eram feitas apenas com tribeira. Assim, quando um filho (a) de rico queria se casar com um pobre, os pais não se conformavam: “Ora, pois! Mas a casa dele (a) não tem eira, nem beira!”
Mais duas curiosidades rápidas

Anos após o “descobrimento”, apenas os ricos tinham o direito de ver o rosto de Jesus. Então, na linda Igreja de São Bento, construída em 1599, o Cristo crucificado foi inserido no andar superior. Na parte térrea, os pobres participavam da missa. Os negros – escravos – só tinham permissão para acompanhar as ladainhas dos padres do lado de fora da igreja.

Algumas pedras usadas para construir as ruas de Olinda foram retiradas do mar, daquele magnífico paredão de pedra onde “moram” os corais. Por isso, se você caminhar olhando para baixo, encontrará um monte de conchas encrustadas nas ruas. Como na foto.
Boa semana! Beijinho, beijinho, tchau, tchau.