Houve recuo. Veremos muito isso.

Vocês, caros leitores, acompanharam essa semana as discussões do presidente eleito e sua equipe de transição sobre a junção de Ministérios. Teremos pelo menos dois superministérios, já chancelados (até agora). Tivemos também um recuo, o da junção dos Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura já chancelado (até agora). Deu em vários jornais. Vou colocar aqui apenas um, mas vocês podem buscar outras fontes.

Para mim, um dos problemas de superministérios é que perde-se a possibilidade do diálogo entre partes com objetivos diferentes dentro de pautas comuns. Mas, claramente estamos lidando com super heróis super capacitados que não erram e que não precisam de segundas opiniões. (Talvez, é claro, do barbeiro, mas todos precisam da opinião do barbeiro, da cabeleireira, da esteticista – afinal, essas pessoas talvez sejam as que melhor representam a voz do povo).

Enganam-se os que pensam que foram as pressões dos ambientalistas que mudaram o rumo dessa história. Foram as pressões dos ruralistas e as opiniões dos Ministros da Agricultura, atuais e passados, sobre essa união. Aguardo ansiosa uma redistribuição de atribuições do Ministério do Meio Ambiente. A ver (ainda é novembro, ainda temos chão).

Salvam-se, por enquanto, as atribuições do Ministério da Agricultura. Apoiemos esse Ministério, ele não é uma instituição que devemos massacrar. Nenhuma é, mas não é o que estamos vendo há anos. As instituições, uma a uma, caem como dominós e precisamos estar atentos e parar com isso. As instituições são sólidas, feitas e conduzidas por pessoas capacitadas e, eventualmente, uma ou outra pessoa incapacitada. Vamos substituir as incapacitadas, vamos manter as intituições. Combinado? Precisaremos delas mais do que nunca!

Recuos são vistos a todos os momentos. Felizmente, recuos são  mudanças de opinião, em geral, bastante saudáveis. Eis que você lança uma carta na mesa, e amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, barbeiros ou não, olham e dizem pra você, naquela camaradagem que é esperada de quem te conhece desde criançinha e sabe do seu verdadeiro eu: “É uma cilada, Bino!’. E é o suficiente para que se mude de ideia. Sejamos o barbeiro, sim?

Vam´bora! Sempre atentos.

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Sobre fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente

E eis que esta blogueira de araque, em 19 de março, publicou um post sobre o que ocorreria caso o  Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente se tornassem um Superministério (19 de março, não vai dar pra sair por aí dizendo que “não sabia que isso ia acontecer”, hein?).
Hoje, vários comentários apareceram por aqui (por que será?). E eu me senti até meio mal por ter não tratado do assunto de melhor forma. Enfim, fica aqui meu pedido de desculpas e um texto um pouco mais elaborado sobre o assunto.

Pense numa situação: está você trabalhando em uma empresa, pública ou privada, tanto faz, desempenhando seu trabalho, o qual lhe foi atribuído no momento da sua contratação. Algo acontece e diversas pessoas que trabalhavam com você saem da empresa (sei lá, foram demitidas ou ganharam naquele jogo da mega que você não participou). A empresa, pública ou privada, precisa continuar a funcionar e, ela, pública ou privada, vai demorar um tempo para restabelecer o quadro de funcionários. Você, pobre mortal, vai ter que trabalhar por você e por eles. Eles são muitos, Você é só um. Faça as contas e me conte o que iria acontecer com todas as suas demandas (antigas e novas). Abrirei dois parênteses.

(antes, um parênteses extra – há um tempo eu vi uma charge em que uma pessoa fazia um esforço sobrehumano para carregar uma pedra sozinho – e, obviamente, estava a ponto de falhar na tarefa. ao mesmo tempo, um gestor olhava a cena e pensava em como ele estava economizando e como ter demitido algumas pessoas tinha sido uma boa ideia – se você souber do que eu estou falando, me indique onde achar essa dita que quero colocá-la aqui)

(1º parênteses)
O que faz o Ministério da Agricultura?
Talvez o mais óbvio seja pensar que o Ministério da Agricultura trabalhe no sentido de promover a agropecuária de maneira geral. Promover, obviamente, estimulando o crescimento do setor, aumentando a produtividade, enfim. Todas ações relacionadas com o aumento da produção agrícola e pecuária do Brasil e, como consequência, aumento de lucros para o país. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e é líder na exportação de soja, açúcar, suco de laranja e café. Todos esses produtos são commodities e valem muitas doletas. Commodities são produtos de origem primária, ou seja, são matéria-prima produzida em grande escala. Sua vantagem é poderem ser armazenados por um período sem perda de qualidade. Como uma consequência de oferta e demanda, o preço desses produtos é determinado pelo mercado mundial e, portanto, pode-se “controlar” sua venda para garantir mais lucros. Isso é verdade. Entretanto, cabe a esse ministério muito mais do que isso.
Sabe todo o processo que envolve a saída do produto do campo até chegar a você? É responsabilidade do Ministério da Agricultura. A garantia de que todos os cidadãos estarão abastecidos com produtos de origem agrícola e pecuária e que esses produtos chegarão com qualidade, visto que a vigilância sanitária foi feita de maneira adequada? Também responsabilidade do Ministério da Agricultura.
A distribuição dos produtos do agronegócio, o processamento industrial, armazenagem, promoção de práticas sustentáveis, gerenciamento de agrotóxicos e pesticidas, garantia de qualidade para aumento de competitividade internacional, destinação de excedentes de produção reduzindo perdas, segurança alimentar… ufa. Tudo Ministério da Agricultura. Ah! Já ouviu falar da Embrapa? E dos Ceasas? Casemg? Ceagesp? Tudo vinculado a esse Ministério também. Os caras fazem coisas pra caramba. FIM.

(2º parênteses)
O que faz o Ministério do Meio Ambiente?
Talvez o mais óbvio seja pensar que o Ministério do Meio Ambiente cuida da preservação e da conservação de áreas naturais e dos seres vivos que habitam essas áreas. E também parece óbvio que esse Ministério tenha interesses em promover o aumento do conhecimento sobre seres vivos e ecossistemas, recuperar áreas degradadas, promover o uso sustentável dessas áreas e garantir áreas de proteção ambiental. Entretanto, esse ministério faz bem mais do que isso. Todo o gerenciamento dos recursos hídricos brasileiros é de competência do Ministério do Meio Ambiente. Isso significa, também, que há vários interesses desse ministério que se sobrepõe ao de Minas e Energia (hidrelétricas, né?). A indústria química também é regulada pelo Ministério do Meio Ambiente. Gestão do patrimônio genético? Também. Ah! E os setores relacionados à mineração também, afinal, trata-se da exploração de um recurso natural e tudo o que é recurso natural é de responsabilidade desse Ministério. Ibama? ICMBio? ANA? Combate à desertificação? Trabalham! Mudanças do clima? Também! Licenciamentos ambientais, autorização e fiscalização de transferência de petróleo entre embarcações? Controle e gestão de resíduos (inclusive de pilhas e baterias)? Sim, sim, caro leitor. Tudo relacionado a esse Ministério também. Os caras fazem coisas pra caramba. FIM.

Bom, até aqui acho que já deu pra entender porque contei a história do funcionário que se viu tendo que executar mais do que suas próprias atribuições. E também já dá pra ter uma ideia do porquê esse assunto é bastante polêmico e deixa ruralistas e ambientalistas em alerta. Esses dois ministérios têm, obviamente, interesses em comum que podem ser em alguns momentos conflitantes (pense, por exemplo, na disputa de uma área de preservação ambiental versus a liberação dessa área para exploração e/ou produção agropecuária). Eu ainda bato na tecla de que, nesse caso, o empate técnico é saudável para os dois interesses. A questão é que há muito mais do que interesses em comum. Há muitas funções que podem ficar em segundo plano no caso de uma fusão. Muitas tarefas vão obviamente ficar desatendidas e, nenhuma delas, a meu ver, é menos importante. Se a ideia é reduzir custos, reduzir funcionários, extinguir instituições o trabalho vai, obviamente, sobrecarregar alguém. Não acho, enfim, que é simples, nem que é apenas perder status. Os dois ministérios atuais perderão demais com essa fusão. Perdem eles, perdemos muito mais nós.

Blogtweet de 22 de março

2018 e ainda tem gente que joga lixo pela janela dos automóveis.

O que aconteceria se os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente se fundissem?

Sabe que tem gente que não merece ser mencionada, né? Porque colocar o nome das pessoas/empresas/instituições por aí é, de certa forma, fazer propaganda. E têm pessoas/empresas/instituições que merecem cair no esquecimento. Simples assim.

Mas… a gente não pode fazer de conta que não vê certos impropérios. Enfim.

Quem fez universidade, quem tem uma família, quem tem um relacionamento, quem tem um emprego, quem tem amigos (um, que seja!) sabe que equilíbrio é fundamental. É fundamental que uma balança tenha dois lados, se não, fica parcial. Se não, não se mede nada.

O que aconteceria se dois lados opostos de uma balança se fundissem? O que aconteceria com os projetos de preservação do meio ambiente, conservação de espécies ameaçadas de extinção, reestruturação de áreas degradadas, reflorestamentos, manejo de vida aquática, gerenciamentos de sistemas de água, gerenciamentos de resíduos sólidos de todas as naturezas, entre outros se fundissem com interesses comerciais de exploração de recursos da terra e da água para produção agrícola e pecuária? Com interesses econômicos apenas?

Veja, não há vencedores e isso não é uma partida de futebol. Não é interessante discutir se isso ou aquilo é mais importante/relevante SE não existir uma situação de equilíbrio. Porque, me parece óbvio que para um lado, é sempre melhor e mais interessante e mais relevante ter mais áreas de preservação, mais corredores ecológicos, mais reflorestamento, mais espécies saindo da lista das ameaçadas de extinção. Para outro, é óbvio que é sempre melhor ter mais áreas de pasto, mais áreas de cultivos agrícolas, mas áreas de exploração de recursos naturais para viabilizar projetos que vão trazer lucros para o país. O que significa que, o melhor dos dois mundos seria manter aquele empate técnico saudável.

Enfim… parece uma discussão de país de terceiro mundo que ainda não conseguiu passar da fase primária da economia (ow, wait!). Quando ainda estivermos na discussão do agro é pop fica difícil ultrapassar a barreira da economia primária. Da exploração de recursos. Da extração pura e simples de matéria-prima (mesmo que isso signifique commodities). Quando eu era criança e queria ser cientista, eu achava (achava mesmo, de verdade) que em alguns anos, talvez quando eu estivesse com a idade que eu estou agora, o Brasil estaria na fase de exportar tecnologia, sabe? Porque temos potencial. Porque temos cérebros para isso. E temos dinheiro! Mas… estava completamente equivocada. Tipo… os Jetsons ainda não chegaram!

Acontece que a briga tem aliados fortes e sem escrúpulos. A bancada ruralista defende, por exemplo, o fim dos licenciamentos ambientais. Outros loucos sugerem a fusão dos dois pratos da balança (Agricultura e Meio Ambiente). Os licenciamentos ambientais, talvez não sejam conhecidos de todos, então explico – meio superficialmente porque, na realidade é um trabalho extremamente complexo: os licenciamentos ambientais significaram, desde a sua implementação com a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente em 1981 um super avanço na legislação brasileira em relação ao meio ambiente. Antes dela, não havia nenhum impedimento, nenhuma fiscalização, nenhuma regulamentação sobre a construção de obras de qualquer natureza – não se sabia que tipo de prejuízos o meio ambiente poderia sofrer, no local da obra ou em suas imediações. Não se sabia porque não se estudava nem o ambiente antes da construção, nem o ambiente depois da construção. Não tínhamos ideia se, por exemplo, uma ferrovia ia matar um corredor ecológico importante para migração de certa espécie ou se o barulho das máquinas ia impedir certas espécies de se acasalar, por exemplo. Não sabíamos se um lago ou rio ia tornar-se completamente inadequado ou se ia deixar de existir caso construíssemos uma barragem para um reservatório de usina hidrelétrica. Não sabíamos N-A-D-A.

Também não sabíamos que tipos de prejuízos uma fazenda poderia trazer para um rio que passasse na propriedade se grandes quantidades de água fossem retiradas para irrigar as plantações. Como não havia regulamentação nenhuma, cada um explorava os recursos naturais pertencentes ao país como bem entendesse (sim, um rio que passa em uma propriedade rural é do país, assim como um lençol de água subterrâneo). Ninguém é dono de um rio, apesar de achar que é. Enfim… interessa muito (para pouca gente) que o Ministério do Meio Ambiente seja controlado pelo Ministério da Agricultura.

Lembre-se: isso não é um jogo de futebol. Não há vencedores. Sem equilíbrio não resta muita coisa. Nem Agricultura. Nem Jetsons, infelizmente.

P.S. Obrigada Clau! Obrigada Takata! Obrigada Eloi!jetsons

 

 

 

 

5 anos

5 anos de reclusão. 5 anos de férias. 5 anos vendo muitas coisas acontecerem, inclusive a decadência dos blogs como forma de dispersão de conteúdo. 5 anos pensando que, talvez, não tivesse mais muita coisa como que contribuir. 5 anos achando que não havia tempo. 5 anos sabáticos.

Os tempos sabáticos devem ser dedicados a projetos de vida particulares. Usei bem esses anos. Foram muitos projetos de vida particulares. Alguns não foram assim tãããããão particulares. Envolveram muito trabalho, envolveram muito amor e desenvolvimento pessoal, com certeza. Mas, há momentos em que voltar umas casas se torna necessário. A era é de transformações intensas. A era é de não calar. A era é de pensar e atuar, com as ferramentas que a gente tem, usando uma linguagem universal, que sempre foi protegida por todas as pessoas conscientes: a linguagem da Ciência. Em diversos tempos de guerra, a Ciência foi protegida, os cientistas, respeitados. Como cientistas, independente de sua nacionalidade. A Ciência estava, enfim, acima dos interesses políticos.

Mas, porquê? O que te fez voltar? Você vai continuar falando de rastros de carbono? De IPCC? Mudanças climáticas?

Talvez não. Talvez sim Talvez esse espaço mereça um outro olhar, um novo olhar editorial. Talvez a Ciência seja, atualmente, a linguagem que precisa ser resgatada. Resgatada, preservada, dispersada. Provavelmente por um tempo esse espaço será como um diário filosófico. Ideias jogadas às nuvens (e esperemos que lá não haja traças!). Caminhemos.

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Falimos como sociedade?

Cena 1

17:30. Onibus lotado. A chuva faz as pessoas que estão sentadas fecharem as janelas. Calor, calor, calor, misturados com a umidade de fora. O motorista para em um ponto, duas pessoas descem, vinte e cinco sobem. Assim que as duas pessoas descem, o motorista fecha as portas de descida. Eu, na minha inocência mais do que infantil, xingo a mãe do motorista três vezes. Porra, velho! Não podia deixar a porta aberta pra dar uma ventilada? Saímos do ponto. No ponto seguinte, parece que Deus ouviu as minhas preces e o motorista deixa as portar traseiras aberta. Cinco pessoas sobem no ônibus sem pagar. Os erros? Ônibus lotado, caro e sem qualidade. Pessoas que se aproveitam de seus pequenos poderes e ligam de fato o foda-se para o mundo e fazem o que querem. Não há leis. Não há regras. Nada é respeitado.

Cena 2

Pessoas precisam de atenção, carinho, ajuda. Há milhares de maneiras de satisfazer as necessidades de atenção, mas cada pessoa é única e suas vontades para satisfazer seus desejos mais básicos é variável. Algumas buscam palavras. Fé. Escolhem um mestre para que sejam guiadas, para que acreditem que é possível ter esperança, ter uma vida melhor, ter salvação. Um mestre e guia com má índole traz mentiras fáceis, verdades dúbias. Traz ódio. Ódio contra o que é diferente dele. Ódio contra o que ele, o próprio guia teme. Até onde quem busca palavras é manipulado pelas palavras que ouve? Quem deve dar ao cidadão a capacidade de ser crítico e avaliar, duvidar até, do mestre que escolheu? Mudar de mestre? Mudar de fé? Deixar de ter esperança?

Cena 3

Estou cercada de pessoas que tiveram oportunidades de estudar. Algumas tomam Herbalife. Algumas tomam remédios para hipotireoidismo. Márcio Atalla, na CBN, traz o dado de que remédios para hipotireoidismo estão sendo vendidos a rodo. Por que? Porque se alguém toma remédios para hipotireoidismo sem ter a doença aumenta seu metabolismo. Resultado imediato? Perda de peso. E a saúde? Quem?

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Eu só acredito vendo!

Brincadeira!

Parabéns, Higgs!

ScienceBlogs na Rio+20

O ScienceBlogs como um todo está ajudando a divulgar uma pesquisa que foi lançada pelo governo brasileiro, com o suporte do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas chamada Diálogos da Rio+20.

Para a conferência que ocorrerá logo mais no Brasil, as Nações Unidas e o governo brasileiro buscaram indicações de políticas públicas junto à 10000 atores, especialistas, cientistas de várias áreas e com várias experiências de vida e profissionais e chegaram a uma lista com 100 recomendações relevantes que poderiam ser discutidas na conferência. Essa lista de 100 recomendações pode ser votada por todas as pessoas com acesso à internet, através de um site, lançado pelo secretário geral das nações unidas, Ban Ki-moon.

O site vote.riodialogues.org é uma plataforma onde podemos votar sobre quais dessas 100 indicações consideramos mais relevantes. Os votos serão recolhidos até o dia 14 de junho, ou seja, até amanhã. A promessa é de que a opinião das pessoas poderão ajudar na seleção de 10 temas ou pilares que nortearão as discussões que ocorrerão entre 130 chefes de estado que estarão presentes na Rio+20.

Entre os temas podemos encontrar Cidades Sustentáveis, Inovações para o desenvolvimento da sustentabilidade,  Luta contra a pobreza, Alimentação e nutrição, entre outras. Dê a sua opinião e participe!

 

Olha o carbono fresquinho! Um real a dúzia! Quem vai querer? (hein?)

Foi-se o tempo em que as relações comerciais se baseavam em trocas de mercadorias simples como alimentos, roupas, matérias-primas por dinheiro ou por outro produto. Chegamos ao tempo da compra e venda de gases do efeito estufa! É, meu amigo… de gases!

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Vitral no mercado municipal de São Paulo.

Não, não, não… não pense você, pobre mortal, que poderá sair por aí vendendo e comprando os gases do efeito estufa que suas ações pessoais deixaram de emitir. Isso é para os grandes. Isso é para TONELADAS de carbono equivalente. Mas também não pense que você não é um “player” (como gostam de dizer por aí) nesse jogo de especulações.


Como funciona?

Funciona assim: uma empresa que quer entrar para os “negócios do carbono” entra em contato com uma outra empresa especializada em fazer inventários das emissões de gases do efeito estufa. A partir desses inventários, obviamente baseados numas poucas metodologias de cálculos de emissões existentes, normatizadas e aprovadas (GHG Protocol, ISO 14064), é traçado um plano para redução de emissões. Uma auditoria é realizada para checar se a redução foi mesmo realizada e aí, essas toneladas de carbono que deixaram de ser emitadas podem ser VENDIDAS (!!!!) para outra empresa que não conseguiu reduzir emissões, de modo a “neutralizá-las” [opiniões aqui e aqui]. Isso vale e interessa principalmente para as empresas situadas naqueles países chamados pela UNFCCC de países do anexo I que têm metas de redução de emissões (previstas pelo Protocolo de Kyoto).

O Brasil não tem metas de redução estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto porque não é do grupo dos países do anexo I. Entretanto, é o país que ocupa o quinto lugar no ranking dos países mais emissores de gases do efeito estufa do planeta – principalmente derivados de desmatamento. Essa colocação entre os TOP 5 nos permite sonhar com reduções de emissão – e também nos permite sonhar com um lugar no ranking bem melhor do que esse. E, porque vamos reduzir, por que não almejar VENDER esse “extra” pra quem não consegue fazer suas próprias reduções?

Vender e comprar carbono. Como faz?

Exitem dois mercados especializados na comercialização de carbono. Um deles, chamado mercado regulado, é organizado por entidades com poder legislativo. Por esse mercado, passou, por exemplo, a transação comercial que envolveu a venda de carbono equivalente do aterro sanitário Bandeirantes, em Perus, São Paulo. Outro mercado é o chamado mercado voluntário, que é auto-regulado e tem como um dos principais representantes da atualidade o CCX, de Chicago.

E o Brasil?

O Brasil nesse contexto é:

1. Um país potencialmente redutor de gases do efeito estufa.

2. Um país que quer e pode LUCRAR com suas reduções de gases do efeito estufa e, mesmo não tendo metas de redução estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto tem muito a ganhar ($$$$$) fazendo isso.

3. Um país que não tem (ainda) um mercado voluntário próprio e tem que se submeter à normas de mercados internacionais (como as do CCX). 

Então… já que temos o queijo na mão, falta a faca. Certo? Errado. Faltava.

FIESP e ABNT entram no jogo para ganhar

Ontem, na FIESP, estavam reunidos interessados em iniciar uma comissão que terá a tarefa de “estabelecer as diretrizes orientativas do mercado  voluntário interno de carbono, não necessariamente codificadas pelo Protocolo de Kyoto”, ou seja, uma comissão que, junto com a ABNT, deverá elaborar uma norma para o mercado voluntário de carbono brasileiro.

Essa norma deve prever APENAS regulamentações para que possa ser possível comercializar carbono equivalente dentro do país e deverá responder algumas perguntas como “Quem registra uma transação?”, “Quem tem a custódia?”, “Qual será a mecânica da transação?”, “Onde se fará a compra e a venda?”, etc, etc, etc – tudo relativo a MERCADO. Portanto, se alguma empresa resolver negociar “carbonos frios” esse problema será única e exclusivamente das empresas compradora e vendedora, não sendo do escopo dessa norma gerir maus usos do MERCADO. 

Dessa forma, os responsáveis pela transmissão da credibilidade e da qualidade do produto que está sendo vendido (gases…) não são os responsáveis pelas normas de mercado. Por isso eu digo sempre: se alguém quer mudar a forma com que estamos manejando o nosso planeta, esse alguém somos nós, consumidores atentos e absolutamente fortes para mudar nossos hábitos de consumo e os investidores, que querem nos convencer de comprar os produtos deles, então, vão fazer das tripas um coração para se adequar as nossas exigências.

A comissão para elaboração da norma foi formada ontem, em reunião que presenciei e óbvio, me voluntariei, e, muito em breve, deverá iniciar os trabalhos para a confecção da norma propriamente dita. É bom ficar de olho nisso pois a aprovação pública de uma norma é item obrigatório para que ela seja homologada. Não só isso, normas como essa são subsídios para legislações e para certificações futuras. É bom ficar atento agora, porque será quase impossível correr atrás de algum prejuízo depois.

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Saiba mais:

FIESP

Estadão

Agenda: Workshop “Economia do clima”

Acontece dia 17/03/2010, das 9:30 ao 12:15hs, no Instituto de Estudos Avançados/USP, o Workshop “Economia do clima” (não se espante se não encontrar nada no site).
Eu iria, se não fosse no meio da semana, no meio do horário comercial, ver, principalmente, como é que os especialistas da Faculdade de Economia, Administração e Contablidade (FEA/USP), pretendem “precificar o clima” ou “precificar danos climáticos” ou ainda “precificar ações de adaptação/mitigação”.
+ Será por grau Celsius acumulado/ano?
+ Será por hectare devastado? Ou por plantações dizimadas?
+ Será por milhões de migrantes/ano? Dólares investidos em ações de sustentablidade/ano?
Fiquei curiosa.
Entre os especialistas, José Goldemberg (IEE/USP) falará sobre os “Desafios e oportunidades para pesquisa em mudanças do clima no Brasil”, Eduardo Haddad (FEA/USP) falará sobre “Economia das mudanças climáticas no Brasil” e Carlos Roberto Azzoni (FEA/USP) sobre “A FEA e a economia do clima”. Além deles, presenças confirmadas de José Marengo (INPE e INCT-MCT), Vera Lucia Imperatriz Fonseca (IEA), Paulo Artaxo (IF-USP) e Jacques Marcovitch (FEA e IRI/USP).
OBJETIVO DO ENCONTRO:
+ fortalecer a estrutura da sub-rede “Economia das Mudanças Climáticas”, coordenada pela FEA-USP, por meio da integração de pesquisadores e seus resultados, da discussão de oportunidade de pesquisas e do encaminhamento para pesquisas e ações futuras.
LOCAL:
+ O IEA fica na Rua da Reitoria (antiga Travessa J) 374, Cidade Universitária, São Paulo, SP
INSCRIÇÕES:
Os interessados devem se inscrever em www.iea.usp.br/inscricao/form1.html.
PÚBLICO ALVO:
Estudantes de pós-graduação
TRANSMISSÃO:
Ao vivo pela web em www.iea.usp.br/aovivo.
[Vou tentar essa daqui!]
PROGRAMA COMPLETO:
9h30-10h – Recepção
10h-10h10 – Abertura
Carlos Roberto Azzoni (diretor da FEA-USP)
César Ades (diretor do IEA-USP)
10h10-10h30 – Desafios e Oportunidades para a Pesquisa em Mudanças do Clima no Brasil
Jose Goldemberg (IEE)
10h30-11h – O INCT para Mudanças Climáticas
José Marengo (INPE e INCT-MCT)
11h-11h15 – Economia das Mudanças Climáticas no Brasil
Eduardo Haddad (FEA-USP)
11h15-11h25 – Projeto FAPESP Impactos Socioeconômicos de Mudanças Climáticas no Brasil
Ricardo Abramovay (FEA-USP)
11h25-11h35 – A FEA e a Economia do Clima
Carlos Roberto Azzoni (FEA-USP)
11h35-11h45 – O IEA e os Estudos de Serviços de Ecossistemas
Vera Lucia Imperatriz Fonseca (IEA)
11h45-11h55 – Monitoramento da Concentração dos Gases de Efeito Estufa na Atmosfera
Paulo Artaxo (IF-USP)
11h55-12h15 – Políticas Públicas sobre Mudança do Clima e Relações Internacionais
Jacques Marcovitch (FEA e IRI-USP)