Contextualizando Carlos Minc
A idéia deste post é dar uma introduçãozinha ao entrevistado de hoje no Roda Viva (TV Cultura, 22h40).
O novo Ministro do Meio Ambiente (MMA) substitui a ambientalista Marina Silva, que estava no cargo desde o início do governo Lula. A saída da ministra foi muito controversa e gerou repercussão até no exterior pois Marina Silva tem uma biografia brilhante na área e é muito conceituada no exterior. As razões da saída da Marina Silva, não oficialmente, é a política do Governo Lula de deixar a questão ambiental de lado frente à questões econômicas e de desenvolvimento.
Carlos Minc assume o MMA diante das enormes pressões do governo, materializadas na Ministra da Casa Civil DIlma Rousseff, para que se apresse o processo de licenciamento ambiental, necessário para a aprovação de toda obra, do governo ou não.
Ex-guerrilheiro, membro-fundador do Partido Verde, deputado estadual por 6 mandatos seguidos e Secretaria de Estado do Ambiente do RIo de Janeiro, o novo ministro tem como desafio mostrar que consegue ter relevância federal, uma vez que sua esfera de atuação tem sido, principalmente, a estadual.
Espero que a entrevista logo mais discuta a questão da ocupação e do desmatamento na Amazônia (principalmente do Programa Amazônia Sustentável), a proteção de ambientes fora da Amazônia, o futuro dos biocombustíveis e como mantê-los genuinamente verdes.
E, afinal, quem deveríamos priorizar, o desenvolvimento ou o ambiente? Por quê é quase impossível conciliar ambos?
Veja a página de Carlos Minc.
Rastro no Roda Viva: ontem e amanhã
Na semana passada o Rastro de Carbono bateu ponto no Roda Viva comentando a entrevista com o Márcio Meira, presidente da Funai (Paula, cadê o relato?) junto com Claudia Chow do Sustentabilidade/Ecodesenvolvimento e da Maira Begalli.
Pois então, se você perdeu, amanhã tem mais! A entrevista de amanhã (TV Cultura, 22h40) com o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc contará com os comentários do blogueiro-colaborador-e-marido Carlos Hotta via Twitter. Junto comigo estará Lúcia Malla (que tem um ótimo post sobre consumo ecológico de peixes) que deve garantir comentários de qualidade.
Para saber mais sobre o Twitter, clique aqui. Para saber mais sobre o Twitter no Roda Viva clique aqui e aqui.
Problemas no feed
Pessoal, a Miriam Salles nos escreveu falando que os feeds estão com problemas. Acho que agora consertei,, alguém pode me confirmar?
Impactos do homem: luz e som
Sempre mostramos o nosso impacto sobre o ar, a água, a terra, etc. No entanto, as alterações que trazemos a um ambiente são maiores e mais inusitadas. No Brontossauros eu já comentei sobre o impacto que uma pequena rua no meio do mato tem sobre centopéias e minhocas, agora imagine o impacto de uma rodovia movimentada cruzando o cerrado ou uma floresta?
Só que este impacto ainda é observável, quem já dirigiu pelo interior do país já deve ter visto tamanduás e tatus atropelados por caminhões. Estou falando de outros dois impactos mais inusitados ainda: o sonoro e luminoso.
Quem mora em cidade grande deve ter percebido que a noite não é tão escura quanto a noite no campo. A luminosidade emitida por nós durante à noite pode alterar o comportamento de animais. Este efeito é facilmente observado quando aquela lâmpada acesa se enche de insetos: a luz altera o seu senso de anvegação a ponto deles morrerem queimados na incandescente fonte luminosa.
O som é um outro impacto inusitado. Um artigo da Wired menciona que a nossa poluição sonora pode estar interferindo na comunicação de animais. O artigo cita o caso de sapos, cuja vocalização é essencial na sua reprodução. Os sapos do exemplo vocalizam de modo sincronizado, dificultando a sua localização. Bernie Krause diz que o barulho de uma base militar perto do local está interferindo na sincronização do canto dos sapos, o canto dessincronizado pode ser facilmente encontrado por corujas e coiotes.
Por fim há o exemplo não citado pela Wired (e que pode ser melhor comentado pela Lucia Malla) do barulho que fazemos dentro da água. O som debaixo da água se propaga mais longe, isso é explorado por baleias e golfinhso apra se comunicar à distância. Essa propriedade do som também significa que o barulho dos motores dos barcos também se propaguem longe. Aparentemente este barulho é tão grande que pode interferir na audição dos golfinhos e baleias!
Mais um exemplo de por que o nosso Rastro de Carbono pode ser o menor de nossos problemas…
Lista nacional de postos de recolhimento de óleo de cozinha
A querida Clau Chow fez um post com os links do Instituto Akatu para a lista nacional de postos de recolhimento de óleo de cozinha. Vale muito a pena visitar! Óleo usado e queimado que é recolhido deixa de poluir nossos rios e solo e pode servir como combustível para automóveis.
Visite o Sustentabilidade/Ecodesenvolvimento e saiba onde há um posto perto de você.
O outro Rastro
Olá, começo as minhas contribuições no Rastro de Carbono fugindo do assunto e falando de um outro Rastro que tem despertado a minha atenção: o nosso Rastro Hídrico.
De acordo com a ONU, necessitamos de 40 a 50 litros de água para as nossas necessidades básicas (na Sabesp diz 110 litros). A média de consumo na cidade de São Paulo é 220 litros de água por dia. São Paulo não é excessão: uma criança de um país desenvolvido gasta de 30 a 40 vezes mais água do que uma criança de um país em desenvolvimento.
Isto que dizer que o nosso Rastro Hídrico é cerca de 220 litros? Não, porque esse cálculo corresponde ao que usamos de água tratada, para calcular o quanto usamos de água diariamente, devemos incluir o quanto se usa de água para se produzir o que consumimos. Por exemplo: de acordo com a Waterfootprint.org, um quilo de carne exige 16 mil litros de água para ser produzido; uma xícara de café, usa 140 litros e um quilo de milho usa 900 litros. Portanto, o nosso Rastro Hídrico diário é muito, mas MUITO maior que 220 litros de água!
Só que não deveríamos nos preocupar porque o nosso planeta é coberto de água, certo? Errado. Há, na verdade, uma abundância de água salgada, imprópria para o consumo. estas águas perfazem 98% da água do planeta. Dos demais 2% de água doce, 69.7% está presa em geleiras, 30.1% no subsolo, 0.86% congelada nos solos, 0.04% no ar e míseros 0.3% em rios, lagos e pântanos! Isso sem contar o tanto destes 0.3% de 2% que estão contaminados…
Por isso, além de pensarmos sempre nas nossas emissões de carbono, também é importante nos lembrarmos da água.
Fontes: Waterfootprint.org, UNWater
Co-estrelando: Carlos Hotta
É com imenso prazer que apresento a vocês o primeiro colaborador do Rastro de Carbono: Carlos Hotta.
O Carlos também é biólogo e, além de, a partir de agora, publicar no Rastro de Carbono, também publica no joguinhos viciantes, o blog de jogos do hitechlive e no brontossauros em meu jardim. Resumindo: um blogueiro de carteirinha.
Vou deixar o próximo post pro Carlos se apresentar e apresentar o que pode fazer como colaborador do Rastro de Carbono.
Diz aí, Carlos!
P.S.: Por último, e definitivamente o mais importante, o Carlos é a pessoa com quem eu, além de dividir os posts do Rastro, também divido a minha vida.
Curtas – Florestas
“O desmatamento e a queimada das florestas liberam anualmente cerca de 1,6 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera. Ao lado da queima dos combustíveis fósseis – que emite entre 6,4 e 7,2 bilhões de toneladas –, a destruição da floresta está entre os grandes responsáveis pela concentração de gases de efeito estufa que causou, nos últimos 50 anos, um aumento de 1,7ºC na temperatura média da Terra.”
Paulo Artaxo – professor titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Fonte: Agência FAPESP
Recomendo – livro
Conheci esta semana um livro fantástico: Imagens que contam o mundo, de Eric Godeau, editado no Brasil pela Edições SM.
“Imagens que contam o mundo” traz uma série de fotografias que contam a nossa história, desde 1950 até 2007. Entre a recostrução da Europa pós-guerra, apartheid , Guerra Fria, Gagarin, Pelé The Beatles, movimento feminista, João Paulo II em Auschwitz, independência da Palestina, queda do muro de Berlim, Mandela presidente, globalização, surgimento do Euro, e muito mais, os anos 2000 chegam cheios de tecnologia e hábitos arcaicos. Tragédias ambientais como o cliclone Katrina, tsunami, megalópoles megapoluídas e aquecimento global. Tragédias não tão aparentes quanto maus hábitos de consumo e obesidade infantil.
Tudo com fotos belíssimas e citações de políticos, celebridades e jornais importantes no mundo. Quer um exemplo?
“Observem esta ervilha. É aqui. É nossa casa. Somos nós. Na história da humanidade, todas as nossas alegrias, nossos sofrimentos, milhares de religiões, de ideologias, de doutrinas econômicas, caçadores, heróis e covardes, criadores, destruidores de civilização, reis e camponeses, jovens casais enamorados, mães, pais, crianças cheias de esperança, moralistas, políticos corruptos, superstars, grandes líderes, santos, pecadores viveram aqui, num grão de poeira suspenso num raio de sol.”
Carl Sagan (1934-1996)
Os biocombustíveis e o preço dos alimentos
Hoje a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) divulgou um relatório onde afirma que os alimentos não voltarão a ser baratos. O aumento na demanda e a necessidade de repor os estoques manterá a o preço dos alimentos altos.
Segundo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor da USP, as causas para o aumento no custo de alimentos vão além da produção dos biocombustíveis. O preço de produtos como o arroz, o trigo e a soja observado nos últimos meses relaciona-se ao aumento no custo do barril de petróleo, que também ocasiona o aumento dos agroquímicos e consequentemente o aumento na produção de alimentos.
O preço do milho no mercado internacional, impulsionado pelo uso do milho para a produção de etanol pelos EUA causaram um aumento nos preços de arroz, soja e trigo. Muitos dos produtores desses alimentos redirecionaram sua produção para milho, o que causou uma diminuição nos estoques dos outros cereais, causando aumento do preço desses produtos. Esse dado nos faz acreditar que no caso do etanol brasileiro, produzido a partir de cana-de-açúcar, a história é outra e não haveriam aumentos dos alimentos.
Porém, no Brasil, houve aumento nos preços de feijão, arroz e mandioca, principalmente porque muitos dos produtores desses alimentos direcionaram suas lavouras para o plantio de milho, já que o preço desse grão no mercado internacional era maior.
Segundo a FAO, o aumento no preço dos gêneros alimentícios ocasionou um aumento na produção dos alimentos e as próximas safras devem ser boas. Porém o preço dos alimentos deverá continuar alto.
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Os agrocombustíveis e a crise dos alimentos
por Ariovaldo Umbelino de Oliveira
As políticas neoliberais aplicadas à agricultura e ao comércio mundial de alimentos são responsáveis pela crise que se abateu sobre os alimentos na atualidade. Ela é resultado da total incapacidade do mercado para construir uma política mundial de segurança ou de soberania alimentar. Vários são os fatores para explicá-la.
Em primeiro lugar, deve-se destacar que depois da criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e do advento da revolução verde, o mundo capitalista adotou um mecanismo de controle de produção de alimentos baseado no sistema de estoques. Essa sistemática tinha por objetivo garantir excedentes agrícolas alimentares que permitissem simultaneamente, garantir a oferta de alimentos diante o fantasma da fome e a regulação de seus preços contra as ações especulativas dos players capitalistas (jogadores do mercado das bolsas de mercadorias e valores). Com o neoliberalismo e a criação da OMC (Organização Mundial do Comércio), o sistema adotado é aquele da colocação dos estoques no mercado e do império absoluto do livre comércio. Ou seja, o mercado através da disponibilidade dos estoques seria o regulador da oferta da produção de alimentos. Essa mudança revela na atualidade sua consequência: a crise.
Com a redução dos estoques de alimentos e da elevação de seus preços, os fundos de investimentos que sofreram violentas perdas, com as ‘subprime’, no mercado financieiro e imobiliário norte-americano, passaram a investir no mercado futuro, das commodities (milho, soja, trigo e arroz, principalmente). Este processo meramente especulativo atua no controle privado dos estoques e sobre a possibilidade de oferta de alimentos no mercado futuro. Dessa forma, todas as commodities têm já preços para o final do ano ascendentes.
Simultaneamente, com estes dois processos, articula-se a segunda causa em importância: a opção dos EUA pela produção do etanol a partir do milho. É óbvio que o efeito desta escolha fez com que parte do milho destinado à alimentação humana e à produção de ração animal fosse destinada à produção do agrocombustível. Porém, o aumento rápido do consumo do grão gerou mecanismos especulativos na queda dos estoques. Essa queda, por usa vez, puxou para cima consigo os preços da soja, trigo e arroz.
A terceira causa decorre do aumento do preço do petróleo, uma vez que já há previsóes para que o preço do barril chegue a US$ 200. A produção de grãos na revolução verde está assentada no setor agroquímico, e esse é comandado pela lógica do preço do petróleo. Com a subida do preço do petróleo, sobe o dos agroquímicos e também o custo da produção agropecuária. Consequêntemente, esta pressão atua no sentido do aumento dos preços dos alimentos.
No caso brasileiro, como consequência da crise mundial e da elevação dos preços internacionais do trigo associado ao bloqueio estabelecido pela Argentina em relação às exportações deste cereal ao Brasil, seu preço e de seus derivados estão aumentando. O país, sendo o maior importador mundial de trigo, precisa importar 7 das 10 milhóes de toneladas que consome. Essa produção vem dos EUA e Canadá, a preços elevados e frete aumentando.
Com relação aos três alimentos básicos da população brasileira (feijão, arroz e mandioca), desde 1992 o país não expande sua área plantada. O aumento do preço do feijão, por exemplo, decorreu da conversão da sua produção em terras para cultivo do milho, que tinha preços mais vantajosos no mercado mundial, em função da escalada provocada pelo etanol americano. Escalada que atingiu também a soja, que, na falta do milho, o substituiu na ração animal – não na alimentação humana.
No caso do arroz, os estoques de que o Brasil dispõem são baixíssimos – 10% da demanda. A perspectiva de safra, já praticamento colhida, momentaneamente não sinaliza para uma situação de falta do produto, mas seu preço no mercado interno já subiu.
Dessa forma, como não há estoques suficientes no país e, os preços no mercado mundial estão elevados, e em parte, as exportações bloqueadas, continuarão a falta e os preços altos dos alimentos no país. Assim, a dedução lógica desta política que transforma alimento em agrocombustível é a crise mundial dos alimentos.
Ariovaldo Umbelino de Oliveira é professor Titular de Geografia Agrária – FFLCH – USP/ABRA/Instituto Iánde. Texto publicado no Jornal do Campus, Número 338, Ano 26.